Há estradas em que a oscilação da velocidade máxima parece mesmo uma pegadinha para multas. Mas este é problema do Governo, não da tecnologia
Publicado na Coluna de Carlos Brickmann
O presidente da República se queixa de
que é impossível viajar de carro sem ser multado, critica a
fiscalização eletrônica e diz que não vai gastar mais dinheiro com isso.
Não investirá em novas lombadas eletrônicas e, quando as atuais
esgotarem sua vida útil, não serão renovadas. Há estradas em que a oscilação da
velocidade máxima parece mesmo uma pegadinha para multas. Mas este é
problema do Governo, não da tecnologia. E, num país em que mais de 50
mil pessoas morrem por ano no trânsito e 350 mil vão para o hospital,
que vale mais: evitar multas ou evitar mortes?
A instalação da lombada eletrônica no
Brasil, em 1992, foi decisiva para reduzir os acidentes de trânsito em
70%. O BID, Banco Interamericano de Desenvolvimento, cita a experiência
brasileira como referência mundial. No lugar onde há lombadas
eletrônicas, os acidentes se reduziram em 30% e as mortes em 60%. Em
pontos mais perigosos, as mortes caíram a quase zero.
Ninguém gosta de ser multado, mas
pesquisa de 2002 dá 84% a favor do monitoramento eletrônico. Estudo do
Ibmec mostra que em 2004 as lombadas eletrônicas evitaram mais de mil
mortes. Custo das lombadas? Comparando, pequeno: cada acidente com morte
nas rodovias federais custa R$ 418 mil ao Governo; cada ferido, R$ 86
mil. Mesmo que os acidentados se recuperem totalmente – o que nem sempre
ocorre – saturam o SUS.
Vale a pena morrer para não ser multado?
Fala muito!
Não há dúvida de que os três zeros à
esquerda, 01, 02 e 03, dão trabalho ao PaiPai. Mas Bolsonaro, o Zero
Alfa, também não perde uma oportunidade de provocar polêmicas que, se
perder, farão mal ao Governo, e se ganhar não lhe trarão qualquer
vantagem. Já brigou com Daniela Mercury, Caetano, com dois senhores que
acham que ficar nus no centro de São Paulo, com o dedo no ânus e
urinando um no outro, é um protesto contra sabe-se lá o que. A briga com
os referidos senhores (que dizem fazer oposição aberta, mas não revelam
seus nomes) repercutiu no mundo – e repercutiu mal. Bolsonaro fala
muito, durante o Carnaval soltou 29 twitters, sobre os mais diversos
temas, mas só tocou no que é importante, a reforma da Previdência, na
sexta, 7. Aí falou sobre reforma tributária e retomada dos
investimentos. Aliás, a reforma da Previdência é o que interessa à
economia, aqui e lá fora. A opinião de dois peladões pouco higiênicos
não tem a menor importância. Pois foi com eles (mais alguns artistas)
que o presidente gastou boa parte de seu tempo.
(...)
Problemas…
Há forte desaceleração nos mercados
internacionais, em grande parte por causa da disputa comercial entre EUA
e China. As exportações chinesas caíram 20,7% em fevereiro. Esperava-se
a queda, mas algo como 6%. Em dinheiro: o superávit previsto para
fevereiro era de US$ 24,5
bilhões. Ficou em US$ 4,12 bilhões. Em janeiro, o superávit tinha sido
de US$ 39,16 bilhões. E algo que afeta o Brasil: as importações caíram
5,2%, contra 2,5% previstos. A Bolsa de Xangai perdeu 3% em um só dia.
…e resultados
Nos Estados Unidos, onde a economia
vive uma fase de pleno emprego (até 4% de desempregados), houve alguma
criação de vagas: de 4%, o índice de desemprego caiu para 3,9%. O
salário médio subiu 0,3% em fevereiro; de um ano para outro, a alta
salarial foi de 3,3%, contra 3,2% de janeiro. Não são taxas
espetaculares, mas são positivas. E Trump já começa a se preparar para a
reeleição. Os opositores democratas ainda não têm nomes fortes.
A vida como ela foi
Um livro notável, de um jornalista
notável, com depoimentos de notáveis jornalistas, será lançado amanhã,
na sede da ABI, Rio, às cinco da tarde. Aziz Ahmed, em Memórias da Imprensa Escrita,
conta tudo o que viu, e que não foi pouco:
Carlos Lacerda, antes de ser
político, queria ser autor de novelas;
De Gaulle jamais disse que o
Brasil não é um país sério;
uma festa no dia da posse do presidente
Kennedy foi suspensa pela polícia, chamada por um cidadão incomodado com
o barulho.
Leia ali a última entrevista de Ricardo Boechat. Há Samuel
Wainer, há o próprio Aziz Ahmed. Não dá para perder.
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