Partidos querem criar dificuldades no Congresso para aumentar preço de apoio ao Planalto
Sob pressão de parlamentares, o Planalto topou abrir um mutirão do
emprego. O governo suavizou o discurso de campanha e preparou uma lista
de cargos que serão abertos para indicações políticas em troca de apoio
no Congresso. As vagas só serão negociadas depois do Carnaval, mas
deputados e senadores já ameaçam aumentar a fatura. Jair Bolsonaro se enrolou na própria retórica. Durante a eleição, o
presidente demonizou os partidos e a distribuição de espaços na máquina
pública. Ele só percebeu que precisaria desse artifício ao subir a rampa
do palácio. Agora, potenciais aliados encaram o governo com
desconfiança e querem cobrar mais caro para aprovar seus projetos.
Líderes partidários que estiveram com Bolsonaro na terça-feira (26) se
dividiram. Alguns se contentaram com os sinais de que o presidente
aceitou participar do jogo da política tradicional, mas outros deixaram o
encontro dispostos a criar dificuldades e constrangimentos para o
Planalto nas próximas semanas. Parte das siglas do centrão planeja emparedar o governo. A ideia é
convocar ministros e presidentes de bancos públicos para explicar
nomeações e medidas tomadas nos primeiros meses de mandato. Os
parlamentares consideram que a retórica antipolítica de Bolsonaro os
colocou sob suspeição e querem devolver na mesma moeda.
A hesitação do Planalto diante das engrenagens da política desgastou o
novo governo, abrindo caminho para aproveitadores e chantagistas. A rigor, é normal que siglas com assento no Congresso participem do
governo, já que representam uma parte da população. Não é normal que
políticos aproveitem essa lógica para assaltar o Estado. Bolsonaro
reagiu com fúria ao segundo grupo, mas pode ter ficado de mãos atadas. Sem saída, o presidente fará uma concessão aos partidos e entregará os
cargos, ainda que a contradição com sua plataforma de campanha consuma
parte de seu capital político. Mais do que nunca, ele precisará dos
partidos para governar.
Bruno Boghossian - Folha de S. Paulo
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