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terça-feira, 27 de julho de 2021

Sem um vice General, Bolsonaro cai? - Jorge Serrão

O Presidente do PTB, Roberto Jefferson, aconselhou o Presidente Jair Bolsonaro a definir que seu candidato a vice-Presidente na quase certa reeleição seja o General de Exército na reserva Braga Netto - atual ministro da Defesa. 
Jefferson justificou que um militar de alta patente como vice é garantia de lealdade, além de blindar o titular do Palácio do Planalto de eventuais tentativas de golpe político. A sugestão de Jefferson foi dada ao final do programa Direto ao Ponto, apresentado por Augusto Nunes na Rede Jovem Pan, ao responder, criticamente, a uma pergunta sobre o fato de Bolsonaro ter rompido com seu vice. Bolsonaro comparou Hamilton Mourão a um “cunhado”.
 

 
Bolsonaro fala sobre relacionamento com Mourão e eleições 2022
 

Indiretamente, Jefferson advertiu que Bolsonaro fica vulnerável politicamente sem a sustentação de um militar de peso, como vice-Presidente. O estrategista Jefferson foi claro sobre o vice: “As Forças Armadas, em especial o Exército, mão amiga, braço forte, permeia na sociedade uma credibilidade muito grande. Eu acho que o grande aval do Presidente Bolsonaro é o Vice (Mourão). Vai colocar quem? O ministro da Casa Civil do PP, lá do Piauí? Eu? Cheio de problema no passado, cheio de lutas, de conflitos, cicatrizes… Não... Vai escolher quem? Tem de ser um homem acima de todas as suspeitas. Eu colocaria o General Braga Netto. Se sou ele, eu não optaria por um vice (civil). Até porque, o militar é leal”.

Jefferson defendeu o papel do atual vice de Bolsonaro: “Por pior que seja a relação do Mourão com Bolsonaro, e é ruim, ele não conspira contra o Presidente. O Itamar (Franco) conspirou abertamente contra o Collor. Abertamente… E o Temer conspirou abertamente contra a Dilma. Político não tem essa lealdade do militar.  [minha honra é lealdade.]
Essa lealdade de pegar o companheiro ferido e trazer nas costas. 
Não deixa o companheiro sangrando no campo de batalha, que não é comum à classe política. Militar tem essa honra, essa lealdade, essa dignidade. Eu faria do General Braga o meu vice, para ter certeza de uma vice-Presidência amiga, aliada, que vai proteger sua retaguarda, as suas costas”.

Ontem à tarde, em entrevista à Rádio Arapuan, na Paraíba, Bolsonaro fez uma crítica pesada e desnecessária ao seu vice-Mourão, ao comentar a indagação de que não deveria tê-lo como parceiro na sucessão presidencial de 2022: “A escolha do vice meu foi muito em cima da hora. Assim como a composição da bancada, especial para deputado federal. Muitos parlamentares, depois de ganhar as eleições com nosso nome, transformaram-se em verdadeiros inimigos nossos”, afirmou. “O Mourão faz o seu trabalho, tem uma independência muito grande. Por vezes aí atrapalha um pouco a gente, mas o vice é igual cunhado, né? Você casa e tem que aturar o cunhado do teu lado”.

O “cunhado” viajou ontem à tarde para representar o Brasil e Jair Bolsonaro na posse do Presidente do Peru, socialista Pedro Castillo. Nas redes sociais, Mourão explicou a missão diplomática: “Levamos ao País amigo nossos votos de felicidades. Que prossigamos na amizade e cooperação que sempre uniu o Brasil e o Peru”. O “vice que às vezes atrapalha, mas tem que aturar” (na versão sincera de Bolsonaro) já tinha cumprido outra missão espinhosa que o Presidente não quis encarar, na visita a Angola - país africano que está expulsando seus fiéis aliados da Igreja Universal do Reino de Deus.

Por lealdade a Bolsonaro, Mourão cumpriu o desgaste de defender os perseguidos pelo regime comunista angolano, na reunião com o presidente João Manuel Gonçalves Lourenço. Nota oficial da Vice-Presidência justificou o encontro, muito criticado por adversários de Bolsonaro: “Foi solicitado ao presidente Lourenço que o assunto fosse tratado com base nos princípios do devido processo legal, da ampla defesa e do contraditório a todas as partes da controvérsia, sempre á luz do direito angolano”.

