Brasil não pode lavar as mãos, mas entra numa fria na Venezuela
Impasse: o Brasil não pode lavar as mãos nem vai usar a força militar, mas qual a alternativa?
Direto e realista, como sempre, o vice-presidente Hamilton Mourão admite que “um dos cenários na Venezuela é de guerra civil, o que pode respingar para todo lado”. Ele ressalva que, mesmo assim, trata-se de uma questão interna do país vizinho e cabe à ONU interferir, não ao Brasil. “Enquanto eles continuarem matando uns aos outros, a gente não pode fazer nada”, disse Mourão, que viaja ainda neste domingo para Bogotá, na Colômbia, para a reunião, amanhã, em que o Grupo de Lima discutirá a situação de emergência na Venezuela. [general Hamilton, o problema é que enquanto eles estiverem se matando uns aos outros, em território venezuelano, destaque-se, tudo bem.
Só que militares venezuelanos estão atirando contra pessoas e bens que estão em território brasileiro, o que configura uma agressão à SOBERANIA do BRASIL, o que exige um imediato revide e ações na área diplomática, começando pela convocação, para consultas, do embaixador do Brasil na Venezuela.
Qualquer brasileiro entenderá uma reação enérgica do Brasil.
Se alguém da rua, ou da casa vizinha, começa a atirar contra nossa casa, com certeza revidaremos, já que temos o DIREITO e o DEVER de assim proceder.]
Uma das grandes preocupações do governo brasileiro é com o grau de
beligerância entre Venezuela e Colômbia. Segundo Mourão, que é general
de exército, “80% do dispositivo militar venezuelano é voltado para a
fronteira com a Colômbia. Na fronteira com o Brasil, tudo o que Maduro
tem é uma brigada de engenharia de selva muito capenga”. O Grupo de Lima foi criado justamente por causa da dramática crise
venezuelana e, dos seus 14 países, só um, o México, se manteve aliado ao
inacreditável Nicolás Maduro e se recusou a reconhecer Juan Guaidó como
presidente interino. Além de Mourão, a reunião contará também com a
presença de presidentes da região e do vice-presidente dos Estados
Unidos, Mike Pence. Os dois vices discursarão.
Maduro pode ser louco, irresponsável e patético, deu um xeque-mate na
comunidade internacional e jogou a Venezuela no centro de uma delicada
questão geopolítica. Ilhado, rejeitado por meia centena de países, ele
contrapôs EUA, de um lado, e China e Rússia, de outro. E o Brasil, como a
Colômbia, foi arregimentado por Washington para agir. Parece absurdo, mas as potências reagem ao colapso da Venezuela, que
mata pessoas e gera o êxodo de milhares de famílias, como questão
meramente ideológica. Os EUA tentam recuperar a velha hegemonia na
América Latina, a China e a Rússia usam o pobre país contra a grande
potência, ou contra um mundo unipolar.
A ação brasileira, a reboque dos EUA, combina com o discurso de campanha
do presidente Jair Bolsonaro e com os escritos do chanceler Ernesto
Araújo, mas deixa setores produtivos, exportadores e até oficiais de
alta patente de cabelo em pé. Segundo um deles, que não quis se
identificar, “nós entramos numa fria”. E explicou: “Não faz muito
sentido essa aliança tão incondicional com os EUA. Qualquer consequência
negativa (da ação na Venezuela) não vai recair sobre eles, vai recair
sobre nós”.
A verdade é que era impossível simplesmente lavar as mãos diante do caos
na Venezuela, mas são poucas as alternativas. As pontes diplomáticas
implodiram, uma invasão militar é fora de cogitação e não dá para
recuar. O impasse é que o Brasil tem de fazer alguma coisa, mas não tem
ideia do que fazer. Um grande complicador, como reconhece o vice Mourão, é a falta de canais
com o governo e as instituições venezuelanas. “Estamos sem informações
fidedignas, sem tem com quem falar e em quem confiar”, admitiu. Como já
dito neste espaço, militares brasileiros olham com desconfiança os
venezuelanos, considerados muito vulneráveis à corrupção.
Quanto mais o regime fazia água, mais oficiais iam sendo promovidos e
hoje há 1.300 generais, o que seria cômico, não fosse trágico. Essa
gente toda está pendurada na PDVSA (a petroleira equivalente à
Petrobrás), nos projetos e obras ao longo do Rio Orinoco, em
confortáveis embaixadas mundo afora. Quem sofre é o povo, como sempre na história. A Venezuela virou um
bunker de Maduro, enquanto Brasil, Colômbia e Chile, entre outros,
quebram a cabeça para intervir sem uso de armas. “Ninguém vai entrar
numa canoa furada”, diz Mourão, rechaçando ação militar. Ainda bem, mas
só fazer show na fronteira não vai resolver nada. Qual a alternativa?
Eliane Cantanhêde - O Estado de S. Paulo
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