Análise Política
O período de definição das alianças e candidaturas fechou com o
costumeiro espetáculo de rasteiras proporcionado pelas direções
partidárias. Nem nomes competitivos escaparam do festival de mandonismo,
que reforçou uma regra básica da política brasileira: ou você é dono de
partido ou está completamente à mercê de um deles, que faz o que bem
entende.
Poder agora reforçado pelo monopólio de facto do dinheiro disponível para as campanhas. Não por acaso, o debate da sempre propalada reforma política, mesmo
descrita como “a mãe de todas as reformas", nunca chega a resvalar nessa
questão fundamental. Entre as anomalias teratológicas resultantes da
Carta de 1988 e seus desdobramentos, o Brasil restringiu a disputa do
poder a donos de agremiações generosamente contemplados com recursos
vindos dos impostos, mas totalmente desobrigados de praticar qualquer
traço de democracia interna.
O mecanismo ainda exibe alguma, digamos, legitimidade quando o dono do
partido também é o dono dos votos. Mas é exceção da exceção. Na ampla
maioria dos casos, a força do proprietário da legenda deriva da posição
burocrática ocupada. Esse poder absoluto permite-lhe dissolver
instâncias, nomear à vontade comissões provisórias, dizer quem vai ter
dinheiro e quem não vai, etc.
E usar pré-candidatos como laranjas para na reta final mercadejar apoios e alianças em condições mais favoráveis.
Mas isso agora é passado, segue a partida, e entramos no segundo tempo
de um
jogo de mais dois ou três tempos: 1) o “início oficial” das campanhas no
primeiro turno, 2) o horário eleitoral e, talvez, 3) o segundo turno.
Doravante, e tirando os imprevistos, dois aspectos devem chamar a
atenção: 1) a taxa de transferência entre a percepção de melhora na
economia e o desempenho de Jair Bolsonaro e 2) o que a Justiça deixará
que seja dito na campanha.[UTILIDADE PÚBLICA: Os preços dos combustíveis tiveram uma redução importante, nos últimos dois meses. = Em Brasília, só a gasolina baixo em torno de 30% = de quase oito reais para cinco reais e 34 centavos; na região do Entorno do DF, a baixa foi maior.]
Sim, pois, como previsto, a dito “combate às fake news” vem servindo
menos para limitar a difusão de mentiras no debate político e mais para
os bem situados em posições de poder chamarem para si, com objetivos
políticos, o poder absoluto de definir o que é “a verdade”. Isso já tem
sido bastante relevante no dia a dia, mas adquire importância decisiva
na eleição.
É altamente improvável que se consiga proibir os políticos de mentir
(quem conseguisse isso mereceria um Nobel, talvez de Química), então o
mais provável é o processo escorregar para outro mandonismo: os
detentores (ou detentor) da prerrogativa de definir o que é verdade ou
mentira usarem o “combate às fake news" para ajudar uns e atrapalhar
outros.
E a elasticidade economia-votos de Bolsonaro? Será preciso olhar a
relação entre quatro variáveis: 1) as condições objetivas, que costumam
se expressar em números e não dependem de interpretação, 2) a percepção
do eleitor sobre a própria situação, 3) a percepção do eleitor sobre a
situação do país e 4) a percepção do eleitor sobre a conveniência de
manter Bolsonaro no cargo para que a situação da economia, pessoal e
geral, melhore.[atualizando: a economia melhora em todos os aspectos = inflação em queda, alguns estados com deflação; combustíveis com baixa de até 30%; PIB com discreta melhora; desemprego em queda, com níveis inferior a antes da pandemia. E outros indicadores com melhora.]
A guerra da informação influi pouco ou quase nada nas duas primeiras
variáveis, que estão melhorando, mas pesa bem nas duas últimas, que
parecem meio paradas.
Alon Feuerwerker, jornalista e analista político
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