Vida e Cidadania - Gabriel Sestrem
Diante
do cenário de restrição ao livre exercício da imprensa por parte do
ministro Paulo de Tarso Sanseverino, do Tribunal Superior Eleitoral
(TSE), que determinou a remoção de postagem da Gazeta do Povo no Twitter,
diversas entidades comprometidas com a liberdade de imprensa e de
expressão e com os valores democráticos se posicionaram contra a censura
imposta ao jornal. Até o momento, 30 organizações se pronunciaram sobre
o caso.
Ao atender a um pedido da coligação de Lula
(PT), o ministro do TSE determinou a remoção de uma postagem com a
notícia de que o regime do ditador nicaraguense Daniel Ortega, que é
apoiado pelo Partido dos Trabalhadores, havia cortado o sinal do canal
de notícias CNN naquele país.
A notícia continha a menção à proximidade
entre Lula e Ortega, o que motivou o PT a requerer sua remoção. A
solicitação foi atendida por Sanseverino sob a justificativa de que se
tratava de “informação evidentemente inverídica e prejudicial à honra e à
imagem de candidato ao cargo de presidente da República nas eleições
2022”.
Diante da censura imposta, a Associação Nacional de Jornais (ANJ) saiu em defesa da Gazeta do Povo e da liberdade de imprensa.
“A ANJ protesta veementemente contra a censura imposta pelo ministro
Paulo de Tarso Sanseverino, do TSE, a uma publicação do jornal Gazeta do Povo no
Twitter. A decisão contraria frontalmente a Constituição, que não
admite censura à imprensa. A legislação brasileira dispõe de uma série
de mecanismos para dirimir eventuais abusos à liberdade de expressão,
mas neles não se inclui a censura”, afirmou o presidente-executivo
da ANJ, Marcelo Rech.
No domingo (2), o presidente da entidade já havia se posicionado contra a censura ao portal O Antagonista,
por parte do presidente do TSE, ministro Alexandre de Moraes, que
determinou a remoção da reportagem que mostrava trecho de áudio captado
pela Polícia Federal no qual o chefe do PCC conhecido como Marcola
declarou voto em Lula. A justificativa do ministro na ocasião foi de que
se tratava de conteúdo “sabidamente inverídico”.
Veja abaixo as manifestações de entidades democráticas sobre o caso:
Instituto Liberdade e JustiçaEm nota assinada pelo diretor-presidente da organização, Giuliano Miotto, o Instituto Liberdade e Justiça apontou caráter abusivo da decisão do ministro e manifestou preocupação com o impedimento, capitaneado por representantes do Poder Judiciário, de que determinadas informações cheguem ao público.
“Vejo com preocupação que juízes, incentivados pela atuação do Supremo Tribunal Federal,
estejam tomando decisões teratológicas, em sede de liminares, para
impedir que as pessoas tenham acesso a fatos que encontram respaldo na
realidade”, afirma Miotto.
“Este é o caso da decisão que foi proferida contra a Gazeta do Povo,
jornal que atua de forma exemplar e compromissada com a verdade dos
fatos. Por isso, o Instituto Liberdade e Justiça, na minha pessoa,
repudia com veemência esta decisão. Sabemos que a continuar essa marcha
abusiva do judiciário, estaremos em breve mergulhados em uma das piores
ditaduras que se pode existir e contra a qual não há a quem recorrer”,
reforça.
Manifesto conjunto de 23 organizações reunido pela Rede LiberdadeA Rede Liberdade divulgou um manifesto nesta quarta-feira (5) que é coassinado por outras
21 entidades (veja a listagem abaixo), no qual condena veementemente a medida restritiva à liberdade de imprensa empreendida pelo ministro do TSE.
“Como defensores do Estado Democrático de Direito não nos
parece razoável que um veículo de comunicação não possa expor conteúdos
verdadeiros e facilmente verificáveis em virtude da possibilidade de gerar
prejuízo a alguma candidatura política. É justamente ao longo do período
eleitoral que informações se tornam mais valiosas ante a necessidade de tomada
de decisão dos eleitores em relação aos candidatos que desejam ocupar um cargo
público”, declaram as entidades.
“O escrutínio público não pode ser mitigado por intervenções
do Poder Judiciário que, nesta decisão, decidiu atacar a liberdade de expressão
ao invés de protegê-la”, enfatizam.
As organizações
que subscrevem o manifesto são: Instituto Mises Brasil; Instituto de
Estudos Empresariais (IEE); União Juventude e Liberdade; Instituto de
Formação de Líderes de Goiânia; Instituto de Formação de Líderes do Rio
de Janeiro; Instituto Atlantos; Instituto de Formação de Líderes de Belo
Horizonte; Instituto Liberdade; Instituto de Formação de Líderes
Curitiba; Grupo Domingos Martins; Instituto Liberal de São Paulo;
Instituto de Formação de Líderes Florianópolis; Instituto de Formação de
Líderes Jovem de Belo Horizonte; Juventude Libertária de Sergipe;
Instituto Livre Mercado; Instituto Libercracia; Instituto Liberal do
Triângulo Mineiro; Clube Farroupilha; Instituto de Formação de Líderes
Brasil; Instituto de Formação de Líderes Jovem São Paulo; Students for
Liberty Brasil; e Instituto de Formação de Líderes de Brasília.
Associação Nacional dos Juristas Evangélicos
Já a Associação Nacional dos Juristas Evangélicos (Anajure) informou que considera preocupante a remoção do conteúdo, uma vez que o tuíte censurado apenas citava fato verídico noticiado, inclusive, por outros veículos de comunicação.
“Ressaltamos a necessidade de preservar a liberdade de
imprensa, de forma que não haja prejuízos para os veículos de comunicação nem
para a população”, diz nota assinada pela presidente da entidade, Edna Zilli. “O
caso ganha seriedade ainda maior quando se considera que a temática censurada
guarda relação com violações aos direitos humanos na América Latina, assunto de
relevância para os debates políticos no período eleitoral e que compõe a missão
institucional da Anajure”, prossegue o texto.
Instituto Democracia e Liberdade (IDL)
Em nota encaminhada à reportagem, o presidente do Instituto Democracia e Liberdade (IDL), Edson José Ramon, lamentou o que chamou de “atentado do judiciário brasileiro contra a liberdade”. Segundo Ramon, a decisão do TSE é sinal de cerceamento contra um jornal centenário, “um dos pilares do jornalismo responsável e imparcial”.
Instituto Liberal
Já o Instituto Liberal destacou que a liberdade de expressão é um pilar inegociável de todo regime orientado pelos parâmetros do Estado de Direito.
“A escolha livre dos ocupantes dos cargos legislativos e
executivos, dentro de um sistema que se pretende liberal-democrático, exige a
discussão igualmente livre das ideias políticas. Por sua vez, essa discussão
livre depende da liberdade de noticiar e divulgar informações. O Instituto
Liberal se opõe a medidas que cerceiem essa liberdade. O jornal Gazeta do
Povo veiculou informações verificáveis, cabendo aos leitores apreciá-las e
julgá-las, tarefa para a qual dispensam qualquer tutela ou censura",
afirma a nota.
Instituto Brasileiro de Direito e Religião O
Instituto Brasileiro de Direito e Religião (IBDR) publicou em seu site oficial uma
nota de repúdio à conduta do Tribunal. Assinada pelo presidente do instituto, Thiago Rafael Vieira, a manifestação destaca a importância da liberdade de imprensa como garantia constitucional, bem como a previsão constitucional de vedação à censura.
“O
IBDR se posiciona totalmente contrário à censura judicial da Imprensa,
salvo em situações específicas e excepcionais que a dignidade humana e a
privacidade sejam violadas ou que a liberdade de imprensa ou de
expressão funcionem como modus operandi para a prática de atos
criminosos”.
Movimento Advogados do BrasilPor fim,
o Movimento Advogados do Brasil (MABr), entidade suprapartidária que conta com cerca de dez mil advogados associados e atua na
defesa dos direitos fundamentais, também divulgou
nota de repúdio (leia na íntegra) à conduta do ministro do TSE, destacando-a como incompatível com um regime democrático.
“A bem da verdade, o livre pensamento e a divulgação de fatos só podem subsistir em democracias sólidas, que primam pela liberdade; do contrário, ela fatalmente estará sob ameaça”,
diz o comunicado do MABr.“Em um processo tão importante
como o que estamos vivendo, de disputa eleitoral presidencial acirrada
entre dois líderes, cujas identidades políticas e ideológicas são
antagônicas entre si, cercear o direito de os eleitores terem
conhecimento de fatos que possam nortear seus votos afasta-se daquilo
que um Estado de Direito deve lutar para preservar”, complementa.
Gabriel Sestrem - Gazeta do Povo