Villas Boas é enfático e afirma que não há qualquer possibilidade de intervenção militar
General fala em intervenção militar e é criticado por Forças Armadas
Atitude do general causou desconforto em Brasília. O comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, foi enfático e disse que "não há qualquer possibilidade" de intervenção militar
[a fala do general Antonio Mourão é importante, por se tratar de manifestação de um oficial general da Ativa - quatro estrelas, integrante do Alto Comando do Exército - que expressa uma insatisfação acalentada de há muito no seio das Forças Armadas.
Outras manifestações certamente seguirão a de hoje.]
O general de Exército, quatro estrelas, da ativa Antonio Hamilton Martins Mourão
falou por três vezes na possibilidade de intervenção militar diante da
crise enfrentada pelo País, caso a situação não seja resolvida pelas
próprias instituições. A afirmação foi feita em palestra realizada na
noite de sexta-feira, 15, na Loja Maçônica Grande Oriente, em Brasília,
após o então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, denunciar
pela segunda vez o presidente Michel Temer por participação em
organização criminosa e obstrução de justiça. Janot deixou o cargo nesta
segunda-feira.
A
atitude do general causou desconforto em Brasília. Oficiais-generais
ouvidos pelo jornal "O Estado de S. Paulo" criticaram a afirmação de
Mourão, considerada desnecessária neste momento de crise. O comandante
do Exército, general Eduardo Villas Bôas, foi enfático e disse que "não
há qualquer possibilidade" de intervenção militar.
"Ou
as instituições solucionam o problema político, pela ação do
Judiciário, retirando da vida pública esses elementos envolvidos em
todos os ilícitos, ou então nós teremos que impor isso", disse Mourão em
palestra gravada, justificando que "desde o começo da crise o nosso
comandante definiu um tripé para a atuação do Exército: legalidade,
legitimidade e que o Exército não seja um fator de instabilidade".
O
general Mourão seguiu afirmando que "os Poderes terão que buscar uma
solução, se não conseguirem, chegará a hora em que teremos que impor uma
solução… e essa imposição não será fácil, ela trará problemas". Por
fim, acrescentou lembrando o juramento que os militares fizeram de
"compromisso com a Pátria, independente de sermos aplaudidos ou não". E
encerrou: "O que interessa é termos a consciência tranquila de que
fizemos o melhor e que buscamos, de qualquer maneira, atingir esse
objetivo. Então, se tiver que haver haverá".
Procurado
neste domingo, Mourão explicou, no entanto, que não estava "insuflando
nada" ou "pregando intervenção militar" e que a interpretação das suas
palavras "é livre". Ele afirmou que falava em seu nome, não no do
Exército.
Ao jornal, o comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas,
foi enfático e disse que "não há qualquer possibilidade" de intervenção
militar. "Desde 1985 não somos responsáveis por turbulência na vida
nacional e assim vai prosseguir. Além disso, o emprego nosso será sempre
por iniciativa de um dos Poderes", afirmou Villas Bôas, acrescentando
que a Força defende "a manutenção da democracia, a preservação da
Constituição, além da proteção das instituições".
Depois
de salientar que "internamente já foi conversado e o problema está
superado", o comandante do Exército insistiu que qualquer emprego de
Forças Armadas será por iniciativa de um dos Poderes. No sábado, o
ministro da Defesa, Raul Jungmann, conversou com o comandante do
Exército, que telefonou para o general Mourão para saber o que havia
ocorrido. O general, então, explicou o contexto das declarações.
General Mourão: polêmicas sucessivas ao tratar de temas políticos
Polêmicas anteriores
Esta não é a primeira
polêmica protagonizada pelo general Mourão, atual secretário de economia
e finanças do Exército, cargo para o qual foi transferido, em outubro
de 2015, quando perdeu o Comando Militar do Sul, por ter feito duras
críticas à classe política e ao governo.
Antes,
ele já havia desagradado ao Palácio do Planalto, ao ter atacado
indiretamente a então presidente Dilma Rousseff ao ser questionado sobre
o impeachment dela e responder que "a mera substituição da PR
(presidente da República) não trará mudança significativa no 'status
quo'" e que "a vantagem da mudança seria o descarte da incompetência, má
gestão e corrupção".
Villas Bôas: 'Desde 1985, não somos responsáveis por turbulência na vida nacional e assim vai prosseguir'
Neste domingo, ao ser procurado pelo jornal, o general Mourão disse que "não está insuflando nada" e que "não defendeu (a tomada de poder pelos militares), apenas respondeu a uma pergunta". Para o general, "se ninguém se acertar, terá de haver algum tipo de intervenção, para colocar ordem na casa". Sobre quem faria a intervenção, se ela seria militar, ele responde que "não existe fórmula de bolo" para isso. E emendou: "Não (não é intervenção militar). Isso não é uma revolução. Não é uma tomada de poder. Não existe nada disso. É simplesmente alguém que coloque as coisas em ordem, e diga: atenção, minha gente vamos nos acertar aqui e deixar as coisas de forma que o País consiga andar e não como estamos. Foi isso que disse, mas as pessoas interpretam as coisas cada uma de sua forma. Os grupos que pedem intervenção é que estão fazendo essa onda em torno desse assunto".
Mourão estava fardado ao fazer a
palestra. Ele permanece no serviço ativo no Exército até março do ano
que vem, quando passará para a reserva. O general Mourão disse ao jornal
que não vai se candidatar, apesar de existir página nas redes sociais
sugerindo seu nome para presidente da República. "Não. Não sou político.
Sou soldado."
Fonte: Correio Braziliense
Fonte: Correio Braziliense
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