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quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

Em livro, Villas Bôas revela que postagens polêmicas na véspera de julgamento de Lula foram escritas com Alto Comando do Exército - O Globo

Pedro Capetti

No Twitter, general fez repúdio à impunidade, um dia antes de o STF julgar se o ex-presidente podia ser preso após ter sido condenado em 2ª instância

O general Eduardo Villas-Bôas, comandante do Exército nos governos Dilma Rousseff e Michel Temer Foto: Arquivo O Globo
O general Eduardo Villas-Bôas, comandante do Exército nos governos Dilma Rousseff e Michel Temer Foto: Arquivo O Globo
Comandante do Exército nos governos Dilma Rousseff e Michel Temer, o general Eduardo Villas Bôas revelou que postagens polêmicas feitas no Twitter na véspera do julgamento, em 2018,  pelo Supremo Tribunal Federal (STF) de  habeas corpus do ex-presidente Lula para recorrer da condenação em liberdade, em 2018, foram articuladas e “rascunhadas” em conjunto com o Alto Comando da instituição.
[o essencial é que a mensagem, o 'alerta', foi entendido e contou com o aval de todo o Alto Comando do Exército Brasileiro.]

As declarações fazem parte do livro “General Villas Bôas: conversa com o comandante", recém-lançado pela Editora FGV, a partir de depoimentos concedidos pelo general ao longo de cinco dias entre agosto e setembro de 2019. A entrevista, com mais de 13 horas de duração, foi comandada pelo professor e pesquisador Celso de Castro. Vítima de uma rara doença neuromotora de caráter degenerativo, [Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA)] Villas Bôas hoje respira com ajuda de aparelho e se locomove em cadeira de rodas.

Na véspera do julgamento, Villas Bôas afirmou, no Twitter, que a instituição "julga compartilhar o anseio de todos os cidadãos de bem de repúdio à impunidade". E que o Exército também defende o "respeito à Constituição, à paz social e à Democracia", e que a instituição "se mantém atenta às suas missões institucionais". Na época, a postagem foi interpretada, principalmente no PT, como uma pressão sobre o STF.

Leia: Aras envia à Corregedoria do conselho do MP pedido de investigação contra procuradores da Lava-Jato de Curitiba

No livro, o militar narra que o texto foi redigido por várias mãos na alta cúpula do Exército.  "O texto teve um 'rascunho' elaborado pelo meu staff e pelos integrantes do Alto Comando residentes em Brasília. No dia seguinte  da expedição, remetemos para os comandantes militares de área. Recebidas as sugestões, elaboramos o texto final, o que nos tomou todo expediente, até por volta das 20 horas, momento que liberei para o CComSEx (Setor de comunicação do Exército) para expedição", descreveu Villas Bôas.

A postagem gerou reação na época. Sem citar diretamente Villas Bôas, o então ministro do STF Celso de Mello disse que um comentário realizado por "altíssima fonte" foi "claramente infringente do princípio da separação de Poderes" e alertou contra "práticas estranhas e lesivas à ortodoxia constitucional".

O general afirma que o então ministro da Defesa, Raul Jungmann, e o então ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Sérgio Etchegoyen, não foram avisados da postagem, assim como os chefes da Marinha e da Aeronáutica. Mesmo não sendo alertados, o texto do post não foi rechaçado por Jungmann e Etchegoyen, após a publicação.

Durante a entrevista, o general afirma que duas motivações moveram o Alto Comando do Exército a adotar a ofensiva. Uma delas foi o aumento das demandas por uma intervenção militar em encontros com empresários e pessoas da sociedade civil. Apesar de classificar estes que clamavam por uma ruptura em outra parte do livro como “tresloucados”, ele afirma que agiu daquela forma para conter uma possível convulsão social.

"Externamente, nos preocupavam as consequências do extravasamento da indignação que tomava conta da população. Tínhamos aferição decorrente do aumento das demandas por uma intervenção militar. Era muito mais prudente preveni-la do que, depois, sermos empregados para contê-la. Internamente, agimos em razão da porosidade do nosso público interno, todo ele imerso na sociedade. Portanto, compartilhavam de ansiedade semelhante", descreve.

No livro, o militar voltou a classificar o episódio como "oportuno". "Tratava-se de um alerta, muito antes que uma ameaça", narra em trecho da entrevista. A mesma opinião já havia sido manifestada pelo general em entrevista ao GLOBO, na série "Décadas de Ruptura".

A postura de Villas Bôas nas redes sociais converge com um projeto pessoal empregado por ele naquela oportunidade para que o "Exército voltasse a ser ouvido com naturalidade". Com isso, os militares falariam mais com a imprensa, ocupando os espaços de debate. Vários deles, como Villas Bôas, foram para o Twitter. Outros atuavam nos bastidores na tentativa de influenciar a narrativa política.

Ao longo da última década, o general Rêgo Barros, então chefe do Centro de Comunicação do Exército, foi responsável por comandar todo o planejamento para discutir estratégias e atitudes de comunicação, cuja agenda envolvia reuniões diárias.

