Luiz Carlos Azedo
Hoje, Doria não seria o
candidato do PSDB à Presidência. Perderia as prévias da legenda para o
governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, ou o senador Tasso Jereissati
(CE)
O que é o centro democrático? O ex-ministro
Moreira Franco, discípulo do pessedismo de Amaral Peixoto, resume assim: a
direita da esquerda e a esquerda da direita. Juntar essas forças num projeto
eleitoral é o maior desfio político da conjuntura para os partidos que compõem
esse campo — DEM, PSD, MDB, PSDB, Cidadania, PV e PDT —, porque as eleições de
2022 estão logo ali e o cenário eleitoral foi polarizado pelo presidente Jair
Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Existe um eleitorado
órfão, porque não deseja a continuidade de Bolsonaro ou a volta de Lula. Para
essa fatia de eleitores, o chamado centro democrático é como um suculento
camarão empanado. Nas eleições, porém, sem cabeça, o crustáceo morrerá na areia
da praia.
Como na música Cartomante, de Ivan Lins e
Vitor Martins, grande sucesso na voz de Elis Regina — “Cai o rei de Espadas/
Cai o rei de Ouros/ Cai o rei de Paus/ Cai, não fica nada” —, os pré-candidatos
que buscam articular e unificar esse campo estão desistindo ou se
inviabilizando. Os casos mais emblemáticos são o ex-juiz da Lava-Jato Sergio
Moro, uma espécie de rei de Espadas na crise ética, e o apresentador Luciano
Huck, o rei de Ouros, para grande massa de empreendedores do país. O primeiro
iniciou uma bem-sucedida carreira de consultor jurídico na área de análise de
riscos; o segundo, vai dar um upgrade na carreira de comunicador, ao substituir
o apresentador Fausto Silva nas tardes de domingo da Rede Globo.
Está
difícil a vida do rei de Paus, o
governador de São Paulo, João Doria, que lançou precocemente sua
pré-candidatura e confrontou Bolsonaro na crise sanitária. O problema
dele é o
desgaste que enfrenta pelo fato de São Paulo ser o epicentro da pandemia
de covid-19, com grande impacto na economia no estado e reflexos no
desempenho
de seu governo. Ensanduichado entre uma base bolsonarista muito forte,
principalmente nas médias e pequenas cidades do interior, e a recidiva
do
petismo nos grandes centros urbanos, Doria não consegue fechar
majoritariamente
o eleitorado paulista. Sem São Paulo, sua candidatura não decola
nacionalmente
Hoje, Doria não seria o candidato do PSDB à
Presidência. Perderia as prévias da legenda para o governador do Rio Grande do
Sul, Eduardo Leite, ou o senador Tasso Jereissati (CE), um dos líderes
históricos do partido. O quarto pretendente, o ex-prefeito de Manaus Arthur
Virgílio, é um azarão. A Executiva Nacional do PSDB aprovou, por unanimidade,
as regras para a escolha do candidato do partido à Presidência da República em
2022. Elaborada pelo ex-deputado Marcus Pestana (MG), e discutida em uma comissão
que debate as prévias do PSDB, encabeçada pelo ex-deputado José Aníbal (SP), o
modelo pôs em xeque a candidatura de Doria.
Pelas regras aprovadas, os votos dos
filiados sem mandato valerão 25% do total. Os outros 75% dos votos serão dados
por três grupos diferentes: prefeitos e vice-prefeitos filiados ao PSDB;
vereadores, deputados estaduais e distritais; e deputados federais, senadores,
governadores e os ex-presidentes da sigla. Doria defendia votos com o mesmo
peso para todos os integrantes do partido. Inconformado, quer mudar as regras
do jogo na próxima reunião da Executiva.
Rei de Copas
Enquanto o rei de Paus não é escolhido pelo PSDB, o rei de Copas também não
consegue derivar para o eleitorado de centro como gostaria. O candidato do PDT,
Ciro Gomes, escolheu Lula como principal adversário no primeiro turno, mas essa
estratégia não foi endossada pelo presidente da legenda, Carlos Lupi. É uma
tática complicada, porque pressupõe deslocar o petista da disputa com
Bolsonaro, seduzindo os eleitores de centro. Poderia até ocupar o espaço
deixado pela disputa interna no PSDB, mas não é o que acontece. O problema é
que o estilo de Ciro não se encaixa muito nesse figurino, por ter construído
uma trajetória eleitoral de candidato de esquerda.
Resta ainda outra pré-candidatura sem
legenda garantida, a do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, que
pleiteia a vaga de candidato a presidente do DEM, partido hoje muito próximo do
Bolsonaro. E uma legenda sem candidato, o PSD do ex-prefeito de São Paulo
Gilberto Kassab, que procura um nome competitivo de perfil liberal. DEM e PSD
são partidos importantes para a chamada união da direita com o centro e do
centro com a direita.
Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo, colunista - Correio Braziliense