Nesta terça, Bolsonaro e o senador Ciro Nogueira finalmente se reúnem para os acertos finais que definirão os rumos do governo. Ontem, a reunião precisou ser adiada por uma falha mecânica no avião que traria Ciro do México para o Brasil. Ciro parece mais incômodo que um cunhado chato. Ainda mais para Bolsonaro que se elegeu com a bandeira da anticorrupção - que pretende usar na campanha para o segundo mandato contra Lula. O futuro ministro da Casa Civil é alvo de três inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF) no âmbito da Operação Lava-Jato. Na entrevista à emissora paraibana, Bolsonaro justificou a escolha de Ciro para o cargo, minimizando o desgaste com a base aliada: “Centrão é o nome pejorativo para muitos partidos de centro que têm sido úteis para a gente aprovar muita coisa. A gente tem que governar com o que o povo mandou para cá”.

Alguns pontos devem complicar e tensionar a indigesta conversa com Ciro Nogueira. O partido dele, o PP, foi um dos que já se colocou, publicamente, contra a aprovação da impressão do voto pela urna eletrônica - a principal bandeira imediata do bolsonarismo. Outro ponto problemático é que a maioria dos parlamentares do Progressistas não deseja fechar apoio à reeleição de Bolsonaro. Eles sentem saudades dos “bons tempos” com o mensalão e petrolão de Luiz Inácio Lula da Silva. A grande dúvida é se Ciro Nogueira, como coordenador político do Palácio do Planalto, conseguirá mudar de posição sobre a PEC 135 e recuperar o rebanho rebelde do PP. Na prática, Bolsonaro tenta “roubar” o PP de Lula. Se vai conseguir, são outros “quinhentos” ou “milhares”.

Bolsonaristas mais precipitados (ou desconfiados) e a oposição avaliam que Bolsonaro selará sua “venda de alma” ao Centrão. No entanto, o que vale é o pragmatismo. Bolsonaro traz Ciro para a Casa Civil, a fim de dar uma enquadrada final na base aliada. A reafirmação do acordo é fortalecer a blindagem a qualquer ameaça de impeachment mas, principalmente, garantir que as propostas do governo sejam aprovadas no Congresso - o que não vem ocorrendo, apesar de tudo que Bolsonaro já cedeu aos aliados. Bolsonaro só precisa deixar clara qual será a pauta que precisa do Centrão para aprovar. Do contrário, vai arcar com um insano desgaste político.

Todo o jogo vai depender muito da famosa caneta azul (esferográfica) de Jair Bolsonaro. Sem a assinatura publicada no Diário Oficial da União (não por coincidência conhecido pela sigla “DOU”, do verbo “dar”) nada acontece. O nada franciscano princípio do “É dando que se recebe” é uma das tragédias do Presidencialismo de Coalizão previsto na Constituição de 1988 - feita para um modelo parlamentarista ou semipresidencialista. O Centrão quer Poder e Dinheiro. Haja negociação e muita reza forte para tudo não acabar em negociatas.

Alerta Total - Jorge Serrão


segunda-feira, 26 de julho de 2021

Meia-volta, volta e meia, os militares no Brasil - Fernando Gabeira

In Blog

Civis que ocuparam o cargo de ministro da Defesa garantem que as Forças Armadas não embarcam numa aventura golpista. Eles sabem mais do que eu. No entanto tenho algumas dúvidas. 

Não são dúvidas turbinadas pelo preconceito ou pelo ressentimento. Como jornalista, sempre destaquei ações positivas dos militares; no Congresso, mantive as melhores relações com assessores parlamentares das Forças Armadas, entre eles o general Villas Bôas. Os fatos abalam qualquer certeza. Desde a não punição do general Pazuello até as recentes notícias sobre ameaças do ministro da Defesa, o curso dos acontecimentos nos leva à desconfiança. É difícil imaginar como uma sucessão de pequenas atitudes autoritárias pode conduzir a uma firme decisão democrática, no dia D e na hora H, como diz Pazuello.
[Nenhum dos civis que ocuparam o cargo de ministro da Defesa, possuem credenciais para opinar sobre ações que se e quando pensadas não se destacam pela publicidade. 
Aliás, o currículo dos ex-ministro da Defesa não os credencia para dissertar sobre o tema = os cinco primeiros e do sexto ao décimo, nem eles nem os presidentes que os nomearam sabem as razões e motivação da nomeação;
o sexto quem o nomeou não possui credencial que justifique a nomeação de uma fusão de jurista, político, para ocupar um cargo que no seu entendimento leigo no assunto, era tão militar, que autorizava ao titular da pasta o uso de uniforme de General de Exército; 
O décimo primeiro, oficial general, foi nomeado por Temer, corrigindo o erro que cometeu ao manter Jungmann; 
O décimo terceiro foi uma nomeação adequada e oportuna do presidente Bolsonaro e o atual outra  de excelente nomeação do capitão.]