Bolsonaro rompeu com politicamente correto
Em outro trecho, ao falar sobre o governo Bolsonaro, Villas Bôas refuta a ideia de que o presidente representa a volta dos militares ao poder, mesmo havendo recorde de militares em cargos de primeiro e segundo escalão. Para o general, "Bolsonaro deu ênfase ao combate ao politicamente correto, do qual a população estava cansada.”

Segundo o general, a esquerda aderiu ao "politicamente correto" com "pautas esvaziadas desde a queda do comunismo", a partir da oposição de classes. Isso faz, na avaliação do militar, que haja dificuldade de enxergar a realidade, sem se importar com os resultados produzidos  Para ele, isso mostra que a sociedade está "carente de valores universais, que igualem as pessoas pela condição humana, acima da classificação aleatória que se lhes atribui."

"Quanto maior a ênfase, por exemplo, nas teorias de gênero, maior a homofobia; quanto mais igualdade de gêneros, mais cresce o feminicídio; quanto mais se combate a discriminação racial, mais ela se intensifica; quanto maior o ambientalismo, mais se agride o meio ambiente; e quanto mais forte o indigenismo, pior se tornam as condições de vidas de nossos índios", relatou na entrevista.

Questionado sobre a conversa entre ele e o presidente, quando este disse que o general era um dos responsáveis pela sua chegada ao Palácio do  Planalto, disse que a conversa “morrerá” entre eles e que “não foi um tema de caráter conspiratório”.

No livro, ao mesmo tempo em que rechaça a sua proximidade com a política, assim como a do Exército, o militar relata encontros com o ex-presidente Michel Temer para discutir uma reação do Exército à possibilidade de impeachment e também com os presidenciáveis de 2018 para debater “projeto nacional”.

Sobre o governo Dilma, o general afirma que havia um distanciamento da cúpula militar com o Planalto, diferentemente da relação nos dois mandatos do ex-presidente Lula. Diz que os indícios de corrupção, a evolução negativa da economia e os moldes da Comissão da Verdade despertaram "um sentimento de traição em relação ao governo". "Foi uma facada nas costas, mesmo considerando que foi decorrência de antigos compromissos assumidos pela presidente Dilma", relata o general, para quem a comissão foi vista como "revanchismo". 

Brasil - Jornal O Globo


terça-feira, 1 de setembro de 2020

No STF, o 'legado' de Toffoli - Folha de S. Paulo

Cristina Serra


Diálogo entre Poderes pressupõe altivez, e a simples percepção de tutela militar é anomalia

O mandato do ministro Dias Toffoli na presidência do STF termina nos próximos dias deixando um enigma. Por que ele teve dois generais da reserva no cargo de “assessor especial” no seu gabinete? O primeiro foi Fernando Azevedo e Silva, por indicação de ninguém menos que o então comandante do Exército, Eduardo Villas Bôas, o general “influencer”. [assessor cargo de livre nomeação e exoneração - escolhido entre alguém da confiança de quem nomeia ou indicado por alguém que mereça confiança da autoridade a ser assessorada.]

Villas Bôas foi quem, na véspera do julgamento do pedido de habeas corpus do ex-presidente Lula, no STF, em abril de 2018, fez ameaças numa rede social dizendo que o Exército repudiava a “impunidade” e que estava “atento às suas missões institucionais”. O STF rejeitou o pedido de Lula por 6 x 5, ele foi preso, bem, o resto você sabe. [Villas Bôas expressou a sua opinião de cidadão e por ser comandante do Exército a da instituição que comandava - se as duas coincidem, seria sem sentido mudar uma delas.
Quanto ao 'o resto você sabe' é notório que com prisão do multicondenado e sua eliminação política o Brasil ficou melhor.]

Azevedo ficou dois meses no cargo e saiu para ser ministro da Defesa do candidato vencedor na disputa presidencial. Para a vaga, Toffoli acolheu outro general bolsonarista, Ajax Porto Pinheiro. Num vídeo, durante a campanha de 2018, em meio a raciocínios tortuosos, Pinheiro fala dos perigos do comunismo e diz que, se o PT voltasse ao poder, o Exército seria “a principal vítima”. Desconhece-se a contribuição do general ao Judiciário, ao custo mensal de R$ 12.940 para o contribuinte.

Indicado por Lula em 2009 para o STF, Toffoli fez um grande esforço para se distanciar da esquerda e mostrar-se confiável aos militares. Antes de assumir a presidência, num exercício de contorcionismo semântico e impropriedade histórica, chegou a dizer que preferia chamar o golpe de 1964, que instaurou 21 anos de ditadura no Brasil, de “movimento de 64”.

