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terça-feira, 27 de julho de 2021

Sem um vice General, Bolsonaro cai? - Jorge Serrão

O Presidente do PTB, Roberto Jefferson, aconselhou o Presidente Jair Bolsonaro a definir que seu candidato a vice-Presidente na quase certa reeleição seja o General de Exército na reserva Braga Netto - atual ministro da Defesa. 
Jefferson justificou que um militar de alta patente como vice é garantia de lealdade, além de blindar o titular do Palácio do Planalto de eventuais tentativas de golpe político. A sugestão de Jefferson foi dada ao final do programa Direto ao Ponto, apresentado por Augusto Nunes na Rede Jovem Pan, ao responder, criticamente, a uma pergunta sobre o fato de Bolsonaro ter rompido com seu vice. Bolsonaro comparou Hamilton Mourão a um “cunhado”.
 

 
Bolsonaro fala sobre relacionamento com Mourão e eleições 2022
 

Indiretamente, Jefferson advertiu que Bolsonaro fica vulnerável politicamente sem a sustentação de um militar de peso, como vice-Presidente. O estrategista Jefferson foi claro sobre o vice: “As Forças Armadas, em especial o Exército, mão amiga, braço forte, permeia na sociedade uma credibilidade muito grande. Eu acho que o grande aval do Presidente Bolsonaro é o Vice (Mourão). Vai colocar quem? O ministro da Casa Civil do PP, lá do Piauí? Eu? Cheio de problema no passado, cheio de lutas, de conflitos, cicatrizes… Não... Vai escolher quem? Tem de ser um homem acima de todas as suspeitas. Eu colocaria o General Braga Netto. Se sou ele, eu não optaria por um vice (civil). Até porque, o militar é leal”.

Jefferson defendeu o papel do atual vice de Bolsonaro: “Por pior que seja a relação do Mourão com Bolsonaro, e é ruim, ele não conspira contra o Presidente. O Itamar (Franco) conspirou abertamente contra o Collor. Abertamente… E o Temer conspirou abertamente contra a Dilma. Político não tem essa lealdade do militar.  [minha honra é lealdade.]
Essa lealdade de pegar o companheiro ferido e trazer nas costas. 
Não deixa o companheiro sangrando no campo de batalha, que não é comum à classe política. Militar tem essa honra, essa lealdade, essa dignidade. Eu faria do General Braga o meu vice, para ter certeza de uma vice-Presidência amiga, aliada, que vai proteger sua retaguarda, as suas costas”.

Ontem à tarde, em entrevista à Rádio Arapuan, na Paraíba, Bolsonaro fez uma crítica pesada e desnecessária ao seu vice-Mourão, ao comentar a indagação de que não deveria tê-lo como parceiro na sucessão presidencial de 2022: “A escolha do vice meu foi muito em cima da hora. Assim como a composição da bancada, especial para deputado federal. Muitos parlamentares, depois de ganhar as eleições com nosso nome, transformaram-se em verdadeiros inimigos nossos”, afirmou. “O Mourão faz o seu trabalho, tem uma independência muito grande. Por vezes aí atrapalha um pouco a gente, mas o vice é igual cunhado, né? Você casa e tem que aturar o cunhado do teu lado”.

O “cunhado” viajou ontem à tarde para representar o Brasil e Jair Bolsonaro na posse do Presidente do Peru, socialista Pedro Castillo. Nas redes sociais, Mourão explicou a missão diplomática: “Levamos ao País amigo nossos votos de felicidades. Que prossigamos na amizade e cooperação que sempre uniu o Brasil e o Peru”. O “vice que às vezes atrapalha, mas tem que aturar” (na versão sincera de Bolsonaro) já tinha cumprido outra missão espinhosa que o Presidente não quis encarar, na visita a Angola - país africano que está expulsando seus fiéis aliados da Igreja Universal do Reino de Deus.

Por lealdade a Bolsonaro, Mourão cumpriu o desgaste de defender os perseguidos pelo regime comunista angolano, na reunião com o presidente João Manuel Gonçalves Lourenço. Nota oficial da Vice-Presidência justificou o encontro, muito criticado por adversários de Bolsonaro: “Foi solicitado ao presidente Lourenço que o assunto fosse tratado com base nos princípios do devido processo legal, da ampla defesa e do contraditório a todas as partes da controvérsia, sempre á luz do direito angolano”.

