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domingo, 11 de novembro de 2018

Saber perder e os cartões corporativos de Temer

A primeira derrota do presidente eleito aconteceu antes mesmo de ele assumir seu novo cargo. Foi quando pediu ao Senado que não aprovasse o reajuste do Judiciário 

[Bolsonaro na condição de presidente eleito, legítimo representante do Brasil, apresentou o pedido em nome do Brasil, especialmente dos mais de 12.000.000  de desempregados.]

Ao longo da campanha que acabou por elegê-lo presidente da República, Jair Bolsonaro deu sinais de que não sabe ganhar. Mesmo liderando todas as pesquisas por larga margem, denunciou diversas vezes que havia tentativas de fraudes eleitorais e atacou sem cessar a mais eficiente urna eletrônica em uso em todo o mundo. E esses ataques seguiram até a véspera do segundo turno. Difícil dizer como vai reagir quando perder alguém que não sabe ganhar.

A primeira derrota do presidente eleito aconteceu antes mesmo de ele assumir seu novo cargo. E se deu porque ele resolveu se intrometer no assunto ao pedir ao Senado que não aprovasse o reajuste do Judiciário que vai causar impacto anual de R$ 4 bilhões nas contas públicas. Bolsonaro foi provocado por um repórter, poderia ter ficado calado, mas não só respondeu como fez a recomendação. Agiu corretamente, apesar de ao final ter perdido a votação, pois terá de lidar com o resultado do aumento salarial dos juízes no ano que vem. Não se omitiu, ponto para ele.

Mas o fato é que ele perdeu a primeira votação antes mesmo de inaugurar seu governo. E, pior, perdeu com dez votos de senadores que oficialmente o apoiam e vão fazer parte de sua base parlamentar a partir de 2019. Antes da votação do reajuste, o futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, defendia fazer uma “prensa” no Congresso para aprovar sua agenda, e um dos filhos do presidente chegou a falar em “tratorar” o Legislativo. Bobagem, deputados e senadores não temem a fúria de presidentes, querem seus favores, e podem até fazer trocas. Mas grito não resolve.

O presidente do Senado, Eunício Oliveira, que não se reelegeu, disse ao jornal “O Estado de S. Paulo” que não lhe incomodou ter ignorado o pedido do presidente eleito. “Não me importo se Bolsonaro vai gostar ou não”, afirmou Eunício, responsável pela colocação do aumento do Judiciário na pauta. O senador denunciou ainda uma tentativa de constrangimento que sofreu em outro episódio. Segundo Eunício, Paulo Guedes teria dito a ele “ou você vota a Previdência ou o PT volta”. A informação não foi checada, mas, se existiu, confirma mais uma vez que é preciso cuidado para que a falta de jeito não vire marca registrada do novo governo.

O bom-senso recomenda cautela e muita saliva no tratamento das questões com o Congresso. Para cumprir uma de suas principais promessas de campanha, erradicar da prática governamental a troca de cargos por votos, Bolsonaro terá que negociar muito mais do que qualquer outro presidente antes dele. Com o famoso “é dando que se recebe”, um governo iniciava os entendimentos para aprovação de suas propostas com a maior parte dos votos necessários já consolidada. Sem ele, cada nova pauta começará a ser negociada do zero.

Nos próximos quatro anos, Bolsonaro vai ganhar um bom número de causas e perder outro tanto. Será fundamental ao novo presidente saber perder. A derrota pode ser dura e difícil, mas terá de ser engolida e digerida pelo novo presidente. Só assim poderá mostrar grandeza e exercer bem o cargo que o brasileiro lhe confiou. Um presidente não pode tudo, perder faz parte da sua rotina. Até sexta-feira, a primeira derrota tinha sido bem deglutida.

Ascânio Seleme - O Globo 

Governo Temer gasta R$ 2,3 milhões em cartões corporativos de Jaburu e Alvorada


Entre maio de 2016, quando Michel Temer tomou posse, e o mês passado, os cartões corporativos atrelados aos gastos dos Palácios da Alvorada e do Jaburu tiveram um total de R$ 2,373 milhões — ou cerca de R$ 84 mil por mês e R$ 2.825 por dia.


Guilherme Amado - O Globo
 

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