Há muito
tempo, a moral entrou em recesso no Congresso Nacional. Na Câmara, a
conduta de muitos deputados, de diferentes bancadas, leva aquela Casa do
Povo a agir como um varejão dos negócios da política; no Senado, opera o
atacado dos grandes affaires comerciais.
Varejo e atacado compõem o meu sentir sobre as duas Casas do parlamento brasileiro.
A decisão
que quase triplicou, para 2022, o valor distribuído às campanhas de 2018
é consequência natural, sabe-se, da moral dominante naqueles plenários.
E quanto pior o candidato, mais dinheiro ele precisa. Muito
escrevi contra a artimanha do financiamento público nos anos que
precederam a decisão de 2015 com que o STF declarou inconstitucional o
financiamento privado. Era uma antiga tese petista, apresentada quatro
anos antes pela OAB, com pressão de toda a poderosa máquina esquerdista
nacional, incluídas a CNBB, CUT, UNE, MST, Contag e muitas outras
organizações.
Quando aprovada finalmente por sete votos contra três, com
apoio unânime da bancada petista no Supremo, eu escrevi esta obviedade
em artigo tratando do assunto: “Vão usar o dinheiro dos impostos que
você paga para financiar as campanhas eleitorais de partidos e
candidatos nos quais você jamais votaria!”.
A rapinagem
praticada ontem teve agravantes de culpa, como se observou em 2018.
Sente-se para ler isto, leitor: deputados federais e senadores são os
caciques dos partidos e cabe a eles a distribuição desse butim que o STF
franqueou à pirataria legislativa.
Adivinhe, agora, quem são os
principais beneficiados dela. Pois é, acertou. Mateus e os seus. Não é a
regra da competência, nem a partilha fraterna que tanto encanta a
postulante CNBB, apoiadora de primeira hora dessa insensatez. É a regra
do compadrio, da obediência, da utilidade e da proteção ao partido, seus
líderes e seus corruptos.
Dinheiro
nosso para obter resultados eleitorais que não desejamos, para reeleger
parlamentares que durante quatro anos votaram em favor do interesse
próprio e contra o interesse público. Preserve os bons, como o deputado
Marcel e mais uns poucos que se empenharam por votação nominal. Mas está
aí um horrendo exemplo do que acontece quando a astúcia de uns se
encontra com a ingenuidade de muitos e a sandice de tantos.
Percival
Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto,
empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de
dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o
totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do
Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
Nenhum comentário:
Postar um comentário