À falta do que fazer, outra crise
[presidente, presidente, o Brasil não é uma monarquia;
mesmo os presidentes realmente fortes, não permitem a imiscuição de familiares em assuntos de governo e Estado, exceto algumas republiquetas e o Brasil não é uma delas.
Familiares como assessores eventuais, invisíveis e silenciosos, podem até ser úteis; no momento em que passam a fazer tudo para serem notados, só atrapalham.]
A bola da vez já
foi o ministro Gustavo Bebbiano, da Secretaria-Geral da presidência da
República, e ele acabou demitido pelo presidente Jair Bolsonaro.
A bola seguinte da vez
foi o vice-presidente Hamilton Mourão. Como ele é indemissivel e sequer
pensou em renunciar ao cargo, ficou, mas aparentemente enquadrado. [o general Mourão sempre esteve enquadrado, sempre foi disciplinado, apenas durante a campanha, que o empolgou e por estar também em adaptação da ativa para a reserva, se excedeu.
Mas, logo voltou a sua postura de quase meio século.
Aliás, a postura do general Mourão e de outros generais que integram o governo Bolsonaro é um exemplo a ser seguido até mesmo por alguns dos seus superiores.]
Desta vez a bola atende
pelo nome de Carlos Santos Cruz, general da reserva, ministro da
Secretaria de Governo, à qual se subordina a Secretaria Especial de
Comunicação Social (Secom).
O busílis tem a ver com a
Secom. Ela é responsável pela comunicação do Governo Federal,
“coordenando um sistema que interliga as assessorias dos ministérios e
das empresas públicas”.
Quem manda nela tem muito
poder. Por ora, manda Santos Cruz. Carlos Bolsonaro, apoiado por seus
irmãos e pelo autoproclamado filósofo Olavo de Carvalho, quer mandar. Eles estão perto de
conseguir o que querem, com a complacência de Bolsonaro, o pai. O
empresário Fábio Wajngarten, que assumiu recentemente a Secom, é amigo
de Carlos e discípulo de Olavo.
Wajngarten foi o autor da
portaria que informou às empresas estatais que suas campanhas de
propaganda deveriam ser submetidas ao crivo da Secom antes de irem ao
ar.
A portaria acabou
revogada por Santos Cruz que não fora consultado a respeito. De resto,
ela desrespeitava a Lei das Estatais que confere soberania às empresas. O
general começa a pagar pelo que fez.
Em ação coordenada, o
humorista Danilo Gentili pinçou um trecho de uma entrevista concedida
por Santos Cruz há cerca de um mês e sugeriu no Twitter que ele era
defensor da regulamentação da mídia. Olavo, guru da família
presidencial, dispensou os bons modos que quase nunca usa e bateu duro
no general: “Controlar a internet, Santos Cruz? Controlar a sua boca,
seu merda”, escreveu no Twitter. [uma ofensa desse quilate tem que ser combatida pelo próprio ofendido e o 'filósofo' não está acima das leis e nada impede o general que o processe, tanto na área cível e até mesmo na penal.
Afinal, qual é no governo Bolsonaro a posição oficial, o cargo, do Olavo? ainda que ocupasse um cargo, teria que ter compostura, decoro compatível com o mesmo.
Sendo um mero e inútil 'aspone'- a redundância é proposital, tem que permanecer calado para não atrapalhar.]
Então os garotos foram
para cima. Eduardo, sem citar o general: “Mesmo ao falar de uma fake
news contra Bolsonaro sempre defendemos a não regulamentação da internet
ou da imprensa”.
Carlos, sempre prolixo:
“A internet ‘livre’ foi o que trouxe Bolsonaro até a Presidência e
graças a ela podemos divulgar o trabalho que o governo vem fazendo! Numa
democracia, respeitar as liberdades não significa ficar de quatro para a
imprensa, mas sempre permitir que exista a liberdade das mídias!”.
Finalmente, o pai,
psicografado por Carlos: “Em meu governo, a chama da democracia será
mantida sem qualquer regulamentação da mídia, aí incluída as sociais.
Quem achar o contrário recomendo um estágio na Coreia do Norte ou Cuba”.
Meteu-se na fritura do
general quem menos se esperava, o ministro Sérgio Moro, da Justiça e da
Segurança Pública, um adepto recente do Twitter e das demais redes
sociais. Ele bajulou o presidente:
“Bom lembrar que não
fosse a vitória eleitoral do PR Jair Bolsonaro, estaríamos hoje sob
‘controle social’ da mídia e do Judiciário e que estava expresso no
programa da oposição ‘democrática’”.
A hashtag #ForaSantosCruz
foi um dos assuntos mais comentados no Twitter. O general subiu no
telhado. Dali poderá descer suavemente, mantendo o emprego. Ou
despencar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário