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quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

A guerra de Lula - O Estado de S. Paulo

Opinião do Estadão

Na ânsia de se autopromover como líder global dos ‘pobres’ contra os ‘ricos’, Lula reduziu o Itamaraty a linha auxiliar de sua ideologia maniqueísta e de seu voluntarismo narcisista 

O presidente Lula da Silva parece ter declarado guerra ao Ocidente. Uma guerra imaginária, claro, mas nesse delírio o petista pretende posicionar o Brasil na vanguarda da luta contra tudo o que simboliza os valores ocidentais – tendo como companheiros de armas um punhado de notórias ditaduras, como China, Rússia, Irã e Venezuela.

A irresponsável declaração de Lula sobre Israel, comparando a campanha israelense contra os terroristas do Hamas ao Holocausto, está perfeitamente alinhada a esse empreendimento ideológico. Não foi, portanto, fortuita nem acidental.

Lula parece empenhado em usar seu terceiro mandato para lançar-se como líder político do tal “Sul Global”, uma espécie de aggiornamento do “Terceiro Mundo” dos tempos da guerra fria. Nessa nova ordem, as características distintivas do Ocidente – democracia, economia de mercado e globalização são confrontadas por regimes autocráticos que buscam reviver o modelo que põe o Estado e a soberania nacional em primeiro lugar, à custa das liberdades individuais, direitos humanos e valores universais, denunciados como armas retóricas das democracias liberais para perpetuar sua supremacia.

No confronto Ocidente-Oriente, a geopolítica e a segurança nacional prevalecem sobre a economia e a globalização. A geopolítica multilateral do pós-guerra se fragmenta em arranjos insuficientes para as necessidades de cooperação ante desafios globais, como mudanças climáticas, pandemias, terrorismo e guerras.

O Brasil não está imune a essas incertezas, mas, comparativamente, tem vantagens. Suas dimensões, sua democracia multiétnica e pacífica e sua economia relativamente industrializada e diversificada o tornam uma potência regional. Seus recursos o colocam numa posição-chave para equacionar o tripé do desenvolvimento sustentável global: segurança alimentar, energética e ambiental.

Nessas águas turvas e tumultuosas, sem grandes instrumentos de poder, o País precisa, para defender interesses nacionais e promover os globais, de sutileza, inteligência e credibilidade. 
Felizmente, conta com uma tradição diplomática consagrada nos princípios constitucionais do respeito aos direitos humanos, à democracia e à ordem baseada em regras, e corporificada nos quadros técnicos do Itamaraty.
 
Mas esse capital está sendo dilapidado pela diplomacia sectária do presidente Lula da Silva. Lula já disse que a democracia é relativa. Mas sua política externa é definida por um princípio absoluto: a hostilidade ao Ocidente (o “Norte”, os “ricos”) e o alinhamento automático a tudo o que lhe é antagônico.

Sua passagem pela África foi um microcosmo desse estado de coisas. Interesses econômicos foram tratados de forma ligeira. Em entrevista, ele se evadiu de cobrar a Rússia e a Venezuela por sua truculência autocrática, ao mesmo tempo que insultou judeus de todo o mundo ao atribuir a Israel práticas comparáveis às dos nazistas.

Seja em conflitos onde o País teria força e autoridade para atuar, como os da América Latina, seja naqueles nos quais não tem força, Lula se alinha ao que há de mais retrógrado e autoritário. Abrindo mão de sua neutralidade, o País se desqualifica como potencial mediador. 
O Brasil poderia promover seus interesses econômicos e pontos de cooperação com a Eurásia sem prejuízo da defesa de valores civilizacionais comuns ao Ocidente. Mas Lula sacrifica os últimos sem nenhum ganho em relação aos primeiros. 
Em sua ânsia de se autopromover como líder global dos “pobres” contra os “ricos”, reduziu a máquina do Itamaraty a linha auxiliar de sua ideologia maniqueísta e seu voluntarismo narcisista.
 
A “frente ampla democrática” propagandeada na campanha eleitoral deveria ter sido projetada para as relações internacionais. 
Mas também aqui ela se mostrou uma fantasia eivada de sectarismo ideológico – arrastando consigo o Brasil, obliterando suas oportunidades de integração econômica e prejudicando possibilidades de cooperação pela promoção da paz, da democracia, dos direitos humanos e das liberdades fundamentais que a Constituição traçou como norte da diplomacia nacional.