Há quem interprete a contratação dos generais como uma tentativa de manter canais abertos com as Forças Armadas em tempos turbulentos. Se foi esse o intuito, mostrou-se malogrado. O Supremo vive sob ataque, e o próprio Bolsonaro já quis dar um golpe e substituir os 11 ministros.
[dizem que 'fake news' é crime; nos parece que só quando a suporta notícia falsa é veiculada por pessoas que apoiam o presidente Bolsonaro.] Diálogo entre Poderes pressupõe altivez. Tutela militar —ou a simples percepção dela— é uma anomalia a ser evitada. Não é um legado do qual se orgulhar.

Cristina Serra, jornalista - Folha de S. Paulo

segunda-feira, 4 de maio de 2020

Novo ato força cúpula militar a explicar sua posição na crise - Folha de S. Paulo

 Igor Gielow

Cúpula fardada havia se reunido com o presidente na véspera, levando a dúvidas sobre suas intenções

O presidente Jair Bolsonaro fez seu novo ataque ao Legislativo e ao Judiciário exaltando o papel das Forças Armadas, que segundo ele estão “ao lado do povo”.  Não seria novidade, exceto por um detalhe: na véspera, o presidente havia se reunido com os três comandantes de Forças, o ministro da Defesa, general Fernando Azevedo, e o chefe da Secretaria de Governo, general Luiz Eduardo Ramos. No cardápio posto, segundo a assessoria de Azevedo, “uma avaliação do emprego das Forças Armadas na Operação de Combate ao Coronavírus, além de avaliação de determinados aspectos da conjuntura atual”.

[na reunião estavam presentes:
- Jair Bolsonaro, presidente da República;
- três ministros oriundos do Exército;
- ministro da Defesa - oficial, quatro estrelas, da ativa;
- três oficiais generais quatro estrelas,sendo o general-de-exército o comandante da Força Terrestre, o almirante-de esquadra, comandante da Marinha e o tenente-brigadeiro do ar comandante da Força Aérea Brasileira;
- Tema da reunião: “uma avaliação do emprego das Forças Armadas na Operação de Combate ao Coronavírus, além de avaliação de determinados aspectos da conjuntura atual”. Temas de imensa repercussão, grande seriedade, envolvendo vidas humanas e intervenções sofridas pelo Poder Executivo e que podem ser consideradas indevidas.[nota: o item intervenções sofridas é de inserção do Blog, por se enquadrar no 'aspectos da conjuntura atual'.) 
Qualquer cidadão com um mínimo do bom senso, há de concordar que um tema dessa natureza envolve a SEGURANÇA NACIONAL, o que desobriga todos que participaram da reunião ou tiveram acesso ao que foi tratado está obrigado a manter reserva.
NÃO EXISTE NORMA LEGAL ou qualquer que seja a classificação que obrigue os participantes daquele debate revelarem o que foi tratado. 
SEGURANÇA NACIONAL é SEGURANÇA NACIONAL.
Por óbvio nenhum dos presentes àquela reunião tem obrigação de dar satisfações a terceiros.] 

O demônio mora nos detalhes, no caso os tais determinados aspectos. Segundo a Folha ouviu de interlocutores de pessoas presentes ao encontro, o Supremo Tribunal Federal foi duramente criticado pelos presentes. O motivo, a decisão provisória de Alexandre de Moraes que inviabilizou a indicação de um amigo da investigada família Bolsonaro, Alexandre Ramagem, para a direção da Polícia Federal.

Isso significa que os generais deram amparo à nova intentona retórica do presidente? Aqui há divergências nos relatos disponíveis. A versão majoritária apontou a crítica fardada, que de resto já tinha sido feita ao considerar Judiciário e Congresso como forças a cercear o Executivo, mas nega que o presidente tenha sido encorajado a novamente desafiar os Poderes. Uma leitura alternativa diz que o presidente se sentiu autorizado a ultrapassar o sinal novamente.

No ato de 19 de abril, Dia do Exército, o simbolismo era óbvio, mas velado. Neste domingo (3), Bolsonaro encheu a boca para colocar as Forças Armadas no mesmo bloco que pedia a cabeça do presidente a Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), ataques ao Supremo e, de quebra, espancava jornalistas no Dia Mundial da Liberdade de Imprensa. Isso abraçando na rampa do Planalto as bandeiras de Israel e dos EUA, além da brasileira, numa cacofonia caótica emulada pelas carreatas da morte vistas em algumas cidades do país.

A terceira leitura, aí feita por políticos, é a especulação acerca do entusiasmo dos militares com aventuras totalitárias. Isso hoje é improvável. Não se imagina a atual cúpula militar brasileira apoiando fechamento de Poderes, para ficar na caracterização de golpe. Além disso, não há apoio maciço ao governo na elite econômica, na imprensa e mesmo entre todos os ramos das Forças: Força Aérea e Marinha não têm o mesmo senso de comprometimento com a figura de Bolsonaro que o Exército, fiador de um capitão reformado e renegado.