Nesta terça, Bolsonaro e o senador Ciro Nogueira finalmente se reúnem para os acertos finais que definirão os rumos do governo. Ontem, a reunião precisou ser adiada por uma falha mecânica no avião que traria Ciro do México para o Brasil. Ciro parece mais incômodo que um cunhado chato. Ainda mais para Bolsonaro que se elegeu com a bandeira da anticorrupção - que pretende usar na campanha para o segundo mandato contra Lula. O futuro ministro da Casa Civil é alvo de três inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF) no âmbito da Operação Lava-Jato. Na entrevista à emissora paraibana, Bolsonaro justificou a escolha de Ciro para o cargo, minimizando o desgaste com a base aliada: “Centrão é o nome pejorativo para muitos partidos de centro que têm sido úteis para a gente aprovar muita coisa. A gente tem que governar com o que o povo mandou para cá”.

Alguns pontos devem complicar e tensionar a indigesta conversa com Ciro Nogueira. O partido dele, o PP, foi um dos que já se colocou, publicamente, contra a aprovação da impressão do voto pela urna eletrônica - a principal bandeira imediata do bolsonarismo. Outro ponto problemático é que a maioria dos parlamentares do Progressistas não deseja fechar apoio à reeleição de Bolsonaro. Eles sentem saudades dos “bons tempos” com o mensalão e petrolão de Luiz Inácio Lula da Silva. A grande dúvida é se Ciro Nogueira, como coordenador político do Palácio do Planalto, conseguirá mudar de posição sobre a PEC 135 e recuperar o rebanho rebelde do PP. Na prática, Bolsonaro tenta “roubar” o PP de Lula. Se vai conseguir, são outros “quinhentos” ou “milhares”.

Bolsonaristas mais precipitados (ou desconfiados) e a oposição avaliam que Bolsonaro selará sua “venda de alma” ao Centrão. No entanto, o que vale é o pragmatismo. Bolsonaro traz Ciro para a Casa Civil, a fim de dar uma enquadrada final na base aliada. A reafirmação do acordo é fortalecer a blindagem a qualquer ameaça de impeachment mas, principalmente, garantir que as propostas do governo sejam aprovadas no Congresso - o que não vem ocorrendo, apesar de tudo que Bolsonaro já cedeu aos aliados. Bolsonaro só precisa deixar clara qual será a pauta que precisa do Centrão para aprovar. Do contrário, vai arcar com um insano desgaste político.

Todo o jogo vai depender muito da famosa caneta azul (esferográfica) de Jair Bolsonaro. Sem a assinatura publicada no Diário Oficial da União (não por coincidência conhecido pela sigla “DOU”, do verbo “dar”) nada acontece. O nada franciscano princípio do “É dando que se recebe” é uma das tragédias do Presidencialismo de Coalizão previsto na Constituição de 1988 - feita para um modelo parlamentarista ou semipresidencialista. O Centrão quer Poder e Dinheiro. Haja negociação e muita reza forte para tudo não acabar em negociatas.

Alerta Total - Jorge Serrão


sexta-feira, 7 de junho de 2019

Antes de soltar Lula, Justiça aumenta a corrente



 Em entrevista ao DCM, Lula avisou que não admite usar tornozeleira eletrônica. "Tornozeleira é para bandido ou para pombo correio", ele declarou. Menos de 24 horas depois da veiculação da conversa, o presidiário petista tornou-se réu em nova ação penal, aberta nesta quinta-feira em Brasília. Com isso acrescentou-se mais um elo à corrente que faz do 'Lula Livre' uma utopia em forma de slogan. Dessa vez, Lula foi enviado ao banco dos réus na luxuosa companhia do corruptor Marcelo Odebrecht e dos ex-ministros Antonio Palocci e Paulo Bernardo. De acordo com a acusação, Odebrecht trocou propina de R$ 64 milhões por decisões governamentais que favoreceram sua empresa. Entre elas o aumento de um empréstimo concedido a Angola pelo BNDES para US$ 1 bilhão. Dinheiro destinado a uma obra da Odebrecht no país africano.

Trata-se da sexta ação penal estrelada por Lula. Sem mencionar a sentença sobre o Triplex, já ratificada em terceira instância e a condenação a 12 anos e 11 meses de prisão no caso do sítio de Atibaia, que aguarda por uma análise do TRF-4, o tribunal de segunda instância que julga os processos da Lava Jato de Curitiba. A menos que o Supremo modifique sua jurisprudência sobre prisão, uma confirmação dessa segunda sentença manteria ou devolveria Lula ao xilindró.

A perspectiva de obter uma progressão de regime prisional no caso do Tríplex animou Lula a reiterar sua aversão por tornozeleiras. Entretanto, a discussão tornou-se estéril. Com um prontuário tão vasto, o presidiário mais ilustre da Lava Jato dispensa adereços. Seja qual for sua condição prisional, Lula arrastará pela eternidade os elos de sua perversão.

