Quase confissão – Defesa de Lula tenta chicana na Justiça Eleitoral
Todo político quer ser acusado de caixa 2, e não de corrupção e lavagem de dinheiro, que valeram a Lula a condenação
O
pedido da defesa para que o processo que resultou na condenação do
ex-presidente Lula pelo tríplex do Guarujá vá para a Justiça Eleitoral,
além de uma tentativa patética de chicana, é quase uma confissão de
culpa. Ele não foi condenado por caixa 2, mas sua defesa alega
que o processo acusa Lula de ter liderado um esquema de arrecadação de
dinheiro para custear campanhas eleitorais do PT e de partidos aliados.
Todo
político quer ser acusado de caixa 2, e não de corrupção e lavagem de
dinheiro, que valeram a Lula uma condenação de 12 anos e um mês. Querer
se beneficiar da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que mandou
para a Justiça Eleitoral os crimes conexos ao caixa 2 é também admitir, o
que nega até hoje, a existência de um fundo formado pelo dinheiro de
propina em obras públicas para financiar as campanhas eleitorais de seu
partido. Ganhar de empreiteiras um tríplex na praia ou melhorias
no sítio em Atibaia que usava como se fosse seu, dificilmente, pode ser
considerado um crime eleitoral. No limite, o ex-presidente terá desviado
dinheiro da propina para a campanha eleitoral para uso próprio, o que
descaracteriza a finalidade política. E, como os desvios foram de
dinheiro público, através da Petrobras e de outras estatais, não existe
caixa 2, mas sim peculato, como ficou decidido pelo Supremo Tribunal
Federal (STF) no julgamento do mensalão.
Lula volta, quase 14
anos depois, a utilizar-se de uma estratégia de defesa montada pelo
então ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos para amenizar as
acusações contra o PT, pois naquela época o crime eleitoral quase nunca
levava políticos para a cadeia. Ainda hoje pelo menos a percepção
continua a mesma. Em 2005, no auge das acusações sobre o
mensalão, o então presidente em duas oportunidades jogou para o caixa 2 o
esquema de corrupção que montou em seu governo. Em julho, em entrevista
no “Fantástico”, da Rede Globo, gravada em Paris, Lula disse que “o que
o PT fez, do ponto de vista eleitoral, é o que é feito no Brasil
sistematicamente”.
Em novembro, em entrevista no “Roda Viva” da
TV Cultura, Lula disse que a denúncia do deputado cassado Roberto
Jefferson revelou o caixa 2 nas campanhas eleitorais do PT, o que o
então presidente da República classificou como uma ação “contra a
história do próprio partido”. Agora, Lula, depois de tantos anos
de revelações terríveis sobre a corrupção institucionalizada que
patrocinou nos governos do PT, comprovadamente não contra a história do
partido, quer através de sua defesa que essa corrupção, que de fato foi
geradora das benesses de que ele e sua família usufruíram, seja
transformada em ações de cunho político-eleitoral.
É como se o
ex-governador Sérgio Cabral, que depois de anos preso confessou afinal
seu esquema de corrupção, alegasse que tudo o que ganhou de propina —
joias, helicópteros, roupas de grife, bebidas caras —tinha um objetivo
político-eleitoral. A única maneira de essa chicana dar certo
seria os juízes do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que vão julgar
nos próximos dias os recursos a favor de Lula, aceitarem a tese de que o
ex-presidente, por ser o chefe da organização criminosa que atuou
durante os anos petistas, usou o caixa 2 do partido para obter o tríplex
e, por extensão, também o sítio de Atibaia. Mas o simples senso
comum, além da delação premiada do ex-ministro da Fazenda Antonio
Palloci e de outros, impede que essa tramoia dê certo.
Mais confissões
Outro
que acabou confessando seus crimes foi o terrorista Cesare Battisti,
que admitiu a participação direta e o envolvimento em quatro
assassinatos durante interrogatório feito na prisão pelo procurador
Alberto Nobili, responsável pelo grupo antiterrorista da cidade italiana
de Milão.
Na confissão, Battisti disse que alegava inocência
para obter apoio político da esquerda do México, da França e do Brasil,
principalmente do ex-presidente Lula, que proibiu sua extradição,
autorizada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). O ex-ministro da
Justiça Tarso Genro, que pediu a Lula que não extraditasse o terrorista
agora confesso, e o ex-senador Eduardo Suplicy ainda alimentam dúvidas
sobre sua culpabilidade. Querem saber por que Battisti confessou. Muito
simples: perdeu a proteção dos governos de esquerda.
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