Pesquisador diz que abertura de leitos de enfermaria poderá salvar vidas, mesmo sem ventiladores
Desde que o novo coronavírus começou a fazer vítimas na China, no fim do
ano passado, espalhando-se rapidamente pelo mundo, estava claro que
nenhuma rede de saúde, por mais bem estruturada que fosse, conseguiria
dar conta da quantidade de doentes que procuram ao mesmo tempo as
emergências, muitos com sintomas graves, precisando de cuidados
intensivos. Por isso, a construção de hospitais de campanha, planejados
para a fase de pico da epidemia, passou a ser estratégia comum dos
governos para desafogar o sistema e ampliar o atendimento aos doentes.
Tem sido assim no mundo inteiro. [no Brasil a construção e operação de hospitais de campanha é da competência dos governos estaduais.
Nos estados até que vai dentro do razoável - São Paulo tem alguns em funcionamento, Rio também e nos demais idem. Goiás construiu alguns e um deles, próximo ao DF, levou menos de um mês para ser construído.
O Distrito Federal é que está em uma situação de alarme devido os hospitais de campanha ainda estarem na fase de promessa - nenhum foi concluído.
No final de março e inicio de abril/20, o secretário de Saúde - o atual, já está no terceiro ou quarto - anunciou na TV que até meados daquele mês um hospital de campanha que estava sendo construído no Estádio Mané Garrincha estaria seria entregue funcionando para doentes do coronavírus.
Obra relativamente fácil e de custo reduzido por utilizar toda a infraestrutura do complexo esportivo, não necessitando sequer de obras de terraplenagem.
Até hoje, 12 de maio, 45 dias após a promessa, ainda não foi entregue nada para a população - a promessa mais recente é entregar nos próximos dias.
O governador, sempre querendo mostrar serviço e competências - coisas que faltam ao GDF - quis inovar com a ideia absurda de o estádio permanecer funcionando - propôs até alugar para a final do campeonato carioca (teríamos um jogo de futebol lotado, sendo realizado em um local situado na mesma área onde funciona um hospital de campanha), só que a ideia morreu no nascedouro.
A única ação em que o governador Ibaneis é rápido é a de demitir gestores da saúde pública = ontem demitiu a Chefe da UTI do HRAN, que diz ser referência para tratamento da Covid-19.
"Crime" da exonerada: apresentou vários relatórios cobrando leitos de UTI para o HRAN.]
No Rio, como ocorre em outras partes do país, como os estados do
Amazonas, Pará, Ceará e Maranhão, o planejamento dessas instalações
parece ter sido atropelado pela realidade de uma doença que acelera
rapidamente, levando os sistemas de saúde ao colapso antes do previsto. É
nesse cenário que ganham importância ainda maior os hospitais de
campanha. Não é admissível que existam hoje no Rio mais de mil pessoas
numa fila de espera por um leito para tratamento de Covid-19. Entende-se
por que a segunda cidade mais populosa do país apresenta a maior taxa
de letalidade da doença. As pessoas estão morrendo antes de conseguir
atendimento médico.
Em entrevista ao GLOBO, o infectologista Fernando Bozza, especialista em
medicina intensiva e pesquisador da Fiocruz, disse que a abertura
imediata de leitos nos hospitais de campanha, mesmo os de baixa
complexidade, aliviaria a pressão sobre a rede e reduziria a letalidade
da doença. “É essencial abrir os leitos de enfermaria neste momento. A
fila do Rio é de 1.300 pessoas. Dessas, entre 70% e 75% precisam de um
leito na enfermaria. Isso significa que esses pacientes têm algum grau
de deficiência respiratória e oxigenação baixa. Por isso, precisam de
oxigênio, mas não de ventilação mecânica”, afirma.
O primeiro hospital de campanha do Rio, o do Leblon, foi inaugurado no
dia 25 de abril, uma semana antes do previsto, com capacidade para 200
leitos, sendo cem de UTI. Já foram abertos também o do Riocentro (500
leitos, cem de UTI), o do Maracanã (400 no total) e o do Parque dos
Atletas (200, 50 de UTI). Mas é preciso considerar que a ativação das
unidades ocorre de forma gradativa, o que significa que elas ainda não
estão operando com plena capacidade. A previsão é que até o fim do mês o
estado tenha 2.840 vagas em 14 hospitais de campanha.
O rápido avanço da doença no país — já são mais de 160 mil infectados e
passou-se dos 11 mil mortos —, as longas filas de espera e as altas
taxas de letalidade impõem uma aceleração no processo de instalação
desses hospitais de campanha. Quanto antes estiverem prontos e
funcionando, mais vidas poderão ser salvas.
Editorial - O Globo
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