Agressão do PC chinês a Hong Kong pede uma resposta enérgica da comunidade internacional
Enquanto o resto do mundo combate a pandemia, a China realizou sua
manobra mais truculenta contra a autonomia de Hong Kong e Taiwan. No dia
20, o Congresso do Povo anunciou planos navais de assalto a uma ilha
controlada por Taiwan e aprovou uma moção para uma nova lei de segurança
em Hong Kong que, na prática, desmantelará o modelo “um país, dois
sistemas”.
Em 1997, quando o Reino Unido passou o controle de Hong Kong à China, um
tratado forjado nas Nações Unidas garantiu as liberdades políticas e o
estilo de vida da população até 2047. O artigo 23 da “lei básica” de
Hong Kong efetivamente previu que o seu Parlamento elaboraria uma
legislação proibindo atos de “traição, secessão, sedição ou subversão”
contra o governo chinês. Em 2003, as tentativas das autoridades
pró-comunistas de impor uma legislação draconiana levaram 500 mil
cidadãos de Hong Kong às ruas, no maior protesto em décadas. A ideia foi
abandonada, mas desde que Xi Jinping assumiu o comando da China em
2013, ele tem reafirmado a hegemonia do Partido Comunista (PC),
reprimindo qualquer tentativa de dissidência na sociedade chinesa, e,
agora, o Partido está flexionando seus músculos além das fronteiras.
No ano passado, milhões em Hong Kong protestaram contra um decreto de
extradição que iria borrar a linha que separa os dois sistemas. Nas
eleições distritais de novembro, a maioria votou a favor dos que
apoiaram os protestos. Agora, prevendo a eleição de uma nova maioria
democrática para o Conselho Legislativo em setembro, o Congresso chinês,
usurpando as prerrogativas do Parlamento de Hong Kong, anunciou uma
nova legislação que garantirá ao Ministério de Segurança chinês reprimir
direitos de reunião e expressão com a mesma brutalidade com que opera
no território chinês. Como disse o Secretário de Estado norte-americano,
Mike Pompeo, isso equivale a uma “sentença de morte” à autonomia de
Hong Kong. Mal saídos da quarentena, milhares de cidadãos de Hong Kong
foram às ruas, e as apreensões dos investidores sobre o futuro
financeiro de Hong Kong levaram à pior queda em seu mercado de capitais
em cinco anos.
Não se trata de uma manobra isolada. Desde abril, a China já abalroou um
navio vietnamita em águas sob disputa no Mar do Sul chinês e
estabeleceu duas unidades administrativas em ilhas reclamadas pelo
Vietnã. Além disso, realizou manobras navais ostensivas próximas a uma
sonda petrolífera no litoral da Malásia e reagiu com ameaças à
possibilidade de Taiwan ser incluída na Assembleia-Geral da OMS,
declarando que a reunificação é “inevitável”. Além da Ásia, o Partido
está investindo pesadamente em campanhas de propaganda e desinformação
para desmoralizar a resposta dos países ocidentais à pandemia e
consolidar uma narrativa triunfalista da atuação chinesa, enquanto seus
diplomatas ameaçam retaliar qualquer proposta de investigar a origem do
vírus. A Austrália já sofreu sanções comerciais.
Essas agressões pedem uma resposta enérgica da comunidade global, em
especial do Reino Unido – que costurou o tratado de autonomia de Hong
Kong –, dos EUA e dos investidores internacionais. No ano passado, uma
comissão bipartidária do Congresso norte-americano propôs uma legislação
para implementar sanções oficiais a qualquer tentativa de impor uma lei
de segurança sobre Hong Kong. Os avanços de Pequim devem esquentar a
guerra fria que vem sendo buscada com empenho tanto por Xi Jinping como
por Donald Trump para agradar às hostes nacionalistas de seus
respectivos países.
O fato é que o mundo precisa se adaptar a esta ameaça crescente. Como
disse o cientista político Nick Timothy em artigo no Telegraph, as
manobras de Pequim “mostram que a China não é apenas mais um parceiro
comercial, um país que se abrirá e se tornará mais liberal quanto mais
se expuser aos costumes ocidentais”. Conforme advertiu Chris Patten, o
último governante britânico de Hong Kong, “podemos confiar no povo da
China, como os valentes médicos que tentaram soar o alarme sobre a
camuflagem dos primeiros estágios da pandemia. Mas não podemos confiar
no regime de Xi Jinping”.
Editorial - O Estado de S. Paulo
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