Esse
Primeiro de Maio explicitou duas situações: a impopularidade de Temer já o
impede de sair às ruas; e o ex-presidente Lula, apesar de preso, não mobiliza a
população. Quando se classificavam os membros da equipe palaciana de Temer, e
ele próprio, de “profissionais da política”, a imagem que se tentava passar era
de que havia um grupo de assessores altamente experientes e qualificados para
assessorar um presidente que conhecia tudo do Congresso, tendo sido presidente
da Câmara por três vezes.
Mas os
erros de avaliação permanentes mostram, ao contrário, uma equipe altamente
vulnerável e sem noção da realidade do país. Nesses últimos dias, o presidente
da República cometeu erros infantis em busca da superação da impopularidade,
que se mostra inarredável. Um
presidente que convoca uma rede nacional de rádio e TV para celebrar o Dia do
Trabalho e pede “esperança” aos desempregados não tem noção da tragédia que se
espalha pelo país. Não importa se o grosso do desemprego se deve a erros
anteriores à sua chegada ao poder. [Temer, desta vez o senhor exagerou; esperança é uma virtude, tem sua importância, mas lamentavelmente não enche barriga, não paga alugues - quem está desempregado precisa de emprego. A esperança não substitui o necessário para atender necessidades básicas.]
Parece aquele personagem da piada que atravessa a rua para escorregar numa casca de banana. Será que não houve uma alma caridosa que o aconselhasse a ficar em casa, longe daquela situação de tragédia que envolvia movimentos populares francamente contrários ao seu governo? [sobre movimentos populares espero que seja investigado a extorsão realizada por tais movimentos, que usam a população sem teto para invadir imóveis - enquanto os chefões, tipo Boulos e outros, ficam em mansões - e ainda são obrigados a pagar aluguéis aos líderes dos movimentos.]
Quanto a Lula, a comoção nacional com sua prisão que temia o ministro do Supremo Marco Aurélio Mello não se realizou nem mesmo no Primeiro de Maio, que foi mais tranquilo do que em Paris, por exemplo, onde houve saques e depredações, com mais de 200 pessoas presas. Se, por um lado, a tranquilidade das manifestações demonstra um amadurecimento das lideranças sindicais, que, mesmo insufladas pelos irresponsáveis líderes petistas que sobraram fora da cadeia, não se deixaram levar pelo radicalismo, por outro mostra também que Lula já não mobiliza a população como sonhavam as lideranças políticas. Teimam em confrontar a Justiça, na vã esperança de tentar tirar seu grande líder da cadeia e fortalecer uma campanha presidencial que não terá o retrato de Lula na urna eletrônica.
As tentativas dos últimos dias, com recursos e mais recursos nos tribunais recursais e mesmo nos superiores, como o STJ e STF, estão uma a uma sendo ultrapassadas pela vigência da lei. Hoje é mais fácil uma reação popular contra uma eventual soltura do ex-presidente da cadeia, poucos dias depois de preso, do que o contrário.
O showmício preparado para Curitiba, onde Lula está preso, mostra bem o isolamento do PT neste momento: apenas Boulos e Manuela D’Ávila, os candidatos de esquerda, compareceram. E o expossível substituto de Lula na campanha presidencial, Jaques Wagner, insistiu na aliança com Ciro Gomes, mas falou em aproximação até mesmo com Joaquim Barbosa, o relator do mensalão que chamou o PT de organização criminosa.
Merval Pereira - O Globo
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