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segunda-feira, 20 de junho de 2022

Imprensa em campanha - Revista Oeste

Foto: Shutterstock
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Na terça-feira 7, leitores dos principais jornais impressos ou os que navegam por grandes portais de notícias toparam com a novidade: uma tarja preta no alto das páginas com os dizeres “Dia Nacional da Liberdade de Imprensa — Uma campanha em defesa do jornalismo profissional”. Mais uma ideia do “consórcio” um aleijão jornalístico que, durante a pandemia de coronavírus, unificou o noticiário e as opiniões dos principais veículos de comunicação.

A efeméride era o que menos importava nessa campanha. Nenhum jornal ou emissora de TV jamais celebrou esse dia. A data nunca foi lembrada nas salas das faculdades de jornalismo. 
A comemoração insincera não passava de outra provocação ao presidente Jair Bolsonaro, alvo da maior perseguição coletiva registrada nas redações desde o violento antagonismo que levaria Getúlio Vargas ao suicídio. [inclusive, jornalistas da velha imprensa, da mídia militante,   sugeriram ao presidente Bolsonaro que se suicidasse e um desejou que morresse.]

Também foi um ataque aos novos produtores de conteúdo que hoje predominam nas redes sociais e deixaram a velha imprensa para trás: os “blogueiros” — como são chamados pejorativamente. A perda de mercado publicitário em novas plataformas perturba os ex-gigantes da imprensa, que não sabem como reverter o quadro. Daí a soberba na frase: “Em defesa do jornalismo profissional”.

A abertura do Jornal Nacional, da TV Globo, naquela terça-feira foi um retrato de como os jornalistas vivem num mundo paralelo. 
Heraldo Pereira e Renata Vasconcellos ficaram em silêncio durante um minuto. 
Não anunciaram a tradicional escalada de manchetes e entreolharam-se duas vezes. Parte do público certamente não entendeu nada. Provavelmente, alguns telespectadores tentaram, sem sucesso, aumentar o volume do televisor.

Para o brasileiro que não frequenta redações, aquilo não fez o menor sentido. Mas, para os editores da Globo, o intuito era comover colegas de profissão — e tentar irritar Jair Bolsonaro.

“Despiora”
Depois de toda a histeria com as manchetes de festim da covid, tem chamado a atenção o malabarismo da imprensa com o noticiário econômico. 
O país reagiu com resiliência ao lockdown político de governantes determinados a sangrar o governo federal. O fôlego da economia surpreendeu bancos e consultorias de investimentos, e, apesar dos prognósticos dos especialistas de redação, não houve a anunciada recessão. O Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 1% e deve chegar a 2% em dezembro
Esse número pode ser ainda melhor, porque houve reaquecimento da indústria; depois de um período de falta de insumos chineses, o setor de serviços está a todo vapor e o agronegócio espera por uma safra boa nos próximos meses.

Outro dado importante: o desemprego caiu e o volume de empregos com carteira assinada está aumentando foram 200 mil contratações em abril. As contas públicas também estão em ordem: o superávit primário foi de R$ 39 bilhões até abril. Segundo o Banco Central, o saldo positivo em 12 meses foi de R$ 138 bilhões — 1,5% do PIB. 

São números que mostram resistência ante a inflação galopante, um drama global pós-pandemia e uma guerra em curso na Europa há três meses.É aí que começa o festival de conjunções adversativas que precede algo desagradável. Tornou-se quase impossível encontrar uma manchete sem “mas”, “porém”, “entretanto”. Surgem aberrações como “despiora” da economia e a tristeza no semblante da apresentadora da CNN ao comunicar que, “infelizmente, vamos falar de notícia boa”.

A politização da morte
Durante dois anos, os jornais estamparam nas primeiras páginas os números de mortos pela covid e destacaram o que havia de mais mortal no vírus chinês. Em nenhum outro país do mundo o presidente da República foi responsabilizado pelas mortes decorrentes da pandemia de coronavírus.  
No Brasil, o jornalismo de necrotério colocou na conta de Bolsonaro os mais de 600 mil mortos. Nessa época, o adjetivo genocida foi acrescentado aos já usados fascista, racista, misógino e homofóbico, fora o resto.
Com o arrefecimento da pandemia, os veículos de comunicação saíram em busca de novas acusações. 
O presidente foi acusado pelas secas no Sul, pelas enchentes no Nordeste, pela alta no preço dos combustíveis, pela chegada da varíola dos macacos, pela teimosia da Ômicron, pelo que não deu certo na Cúpula das Américas e pela pobreza e pela fome que nunca abandonaram o país.

A mais recente acusação responsabilizou o chefe do Executivo pela morte do jornalista Dom Phillips e do indigenista Bruno Araújo Pereira, assassinados por praticantes da pesca ilegal numa reserva indígena da Amazônia. Mesmo quando o caso foi solucionado, os jornais continuaram a insinuar que Bolsonaro era o culpado pelo crime.

Desde sempre a Amazônia sofre com o narcotráfico e tem a presença de garimpeiros e pescadores ilegais. Como lembrou Rodrigo Constantino nesta edição de Oeste, “quando a missionária Dorothy Stang foi morta, com sete tiros, em 2005, ninguém achou prudente culpar o então presidente Lula pelo episódio”.