Outro dia, um general ficou bravo comigo porque critiquei Pazuello por sua audácia ao assumir um cargo para o qual não tinha a mínima competência. Mencionei sua obediência cega a Bolsonaro, e o general entendeu minha crítica como uma tentativa de minar o conceito de disciplina dos militares. E disse que era capaz de matar ou morrer pela pátria. Na verdade, peço muito menos que matar ou morrer: simplesmente pensar. Bolsonaro não merece uma obediência cega. Ninguém merece. O que está em jogo é uma noção de dignidade dos militares, discussão importante, pois, do seu prestígio, depende parcialmente a consistência da defesa nacional. [o ilustre jornalista, possui um passado, ainda que distante, não muito favorável à democracia = integrou o MR-8, movimento terrorista, que tentou combater o Governo Militar - nem ele, nem o movimento foram exitosos. O ilustre Gabeira sofreu graves ferimentos durante uma fuga, foi preso, foi banido do Brasil em função de uma troca dele e mais 39  pela embaixador alemão covardemente sequestrado; participou do sequestro do embaixador americano e como consequência foi proibido até 2009 de ingressar em território dos Estados Unidos; apesar de ser apresentado como elemento operacional do grupo terrorista, ele não participou das ações  de maior risco. Voltou ao Brasil em 1979 e com a Anistia voltou à condição de brasileiro. Essa longa memória sobre Fernando Gabeira é mais como consequência de em vários de seus escritos deixar, ainda que de forma sutil, sua propensão a incitar uma reação belicosa contra o governo Bolsonaro. Como sempre, a qualidade literária do que produz é excelente e não será este humilde escriba que ousar apresentar reparos à mesma.]

O perigoso esporte de humilhar generais, título do artigo que provocou a ira dos generais, continua a ser praticado. O general Ramos soube de sua saída da chefia da Casa Civil pela imprensa e confessou que se sentiu atropelado por um trem. O general Mourão é enviado numa missão a Angola para defender, em nome do Brasil, a política da Igreja Universal do Reino de Deus. Isso não é política de Estado, e a tarefa não deveria ser aceita por um general. [até que uma interpretação com viés crítico ao presidente Bolsonaro pode deixar a impressão de que um oficial general está sendo 'humilhado' ao receber certas missões; no caso do general Ramos entendemos que não ocorreu humilhação e sim uma troca de função; o general Mourão é o vice-presidente da República e tem o direito de recusar qualquer encargo que lhe seja atribuído pelo presidente da República, por não existir subordinação do vice-presidente ao presidente.]

Tenho muita tranquilidade em discutir o conceito de obediência na política. Não acho que seja uma extensão do conceito de disciplina militar. Nisso, sempre discordarei dos generais da direita, assim como discordei dos generais da esquerda nos longos debates sobre o chamado centralismo democrático. O melhor instrumento que a sociedade tem para tratar da questão militar que aparece volta e meia é precisamente determinar uma meia-volta: aprovar o projeto que impede militares da ativa de ocupar cargos civis no governo. Votar logo essa proposta de voto impresso, decidir democraticamente se o teremos ou não. [parabéns ao articulista poder defender que a proposta seja votada pelo Congresso Nacional - a quem cabe discutir, analisar e votar as leis. Discutir a conveniência das leis, criar ou revogar leis = legislar = é competência exclusiva do Poder Legislativo.]

Isso não basta. Concordo com o ex-ministro da Defesa Raul Jungmann: o Congresso é omisso ao não discutir os grandes temas da defesa nacional. A omissão dos parlamentares passa aos militares uma sensação de irresponsabilidade ou mesmo de ignorância em relação à dimensão do tema. Impede que a variável ambiental tenha a importância estratégica que merece, atrasa uma solução negociada para o futuro da Amazônia.

A fragilidade da representação política contribui também para que os militares tenham uma visão resignada do Congresso. Nos Anos de Chumbo, seus aliados eram da Arena, partido dos coronéis nordestinos; na eleição indireta à Presidência, o candidato dos militares era Paulo Maluf. Não me espanta que o governo atual tenha se transformado numa associação entre militares e o Centrão. A escolha ideológica sempre foi mais importante que uma sempre anunciada recusa à corrupção.

Durante a Guerra Fria, a ideia de se unir com qualquer um para evitar o comunismo tinha um poder maior de atração. De lá para cá, a sociedade brasileira evoluiu, o comunismo fracassou, apesar da sobrevivência autoritária do PC chinês. Resistir aos impulsos autoritários de Bolsonaro dará à sociedade brasileira mais força contra qualquer nova ameaça aos fundamentos da democracia. O argumento ganha um peso maior se for aceito pelos militares. Ele é a base real da conciliação.