 




domingo, 17 de junho de 2018

Vale esconde o jogo

Mineradora se esforça para manter sob o manto do sigilo documentos capazes de esclarecer um negócio ainda obscuro envolvendo a compra de minas de carvão, em Moçambique, com o aval de Lula

Em meados de maio, o diretor-presidente da Vale, Fabio Schvartsman, viajou para a Nova York a fim de cumprir uma série de compromissos profissionais. Em determinado momento, foi surpreendido com mensagens de alerta oriundas de outros diretores da mineradora. Um problema urgente teria de ser resolvido: a iminente divulgação de documentos que detalham um nebuloso negócio celebrado pela empresa envolvendo a compra de minas de carvão em Moçambique. A papelada que tratava da aquisição, em 2003, foi colocada sob o manto do sigilo um ano depois pelo governo federal, à época comandado pelo ex-presidente Lula. Como o carimbo de confidencial vale por 15 anos, a partir da data do fechamento do negócio, os papeis devem se tornar públicos até o fim deste ano. É exatamente o que a Vale mais teme, segundo relatos de integrantes do alto escalão da empresa. “Temos que fazer de tudo para prorrogar o sigilo dos documentos”, teria determinado Schvartsman, em conversa com integrantes do corpo diretor da empresa.

Dívidas perdoadas
A partir dessa orientação, diretores da Vale deflagraram uma verdadeira corrida contra o tempo. Não se sabe exatamente quando os documentos perderão o sigilo, apenas que isso ocorrerá ainda em 2018. Por isso, a ordem interna é preparar a mineradora para a divulgação de eventuais detalhes obscuros da negociata em Moçambique. Tamanho receio não é em vão. Na época em que a Vale adquiriu as minas de carvão em Moçambique, batizadas de Moatize, surgiram informações de um possível lobby do governo brasileiro em prol da mineradora. Basta puxar o fio do novelo que tudo parece se encaixar. Cerca de três meses antes da Vale vencer a licitação, Lula perdoou uma dívida do governo de Moçambique com o Brasil no valor de US$ 315 milhões – no que constituiu o maior perdão de dívida já realizado pelo governo federal até aquele momento. 

Outro fator que teria contribuído para a vitória da Vale foi uma visita a Moçambique do presidente da mineradora. Não estava sozinho. Dirigiu-se ao País africano acompanhado de uma comitiva do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Pouco tempo depois, foi a vez de o Brasil receber a visita do então chefe de Estado moçambicano, Joaquim Chissano. Na ocasião, notícias deram conta de que Lula teria indicado o BNDES para participar do negócio em Moatize. Como se não bastasse, a cordialidade entre as duas nações, e toda a movimentação visando a exploração das minas de carvão pela Vale - Cia. Vale do Rio Doce - , uma empresa privada e maior mineradora do País, também foi acompanhada de perto pelo Itamaraty por meio da embaixada brasileira em Maputo, capital de Moçambique.

Porteira aberta
O triunfo da Vale em Moatize abriu caminho para que outras grandes empresas do Brasil também celebrassem negócios em território moçambicano. Por causa das minas de carvão, a Odebrecht conseguiu um contrato para a construção de um aeroporto em Nacala, cidade portuária por onde a Vale escoa a produção das minas de carvão, com um financiamento de US$ 125 milhões feito junto ao BNDES. A Andrade Gutierrez foi escolhida para construir uma barragem perto de Maputo. Neste caso, o financiamento do BNDES chegou a US$ 460 milhões. Hoje, todos sabem do envolvimento de Odebrecht e Andrade Gutierrez na Lava Jato. As duas empresas, enroladas até o pescoço em esquemas de corrupção, possuem inúmeros delatores entre seus executivos e firmaram acordos de leniência em que se comprometeram a pagar multas milionárias em razão dos crimes cometidos no passado. A Odebrecht, inclusive, delatou pagamentos de propina de pelo menos US$ 900 mil, entre 2011 e 2014, a autoridades de Moçambique pela obra do aeroporto de Nacala, o segundo maior do País africano, mas que atualmente está entregue às moscas. O terminal não opera na intensidade prevista no projeto original. Em 2017, foram apenas 586 pousos e decolagens entre voos domésticos e internacionais.

