Os acontecimentos do final de semana deixaram no Planalto uma má
impressão sobre Juan Guaidó. Avalia-se que o presidente interino da Venezuela
superestimou o potencial da oposição a Nicolás Maduro, subestimando suas
dificuldades. Não avançou um milímetro. E ainda montou o palco para que o rival
Maduro exibisse uma capacidade de reação que consolida sua aparência de
encrenca de longa duração. Na fabulação de Guaidó, legiões de venezuelanos
iriam à fronteira com a Colômbia e o Brasil. Sublevados, inibiriam a ação
repressiva dos soldados e milicianos a serviço de Maduro. Os caminhões com a
comida e os remédios do socorro humanitário chegariam ao seu destino. E haveria
uma deserção em massa de militares. Coisa com potencial para trincar a aliança
de Maduro com as Forças Armadas venezuelanas.
Deu-se tudo ao avesso. No sábado, havia mais voluntários em Caracas
dispostos a enfrentar uma hora e meia de discurso de Maduro do que revoltosos
na fronteira com disposição para fugir de balas perdidas. Caminhões e
camionetas não chegaram ao outro lado. Inocentes foram passados nas armas ou
ficaram feridos. As deserções de militares venezuelanos são contadas, por ora,
em menos de duas centenas. E não escalaram o oficialato. No domingo, quando os
operadores militares do Planalto esperavam que Juan Guaidó exibisse sangue frio
e serenidade, o autoproclamado presidente interino da Venezuela subiu o tom. Na
véspera da reunião do Grupo de Lima, encareceu aos países aliados que passem a
considerar "todos os cenários possíveis". O flerte com a intervenção
militar externa foi visto em Brasília como evidência de fragilidade.
Nesta
segunda, ao discursar no encontro do Grupo de Lima, na Colômbia, Guaidó repetiu
que é hora de considerar "todos os cenários internacionais
possíveis". Ele foi ecoado pelo vice-presidente dos Estados Unidos, Mike
Pence: "O presidente Donald Trump já deixou claro: todas as opções estão
sobre a mesa." Conforme havia sido noticiado aqui, o vice-presidente
Hamilton Mourão, que discursou em nome do Brasil, exorcizou a opção bélica.
Desancou a ditadura de Maduro. Mas defendeu a busca de saída pacífica para a
crise. Em entrevista, pregou a abertura de canais de diálogo com os militares
venezuelanos. Reiterou a ideia de abrir uma porta de emergência, para a fuga de
Maduro e seu séquito.
A opção pacífica do Brasil prevaleceu. Em comunicado subscrito por dez
dos 14 países que integram o colegiado, o Grupo de Lima anotou que a transição
democrática na Venezuela deve ser conduzida "pacificamente pelos próprios
venezuelanos". Tudo pelas vias políticas e diplomáticas, "sem o uso
da força." As palavas de Mourão no encontro desta segunda ajudam a
entender porque o Planalto considera que a crise pode ser longeva. Ex-adido
militar do Brasil em Caracas, o vice-presidente disse que a Venezuela compra
equipamentos militares "sofisticados" desde 2009. Acumula
"considerável capacidade ofensiva". Militarizou parte da população,
por meio de "milícias ideologizadas". Nesse contexto, Maduro
considera-se invulnerável.
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