Voos reduzidos, uso de máscara: eis o cenário atualizado para os passageiros da pandemia. A expectativa é que tudo isso será mantido depois do surto
É como se o verbo viajar tivesse sido sequestrado do
dicionário da realidade. Nestes dias em que, para bilhões de pessoas
mundo afora, sair de casa se tornou sinônimo de ir no máximo até o
supermercado ou à farmácia, os aeroportos, por exemplo, se tornaram
verdadeiros desertos — sem nenhum oásis. Quem, por motivos inadiáveis, é
forçado a embarcar em um voo de carreira frequentemente vê reproduzido
dentro das aeronaves um cenário semelhante: quase ninguém nos assentos,
tampouco nos corredores. E atenção, senhores passageiros: esse é apenas
um dos aspectos que se desenham no horizonte para o pós-pandemia, o
“novo normal” que deverá se estabelecer a partir das lições — muitas
amargas — que serão deixadas pelo surto de Covid-19. Dito de outra
forma: o futuro, no âmbito do turismo, já começou. Está no presente.
Em tempos de crise, pode-se recorrer ao passado para enxergar de que maneira o presente começa a funcionar como um rascunho, por assim dizer, do futuro. Logo após os atentados terroristas ao World Trade Center de Nova York, em 11 de setembro de 2001, as normas de segurança das viagens aéreas foram radicalmente modificadas. A inspeção dos passageiros tornou-se muito mais rígida, o que resultou em enormes filas no raio x; restringiu-se bastante o que pode ser levado na bagagem de mão; a porta da cabine dos pilotos passou a ser à prova de balas. Depois de quase duas décadas, praticamente ninguém se lembra de como eram as coisas antes. Tudo passou a ser perfeitamente aceitável. A expectativa do setor de viagens é que o mesmo ocorra com as medidas de precaução de agora.
Nada mau — sobretudo considerando que, dada a reviravolta do mercado, os viajantes do período pós-pandemia não possam esperar somente céu de brigadeiro. Com a redução no número de passageiros, devido à limitação da ocupação de assentos, não se descarta a possibilidade de que o valor das passagens aéreas chegue mesmo a dobrar. Os embarques, que neste momento de campanha cerrada pela quarentena se tornaram rapidíssimos, poderão demorar até quatro horas, ao longo das quais os viajantes serão submetidos à checagem de saúde, incluindo testes de sangue (e não meramente a tomada de temperatura, feita hoje em dia em vários locais). Ainda assim, após experimentar tamanho confinamento; depois de só poder ir até o supermercado ou à farmácia — ah, isso será o de menos.
Publicado em VEJA, Tecnologia, edição nº 2686, de 13 de maio de 2020
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