Artigo publicado no jornal O Globo em 26/07/2021

 Blog do Gabeira - Fernando Gabeira, jornalista


segunda-feira, 7 de outubro de 2019

Estes seis pecados ficaram “fora de moda”...

…mas nem por isso deixaram de ser pecado. Pior: justamente por ninguém mais colocar o dedo nessas feridas, estes males não são combatidos e persistem tranquilamente impunes em nossa época”.

“Um catálogo de pecados descatalogados. Parece até um trava-língua; mas, lendo o que vem a seguir, você entenderá a expressão.

Declaratio terminorum, “esclarecimento dos termos”. Catálogo (do latim catalogus, e do grego katálogos): é uma relação ordenada de objetos (livros, documentos etc.) que estão relacionados entre si. Descatalogar: tirar objetos que faziam parte de um catálogo. Neste sentido, é possível falar, por exemplo, de um catálogo de pecados


[IMPORTANTE: O Blog Prontidão Total é uma publicação especialmente política;
Mas, vez ou outra entramos em assuntos religiosos. Isso raramente ocorre e quando acontece é que no nosso entendimento a postagem além do valor religioso pode ser útil no dia a dia.
Encontramos a matéria que segue e apresentamos uma transcrição.
Alem de link da fonte ao final da transcrição, lembramos que algumas citações constam da Biblia Sagrada, constando o livro, capítulo e versículos.
Boa leitura.] 


Já na doutrina de Cristo nós encontramos catálogos de pecados, e desses alguns podem ser leves e outros, mortais, ou seja, que separam o homem da união com Deus, fonte da vida, e que podem conduzir à condenação eterna. No Novo Testamento encontramos mais de vinte listas de pecados, algumas nos evangelhos sinóticos, ou seja, no próprio ensinamento de Cristo: “É do interior do coração dos homens que procedem os maus pensamentos: devassidões, roubos, assassinatos, adultérios, cobiças, perversidades, fraudes, desonestidade, inveja, difamação, orgulho e insensatez ( Mt 15, 19-20 Mc 17, 21-22;) em mencionam-se sete). Na parábola do publicano citam-se três: “ladrões, injustos, adúlteros” (Lc 18, 11). E de outros pecados concretos falam as parábolas da cizânia, do rico epulão, do homem avaro, do servo infiel, do juízo final, do escândalo etc.


Também nos escritos dos Apóstolos se formulam catálogos de pecados, sobretudo em São Paulo. A lista mais completa e impressionante encontra-se na Carta aos Romanos (cf. 1, 24-32), onde achamos denunciado, de maneira muito especial, o nefando pecado da união homossexual entre homens ou entre mulheres (cf. 1, 26-28). Outra lista enumera:Nem os impuros, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os devassos, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os bêbados, nem os difamadores, nem os assaltantes hão de possuir o Reino de Deus (1Cor 6, 9-10). “Com tais indivíduos nem sequer deveis comer… Tirai o perverso de vosso meio” (1Cor 5, 11.13).

Deve haver, portanto, na consciência dos discípulos de Jesus um sentido bem vivo do pecado, que nunca considere o mal como bem; que descubra inclusive os pecados internos, e não somente os que se manifestam em obras externas (“Todo aquele que lançar um olhar de cobiça para uma mulher, já adulterou com ela em seu coração”, Mt 5, 28); e que leve em conta não somente os pecados de comissão, mas também os de omissão (as virgens néscias, cf. Mt 25, 11-13; o servo que não faz render os seus talentos, 25, 27-29; o juízo final, que indica as obras de caridade necessárias e não realizadas, 25, 41-46) etc.
Três observações prévias.
Primeiro,
um pecado torna-se descatalogado, mais ou menos, quando se dão estes sinais:

  1. Quando a pregação deixa de falar de uma certa virtude e de assinalar os pecados que lhe são contrários.
  2. Quando o pecado se tornou de tal modo generalizado que chega a ser visto como algo “normal”, que não mais pesa na consciência.
  3. Quando já é um pecado que não costuma ser acusado no sacramento da Confissão, nem mesmo pelos poucos cristãos praticantes que continuam se confessando, ou porque não o consideram relevante ou porque ignoram na prática sua pecaminosidade, ainda que às vezes tenham dele algum conhecimento doutrinal. 
(...)

— O afastamento crônico da Missa dominical tornou-se um pecado descatalogado. O terceiro mandamento da lei de Deus ordena que seja dado, em privado e em público, um culto de louvor, adoração e ação de graças a Deus. Esta obrigação é muito grave, porque a Igreja existe para a glória de Deus. Por isso, os cristãos não praticantes são pecadores públicos. Não há vida cristã se não há vida eucarística, já que, como em vários textos afirma o Concílio Vaticano II, a Eucaristia é a fonte e o ápice da vida cristã.

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