Investigações revelam que a facção nascida em São Paulo cooptou integrantes das forças de segurança de países vizinhos, como o Paraguai
Fundado
ainda em 1993, o grupo paulista Primeiro Comando da Capital (PCC) foi o
responsável pelo maior assalto da história do Paraguai em abril deste
ano. Ali, atuou a 1.044km de São Paulo, mais precisamente em Ciudad del
Este. Pelo menos 30 homens com armamento de guerra, como metralhadoras,
fuzis e explosivos, roubaram US$ 40 milhões de uma empresa de transporte
de valores. Isso foi a parte exposta até aqui. O que não se sabia até
agora era que a facção — que, dentro de prisões, desafia autoridades
brasileiras com execuções a sangue frio e rebeliões cada vez mais
violentas — também passou a comprar o apoio de policiais e militares de
países vizinhos para garantir o sucesso das violentas ações.
“A
maior dificuldade da Polícia Federal no Paraguai é com o exército
local, porque o PCC corrompeu boa parte desses militares”, revelou uma
fonte de alta patente do Ministério da Defesa ao Correio. A maior
vulnerabilidade na fronteira do Brasil está nos estados do Rio Grande do
Sul até o Mato Grosso, em que a divisa é com países como o Uruguai,
Paraguai e Bolívia. “Nessas regiões, os países se confundem. As cidades
viram uma só, são muito vivas e mescladas. Nesse cenário, as atividades
criminosas têm facilidade em ultrapassar a fronteira e se associar com
outros grupos”, explicou o general Santos Cruz, da Secretaria Nacional
de Segurança Pública (Senasp).
O crescimento
dessas facções tem uma simples e única explicação: o lucro. “O crime
organizado, principalmente as duas maiores facções do país, o PCC e o
Comando Vermelho (CV), nada mais são do que uma empresa”, classificou o
diretor-geral do Departamento Penitenciário Nacional (Depen), Marco
Antônio Severo. O diretor explica que o objetivo dessas facções não é
acabar com rivais. “O conflito começa quando alguém oferece resistência
para que ele estabeleça comércio de droga no local, por exemplo.”
Severo
relembra a morte do traficante paraguaio Jorge Rafaat no ano passado na
região de fronteira no Mato Grosso do Sul. Rafaat morreu com tiros de
fuzil, em uma emboscada, em decorrência de uma guerra do tráfico na
região com o PCC e o CV. “Isso aí é uma evolução comercial, se virmos
isso pela ótica empresarial. O PCC só vendia, mas depois passou a ser o
primeiro recebedor da droga para distribuir para o Brasil e para
Europa”, destacou.
“Existe essa tentativa de
expansão, de domínio territorial. Assim como o combate tem que ser
permanente, eles também têm essa tendência de expansão permanente.
Sabe-se que uma parte da droga entra pela fronteira, assim como
armamento. Em todo esse ambiente criminoso, eles têm tentativa de
domínio”, exemplificou o general Santos Cruz.
Atualmente,
o sistema penitenciário federal hospeda a grande maioria das lideranças
de facções criminosas. Mas isso não impede que esses grupos cresçam. “Porque é aquela história: não tem vácuo no poder. Quando se tira de
circulação o líder de uma facção de alto nível, logicamente outro vai
assumir o lugar dele do lado de fora”, argumentou Marco Antônio. De
dentro dos presídios federais, há cuidado para que lideranças não se
comuniquem ou até mesmo estejam na mesma vivência, além de serem
acompanhadas. No entanto, o controle nem sempre ocorre em presídios
estaduais, resultando em rebeliões, chacinas e até refletindo na
segurança pública fora das grades, em grandes centros urbanos.
“Sem
dúvida nenhuma, o crime organizado tem ligação com a violência externa e
as atividades dentro de presídios. Existe uma disputa territorial.
Tem-se conhecimento nítido disso. Tem que haver integração de
inteligência de todos os órgãos”, defendeu Santos Cruz. Para ele, é
necessária uma integração entre o governo federal, estados e municípios
para que essas facções não interfiram na segurança dos grandes centros
urbanos. “O governo federal precisa participar de maneira mais intensa
em segurança pública. Há uns anos, o crime não era tão organizado.
Precisamos evoluir principalmente em tecnologia e criar uma base
nacional de dados”, defendeu.
Antes de assumir a
Depen, Marco Antônio Severo ocupava o cargo de Comandante da Polícia
Militar de São Paulo e lembra das ondas de ataque do PCC à cidade.
“Aqueles episódios foram, em boa parte, respostas, retaliações às
próprias ações da polícia, no endurecimento no combate ao tráfico, nas
ações ao crime. A cada tentativa de intimidação ao poder público, a
resposta tem que ser forte, cada vez mais firme”, enfatizou.
No
entanto, a demora do governo em dar uma resposta efetiva ao crime
organizado resulta em números impressionantes, de uma guerra urbana que
assola a nação e invade cada vez mais estados com a segurança ainda mais
vulnerável. Dados do Atlas da Violência, que registra o número de
crimes como homicídios, estupros e danos ao patrimônio, apontam que,
após tomar capitais como São Paulo e Rio de Janeiro, a violência avança
nos estados do Norte e Nordeste. A situação mais grave é no Rio Grande
do Norte, onde a taxa de homicídios avançou 220% em 10 anos.
Fonte: Correio Braziliense
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