Pior, os aviadores podem perder o único quinhão a que têm direito no governo, o Ministério da Ciência e Tecnologia, para o PSD, dentro da barganha comandada por Bolsonaro para afastar o fantasma do impeachment. Ainda assim, a contemporização feita por alguns oficiais ouvidos pela reportagem, de que Bolsonaro se excede sem consequências, fica cada dia mais difícil de ser aceita.

Um oficial-general disse confiar que a população em geral não vê os militares como radicais do bolsonarismo. Talvez, mas a fronteira está cada vez mais turva: ele mesmo admite que a associação é provável. Para complicar o enredo, um item altamente explosivo no cenário voltou a circular entre os observadores do panorama militar: a substituição do comandante do Exército, general Edson Leal Pujol. O assunto foi discutido por Bolsonaro em sua reunião no sábado com os comandantes.

Nem tanto por uma troca em si, de resto estranha com o comandante tendo pouco mais de um ano no posto, mas por quem seria o indicado por Bolsonaro: Luiz Eduardo Ramos. O general, que segue na ativa enquanto exerce a função no Palácio do Planalto, era talvez o mais bolsonarista dos integrantes do Alto Comando do Exército, a elite da elite militar.  Amigo de Bolsonaro quando ambos eram cadetes, dividindo dormitórios, ele sempre foi o número 2 de Azevedo, hoje ministro da Defesa e pivô da ala militar do governo.

Mas sua vinculação sempre foi especial com Bolsonaro. Sua eventual ida para o comando criaria exatamente o oposto do que o general otimista relatou: a ideia de um Exército liderado por uma aliado ideológico do presidente. Procurado, Ramos negou veementemente a informação. “Não sei de onde isso saiu. Tem uns seis generais mais longevos do que eu na fila”, disse à Folha.

De fato, o general só entra no quesito longevidade para poder assumir a Força no ano que vem. Isso não foi problema no passado: Eduardo Villas Bôas não era o mais longevo ao ser escolhido comandante do Exército por Dilma Rousseff (PT) em 2015. A retórica inflamada do presidente também tem a ver com o momento específico de seu governo, acumulando 7.000 mortos pelo novo coronavírus e sentindo a brisa do impeachment no ar. Espectro esse que ronda o Planalto, para ficar na figura de linguagem marxista tão ao gosto do bolsonarismo raiz.

Como disse um almirante, há incertezas demais para garantir que o presidente não será alvo de um processo de impedimento, apesar de seu um terço de apoio no eleitorado.  O nome da equação se chama Sergio Moro. O depoimento de quase nove horas do ex-ministro da Justiça a ouvintes bastante familiarizados com os métodos do ex-juiz da Lava Jato apavora os bolsonaristas. [depoente nervoso, tenso, e que não apresentou provas dos relatos que apresentou.] 

Qualquer pessoa que já tenha trocado uma mensagem de WhatsApp com Bolsonaro sabe que vulgaridades e sem-cerimônia são o padrão. 
Provas que o incriminem talvez estejam no rol também, a depender de como forem interpretadas as conversas. Isso, somado aos sortilégios que apurações sobre milícias e fake news insinuam sobre o clã presidencial, além do comportamento na condução da crise do coronavírus, alimentam o discurso de Bolsonaro.

O uso feito por Bolsonaro dos militares, ainda mais depois de estar cercado deles, explicita o real drama para a os fardados: a intrínseca conexão com a política, algo que conseguiram evitar durante boa parte do período pós-redemocratização.  O preço de imagem ainda é insondável, mas apenas o fato de serem questionados acerca de seus desígnios evidencia o tamanho do gênio que permitiram sair da garrafa ao se alinhar a Bolsonaro. Os militares terão de responder sobre o discurso golpista do presidente. [sic] 

Igor Gielow,  coluna na Folha de S. Paulo



sexta-feira, 3 de abril de 2020

Villas Bôas: ‘Ninguém tutela o Bolsonaro’ - O Estado de S. Paulo



Ex-comandante do Exército diz se preocupar com panelaços, mas acredita que presidente vai sair da crise ‘por cima’

Na manhã da última segunda-feira, um comboio de carros blindados estacionava em frente a uma casa no Setor Militar Urbano, em Brasília. O presidente Jair Bolsonaro chegava para uma visita inesperada ao general da reserva Eduardo Villas Bôas. O encontro durou poucos minutos, mas foi o suficiente para Bolsonaro receber o apoio público de uma figura que tem forte influência nas Forças Armadas.

Em entrevista nesta quinta-feira, 2, ao Estado, Villas Bôas avaliou que Bolsonaro acha que “todo mundo” está contra ele. O ex-comandante do Exército afirmou que o panelaço e a economia preocupam, mas disse acreditar que, ao final, o presidente sairá por cima, e o Brasil vai se recuperar.

