O dia seguinte do ex-presidente
Na melhor das
hipóteses, segundo o ministro Marco Aurélio Mello, relator das ações em
julgamento, por 7 votos contra 4 o Supremo Tribunal Federal acabará na
próxima semana com a prisão de réu condenado em segunda instância. Na
pior, por 6 a 5. A essa altura, é remota a
chance de o tribunal modular sua decisão para permitir que o réu seja
preso depois de condenado em terceira instância. Restabeleça-se o que
está escrito na Constituição. Prisão só depois que a sentença transitar
em julgado. [o 'trânsito em julgado', só após o último do último dos recursos for apresentado, não tem nenhum amparo pétreo, trata-se de um mero entendimento que só prospera se ler a Prostituição por partes, esquecendo que qualquer frase tirada do contexto, passa a ter o sentido que for conveniente a quem a interpreta.]
Claro que até a próxima
quinta-feira, data para o término do julgamento que começou ontem, tudo
poderá acontecer – inclusive nada. O mais provável é que nada aconteça.
Se quiser, pois, Lula já pode ir arrumando as malas para ser solto.
Não era bem assim que ele
queria deixar o cárcere. Se dependesse dele, só sairia de lá quando o
Supremo, em data próxima, julgasse o pedido de suspeição arguido contra o
ex-juiz Sérgio Moro. Se o pedido fosse aceito, sua condenação seria
anulada. Do contrário, ela
permanecerá de pé, e Lula, sujeito a voltar à prisão quando a sentença
finalmente transitar em julgado. É grande expectativa dos devotos do
ex-presidente sobre como ele se comportará tão logo vá para seu
apartamento em São Bernardo. [Lula sempre tem declarado que só aceita sair se inocentado - caso aceite sair para aguardar o 'trânsito em julgado', ele estará apenas confirmando de que além de corrupto é um indivíduo cuja palavra não tem o valor daquilo que o gato enterra.]
Que Lula deixará Curitiba
depois de mais de 500 dias preso em uma cela da Superintendência da
Polícia Federal? Um Lula com raiva e inconformado com o tempo que ficou
por lá? Ou um Lula moderado, apaziguador e disposto ao entendimento? Somente ele tem a
resposta. Se sair o mesmo Lula que entrou, o país voltará a ouvir
discursos muitos decibéis acima do desejado, enquanto nos bastidores, a
salvo dos holofotes, Lula tentará ampliar seu arco de alianças à
esquerda, mas também ao centro. O espaço antes ocupado
por Lula na política brasileira ficou vago desde que ele foi preso.
Ninguém foi capaz de preenchê-lo. Está pronto à sua espera caso não lhe
falte sabedoria nem sobre ressentimentos.
Blog do Noblat - Ricardo Noblat, jornalista - VEJA
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