Não é uma questão de achar que a crise política atrasa a economia.
Pode-se ver isso em diversos sinais. Por exemplo, os índices de
confiança da Fundação Getúlio Vargas, divulgados nesta semana, mostram
consumidores, empresários e investidores mais pessimistas. E, sobretudo,
com menos esperança na recuperação. Esses índices, construídos a partir de entrevistas, pedem que as
pessoas avaliem a situação atual e as expectativas para seis meses.
Desde que o país foi deixando a recessão para trás, notava-se um padrão:
entrevistados diziam que o momento não estava nada bom, mas que as
coisas certamente estaria melhores daqui a pouco. Agora, continuam
achando que a situação atual não é boa, mas desconfiam que não vai
melhorar nos próximos meses.
Ora, há muitos dados positivos na economia real: a inflação no
chão, juros desabando, setor agrícola gerando safras recordes,
exportações em alta, superávit comercial subindo e entrando dólares de
investidores estrangeiros. Além disso, as empresas voltaram a criar
vagas formais. A equipe econômica é de primeira e estatais importantes,
como a Petrobras, voltaram à boa gestão.
Por que, então, cai a confiança dos agentes econômicos, categoria
que inclui desde presidentes de empresas a consumidores comprando ou não
no shopping? Porque o noticiário político-policial é desanimador - e piorou
desde que se revelou a delação de Joesley Batista e seu pessoal da JBS.
Não houve pânico no mercado financeiro, mas os principais indicadores
pioraram: a Bolsa, que rodava a 68 mil pontos, com expectativa de alta,
está agora na casa dos 62 mil. O dólar flutuava em torno dos R$ 3,10,
agora um pouco acima dos RT$ 3,30.
Muita gente estranhou que esses dois indicadores tenham se
comportado tão serenamente nos últimos dois dias, logo após conhecida a
denúncia do procurador Rodrigo Janot contra o presidente Temer. Bolsa
caiu na terça, subiu ontem. Dólar, dando o mesmo sinal, subiu e caiu. Como se diz no mercado, a denúncia estava no preço. Tradução: o
pessoal já sabia que Temer fora apanhado no esquema de corrupção. Estava
na cara, não é mesmo?
O enredo básico é muito simples: o presidente Temer diz a Joesley,
num encontro clandestino, que o contato entre eles deveria ser feito
através de Rodrigo Rocha Loures. Depois, Joesley conversa com Rodrigo e
negocia uma enorme propina em troca de uma mudança no contrato de uma de
suas empresas com a Petrobras. Rodrigo fala com gente do governo
administrando o pedido de Joesley. E recebe uma mala com 500 mil reais.
O que queriam mais? Um cheque assinado por Joesley e depositado na
conta de Temer? A defesa de Temer dizer que não tem dinheiro entregue
para ele é como a defesa de Lula pedir que apresentem a escritura do
tríplex do Guarujá em nome do ex-presidente. A acusação é de patrimônio
oculto e lavagem de dinheiro. Com escritura?
Do mesmo modo, por que Joesley entregaria uma montanha de dinheiro
ao tal Rodrigo se este não fosse o representante de Temer no balcão de
negócios? Tirante um ou outro, acho que ninguém acredita de fato na defesa de
Temer. Na prática, os que o defendem se dividem em dois grupos: o
primeiro é formado pela turma que quer melar a Lava Jato, para escapar
dela; o segundo grupo acha ou achava que Temer poderia ser um "culpado
útil".
Ok, está no esquema de corrupção, mas, caramba, se ele
conseguisse aprovar as reformas, especialmente a da Previdência, estaria
mais que suficiente. Temer também sabia disso. Ou alguém acreditava mesmo que ele era um
reformista de fé? As reformas eram um meio dele salvar seu mandato. E é por aqui que as coisas estão mudando. A cada dia que passa,
Temer é mais culpado e menos útil, tal é a percepção que se forma nos
meios econômicos.
Flagrado, o presidente se concentra na sua defesa, num processo que
vai ocupar a Câmara dos Deputados. Como vão tratar da reforma da
Previdência nesse turbilhão?
A trabalhista está quase aprovada e precisa de menos votos, só uma maioria simples.
Vai daí, forma-se o entendimento dos agentes econômicos e, talvez,
da equipe de Meirelles: passar a reforma trabalhista é o suficiente por
ora. Depois, administrar a coisa até as eleições. A previdenciária só
traria ajuste a médio prazo mesmo, tal é o discurso de consolação.
Duas consequências. Na economia, não haverá investimentos, o
consumidor se retrai e, logo, não há recuperação do crescimento. O
cenário bom será não voltar à recessão.
Na política, Temer deixa de ser útil e por isso passa a ser descartável. Ou seja, sua eventual queda vai entrando no preço. Haverá decepção e mais pessimismo econômico se a reforma trabalhista cair. Mas quem se importará com um culpado inútil?
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