O presidente agiu errado em falar que o coronavírus é uma gripezinha?
Ele disse isso, naquele momento, para tentar tranquilizar o País. Mas não é uma gripezinha.
Na manhã de segunda-feira, o presidente esteve na casa do senhor. À tarde, o senhor publicou no Twitter um post de apoio a ele. Ele pediu seu apoio?
Eu já estava pensando em me manifestar. Ele pediu o meu apoio e eu achei oportuno me posicionar e dizer às pessoas qual é a lógica da sua atuação. Pode-se discordar do presidente, mas sua postura revela coragem e perseverança nas suas próprias convicções. Mas ele não pediu isso explicitamente.
O presidente está precisando de apoio neste momento? Ele perdeu apoio da área militar?
Não.
Mas o presidente mudou o discurso na última terça-feira?
Não foi por minha causa. Mudou por ele. Por ele, eu acho.
Mudar o tom do discurso e falar de forma mais conciliatória foi positivo?
Esta é a linha ideal.

(.....)
A atuação dele na pandemia compromete uma reeleição?

Está muito cedo para falar de reeleição. Mas panelaços podem demonstrar uma perda de apoio, embora estejam concentrados nos grandes centros.
O presidente está isolado politicamente? Ele se sente isolado?
Não sei. Isso muda muito conforme as circunstâncias.
Acho que essa percepção é temporária. Eu acho que ao final, ele vai sair por cima
A decisão do presidente de não endossar o discurso do Ministério da Saúde pró quarentena vai custar caro a ele?
Não comento.

(....)

Os filhos do presidente têm uma desconfiança muito grande em relação aos militares, particularmente em relação ao vice Hamilton Mourão. Isso mudou?
Não tem motivo para ter qualquer desconfiança do Mourão. Mourão tem sido um ponto de equilíbrio. Ele é leal ao presidente.
(.....)

Há uma tutela branca no presidente Bolsonaro pelos ministros mais próximos agora, como Braga Netto, da Casa Civil, e Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo?

Ninguém tutela o presidente.
Como avalia a guerra entre governadores e o presidente?
Cada um tem de fazer a sua parte e não tem de ficar polemizando. A virtude sempre está no meio. Mas tem havido muito oportunismo político. Não quero nominar. Estou falando em geral.
Conciliação. Precisamos buscar harmonia.
Como o País vai sair dessa crise? Como se reconstrói um país depois de uma pandemia, com tanta morte e tanto problema econômico?
Eu creio que, talvez não em aspectos concretos como a economia em geral, mas psicologicamente, vamos sair fortalecidos. Certamente teremos problemas na economia, mas sairemos fortalecidos psicologicamente. Assim como nas guerras, vamos sair com disciplina social, espírito de solidariedade, sentimento pelo País e respeito às instituições.

O Estado de S. Paulo - MATÉRIA COMPLETA


sexta-feira, 27 de setembro de 2019

Raoni merece o Nobel - O Globo


É um homem digno que só busca o bem

[O Prêmio Nobel, com destaque para o Nobel da Paz, já representou uma grande honraria, motivo de intensa satisfação por parte do laureado, dos que o admiravam e por representar um justo reconhecimento a quem se destacou com honra no campo em que foi homenageado.

Mas, de uns tempos para cá, o Nobel foi se desvalorizando - os homenageados passaram a ser escolhidos por um certo bairrismo e dentro do 'politicamente correto'.

Um único exemplo da desvalorização da homenagem:
Quando o presidiário Lula, ex-informante do DOPS, ex-presidente da República, o maior ladrão do Brasil, atualmente puxando cadeia por corrupção, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha, e outros crimes - teve sua sentença condenatória confirmada em todas as instâncias do Poder Judiciário - teve seu nome seriamente cogitado para ser agraciado com a honraria, o Prêmio Nobel acabou-se.
Que mal faz Raoni ser indicado - será, no máximo, mais uma péssima indicação.]

Já em 1984 Raoni Metuktire era um dos maiores líderes indígenas brasileiros e o principal chefe da etnia caiapó. Meu primeiro encontro com o cacique pode parecer bizarro e levantar suspeitas sobre sua sensatez e serenidade. Como repórter da extinta TV Manchete, fui até uma aldeia caiapó no Xingu para cobrir a libertação de cinco sertanistas da Funai que Raoni mantivera sequestrados numa das muitas disputas que travava em torno da demarcação da sua reserva no Xingu. Quando Raoni saiu vitorioso do episódio, os sertanistas sequestrados, que também estavam do lado da causa indígena, festejaram mais a vitória do cacique do que a sua própria libertação.

Raoni já tinha o porte  majestoso que mantém até hoje. Era ao mesmo tempo doce e duro. A luta pela demarcação definitiva do Parque do Xingu, criado pelos irmãos Villas Bôas em 1961, se estendeu no tempo e se desdobrou em outros momentos importantes. Um dos mais emblemáticos ocorreu no dia em que o cacique enfrentou Mário Andreazza, o último ministro dos Transportes do regime militar. Pintado de vermelho para a guerra e portando uma borduna, o líder indígena se reuniu com Andreazza e produziu uma frase que entrou para a história. Ao final do encontro, o ministro disse para Raoni que o considerava um amigo e ouviu a seguinte resposta de um índio insatisfeito com o resultado da reunião: “Aceito ser amigo, mas você tem que ouvir o índio”.