Notas & Informações - O Estado de S. Paulo


quinta-feira, 22 de junho de 2023

Prestígio, reputação, caráter - Percival Puggina


         É dispendioso o esforço que Lula faz para se tornar figura carimbada da cena internacional e é exaustiva a dedicação de seus apoiadores em exaltar o que seria um retorno do Brasil às grandes partidas da diplomacia mundial. A ideia central da empreitada consiste em mostrar que Lula tem prestígio no circuito das grandes capitais da Eurásia.[empreitada impossível, por razões incontestáveis e simples: - o presidente petista até teria um certo prestígio se posasse de humorista, mas escolheu posar de estadista o que não combina com  sua total ignorância sobre os preceitos elementares para pensar em ter tal qualificação - e sua reputação, cuja definição inicia o qualificando com ex-presidiário.
Somos CATÓLICOS e respeitamos Sua Santidade, o Papa, quando fala ex-Cathedra, mas quando se manifesta como líder político e tem como  interlocutor o petista que preside o Brasil, ousamos discordar - nem Sua Santidade, nem o petista possuem qualidades de estadistas, ao contrário lhes faltam = Sua Santidade por não ter experiência política e o petista por faltar todas as qualidades que um estadista deve possuir. 
Ao contrário, abundam características = ou qualidades ruins, péssima = que desabilitam qualquer um que pretenda ser estadista.
Quanto aos dois conversarem sobre a guerra da Ucrânia, respeitosamente expressamos o entendimento de que Sua Santidade consegue tornar atual a pergunta se Stalin "'... quantas divisões possui o Papa?...' .
Já o apedeuta esquece que as FF AA do Brasil - pelas quais temos grande respeito, mas não podemos tapar o sol com uma peneira - não possuem condições sequer de deslocar um batalhão, por meios próprio, para prestar modesta contribuição em uma FORÇA DE PAZ. ]

Então, Lula viaja e Janja, que diz “sofrer todos os dias” em sua missão, descobre aquilo que os navegadores do século XV já haviam percebido: viagens intercontinentais são um saco, quer numa caravela, quer em voo lotado de turistas, quer, ainda, em avião presidencial carregado de puxa-sacos. “Compra um avião novo, meu bem, o Brasil merece”, presumo que tenha dito. Merece sim, senhora. Puxa se merece!

O casal não descobriu ainda, e seus apoiadores jamais perceberão, a enorme diferença existente entre comparecer a eventos internacionais fazendo a coisa certa e ali estar arrotando desinformações e autolouvações, apoiando a quem não deve, falando mal do antecessor e do próprio país, costurando pactos com malfeitores, agradando ao imperialismo russo invasor da Ucrânia, protegendo criminosos como Daniel Ortega e Nicolas Maduro.

Hoje, enquanto escrevo, chegou a vez do Papa servir de palco para Lula. Como ambos falam demais, deve ser uma conversa fatigante. Ontem, Lula teve proveitoso reencontro de alto nível cultural com o italiano Domenico de Masi. Como o sociólogo é famoso pela criação do conceito de ócio criativo, imagino que tenha ajudado na formatação da agenda de futuras viagens do peregrino casal brasileiro. Amanhã, Paris e os abraços de Emmanuel Macron que, como ele, vê o Brasil e o agronegócio nacional com muito maus olhos.

Há, contudo, três surpresas no fim dessa estrada. Elas se revelam ao descobrir que:

1 – Prestígio costuma ser atributo de quem é visitado; não do visitante. Na política, é mais comum que dependa do cargo do que da pessoa. Quando Lula deixar de ser procurado por pedintes e criminosos e abandonar as más companhias de sempre, essa improvável transição poderá contribuir para atenuar seus problemas em relação, também, a outro conceito fundamental:

2 – Reputação, boa ou má, ela nos acompanha ao longo da vida como luz ou sombra e depende do que os outros pensam sobre nós;

3 – Caráter, diferentemente de reputação, depende exclusivamente de cada um. Ou se tem ou não se tem.

Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 


quarta-feira, 20 de abril de 2022

Putin: Nacionalista ou Imperialista? - Jorge Hernández Fonseca

Com a derrota do marxismo comunista, o atual campo político internacional passa a configurar duas áreas antagônicas: os nacionalistas e os globalistas. Os primeiros priorizam os valores nacionais sobre os laços externos, a exemplo do Reino Unido, que acaba de se separar da União Europeia, consciente de que seus valores nacionais não deveriam estar subordinados aos poderes centralizados por uma representação da "União", muitas vezes contrária aos seus interesses como Nação. Os globalistas (nada a ver com globalização) defendem a "unidade política" de vários países, buscando em última análise um "Governo Mundial".

