Ana Paula Henkel
A garotinha do interior de Minas Gerais que adorava jogar vôlei cresceu e resolveu se tornar uma atleta profissional. E, durante tantas andanças pelo mundo ao longo de 24 anos de carreira, pude conhecer muitos países e seus povos. Assim como nós brasileiros, cada nação tem suas peculiaridades. Depois de algum tempo viajando sempre com vários atletas de todo o mundo, você consegue identificar pontos da base genética de uma nação através de alguns costumes que ficam muito explícitos em atletas que estão competindo e representando suas bandeiras.
Para os norte-americanos, o patriotismo latente sempre foi intrigante para mim. Um ponto óbvio, no entanto, para qualquer observador. Confesso que havia uma pontinha de inveja naquele enorme e explícito amor e orgulho pelo país em absolutamente qualquer canto do planeta.
E aqui deixo, para todos os efeitos de registro, que esse latente patriotismo visto em atletas norte-americanos era o mesmo indescritível patriotismo que nós, atletas brasileiros, sentimos quando nosso hino é tocado enquanto estamos no pódio e nossa bandeira verde e amarela é hasteada. Mas faltava o tal “algo a mais” como nação. Não mais. Os anos passaram e, hoje, deixamos de lado aquele orgulho pontual de nossas cores e hino apenas em Copas do Mundo, e estabelecemos que, acima de qualquer agenda esportiva ou política, está o Brasil. Aquela pontinha de inveja do patriotismo dos norte-americanos ficou no passado. Nossa bandeira está por toda parte, do Oiapoque ao Chuí!
Ao longo desses anos competindo, e como amante das páginas de história, pude ler livros, conhecer lugares e pessoas incríveis, e entender as raízes de suas idiossincrasias. Hoje, ministrando um curso sobre história e política americana para mais de 2 mil alunos, não é difícil entender como o patriotismo sempre esteve presente na cadeia genética dos Estados Unidos como um pilar insuperável.
Muito além da bandeira e do hinoÉ fato que a América de hoje se distanciou da América que passamos a infância vendo em filmes e séries de TV e que pude testemunhar como atleta. Lá no passado, em que morava aquela pontinha de inveja, havia também uma certa dúvida da dimensão do patriotismo daqueles atletas. “Será que é isso tudo mesmo, ou eles exageram um pouco?”, pensava. Hoje, morando nos Estados Unidos como cidadã norte-americana e mergulhada há alguns anos na história da nação, posso afirmar com todas as letras: o sentimento é real e há algumas fontes totalmente apolíticas para ele. Muito além da bandeira e do hino, as bases desse orgulho estão estabelecidas em pontos diferentes, que começam no próprio embarque para a América para fugir da perseguição religiosa.
Foi em 6 de junho de 1944 que mais de 160 mil soldados aliados desembarcaram ao longo de um trecho de 80 quilômetros da costa francesa, fortemente armada e protegida, para combater a Alemanha nazista nas praias da Normandia. Dwight D. Eisenhower chamou a operação de cruzada, na qual “não aceitaremos nada menos do que a vitória total”. Mais de 5 mil navios e 13 mil aeronaves apoiaram a invasão do Dia D, e, no fim do dia, os Aliados conquistaram uma posição na Europa Continental. O custo em vidas no Dia D foi alto: mais de 9 mil soldados aliados foram mortos ou feridos, mas o sacrifício permitiu que mais de 100 mil soldados começassem a lenta e difícil jornada pela Europa para derrotar as tropas de elite de Adolf Hitler. É também em resgates históricos de bravura que tento encontrar caminhos para seguir por aqui em nossas resenhas semanais, tentando vislumbrar um pouco de inspiração e esperança em tempos estranhos.
Depois de ler o brilhante artigo de Rodrigo Constantino em Oeste sobre o filme Top Gun: Maverick, a sequência do clássico de 1986 que já arrecadou mais de US$ 600 milhões em todo o mundo desde o seu lançamento, há pouco mais de 12 dias, nesta semana decidi assistir ao filme que parece já ter nascido com a etiqueta de clássico. Muitos aqui nos Estados Unidos, principalmente na indústria hollywoodiana que virou um braço militante do Partido Democrata, ainda estão incrédulos com o sucesso da película, que está apenas nos cinemas, algo tão 2019 depois do sucesso dos serviços de streaming que disseram que o filme falharia por não seguir esse caminho. Erraram feio.
A partir do momento em que fitamos os olhos em Maverick atuando como piloto de testes no Deserto de Mojave, é difícil esconder o sorriso ao descobrir que ele tem a mesma necessidade de velocidade e aversão à autoridade que sempre teve. Quando um oficial superior diz: “Não me dê esse olhar, Mav”, sobre alguma quebra de regra iminente, Maverick atinge a nota certa de brincalhão interno travesso ao responder: “É o único que eu tenho”.