Diante desse cenário, não é de se estranhar a intensa movimentação no departamento jurídico da Vale em busca de pontos cegos que permitam a prorrogação do sigilo dos documentos, conforme revelaram fontes ouvidas por ISTOÉ. Procurada pela reportagem, a Vale disse “desconhecer por completo o assunto” e garantiu não existir movimentação alguma em relação aos papeis das minas de Moatize. No entanto, já se sabe que um senador ligado à alta cúpula da empresa teria sido acionado. Ao mesmo tempo, ele faria as vezes de “informante” da empresa para o caso de sair o prazo para a quebra do sigilo, o que daria um fôlego para a Vale preparar sua defesa. O pior dos mundos para a empresa é ser surpreendida com a divulgação das informações mantidas em segredo nos últimos 15 anos. Para a mineradora, é um sigilo que vale muito.

IstoÉ
 


 

quarta-feira, 2 de maio de 2018

Tradutor de presidente sofre, mas se diverte



O trabalho dos tradutores dos presidentes não se limita a verter palavras para outras línguas — eles, muitas vezes, melhoram o script 

Em um momento do encontro em Roma em 2008 com Silvio Berlusconi, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva segurou a gravata do italiano e ficou esfregando os dedos polegar e indicador como se avaliasse a qualidade da seda. Olhando para o rosto do primeiro-ministro, disparou: “Esse aqui tem a cara do Collor e do Maluf juntos!”. Berlusconi não entendeu nada. “Che cosa ha detto?”, indagou. O carioca Sérgio Xavier Ferreira, que estava ao lado do ex-presidente, atuando como intérprete, imediatamente atalhou. “O presidente elogiou muito sua gravata”, respondeu. No dia seguinte, Il Cavaliere mandou uma caixa com 50 gravatas daquelas como presente para Lula.

A história ilustra o papel essencial — e nem sempre discreto — assumido pelos tradutores à medida que a diplomacia presidencial se tornou mais ativa nas ações de política externa. Entre os intérpretes, Sérgio Ferreira, que traduzia para Lula desde 1992 e era petista, tornou-se uma lenda porque fazia um trabalho muito além de traduzir e interpretar o que Lula falava. Ferreira polia frases, sofisticava o vocabulário, tornava compreensíveis as metáforas de futebol e casamento frequentes em seus discursos, assim como dava graça, em outras línguas, às piadas de Lula, quando não as omitia, como no caso da gravata de Berlusconi.

(...) 

O fim do regime militar e os primeiros anos de redemocratização não deixaram mais espaços para o amadorismo. Com o fim da Guerra Fria, o andamento veloz da globalização e a criação de uma infinidade de agrupamentos de nações, a profissionalização da tradução tornou-se regra para países que, como o Brasil, tinham ambições na cena internacional. Os anos 1990 marcaram uma mudança substancial na maneira como o Brasil se colocava no plano internacional, e, de lá para cá, tradutores se tornaram tão presentes no gabinete e nas comitivas do presidente quanto os chanceleres.

Desde 1995, com a posse de Fernando Henrique Cardoso no Palácio do Planalto, até abril passado, os quatro presidentes brasileiros comandaram 449 visitas internacionais e receberam, no Brasil, centenas de chefes de Estado e governo. Michel Temer deverá completar a 450ª visita ao desembarcar em Singapura, no próximo dia 7 de maio. Só não houve mais visitas internacionais porque Temer, entre tantos incêndios para apagar em Brasília, pouco tempo teve para despender no exterior. E sua antecessora, Dilma Rousseff, tinha pouca disposição para se dedicar à política externa. Esses encontros entre chefes de Estado e governo — com olho no olho, leitura de expressões faciais, apertos de mãos, cochichos com assessores, sinais, mensagens em voz natural — ainda não foram superados pelos engenhos do mundo virtual.

(...)

Apesar da familiaridade com Lula, certa vez engasgou quando o presidente se referiu às comunidades de mulheres quebradeiras de coco de babaçu para uma plateia de empresários estrangeiros. Rapidamente, encontrou uma versão adequada em inglês: “coconut cracking women”. Lula percebia seu esforço. Em um jantar oficial, enquanto falava com um chefe de Estado, picou o pão em pedacinhos, passou manteiga em cada porção e as deu a Ferreira, uma a uma, como se fosse seu canário do reino.

Ferreira chegou ao Palácio do Planalto de “salto alto”, lembram funcionários do gabinete presidencial daquela época. Assinara um contrato como assessor especial do gabinete da Presidência, cargo de confiança para o qual estava prevista a remuneração como DAS-5, o segundo patamar mais alto. Estava orgulhoso disso. Tanto que passou a corrigir os demais servidores quando era chamado de “tradutor”. Sarcásticos por natureza, os diplomatas passaram a referir-se a ele, as suas costas, como “DAS-5”.