Indulto a Lula
Em maio, a edição 112 de Oeste relembrou o memorial de escândalos que marcou a era petista no Palácio do Planalto
 Não é exagero afirmar que nunca se roubou tanto dos cofres públicos. 
A reportagem citava personagens que um eleitor de 16 anos, apto a votar pela primeira vez em outubro, não conheceu. Mas os jornalistas sabem — ou têm a obrigação de saber — quem são esses personagens do submundo do poder: Delúbio Soares, Marcos Valério, João Vaccari Neto, Pedro Barusco, Nestor Cerveró, Renato Duque e tantos outros.

Na quarta-feira 15, a Folha publicou em seu site uma reportagem que tentava explicar por que Lula era inocente sem ter sido inocentado

Como pode um articulista que assistiu a horas de depoimentos da CPI dos Correios aceitar a volta de Lula e do PT ao poder? 
Como é possível um jornalista que acompanhou sete anos e 79 fases da Operação Lava Jato aceitar que o grupo condenado por formação de quadrilha retorne à cena do crime? 
Qual a lógica em defender a liberdade de imprensa e apoiar um candidato que promete censurar os meios de comunicação em seu programa de governo?
 
Há duas possibilidades de respostas: 
1) os jornais, as rádios e as TVs viveram mais de uma década de bonança com as verbas de publicidade da Secretaria de Comunicação da Presidência repassadas por Lula e Dilma Rousseff; 
2) #EleNão — o discurso de que Bolsonaro não pode exercer a Presidência da República simplesmente porque os jornalistas não gostam do jeito dele.

A aversão ao presidente nas redações é tamanha que o termo “bolsonarista” é usado como uma espécie de xingamento. Por exemplo: o deputado condenado é “bolsonarista”, o empresário, o blogueiro, o cineasta cujo filme o crítico não aprova etc. Não há arquivo de textos da velha imprensa citando empresários “lulistas” ou banqueiros “dilmistas”.

Na quarta-feira 15, a Folha publicou em seu site uma reportagem que tentava explicar por que Lula era inocente sem ter sido inocentado. “Lula é inocente? Sim. Não há nenhuma sentença válida atualmente contra o ex-presidente.” Segundo o palavrório, o ex-presidente chegou a ser condenado pelo então juiz Sergio Moro e por Tribunais Superiores na Operação Lava Jato, mas os processos foram anulados pelo STF. O jornal avisa que se amparou em “razões técnicas”: 1) “a parcialidade de Moro para punir o petista”; 2) “as causas deveriam ter tramitado no Distrito Federal, não no Paraná”.

O parágrafo seguinte pergunta e responde: “Lula foi inocentado? Não. Nos principais casos contra o ex-presidente e na acepção mais comum da palavra ‘inocentado’, que corresponde a absolvido, não é correto empregar o termo para se referir à situação de Lula”.

Como observou o jornalista J.R. Guzzo nesta edição de Oeste, sempre que você ler no jornal ou ouvir na televisão algo que não entende, ou que lhe parece uma cretinice, fique tranquilo — é você quem está com a razão, e não eles.

Em maio deste ano, a revista Piauí foi ainda mais explícita na campanha pelo ex-presidente. “Quando anoitecer será tarde demais para descobrir que Jair Bolsonaro cortou a energia da democracia e mergulhou o país na escuridão do autoritarismo”, afirma o texto de abertura. Depois de reconhecer que existem apenas dois candidatos com chances de ganhar as eleições, o articulista conclui que, “se ganhar, Bolsonaro não convidará seus adversários para a noite de autógrafos”. São quase 1,4 mil palavras. Não há uma única explicação para que a redação da Piauí enxergue em Bolsonaro o carrasco da democracia.

Pesquisa do dia
Outro fenômeno desta eleição é a multiplicação de pesquisas eleitorais — algo jamais visto no noticiário. São vários levantamentos semanais, feitos por institutos de todas as partes do país, alguns deles absolutamente desconhecidos, financiados por bancos, consultorias, corretoras do mercado financeiro, empresas de comunicação e até do ramo imobiliário. Os registros são feitos praticamente todos os dias no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Na quarta-feira 8, havia mais de cem pesquisas registradas em seis meses.

Se no passado esses resultados eram guardados a sete chaves por jornais e emissoras de televisão até o horário nobre para ser divulgados, hoje são publicados a qualquer hora do dia nas redes sociais. Tampouco são exclusivos para os jornalistas — clientes de bancos e consultorias, por exemplo, recebem os números via WhatsApp ou conta de e-mail, de acordo com o seu perfil.

A quantidade de números é tamanha que o UOL criou um “selo de qualidade”. O portal considera confiáveis, por exemplo, as pesquisas do Datafolha, que faz parte do mesmo grupo empresarial. O jornal O Estado de S. Paulo fez pior: inventou o que foi batizado de “agregador” de pesquisas. É uma espécie de liquidificador das diversas sondagens realizadas em determinado período. Feita a mistura, chega-se a um número mágico. Em seis meses, foram trituradas 60 pesquisas de 14 institutos.

Tudo somado, fica evidente que Lula seria eleito no primeiro turno se a eleição fosse hoje. O problema é que está marcada para outubro. Caso ocorra o contrário, os fabricantes de porcentagens dirão que pesquisa é um retrato do momento. Sairão de cena por alguns meses para retomar a sequência de erros grosseiros na eleição seguinte.

Leia também “O golpe que nunca existiu”

Branca Nunes - Silvio Navarro, colunistas - Revista Oeste


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