Isso não quer dizer que Maverick não tenha amadurecido nos últimos 36 anos. Sua arrogância afiada se transformou em uma autoconfiança que está mais interessada em se destacar pela excelência, em vez de provar algo a alguém, o que vejo até como um ponto positivo; em tempos em que hierarquias e regras são grandes vilãs na atual sociedade do “pode tudo”, o filme é refrescantemente realista sobre como o desrespeito às regras tende a afetar as perspectivas de quem quer seguir na carreira militar — Mav ainda carrega o título de “capitão”, enquanto seu ex-rival e bom amigo Iceman (Val Kilmer) alcançou o posto de almirante.
É a nostalgia da América da era Reagan nos anos 1980 em grande escala em nossa imaginação coletiva
Para quem gosta de Star Wars, você se lembra do retorno de Harrison Ford em O Despertar da Força? Uma volta carregada de sentimentalidade e nostalgia. Um tiro no coração. Mas no novo Top Gun, parece que há algo mais profundo. Aquele “algo a mais”. E não são apenas as sequências de ação verdadeiramente fenomenais até para o público feminino, mas a cultura que lhes deu origem e o momento atual dos Estados Unidos e do mundo.
Um choque revigoranteNeste novo mundo desanimador em que generais militares sinalizam em tempo integral as virtudes da diversidade e da inclusão em vez de mérito, prontidão, companheirismo, dedicação, e que toda declaração oficial precisa da etiqueta política para o pedágio ideológico para os personagens que representam a bandeira do arco-íris, todas as letras do alfabeto ou o punho cerrado, o estilo old school da nova classe de Top Gun é um choque revigorante.
A clássica jaqueta de Maverick continua a mesma, apenas com a ausência de alguns patches, e a única concessão que o filme faz às realidades modernas é a presença de uma única mulher como piloto, mas que nunca faz questão de explorar seu gênero e não pede a ninguém para mudar seu comportamento para atender às suas preferências. Através de suas brincadeiras e jogos impetuosos de superioridade, os jovens ao seu redor trazem à mente uma época em que os Estados Unidos ainda ganhavam guerras e exibiam coragem e convicções no cenário internacional.
Se críticos sérios estão mostrando uma reação positiva enorme a este filme, que não possui nada de inovador, talvez seja porque ele oferece virtudes que têm faltado de maneira trágica em nosso entretenimento. Filmes, esportes, cerimônias como as do Oscar e do Globo de Ouro resolveram ajoelhar de maneira monótona à turba ideológica insuportável e que, por muitas vezes, parece beirar a loucura.
E Top Gun: Maverick não se ajoelha. É a nostalgia da América da era Reagan nos anos 1980 em grande escala em nossa imaginação coletiva. O filme em si pode não perceber o impacto do quanto ele fala de um desejo por dias mais confiantes, mas o fato de estar incomodando profundamente a bolha hedonista de Hollywood, apesar do enorme sucesso global, sugere que esses dias ainda podem ser possíveis e que o caminho — diante de um mundo tão distópico — ainda é viável. Em um mundo onde pais “envolvem seus filhos em plástico bolha” e protegem a prole contra qualquer dor física ou mental, o filme é um sopro de pura esperança de que essa geração veja — e entenda — o que realmente importa, seja nos Estados Unidos, seja no Brasil ou no Japão. A competição feroz forja a dor, a superação e o sucesso e forma a espinha dorsal da história, assim como no filme original, de 1986. A nova geração de aviadores navais exala toda a petulância e a confiança que Maverick (Tom Cruise) e Iceman (Val Kilmer) fizeram no passado.
Sonhos são possíveis
Na edição de 5 de novembro de 2021, escrevi aqui em Oeste um artigo sobre a eleição para o governo da Virgínia, quando os democratas perderam o controle de um Estado que estava com o partido havia décadas. Ali, acredito que tenha sido o primeiro sinal contundente desse cansaço dos norte-americanos com essa agenda nefasta de que os Estados Unidos são um país com pecados originais demoníacos e que se arrastam até os dias de hoje.
Mas o filme estrelado por Tom Cruise vai além do pilar familiar. Depois de anos elevando e enaltecendo a vitimização, o ressentimento, o rancor, a divisão e a destruição da família, parece que o amor que o público e os críticos sérios demonstraram por Top Gun: Maverick revela que estamos prontos para uma virada para a direita.
Dizem que o melhor feito da administração Jimmy Carter foi dar ao mundo e aos Estados Unidos o presidente Ronald Reagan. Que 2024 chegue voando.
Leia também “Uma vitória contra os hipócritas”
Ana Paula Henkel, colunista - Revista Oeste
[LEMBRETE IMPORTANTE: O Blog Prontidão Total continua um Blog dedicado à DEUS, à PÁTRIA, à FAMÍLIA e à LIBERDADE.
Escrevendo para para dois leitores: “Ninguém” e “Todo Mundo”. E, sob o lema * BRASIL Acima de todos! DEUS Acima de tudo!
A transcrição integral da matéria da Ana Paula Henkel, brilhante colunista - condição que reconhecemos, sendo que tivemos o prazer e o privilégio de acompanhar sua carreira desde os tempos áureos de jogadora de vôlei - tem como motivo que mostra com brilhantismo e de forma irrefutável os malefícios que Joe Biden, sua vice e o partido democrata pode causar à grande NAÇÃO AMERICANA e, por extensão ao planeta Terra.]
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