Não ocorreu no governo militar a demarcação do Xingu, mas apenas em 1993. Antes disso, o mais carismático líder indígena brasileiro recebeu em Altamira, no Pará, o cantor Sting, que estava então no auge da sua popularidade. Também fiz a cobertura jornalística deste encontro, que durou quase uma semana, mas já pelo GLOBO. Foi um evento memorável. Jornalistas de diversos veículos estrangeiros e dos principais órgãos brasileiros se amontoaram em pequenos hotéis, casas alugadas de famílias locais ou acampados dentro de um ginásio de esportes, para acompanhar a reunião. Sting era a celebridade, mas quem se destacou foi o índio botocudo, que desde os 15 anos tem implantado no seu lábio inferior um grande disco de madeira pintada que o distingue de todos. Sting virou coadjuvante.

Raoni nunca fala alto, embora seja sempre firme. Não se conhece episódio em que tenha agredido fisicamente alguém, embora seu porte atlético seja assustador. Raoni, que há um mês foi recebido pelo presidente da França, Emmanuel Macron, não se surpreendeu com o Palácio do Eliseu porque lá já estivera uma vez, no ano 2000, quando foi recebido pelo então presidente Jacques Chirac. Pompa não é novidade para este líder guerreiro. Ele já esteve em outros palácios com presidentes, reis e Papas, e nunca se deslumbrou. Seu sorriso é comedido, para não dizer raro, seu ar é sério e seu discurso é coerente. Não há por que demonstrar felicidade, entende o cacique. Sua luta, que um dia foi por demarcação de terra, hoje é em defesa dos direitos e da dignidade dos povos indígenas.

Raoni é um patrimônio brasileiro que atravessou todos os governos militares e depois os civis que se sucederam até aqui. Contra todos se insurgiu. Contra todos levantou sua borduna e se pintou de vermelho. Seus detratores gostam de dizer que ele é produto da mídia, por causa do botoque e porque gosta de usar cocares coloridos. E também porque anda com rainhas e Papas. Parece desrespeito ou preconceito. Quem sabe, despeito. Essas pessoas tampouco respeitavam Juruna, outro líder indígena que se destacou por gravar promessas vãs de autoridades em um velho gravador de fita cassete. E que um dia virou deputado federal.

Raoni merece cada um dos salamaleques que recebe em suas andanças pelo país e pelo mundo afora. É um do maiores e mais autênticos brasileiros de todos os tempos. Um homem digno que só busca o bem. O bem coletivo, para o seu povo, para os seus irmãos. Sua lembrança para o Prêmio Nobel da Paz é justa. Não apenas porque um dia atacou o governo de Jair Bolsonaro ou porque foi objeto da sua fúria no discurso da ONU. Não! Raoni merece o Prêmio Nobel da Paz porque é em seu nome que vem lutando desde que viu pela primeira vez um homem branco, em 1954, aos 23 anos de idade.
Ascânio Seleme, jornalista - O Globo

quinta-feira, 9 de maio de 2019

Bolsonaro precisa dizer de que lado está

Sequer ataque deplorável de Olavo de Carvalho a Villas Bôas recebe do presidente resposta à altura

[dúvida atroz: se o filósofo de Virgínia, é, foi ou será, tão importante para o nosso presidente, deveria ser nomeado para um cargo - nem tanto pela remuneração e sim como uma demonstração de prestígio.

Sugestão: ser embaixador em algum país de expressão condizente com a do guru. Que tal: Coréia do Norte, Cuba ou Nicarágua?]

O que na campanha apareceu como uma possibilidade, a interferência dos filhos do presidente Bolsonaro no governo, causando instabilidades, se confirma e até excede as expectativas. Com o “02”, Carlos, no comando, uma milícia digital bolsonarista ataca quem o grupo considere ameaça ao atingimento de algum objetivo, com o ideólogo Olavo de Carvalho na condição de inspirador-mor.

Hoje está claro que existe um bolsão de extrema direita ávido por poder atrás das cortinas da atuação do grupo. Já indicou, de forma clara, dois ministros — Ernesto Araújo, para o Itamaraty, e controla o MEC, no qual substituiu o nada inspirado Ricardo Vélez pelo linha-dura de direita Abraham Weintraub; avançou sobre a agência Apex e, desde a montagem do governo, tem especial atração pela Comunicação do Palácio.

É esta predileção que levou Carlos e Olavo a atacarem com fogo concentrado o ministro Carlos Alberto dos Santos Cruz, da Secretaria de Governo, sob a qual está a Secom. Foi executada uma operação típica de criação de fake news para atingir Santos Cruz: tiraram de contexto uma frase sensata do ministro sobre o uso das redes sociais por grupos ideologicamente extremados e espalharam que ele deseja censurá-las. Um despropósito.

