Como diria um antigo ditador, “a lei, ora a lei!” E não é preciso dar nomes: como na lata de marmelada, a receita é a mesma. Só muda a cor
Ah, velhos sabores da infância! As grandes
fábricas de doces em lata produziam marmelada comum e marmelada branca.
E, para os indecisos, a lata 2×1, metade comum, metade branca. Ambas
iguais, sem gosto de nada, com a única diferença da cor. E havia gente
que brigava por uma ou outra.
Pois é, briga-se por qualquer coisa. O filho
de um candidato disse que, para fechar o Supremo, bastavam um cabo e um
soldado. O Capitão do Time do outro candidato disse que todos os
poderes do Supremo deveriam ser retirados. E um advogado, colega do
candidato na defesa do Adorado Chefe, propôs o fechamento do Supremo.
Curiosamente, a frase mais agressiva, dita por um dos candidatos, não
repercutiu: ele propôs aumentar o número de ministros de 11 para 21,
“para termos a maioria lá dentro”.
Respeito à Justiça? Quando o Capitão do Time
de um candidato ganhou prisão domiciliar, o adversário disse que aquilo
era um vexame. Seria preciso escalar “gente do nível de Sérgio Moro”
para que o Supremo não envergonhasse a população. Já o outro candidato,
para poder pedir instruções na cadeia ao Adorado Chefe, escalou-se como
seu advogado, e garantiu que, se eleito, o governante não seria ele, mas
o preso. E a decisão do Judiciário, que o prendeu e que seria o único
caminho para libertá-lo? Como diria um antigo ditador, “a lei, ora a
lei!” E não é preciso dar nomes: como na lata de marmelada, a receita é a
mesma. Só muda a cor.
Detalhe saboroso
Nos velhos tempos, dizia-se que, para
aumentar os lucros, os produtores usavam muito chuchu em vez de marmelo.
Hoje, chuchu faz (ou fez) parte da política. Mas tanto faz: os
fregueses brigam mesmo é por causa da cor.
Baixo nível
Quem pensa que a campanha presidencial é de
baixo nível ainda não viu até onde mergulhou a luta pelo Governo
paulista. Um vídeo largamente espalhado pela Internet mostra alguém
parecido com João Dória, candidato do PSDB e líder nas intenções de
voto, envolvido numa orgia com cinco mulheres nuas – tudo explícito,
tipo pornô. Besteira: Dória nunca foi citado como participante desse
tipo de evento. E tem hoje 60 anos, idade em que não é comum tanta
disposição para enfrentar cinco mulheres juntas.
O adversário de Dória, Márcio França,
garante não ser o responsável pelo vídeo. Dória disse que era montagem –
nem precisaria, já que algo de tão baixo nível nem merece desmentido.
E, com a tecnologia disponível, é fácil transformar um ator de filme
pornô numa figura parecida com a de qualquer um de nós, inclusive a do
candidato ao Governo de São Paulo.
Falha total
E há outro problema num vídeo desse tipo:
quem o divulgou não sabe em que país vive. Provar que um político é
capaz de façanhas sexuais pode perfeitamente multiplicar sua
popularidade. Não é possível esquecer Bernardo Cabral: depois do livro
de Zélia Cardoso de Mello, em que ele é acusado de tê-la abandonado sem
aviso em Paris, ele se elegeu senador.
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E como brigam!
A Toluna, empresa que funde pesquisa,
análise das informações e tecnologia para oferecer percepções de
tendências a seus clientes, estudou o ambiente eleitoral brasileiro.
Concluiu que 40% dos eleitores enfrentaram conflitos familiares por
causa da eleição. Pior: 33% dos pesquisados acham de verdade que vale a
pena brigar com amigos e parentes por política.
O maior índice de desentendimentos ocorreu
entre primos: 35%. Logo em seguida, com tios: 31%. E com os pais, 29%.
Ainda bem que quase não houve brigas corporais: em geral, a discussão
foi “de leve a moderada”.
O estudo, na íntegra, está em aqui.
Apoio, mas restrito
Só agora, poucos dias antes do segundo turno, Marina Silva definiu sua posição: dá “apoio crítico” a Fernando Haddad.
Voto, mas restrito
Comentário do jornalista Mário Marinho, do
site Chumbo Gordo, sobre a decisão da candidata da Rede: “Com o apoio de
Marina, Haddad vai de 21% nas intenções de voto a 21% nas intenções de
voto”
A falta que ele nos faz
Um dos mais produtivos intelectuais
brasileiros, Jacó Guinzburg, morreu aos 97 anos, no último sábado.
Guinsburg, ensaísta, tradutor de primeira linha, editor, dedicou sua
vida à difusão da cultura. Sua editora, a Perspectiva, editou Umberto
Ecco, Roman Jakobson, Augusto e Haroldo de Campos, Franz Rosenzweig. Ele
escreveu na imprensa sobre literatura, brasileira e internacional, fez
crítica teatral em revistas da comunidade judaica. E deu-nos a honra de
colaborar com o site Chumbo Gordo, editado por este colunista e por Marli Gonçalves, escrevendo sobre temas da atualidade. Uma grande perda.
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