Marcello Corrêa e Geralda Doca
Avaliação é de que será necessário baratear custo do trabalho para estimular contratações para a retomada da economia após pandemia
Diante da expectativa de perda de empregos formais causada pela crise do coronavírus, integrantes da equipe econômica voltaram a debater a ideia de reduzir a tributação que incide sobre salários e compensar a queda de arrecadação com a criação de um imposto sobre transações financeiras. O plano de instituir o tributo, semelhante à extinta CPMF, já foi alvo de divergências dentro do governo.
O plano de trocar a contribuição sobre folha por um imposto sobre transações financeiras é defendido por Guedes desde antes do início do mandato de Bolsonaro. A comparação com o chamado “imposto do cheque”, como ficou conhecida a CPMF, acabou dificultando a negociação sobre a medida, porque o antigo tributo aumentou a carga tributária e se tornou extremamente impopular. A defesa mais enfática do modelo tributário foi um dos motivos que causaram a demissão do ex-secretário da Receita Federal, Marcos Cintra, em setembro. Na ocasião, Bolsonaro escreveu em suas redes sociais que a ideia estava riscada da proposta de reforma tributária do governo.
Para auxiliares de Guedes, no entanto, a proposta terá que voltar à pauta “no momento oportuno” por causa dos estragos causados pela recessão. De acordo com uma das fontes, o volume de trabalhadores informais em busca do auxílio emergencial criado pelo governo dá a dimensão da crise. Já são quase cem milhões de cadastrados para receber o benefício. O custo na contratação é uma das razões apontadas para a alta informalidade no país.
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Percebam que quando é para travar qualquer medida do governo do Presidente Bolsonaro, até o STF emite alertas = julgar antes do objeto do julgamento ocorrer.]
Sem aumento da carga
O contrato Verde e Amarelo era uma das principais apostas da equipe econômica para incentivar contratações formais depois da crise. Dias antes de o texto ser revogado, o secretário especial de Previdência e Trabalho, Bruno Bianco, disse que a medida era uma “feliz coincidência”, por ter sido elaborada antes da pandemia e ser o instrumento ideal para lidar com os problemas do pós-crise.
— Por uma grande coincidência nós estamos diante do momento que estamos buscando preservação de emprego e temos na nossa mão uma medida provisória que preserva empregos numa retomada providencial. Em todo esse cenário, a medida 905 (número da MP) é uma feliz coincidência. E se torna mais fundamental nesse momento pós-covid-19 — disse Bianco, na ocasião.
Técnicos ainda estão fazendo contas. Mas, em linhas gerais, empregadores deixariam gradualmente de pagar os 20% sobre os salários que bancam o INSS. O dinheiro para financiar a Previdência passaria a vir do novo imposto, que seria pago por toda a população brasileira. Quanto maior for a desoneração da folha, mais alta precisará ser a alíquota do novo tributo. A substituição seria feita de forma que a carga tributária — ou seja, o total de impostos sobre o tamanho da economia — não subisse. [a carga total poderia até não subir, mas os empresários deixariam de pagar 20% sobre a folha e o 'prejuízo' do governo seria dividido entre todos os brasileiros = a carga tributária aumentaria sobre todos os brasileiros, para beneficiar empresários.]
A Receita Federal chegou a apresentar, no ano passado, um modelo em que o novo imposto — que chegou a ser batizado de Contribuição sobre Pagamentos (CP) — teria uma alíquota de 0,2% a 0,4%. A tributação seria feita em cada ponta da operação. Ou seja, o imposto seria recolhido por quem paga e por quem recebe. [quem recebesse pagaria 0,4% - a alíquota escolhida jamais seria a menor - sobre o total recebido e mais 0,4% na hora de gastar o que recebeu = 0,8%.
Comparando com algo conhecido: a caderneta de poupança "rende" nos dias atuais, rendimento que é herança do maldito governo do perda total = pt, menos de 0,3% ao mês.]
No Congresso, a ideia ainda é vista com reservas, já que tratar de criação de impostos é tema delicado.
— A saída seria pela criação de novos impostos, mesmo que isso significasse a desoneração da folha? É algo que ainda não é possível dizer que há consenso dentro da Casa. A gente, a priori, prefere uma saída pelo controle de gastos e uma agenda de crescimento — avalia o líder do DEM na Câmara, Efraim Filho (PB).
Ele admite, no entanto, que o cenário pós-crise pode permitir “novas abordagens”.
— Para o pré-crise, isso não era solução. Claro que cenários novos vão permitir novas abordagens e novas discussões. Se for uma compensação de desonerar a folha, tem que ver muito bem qual é o impacto. Tem que ser uma conversa bem transparente. Mas são climas diferentes. O cenário pós-crise traz a possibilidade, sim, de novas abordagens, de novos argumentos. E vamos estar lá para convencer e sermos convencidos — completa.
Para a senadora Simone Tebet (MDB-MS), presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) na Casa, ainda é cedo para tratar da agenda pós-pandemia.
— A pandemia vai determinar o que virá depois. Ela ainda não mostrou sua verdadeira cara. A gente não sabe o tempo, não sabe o estrago, não só da saúde pública, mas em questão econômica. Então, toda essa discussão de votar reforma tributária, seria o ato mais irresponsável da história do Congresso Nacional (votar agora) — avalia a senadora.
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