Bolsonaro e Haddad contribuíram para o clima de desestabilização do processo eleitoral, que agora o Supremo Tribunal Federal (STF) resolveu combater
A Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), por unanimidade, aprovou requerimento para que a Procuradoria-Geral da República (PGR) investigue vídeo publicado na internet com ofensas à presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Rosa Weber, e a outros ministros do tribunal. O alvo da decisão é o coronel da reserva Carlos Alves, que gravou vídeo no qual reitera as mesmas ameaças que já haviam sido feitas pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), eleito com mais de 1,8 milhão de votos, que depois pediu desculpas pelas declarações.
Segundo o Exército, trata-se de um coronel engenheiro militar da reserva, que já está sob investigação do Ministério Público Militar pela mesma razão. O ministro Celso de Mello fez um duro discurso em defesa da presidente do TSE, ministra Rosa Weber, que foi ofendida pelo coronel com “palavras grosseiras e boçais”. Para o ministro, é um “ultraje inaceitável”. A decisão da Segunda Turma é uma espécie de freio de arrumação na campanha eleitoral, cuja radicalização descambou para ataques ao Tribunal Regional Eleitoral (TSE).
Ontem, com base em declarações do compositor e cantor Geraldo Azevedo, o candidato do PT, Fernando Haddad, acusou o general Hamilton Mourão, vice de Bolsonaro, de ter torturado o artista. O general repeliu a acusação com um argumento incontestável: tinha apenas 16 anos à época em que Geraldo Azevedo foi preso. O cantor pediu desculpas, e quem ficou com o mico na mão foi Haddad, que Mourão ameaça processar por fake news.
Tanto Bolsonaro como Haddad contribuíram para o clima de desestabilização do processo eleitoral, que agora o Supremo Tribunal Federal (STF) resolveu combater. O primeiro, ao afirmar que somente perderá as eleições se houver fraude nas urnas eletrônicas; o segundo, ao pedir a impugnação da candidatura do adversário, com argumento de que houve abuso de poder econômico e caixa dois no primeiro turno. A partir daí, a campanha esquentou ainda mais, com a ministra Rosa Weber no olho do furacão dos radicais das duas campanhas.
A solidariedade dos ministros do Supremo vai além desse gesto: é uma afirmação de poder do próprio Supremo. O ministro Luiz Barroso, em Salvador, reiterou: “quem ganha tem o direito de governar, mas tem também o dever de respeitar as regras do jogo e os direitos de todos”. O ministro do STF defendeu o pluralismo político e disse que só não há espaço na democracia para “projetos desonestos e autoritários”. Entretanto, fez críticas ao atual sistema político: “Precisamos de uma reforma política capaz de baratear os custos das eleições no país, aumentar a representatividade dos parlamentares e facilitar a governabilidade”.
Voto do não
As pesquisas estão mostrando que a eleição está sendo polarizada pela rejeição recíproca entre os candidatos: segundo o Datafolha, 20% dos eleitores de Haddad votam no petista por rejeitar Bolsonaro; 25% dos eleitores de Bolsonaro votam nele por rejeitarem o PT. Entre as intenções de votos destacam-se os eleitores que votam em Bolsonaro porque querem alternância de poder, assim como o contingente que apoia o petista por causa de seu programa de governo. Segurança pública é outro tema que alavanca Bolsonaro, enquanto o apoio de Lula aparece como a terceira principal razão de voto em Haddad, o que é uma surpresa.
Às vésperas das eleições, as contradições políticas de Bolsonaro e Haddad não estão tendo o peso que normalmente têm na reta final da campanha eleitoral. Os eleitores estão mais resilientes e impermeáveis às narrativas eleitorais. O acirramento da disputa é maior entre os militantes das duas campanhas e parece agastar mais a relação de ambos com o Judiciário do que alterar o quadro eleitoral. Na verdade, o voto do não está bastante consolidado e deve decidir a eleição.
Nos estados, a campanha também está mais radicalizada. Em São Paulo, um “vídeo pornô” contra o candidato do PSDB, João Doria, no qual o ex-prefeito supostamente participaria de uma orgia sexual, virou meme nas redes. Em vídeo no qual aparece ao lado da esposa, o tucano responsabilizou o governador Márcio França (PSB), candidato à reeleição, pela produção da fake new. Nos votos totais, João Doria tem 46%, e Márcio França, 41%.
No Rio de Janeiro, caiu a diferença entre Wilson Witzel (PSC), que tem 48%, e Eduardo Paes (DEM), com 38%. Em Minas, Romeu Zema (Novo) tem 57%, e Antonio Anastasia (PSDB), 28%. No Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB) tem 60% dos votos: José Ivo Sartori, 40%. Todas as pesquisas são do Ibope.
Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo - CB
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