Claro, existem nuances nesta classificação. A globalização comercial, por exemplo, é um fenômeno defendido e aceito por ambos os lados. A chave é a subordinação política implícita dos globalistas, que os nacionalistas rejeitam. Dito isto, vamos à guerra que Putin declarou contra a Ucrânia sob pretextos duvidosos, senão confusos.

Putin fez da Rússia um país nacionalista que preservou suas raízes históricas, culturais e religiosas e que proclama cultivar seus valores mais tradicionais, mas se posicionando como o centro político de toda a Eurásia, dentro de uma filosofia messiânica russa. Por esta razão, e apesar de ser reconhecido como um país nacionalista, acaba de declarar guerra a um vizinho por nenhum motivo maior do que a preservação de sua “segurança nacional”entendida como garantia de que seu vizinho atacado não a colocasse em perigo – escondendo seu verdadeiro objetivo: conquistar para a Rússia o país vizinho. Nada a ver com o nacionalismo do século XXI e sim com uma perspectiva "imperialista" de despojar de seu território um país independente, por várias razões falaciosas.

Vejamos. A Rússia de Putin argumenta que grande parte do território da Ucrânia "sempre pertenceu" à Rússia czarista, mostrando sua pretensão imperialista hegemônica, que nada tem a ver com o nacionalismo do século 21 de que falamos antes. Se a Ucrânia existe como país independente, é porque a antiga União Soviética, num primeiro momento, exibiu ao mundo como novas “repúblicas”, partes da antiga União das Repúblicas Soviéticas; mais tarde, quando as diferentes repúblicas antes unidas na URSS se separaram, a Rússia teve participação ativa nas definições então feitas

Se a península da Crimeia era russa e não ucraniana, por que a própria Rússia a tornou parte da Ucrânia quando todas as repúblicas se separaram desde o início? 
O Mundo sabe de uma Ucrânia independente, com territórios que a Rússia nunca reivindicou: é a Ucrânia que foi membro da antiga URSS e a Ucrânia que se separou da URSS quando esta se desmantelou, que incluiu sempre a região de Donbass (agora reivindicada pela Rússia ) e a península da Criméia, anexada em uma guerra predatória há alguns anos. A Ucrânia é o que a Rússia decidiu que era quando a URSS foi desmantelada e agora, como país nacionalista, não pode reivindicar o que não é seu.

Putin, com esta guerra imperialista, coloca um obstáculo gigante para o nacionalismo como ideologia aceitável do século XXI. A única salvação para os nacionalistas do nosso século é acrescentar uma categorização adicional para impor à Rússia: "país imperialista", independentemente de ter ideias nacionalistas ou globalistas. Impõe guerra a seus vizinhos por objetivos territoriais ou de "segurança nacional" para esconder intenções hegemônicas. Se um Governo Mundial é questionável, pior é um Governo Mundial comandado pela Rússia, assim como proclamam os ideólogos russos que Putin segue.

*         Os artigos deste autor podem ser consultados em http://www.cubalibredigital.com

**        O autor é cubano, engenheiro mecânico, professor em várias instituições universitárias em Cuba e no Brasil, onde vive há 23 anos.

 

quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

Valentia e resultados

O grande risco internacional é a instabilidade, agravada pelo comportamento de dirigentes

Tirar o Brasil do Pacto Global para Migração é o tipo da valentia que não custa grande coragem, rende muitas frases de efeito e tem pouquíssimo – ou nenhum – efeito prático. Na raiz desse gesto do novo presidente brasileiro está a convicção de que uma grande conspiração internacional trabalha para retirar a soberania, a capacidade de decisão ou até mesmo a vontade de se defender de Estados nacionais. E que grandes instituições multilaterais (como a ONU, onde se tramitou o tal do inócuo pacto de migração) foram aparelhadas pelos tais globalistas.
O cenário que preocupa de verdade um grande número de analistas internacionais, incluindo as grandes consultorias de risco, é outro. É o que chamam quase em uníssono de agravamento da instabilidade nas relações entre os países. “Nada urgente”, escreve uma dessas consultorias, a Eurásia, “ciclos geopolíticos são lentos e leva-se anos, até décadas, para destruir uma ordem, mas a erosão (da atual ordem) está ocorrendo”.
Neste tipo de cenário abre-se ainda mais o espaço para que indivíduos – tais como dirigentes de alguns países – consigam estragar coisas ainda mais depressa. Mas aqui vai uma nota tranquilizadora: a mesma Eurásia, quando olha para os riscos nestas partes do mundo, está preocupada com o México e seu novo presidente populista de esquerda, e muito pouco com o Brasil (em outras palavras, nossa capacidade de causar estragos internacionais no momento é considerada pequena).

