Vem pro jogo, Jair
O sucesso da reforma da Previdência depende sobretudo do engajamento de Bolsonaro
O presidente Jair Bolsonaro ganhou um simpático apoio num evento público
com três governadores recém-eleitos no RS, em GO e em SP: uma adesão
“irrestrita” (Eduardo Leite), “total” (Ronaldo Caiado) e “firme” (João
Doria) à reforma da Previdência. E ouviu, no mesmo evento, um duro
recado: “Jair, vem pro jogo, e traz teu capital político”. O mesmo pedido já havia sido feito antes por Rodrigo Maia, presidente da
Câmara e agora a figura política de referência para o governo
Bolsonaro. Tem sido repetido por diversos líderes partidários. E está em
destaque nas análises fornecidas por consultorias políticas e de risco:
a reforma da Previdência é o único assunto que importa para definir o
sucesso deste governo. E ela depende hoje, basicamente, do presidente.
Há um sentido crítico muito evidente nesses “pedidos”. Sendo a reforma
da Previdência, antes de mais nada, uma batalha de comunicação, e
batalha de comunicação é a capacidade de fazer prevalecer uma narrativa
(ou desconstruir uma oposta), cabe a Bolsonaro usar a habilidade que
demonstrou nas eleições de dirigir-se ao “homem simples” e engajar-se
diretamente em convencer o dileto público a engolir medidas que serão
inevitavelmente impopulares. Economistas alertam para o fato de que não adianta sequer pensar num
“plano B” para o governo no caso de não aprovação ou de uma aprovação de
reforma demasiadamente aguada. As consequências da não aprovação para a
economia seriam catastróficas em prazo bem curto. O tempo está
trabalhando contra o País e, portanto, o emprego do capital político não
só é necessário como urgente.
Há mais um alerta na praça se Bolsonaro estiver disposto a considerá-lo.
Tanto os governadores experimentados e veteranos no Legislativo (como
Caiado) quanto os jovens e recém-chegados à “grande articulação” (como
Leite) apontam para um elemento essencial na política: o ambiente. O
atual ainda seria favorável a empurrar em direção à reforma um Congresso
fracionado, desarticulado e – como todos sabem – muito bem dominado por
interesses setoriais e corporativos dos mais diversos tipos.
Tão ou mais que o presidente, os governadores estão lidando com uma
bomba fiscal de proporções catastróficas e que, em alguns casos, já
paralisou a máquina pública especialmente em setores como segurança
pública, saúde e educação. Em boa parte, a “velha” política dos
governadores (a do domínio por eles de bancadas no Congresso) está sendo
substituída por uma “nova” política na qual o aperto das contas e a
quase incapacidade de fazer funcionar a máquina pública empurram esses
chefes dos executivos estaduais a algum tipo de entendimento com a
União.
Há um outro lado, pendurado no da reforma da Previdência, que os
governadores estão entendendo bastante bem. Uma hipotética mexida na
estrutura tributária (que eles querem) pressupõe algum tipo de acerto
nas questões fiscais, e as duas juntas trazem à mesa a famosa e
interminável discussão do “pacto federativo”. Os R$ 100 bilhões que
viriam para os cofres públicos com a cessão onerosa combinada lá atrás
com a Petrobrás já são um teste entre a equipe econômica de Paulo Guedes
e alguns governadores que olham (com razão) gulosamente para esse
caixa.
É mais um assunto para ser decidido com participação do Congresso, num
sistema no qual toda questão conflituosa política acaba judicializada
(imaginem a Previdência...), com partidos fracionados, lideranças velhas
desgastadas, as novas ainda incipientes e uma parte do governo achando
que consegue administrar via redes sociais. É só um pedaço do jogo que
está armado. Os envolvidos acham que falta Jair pular com vontade pra
dentro dele.
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