Bebianno é lutador de jiu-jítsu, conhece e treina técnicas para golpear os ‘oponentes’
O governo Jair Bolsonaro repete os governos de Lula e Dilma Rousseff:
quando alguma coisa vai mal, a culpa é da mídia. Os presidentes fazem
tudo certo, os ministros são impecáveis, as coisas vão sempre às mil
maravilhas e só quem não reconhece isso são tevês, rádios, jornais,
revistas. Os “inimigos do Brasil”. [sem pretensões de acusar a mídia, mas, tem situações em que determinados integrantes da mídia - no mínimo um jornal e uma TV - forçam a barra para condenar o governo do presidente Jair Bolsonaro = seja fazendo reportagem considerando FATO o que não passa de especulações, conjecturas, indícios, ou maximizando os aspectos negativos (contra o governo) e minimizando os positivos.]
É como se houvesse um complô midiático pronto a derrubar qualquer
governo, coitado, tão frágil, tão desprovidos de canais de comunicação e
propaganda. Mas o pior de tudo isso é que tem muita gente que acredita.
Ou quer acreditar. Esse script da vitimização, usado com muito êxito por Lula nos seus oito
anos, passa por jogar eleitores, eleitoras e incautos em geral contra a
mídia que divulga informações – na maioria oficiais –, relata fatos
muitas vezes desagradáveis sobre os poderosos, publica entrevistas de
adversários e de antigos aliados cheios de mágoa.
A virulência dos bolsonaristas equivale à dos petistas e Bolsonaro
repete Lula, só que não se limita a jogar sua tropa contra a mídia e usa
diretamente um instrumento poderoso nessa guerra: as redes sociais, um
mundo virtual com uma “verdade” própria, uma realidade paralela entre
“bons” e “maus”. A novela Gustavo Bebianno tem esse script. O presidente da República
grava entrevista chamando o ministro de mentiroso e dizendo que ele pode
“voltar às origens”. O filho do presidente, vereador Carlos Bolsonaro,
reafirma que o ministro é mentiroso e divulga o áudio de um “não” do pai
para ele. E, a partir daí, Bebianno vira uma fera ferida, cheio de
ameaças.
E de quem é a culpa? Do presidente? Não. Do filho? Não. Do ministro?
Não. Do PSL? Não. A culpa, gente, é da imprensa, que divulgou todas
essas etapas sem retoque, a verdade como ela é. Circulam textos falando que a imprensa faz uma “defesa apaixonada” de
Bebianno porque tem uma ideia fixa: derrubar o presidente Bolsonaro.
[parte da Imprensa não aceita Bolsonaro, não aceita que ele tenha recebido quase 60.000.000 de votos e no que depender dos seus integrantes Bolsonaro será derrubado;
e essa parte 'ruim' da imprensa vai mais longe em seu medo = vira terror com a possibilidade - não tão fácil, mas altamente provável - de que Bolsonaro faça um bom governo e seja reeleito.] Seria cômico, não fosse trágico, que muita gente “esclarecida” acredite e
divulgue esse tipo de coisa. É jogar os fatos fora, tampar bocas, olhos
e ouvidos para não enfrentar a realidade e poder engolir qualquer coisa
que o “Grande Irmão” diga ou mande dizer.
Fatos são fatos e, contra fatos, não há argumentos. Bebianno era um
ilustre desconhecido, virou advogado de Bolsonaro, depois presidente do
PSL durante a campanha e – diferentemente do que dizem – foi um dos
primeiros ministros anunciado por Bolsonaro após se eleger presidente. E
com gabinete no Palácio do Planalto, um dos dois únicos civis no
coração do poder. Fosse o governo de A, B ou C, de direita ou esquerda, a queda e a troca
de desaforos em público seriam um escândalo e ocupariam as capas dos
jornais e os horários nobres, ainda mais pelas circunstâncias: é a
primeira crise de um governo que só começou há um mês e meio, um dos
pivôs é um amigo do presidente e outro é um dos filhos dele, em meio ao
constrangimento e a uma saraivada de críticas ao excesso de poder do 01,
do 02 e do 03. [fato que a imprensa não tem culpa - seja do que está ocorrendo e do que virá a ocorrer; ou Bolsonaro enquadra os três pimpolhos, mandando que vão cuidar dos seus mandatos parlamentares - quanto tiverem ideias que ajudem o governo, procurem Bolsonaro (em privado, na condição de filhos falando para o pai) apresentem as ideias e deixem que Bolsonaro - presidente - decide o que fazer;
e então o filho apresentador da ideia vá cuidar da sua vida e sem dar entrevistas para falar do que conversou com o pai.
Ou Bolsonaro faz isso ou seu governo vai ter muitos problemas.]
Saem os (poucos) amigos, aumentam os (muitos) militares. Quem assume a
vaga do ex-amigo Bebianno é o general de divisão Floriano Peixoto, que é
o oitavo militar no primeiro escalão do governo Bolsonaro e deixa o
ministro Onyx Lorenzoni na incômoda posição de único civil com destaque
no Planalto e adjacências. Uma ilha. Bebianno vai, mas as dúvidas ficam. Ele vai falar tudo o que sabe? Vai
manter a versão de que Bolsonaro é “muito fraco”? E a investigação sobre
o “laranjal” do partido do presidente, o PSL, vai evaporar?
Como lembrança, Bebianno luta jiu-jítsu, arte marcial japonesa que
utiliza golpes de alavancas, torções e pressões para derrubar e dominar
os oponentes. Bolsonaro passa a ser o grande oponente. Jogar a culpa na
mídia não resolve nada.
Eliane Cantanhêde, jornalista - O Estado de S. Paulo
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