Assim, a guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo é descrita como consequência, e não causa, do que se considera como quase inevitável ruptura da ordem internacional descrita como “liberal”. Da mesma maneira, o estado da economia mundial preocupa muitos comentaristas estrangeiros não tanto pela dificuldade de se prever o comportamento dos mercados, mas, sobretudo, por aquilo que se assume com grande dose de convicção: mesmo um pequeno ciclo recessivo (que se dá como favas contadas) encontrará os principais governos menos afinados e capazes de respostas, como aconteceu na grande crise financeira de 2008.
Aqui o foco vai diretamente para os Estados Unidos, e a rara combinação de difícil situação política doméstica com o fato de Washington ser um dos principais fatores que contribuem para virar a ordem internacional de cabeça para baixo – fato exemplificado num presidente que fala tão mal de adversários quanto de aliados. Donald Trump perdeu o controle do Congresso e a atual paralisação do governo é apenas o início de uma áspera batalha política interna.
Nesse sentido, desenha-se um curioso cenário de combates também em relação à política externa americana. O “consenso” entre democratas e republicanos sobre a necessidade de reduzir o papel internacional dos Estados Unidos está sendo quebrado na luta política contra Trump, ou seja, seus adversários começam a falar na necessidade de “reconstruir” valores como a liderança americana e refazer alianças (a belicosidade em relação a China, porém, une nos Estados Unidos forças políticas antagônicas).
Ser “contra” ou “a favor” de Trump é uma dessas bobagens que só tornam ainda mais precária a compreensão do que está em jogo. O problema não está em atacar o “globalismo”, mas em saber qual a capacidade de liderança de Trump no momento em que uma crise econômica transborde para se transformar numa crise geopolítica. E ela vem.
 
William Waack - O Estado de S. Paulo

terça-feira, 2 de outubro de 2018

O que esta eleição vai decidir

O PT fez do Brasil uma Coreia do Norte intelectual

O Brasil vai precisar de todos os brasileiros decentes para se curar do lulismo

Na campanha do Bolsonaro todo mundo diz a besteira que quer na hora que quer: que eleição sem ele é golpe, que o bandido é que era o herói e por aí afora. Na do PT, não. Todo mundo só fala o que o chefe manda na hora que o chefe manda. Ele, sim, pode dizer a besteira que quiser na hora que quiser: que eleição sem ele é golpe, que os bandidos é que eram os heróis, que roubar para reelegê-lo não é crime e por aí afora.
Mas tem outra diferença que é fundamental. O Bolsonaro só dura quatro anos e o PT, como explicou quinta-feira ao El País o comandante José Dirceu, “vai tomar o poder, é só questão de tempo, o que é muito diferente de ganhar uma eleição”.  Quando ainda havia imposto sindical qualquer sujeito, mesmo sem seguidor nenhum, podia abrir um “sindicato”. Bastava ir à “junta”, registrar sua “marca” e passava a ter o direito de extorquir trabalhadores que nunca tinha visto ou consultado antes. Daí em diante o único trabalho que precisava se dar na vida era não perder mais a “eleição” de confirmação dele próprio como dono do sindicato em assembleias sem voto secreto. Tinha de ter muito peito pra não votar no “candidato” com ele olhando pra sua cara porque valia tudo, porrada, ameaça à família, tiro e, pior que tudo, ser condenado à miséria com todas as portas do trabalho fechadas pro rebelde.

Velhos hábitos demoram pra morrer. Para o PT é assim que se “faz política”. No início dos anos 90 o partido prometia “banir a corrupção” e conquistou suas primeiras prefeituras. E logo se meteu no primeiro escândalo, denunciado por um de seus fundadores, Paulo de Tarso Venceslau. Com um esquema controlado por Roberto Teixeira, compadre de Lula que viria a ser sogro do advogado Cristiano Zanin Martins, que o defende hoje, mais de 30 anos depois, o PT estava roubando as prefeituras. Nunca mais parou. O esquema evoluiu para um método de “tomada do poder” pela destruição da instância eleita pelo povo para controlar o governo, o Congresso Nacional, que ficou conhecido como “mensalão”.

