O presidente Donald Trump sempre quis que
os juros fossem derrubados. Pediu várias vezes. Conseguiu isso em pleno
domingo. Mas como é no meio da crise do coronavirus, Trump teve que
fazer apelos para conter o consumo. Os juros ficaram em zero ou 0,25%,
taxas reais negativas. Isso normalmente é feito para estimular consumo. A
ironia é que neste mesmo domingo Trump entrou em contato com vários
presidentes de grandes companhias de varejo e todos eles disseram que o
consumidor está em pânico comprando demais. E Trump teve que pedir que o
consumidor compre menos e garantiu que o país está abastecido.
O movimento do FED ajuda a estimular um clima mais positivo no
mercado financeiro antes de a semana começar. Isso teoricamente. Os
futuros estão indicando que as bolsas americanas abrirão a segunda em
queda em torno de 1,5%. A semana passada foi a pior dos últimos anos.
Foi extremamente volátil e terminou fortemente negativa. O Fed fez o que
outros bancos centrais já fizeram nos últimos dias, como o BCE e o
Banco da Inglaterra. Os juros são praticamente inexistentes. O banco central americano está também ampliando a oferta de liquidez e
aumento da assistência aos bancos. Há muitas instituições que podem
entrar em crise como reflexo da crise de seus devedores, empresas médias
e pequenas abatidas pela crise. Um setor em que isso está acontecendo é
o de shale oil. Mas não só. As empresas aéreas também estão com
dificuldades.
No Brasil o governo está preparando medidas para socorrer alguns
setores e promete anunciá-las neste começo da semana. Até agora, as
medidas foram muito tímidas e na direção certa, como a antecipação da
primeira parcela do 13º. O que o Ministério da Economia ainda não
entendeu é que ele tem também que atuar na explicação de qual é o
comportamento econômico mais racional para as famílias. Falta uma
palavra do governo para tentar conter a histeria de consumo que está
levando ao desabastecimento. Já há uma crise na falta absoluta de álcool
gel e máscaras nas farmácias. Remédios que têm insumos vindos da China
começam a faltar. Outros produtos podem faltar nos supermercados se o
ritmo das compras das famílias continuar como a dos últimos dias. Mas a equipe econômica vive em sua bolha achando que tudo vai ser
resolvido se o Congresso aprovar as reformas, o mesmo Congresso que foi
hostilizado hoje nas ruas com a participação do presidente da República.
Míriam Leitão, colunista - O Globo
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