Seria apenas mais uma manobra do grupo — já grave e deplorável se o presidente Bolsonaro não reforçasse de forma enviesada a interpretação de que houve defesa de censura, afirmando — o que é bem-vindo — que, no seu governo, não haverá censura à qualquer mídia. Mas pareceu um aval à distorção da frase de Santos Cruz, que no domingo foi ao Alvorada conversar com o presidente

Na segunda, Bolsonaro, como tem feito, tentou minimizar o problema, mas, desta vez, a ação de Olavo — até já condecorado pelo presidente [ação que aviltou a antes honrosa condecoração] e Carlos ultrapassou os limites. Santos Cruz, general da reserva, é mais um dos militares do governo, atacados pela milícia digital. Antes, já fora o próprio vice-presidente, Hamilton Mourão, outro general da reserva. Para agravar a crise, o ex-comandante do Exército Villas Bôas, hoje assessor especial do Gabinete de Segurança Institucional, divulgou nota sensata em favor da unidade do governo, sem deixar de identificar Olavo como “verdadeiro Trotski de direita”, um paralelo com o russo que defendia a revolução permanente.

Olavo, em resposta, cometeu ato de extrema deselegância e agressividade, para dizer o mínimo, tratando o ex-comandante do Exército como um “doente preso a uma cadeira de rodas” Villas Bôas sofre de doença degenerativa.  


Não é mais possível Bolsonaro continuar no jogo de tentar se manter distante de absurdos que partem da própria família, sem defender seus auxiliares. O presidente, na verdade, tem de estar na defesa do governo, por óbvio, e num momento grave em que assuntos de extrema relevância tramitam no Congresso, como a reforma da Previdência. Bolsonaro sequer respondeu à nota ignóbil de Olavo na devida altura. E ainda elogiou o ideólogo, chamando-o de “ícone”, mesmo depois do ataque vil feito a Villas Bôas. Outra atitude reprovável. Bolsonaro precisa definir de que lado está.

Editorial - O Globo



segunda-feira, 15 de abril de 2019

Alianças pelas reformas - Políticos e empresários fecham questão sobre mudanças na aposentadoria

O acordão da Previdência

Como uma espécie de Davos à brasileira, o 18º Fórum do LIDE reuniu, de forma inédita, governadores, parlamentares, empresários e o Executivo para fecharem questão em torno de mudanças na aposentadoria, no maior pacto federativo já visto sobre o tema. Agora é possível que a Reforma saia de uma vez do papel

O ministro Paulo Guedes e o presidente da Câmara Rodrigo Maia tocam instrumentos diferentes na sinfonia do poder, mas nada impede que atuem na mesma orquestra quando a partitura interessa a todos. No caso, a tão decantada e ainda aguardada Reforma da Previdência. Semanas a fio, de uns tempos para cá, os dois estão compondo, afinados, a banda de articulações que tenta a aprovação da proposta, ainda no primeiro semestre se tudo correr bem. Marcam quase todos os dias conversas fechadas nos gabinetes do Parlamento e do ministério para acertar pontos ainda pendentes. Seguem juntos para conversas com as bancadas dos partidos e com públicos e plateias os mais variados. Tratam de ajustes pontuais no texto e no calhamaço de estatísticas para chegar ao número mágico pretendido de uma economia na casa de R$ 1 trilhão em dez anos.

E trocam elogios mútuos quando se referem à disposição do interlocutor para aceitar sugestões. Viraram, por assim dizer, verso e emenda do mesmo refrão. Na semana passada, os dois e mais o presidente do Senado David Alcolumbre – que também dá corda à cantilena da Reforma – além de portentos empresariais, ministros, congressistas e seis governadores se reuniram em um encontro tão representativo como inequívoco na demonstração de força e sintonia em torno do tema. Na 18º edição do Fórum Empresarial do LIDE, dessa vez realizado em Campos dos Jordão, interior de São Paulo – com um formato e dinâmica que lembram em muito as conferências globais de Davos -, todos pareciam sinceramente ávidos por enfrentar o impossível para chegar lá (ou, pelo menos, o aparentemente impossível, dado que sai governo, entra governo, ninguém consegue emplacar a ideia) com uma espécie de bloco coeso de apoio, integrado por camadas de diversos setores comprometidos com a retomada econômica. Foi um ponto de inflexão importante nessa trajetória de idas e vindas daquela que é, de fato, a principal pauta lançada sobre as mesas de deputados e senadores neste ano. Até aqui não havia ocorrido ainda uma reunião tão ampla e diversificada de agentes envolvidos com a reforma.