Foi por aí, também, que se deu a “afinidade eletiva” entre o PT e a tribo da nossa “intelectualidade” cuja cultura política parou na Eurásia dos anos 30 do século 20, onde o poder também era “tomado” pra nunca mais ser devolvido. Foram eles que deram tinturas ideológicas “cultas” a essa fome animal do Lula pelo poder e lhe apontaram o caminho do Gramsci. Por baixo de toda a graxa retórica de que vem lambuzado, o esquema gramsciano não passa de um projeto monumental de censura. Trata-se de fechar de tal modo as coisas numa visão única na base do terrorismo moral que uma geração inteira de alvos preferenciais da operação – professores, artistas e intelectuais a serem tornados “orgânicos” – atravesse toda a existência sem tomar conhecimento de nada que contradiga essa visão, e ir fuzilando midiática ou economicamente todo mundo que resistir.

O PT fez do Brasil uma Coreia do Norte intelectual. Ninguém em todos os tempos e em todos os lugares conseguiu fechar tão bem o cerco. Só quem diz o que o chefe aprova consegue manter-se nas tribunas midiáticas mais altas ou “brilha” mesmo sem ser brilhante. Com o País prisioneiro da língua e das redes que só falam português, só o que ele quer mostrar do mundo passa a existir. Nas vésperas de eleições o barulho e a produção de factoides tomam um ritmo que torna impossível o raciocínio. E o jogo de luz e sombra passa a ter uma precisão milimétrica. Nada do que parece é e nada do que é aparece.No resto da economia ninguém mais consegue vencer só com esforço. Só vai pra frente quem o dono do poder escolher para “dar” alguma coisa ou poupar da aplicação da lei que passa a ser escrita para ter efeito necrosante instantâneo. Do bolsa família ao bolsa megaempresário, do prêmio artístico ao financiamento das obras que vão concorrer a ele, a ordem é “para os amigos, tudo, para os inimigos, a lei”.

A classe média meritocrática, o cara que se faz sozinho suando a camisa, passa a ser “detestável”, o inimigo a ser destruído de preferência fisicamente, como diz Marilena Chaui, intelectual “orgânica” do partido. O “concursismo” passa a ser o único meio de “vencer na vida”. Nos 14 anos de PT no poder, o numero de funcionários dobrou e o gasto com eles triplicou. Mas quase todos os Estados, assim como a União, têm mais deles aposentados com o maior salário das suas curtas carreiras do que trabalhando. O salário deles aumenta todo ano acima da inflação, chova ou faça sol, não em função da entrega de resultado, mas da capacidade de cada corporação de chantagear o País e o próprio governo. A partir de um limite, o Estado passa a existir só para essa casta, que hoje consome quase 100% dos 40% do PIB que o governo arrecada, e o resto do País se desmancha.

Discutir “golpe” a partir de Bolsonaro ou Lula é discutir potência ou ato, desejo ou realização. Começa que golpe há muito tempo não se dá mais com militar e tanque. É com aparelhamento do Judiciário e decreto de juiz que se faz, como Lula não se cansa de ensinar no Foro de São Paulo. A cinco anos da sentença do mensalão, com o petrolão ainda bombando, os bandidos estão soltos; os processos da Lava Jato, esterilizados; e o chefe desacata sentenças de tribunais superiores, e até do Supremo, de dentro da cadeia e não acontece nada. Do jeito que vai, morre tudo na praia e Sergio Moro é que acaba na cadeia, conforme a vingança prometida.

Jair Bolsonaro era a desculpa que faltava para a esquerda honesta,
que desempata essa parada, ser tentada a sentar no colo da bandidagem ao lado de todos os coronéis ladrões de todos os tempos e de todos os governos. O Brasil vai precisar de todos os brasileiros decentes para se curar do lulismo. Eleger o presidente laranja é o fim final do império da lei e dos poderes dos outros poderes. Por isso, quando for votar amanhã, não pense nas bravatas da sua juventude. Pense na juventude dos seus filhos e dos seus netos, porque o Brasil já está do lado de lá e o que esta eleição vai decidir é só se ainda tem volta.


Fernão Lara Mesquita - O Estado de S.Paulo