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segunda-feira, 26 de novembro de 2018

O que terá pretendido comandante do Exército com um tuíte sobre a “intentona comunista”? Vai ver estava mandando recado a futuro governo

Pessoas que acompanham de perto os militares e suas relações com a política ainda tentam entender o significado de um tuíte publicado pelo general Eduardo Villas Boas, comandante do Exército. Lá se lê:
“Determinei ao @exercitooficial que rememorem a Intentona Comunista ocorrida há 83 anos (27 Nov 1935). Antecedentes, fatos e consequências serão apreciados para que não tenhamos nunca mais, irmãos contra irmãos vertendo sangue verde e amarelo em nome de uma ideologia diversionista”

Como fato histórico, a dita “intentona” pode ser apreciada a qualquer tempo. Nas escolas de formação das Forças Armadas, pode e deve ser estudada. E certamente a ninguém ocorrerá que se peça, nesses ambientes, uma abordagem “sem partido”. Por que, agora, a ênfase numa tentativa de levante comunista?
Vamos pensar um pouco. Alguém anda a ver por aí algum comportamento exacerbado da esquerda?
Não.
Existem esquerdistas questionando a legitimidade do pleito que elegeu Bolsonaro?
Não.
A tal “ideologia diversionista” anda a assombrar o Brasil?
Não — a não ser na mente de alguns paranoicos, e não é o caso de Villas Boas.

Volto-me ao texto. O general pede que se rememorem antecedentes, fatos e consequências.
Antecedentes: um golpe “modernizador” (1930), a resistência em admitir um regime constitucional e maquinações que buscavam um novo golpe, que acabou sendo desferido em 1937. E, como sabe Villas Boas, correu sangue de todas as correntes ideológicas — e o de todos era, digamos, vermelho. Sem metáfora.
Com efeito, não é bom esse negócio de haver “irmãos contra irmãos”, brasileiros contra brasileiros, em luta armada ou guerra civil.

Que se saiba, as forças comunistas que tentaram tomar o poder pelas armas em 1935 não conseguiriam hoje tomar um fusca velho. À esteira da dita “intentona”, veio a farsa do “Plano Cohen” (1937), que, suponho, por determinação de Villas Boas, deve também ser estudando no capítulo das “Consequências”. Tratou-se de uma armação vigarista, de autoria, tudo indica, do então capitão Olímpio Mourão Filho mais tarde, protagonista do golpe militar de 1964, já então general —, anunciado na rádio pelo general Góes Monteiro.

O falso plano — com um nome judeu para fazer as honras do antissemitismo da então extrema-direita brasileira — revelaria uma suposta trama comunista para tomar o poder e serviu de pretexto para deflagrar o Estado Novo. A ditadura liderada por Getúlio Vargas perdurou até 1945. Foi muito mais violenta e repressiva que a de 1964.  Vai ver Villas Boas está mandando um recado para os futuros ocupantes do poder. Nesse caso, estaria querendo dizer: cuidado com os antecedentes porque, como diria o Conselheiro Acácio, reinterpretado por Marco Maciel, “as consequências vêm sempre depois”.

Considerando que o general certamente não está disposto a rever as anistias de 1945, é a única coisa que justificaria recomendação tão enfática. E também acho que devemos tomar cuidado com ideologias diversionistas. Chamo de “diversionista” tudo aquilo que se afasta dos valores consagrados pelo Artigo 5º da Constituição de 1988.

Blog do Reinaldo Azevedo

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