À frente do comitê de emergência, Eliseu Padilha retira holofotes de Moreira Franco
A crise
deflagrada pela paralisação dos caminhoneiros evidenciou uma antiga disputa de
poder no núcleo duro do presidente Michel Temer. Encarregado de pilotar
a reação do Planalto ao levante dos caminhoneiros, o ministro da Casa Civil,
Eliseu Padilha, deixou de fora das negociações o ministro de Minas e
Energia, Moreira Franco, que não foi convocado para integrar o comitê de
crise.
Contrariado,
Moreira aproveitou a viagem de Temer ao Rio, na quinta-feira, dia em que a
crise atingiu o ponto mais agudo, para retornar ao estado. O ministro, um dos
mais presentes em todas as atividades do Planalto, só voltou a aparecer em Brasília
na tarde de segunda-feira, durante a posse do ministro da Secretaria-Geral da
Presidência, Ronaldo Fonseca. — O
Padilha não convocou o Moreira. Há uma guerra entre os dois desde o começo do
governo, quando o Padilha virou ministro da Casa Civil e o Moreira ficou sem
ministério — diz um auxiliar direto de Temer.
A crise
entre a dupla agravou-se quando Padilha, então ministro mais importante do
governo, enfrentou problemas de saúde, precisou se afastar e ainda envolveu-se
em um embate com o amigo de Temer, o advogado José Yunes, que se disse “mula”
do chefe da Casa Civil no episódio da suposta entrega de R$ 1 milhão da
Odebrecht em seu escritório, em São Paulo. Moreira
aproveitou a fragilidade de Padilha para ganhar espaço. Depois de tornar-se
ministro da Secretaria-Geral da Presidência, avocou para si o controle das
verbas do setor de publicidade do Planalto e do programa Avançar — a versão de
Temer para o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) —, e ainda acumulou o
controle da política de concessões do governo.
DESCONFORTO
NO PLANALTO
Poderoso,
Moreira passou a circular por Brasília e em agendas oficiais pelo país sempre
acompanhado por uma equipe de jornalistas da EBC, a emissora de TV estatal.
Padilha recolheu-se aos bastidores. Os dois passaram a alimentar desconfianças
mútuas e o convívio tornou-se cada vez mais protocolar. — Causava
muito desconforto no palácio o hábito de Moreira de usar celular nas reuniões e
de entrar sem bater no gabinete do Michel. Moreira nem usava gravata no
palácio. Isso foi minando o Padilha, que já evitava conversas sigilosas com a
presença de Moreira — conta um importante ministro de Temer.
O Globo
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