Na batuta da mobilização, o governador de São Paulo, João Doria, funcionou ali como uma espécie de intermediador de interesses, sem tomar lados, uma vez que o intuito geral era o de fechar a agenda comum pelo engajamento para ajudar no rito da aprovação. “Não há mais o que esperar, o Brasil precisa o quanto antes dessa reforma, o recado ficou claro e vamos trabalhar em conjunto por ela. Articulem-se, sejamos todos ativos nessa direção”, convocou Doria, que há quase duas décadas idealizou os fóruns anuais (ainda organizados pelo grupo que leva o seu nome e do qual se desligou desde que entrou para a política, deixando a direção a cargo de uma banca de profissionais). De uns tempos para cá, no comando da máquina paulista, Doria procurou ser uma espécie de fiador de entendimentos nesse sentido, se esforçando como poucos para reunir, inclusive na própria casa, vários dos personagens da complexa negociação. Foi assim na semana passada quando recepcionou o vice-presidente General Mourão e sugeriu alguns encontros entre ele e os governadores dos demais Estados para ouvir as necessidades de cada um, e ao receber também o presidente do Supremo Tribunal, Dias Toffoli, que reagiu entusiasmado ao convite: “estou há 10 anos no STF e nunca ninguém me chamou para uma conversa como essa e o senhor faz isso justo no momento mais decisivo do País”, disse ao anfitrião.

No ponto alto das rodadas de tratativas que entabulou pela reforma, Doria resolveu falar a respeito tanto com o presidente Bolsonaro como com o deputado Maia para aparar arestas, tal qual um bombeiro que percebe a fumaça a tempo de controlar o incêndio. É um trabalho de diplomacia que vem fazendo a diferença. No Fórum de Campos, ele dobrou a aposta. Lá, de certa forma, estavam colocados inúmeros papeis estratégicos disponíveis a cada um dos participantes para o sarau de negociações. Para quem viu de fora foi possível alimentar razoável otimismo sobre a costura de saídas para o impasse previdenciário. Basta compreender a função dos protagonistas daqueles tête-à-tête e a dimensão de um encontro como o de Campos, quando esses senhores reservaram o final de semana para juntos debater e firmar denominadores comuns.

“Não há mais  o que esperar. O Brasil precisa o quanto antes dessa reforma” João Doria, governador  de São Paulo

Existiam diferenças? Claro. Incontornáveis? O desenrolar do evento acabou demonstrando que não. Lado a lado, sem intermediários, os participantes acabaram por fechar convergências em vários aspectos. E isso fez toda diferença na evolução dos ânimos quanto à entrega ao País de uma reforma verdadeiramente eficaz. O clima de hostilidade de outras ocasiões foi superado e análises consistentes sobre crise fiscal, reorientação de receitas e passos complementares na área das privatizações e do ajuste no Sistema “S
” pontificaram sem maiores resistências. Os governadores, por exemplo, estão muitos deles em situações calamitosas de caixa. Não sabem como seguir um ano sequer a mais com o atual quadro de vinculações orçamentárias para a rubrica das pensões, bem mais salgadas no campo da atividade pública se comparadas às da iniciativa privada. Deram ali esse testemunho e reforçaram a carga de pressão sobre os representantes do Legislativo presentes. Prefeitos, deputados e senadores que foram ao Fórum, dentre os quais Antonio Carlos Magalhães Neto, de Salvador, e Nelson Marchezan, de Porto Alegre, repisaram o alerta da inanição dramática de verbas nas respectivas regiões para bancar o compromisso. Cada uma das vozes serviu de caixa de ressonância direta sobre os feitores da costura do projeto, dispostos de maneira genuína a escutar e ajustar excessos.

Ministros como o responsável pela pasta da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, trouxeram sua contribuição mostrando os esforços em andamento para a recomposição de receitas. Freitas listou um balanço de leilões que repassaram, dentre outras estruturas, inúmeros terminais portuários, ferroviários e aeroportos. No total, em 60 dias, 23 ativos mudaram de mãos, do Estado para a iniciativa privada, gerando resultados bilionários que vão ajudar no resgate da saúde financeira da União. Longe dali, até a ala militar, através dos generais Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança, e Eduardo Villas Bôas, ex-comandante-geral do Exército, saíram em busca de apoio para as mudanças nas aposentadorias e serviram de promotores do tema em convescote no final de semana com um grupo de governadores liderados por Ronaldo Caiado, de Goiás. Caiado esteve ainda no pelotão dos participantes do Fórum.

Um pacto federativo
Mas vamos nos ater aos principais protagonistas dessa espécie de pacto federativo que ocorreu durante as rodadas de Campos – e não se pode chamar de outra coisa uma sinalização conjunta de ideias em torno da Reforma. Maia e Guedes exerceram no encontro a condição de maestros da pacificação. Por mais que opositores e críticos do Governo tentem desmerecer o escopo do projeto, a dupla de seus defensores tem acertado não apenas no diagnóstico da crise como na receita para saná-la. Tal qual padarias mal administradas, o Tesouro Nacional mergulhou há muito tempo no vermelho e já teria ido à falência se estivesse no ramo comercial – principalmente devido aos desembolsos descomunais que realiza para arcar com a Previdência, na casa dos R$ 720 bilhões ao ano. 
“A Reforma garante a solvência do estado no futuro. Sem isso, entramos numa sociedade à beira da falência” Luiz Carlos Trabuco, Bradesco