Uma
comédia de erros, que vem de muito tempo, acaba de ter um primeiro
desfecho algo patético e, ora vejam!, seus desdobramentos negativos,
neste momento, acabaram caindo no colo do PT. A que me refiro.
No sábado
(20), o cantor e compositor Geraldo Azevedo disse em um show, na Bahia,
que foi preso e torturado durante o regime militar e que Mourão era um
dos torturadores. Ele ficou 41 dias encarcerado. Ocorre que, quando isso
aconteceu, em 1969, Mourão tinha 16 anos e era ainda aluno de colégio
militar. O artista reconheceu o equívoco e se desculpou. A radicalização
do momento, no entanto, induziu o PT a erro e levou o candidato
Fernando Haddad a cair numa esparrela.
Em
sabatina dos jornais “O Globo” e “Valor Econômico” e da revista “Época”,
ele acusou o vice de Bolsonaro de torturador, com base na afirmação já
desmentida feita pelo cantor. Aí, como diz a molecada, seu ruim. Eis aí um
dos lances dessa comédia de erros que foi a campanha eleitoral de 2018.
Vamos ver. O “passado que não quer passar” acabou virando tema de
campanha porque, ao longo de 28 anos na Câmara, Bolsonaro foi um uma
espécie de porta-voz do golpe de 1964. Colecionou frases absurdas e
polêmicas ao longo do tempo. Nos primeiros tempos de mandato, chegou a
afirmar que a tortura apenas havia sido um erro; melhor teria sido
matar. Disse que o Brasil não mudaria pelo voto e pregou a necessidade
fuzilar aos menos uns 30 mil. Defendeu a tortura e prestou homenagem a
um torturador. [torturador que apesar de acusado em dezenas de processos, não foi condenado uma única vez - recentemente, uma das condenações foi anulada.]
Bolsonaro
atribuiu uma ou outra frase ao calor do debate e à sua imaturidade, mas
jamais se desculpou por tudo o que disse e, como se viu, manteve sua retórica implacável contra as esquerdas nesta campanha eleitoral. Com
uma diferença: esqueceu os esquerdistas do passado e se concentrou nos
esquerdistas do presente. Parte de
sua resiliência como deputado, com votos crescentes — e com sobras para
eleger três membros da família —, se deveu às críticas que fez ao longo
dos anos ao processo revisionista a que foi submetido o período do
regime militar. Bolsonaro se opôs de peito aberto às indenizações pagas
às chamadas “vítimas do regime” e atacou com dureza as conclusões da
chamada “Comissão da Verdade”. [erro histórico: ainda não está tramitando o processo para mudar o nome da 'comissão da verdade' para 'comissão da mentira'.] Quem conduziu esses processos de
reparação foram os governos FHC, Lula e Dilma. Daí que, na retórica do
deputado, existe uma espécie de continuidade entre esses governos, sem
distinções entre si. Ele vai um pouco além e fala dos supostos desmandos
no país ao longo de 30 anos — e aí se chega também ao governo Sarney.
Volta e
meia, a revisão da Lei da Anistia reaparece na pauta das esquerdas.
Durante a campanha eleitoral, o Bolsonaro defensor da tortura foi
relembrado. Vale dizer: dos dois lados, houve um investimento no passado
que não quer passar. É nesse
contexto que se dá o engano constrangedor de Geraldo Azevedo e o erro de
Haddad, de embarcar na afirmação do artista, sem ter tomado o cuidado
de apurar a veracidade do relato ou mesmo de fazer uma conta. Já escrevi
aqui algumas vezes: a ideia de levar torturadores para o tribunal
esbarra, não raro, num particular: a maioria já está morta. A repulsa
dos militares da ativa e de muitos da reserva à tese não tem a ver com a
proteção a este ou àquele indivíduos. A maioria não está entre nós.
Consideram que a eventual revisão da Lei da Anistia, além de ferir a
lei, atinge a instituição “Forças Armadas”.
Estivesse o
debate em outro diapasão, e Haddad não teria caído numa cilada
involuntariamente armada contra ele por alguém que, tudo indica, acabará
lhe dando o voto. [Haddad não foi vítima de uma cilada; apensa toda sua campanha tem sido baseada na mentira e ele sempre se deu bem - na quase totalidade das vezes ele acusa Bolsonaro e parte da imprensa maximiza a acusação, sem dar espaço ao capitão para o contraditório;
só que desta vez a burrice do poste petista impediu que ele atentasse para o fato das datas, informação que não pode ser alterada - tanto que Lula se f ... em um lance de um apartamento - não o triplex - e sim outro, devido um dos recibos de aluguel que ele apresentou era datado de 31 de novembro.
Datas e mentiras nunca se entendem e sendo o PT a mentira materializada eles sempre se confundem com datas.] Não e crível supor que gente que votaria no petista
migrará agora para Bolsonaro em razão do equívoco. Mas é claro que tudo é
muito constrangedor para o candidato, que se vê na contingência de
também pedir desculpas ao general. [esperamos que o general Mourão processo os dois; Azevedo por ter lançado a mentira;
o poste petista por ter, mesmo após o desmentido do compositor, ter divulgado a calúnia.]
Convenham:
de um lado e de outro, essa questão deveria estar fora do debate. O
Brasil conta com muitas agressões aos direitos humanos e individuais
praticadas por vivos contra vivos.
Blog do Reinaldo Azevedo
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