Na primeira participação de Lula na abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas, que o Planalto demorara a confirmar, Ferreira brigou com o chefe do cerimonial da Presidência, o embaixador Paulo César Oliveira, no lobby do Waldorf Astoria, porque fora hospedado em um hotel vizinho. Com o passar dos tempos, Ferreira percebeu que sua condição de “assessor especial da Presidência” o impedia de fazer outros trabalhos de tradução e diminuía sua renda.

Ferreira tentou salvar Lula de várias gafes. Algumas vezes, não conseguiu. Em novembro de 2003, em visita oficial à Namíbia, o então presidente afirmou em discurso que estava surpreso “porque quem chega a Windhoek não parece estar num país africano. Poucas cidades do mundo são limpas e bonitas (como esta)”. Ferreira interrompeu o raciocínio do presidente, dando-lhe uma chance de refazer a frase controversa, e disse que não o estava entendendo. Lula retomou: “A visão que se tem da África é de que são todos pobres”. O tradutor omitiu o que Lula dissera sobre Windhoek ser uma capital limpa, apesar de africana e pobre. Somente os brasileiros entenderam o deslize. Lula costumava chamar Ferreira de “meu dublê” e o salvava com frequência dos seguranças estrangeiros que, quase sempre, barravam a passagem do tradutor.

Às vezes, a carga de humor de Lula também se perdia na tradução. Em 2007, durante uma coletiva de imprensa ao lado de George W. Bush, em São Paulo, Lula descontraiu-se suficientemente para dizer que o chanceler Celso Amorim e a secretária de Estado Condoleezza Rice deveriam ser trancados em uma sala até atingirem o “ponto G” da negociação da Área de Livre-Comércio das Américas (Alca). O tradutor verteu a expressão para “dot G”, que nada tinha a ver com a conotação erótica dada por Lula que, em inglês, seria “G spot”. Enquanto os jornalistas brasileiros e o próprio Lula riam, Bush e a delegação americana só entenderam a piada mais tarde, quando propriamente traduzida.

(...)

Época
 

 

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Moro bloqueia R$ 128 mi de Palocci e outros alvos da Omertà



Valor corresponde à propina que teria sido paga pela Odebrecht a ex-ministro mais influente dos governos Lula e Dilma
O juiz federal Sérgio Moro decretou o bloqueio de R$ 128 milhões do ex-ministro Antônio Palocci Filho (Fazenda e Casa Civil dos governos Lula e Dilma) e de outros alvos da Operação Omertà, deflagrada nesta segunda-feira, 26. Palocci foi preso.

O sequestro atinge a empresa de Palocci, a Projeto Consultoria Empresarial e Financeira, e seus homens de confiança, também capturados na Omertà, Branislav Kontic e Juscelino Antônio Dourado, além da J&F Assessoria Ltda. O valor corresponde à propina supostamente paga a Palocci pela maior empreiteira do País, a Odebrecht. Parte do dinheiro foi destinada ao PT, segundo os investigadores da Omertà.

O sequestro de ativos foi requisitado pela Polícia Federal e pela Procuradoria da República. “Viável o decreto do bloqueio dos ativos financeiros dos investigados em relação aos quais há prova de recebimento de propina”, decidiu Moro.  O juiz ressaltou. “Não importa se tais valores, nas contas bancárias, foram misturados com valores de procedência lícita. O sequestro e confisco podem atingir tais ativos até o montante dos ganhos ilícitos.”

Moro levou em conta os valores lançados na planilha da corrupção, que leva o nome ‘italiano’, supostamente em referência a Palocci. “Considerando os valores constantes na aludida planilha, resolvo decretar o bloqueio das contas dos investigados até o montante de R$ 128 milhões, ordenou o juiz.  O bloqueio alcança ativos mantidos em contas e investimentos bancários de Palocci e dos outros alvos. A medida apenas gera o bloqueio do saldo do dia constante nas contas ou nos investimentos, não impedindo continuidade das atividades das empresas ou entidades, considerando aquelas que eventualmente exerçam atividade econômica real.

Advogado de Palocci diz que prisão ocorreu 'estilo ditadura militar'

O advogado de Palocci, José Roberto Batochio, criticou a prisão de seu cliente, dizendo que tudo ocorreu de maneira secreta, “estilo ditadura militar”

http://piwik.ebc.com.br/image.gif?page=/politica/noticia/2016-09/advogado-de-palocci-diz-que-prisao-ocorreu-no-estilo-ditadura-militarO ex-ministro da Fazenda Antônio Palocci, preso temporariamente hoje (26) na 35ª fase na Operação Lava Jato, chegou às 9h à Superintendência da Polícia Federal, na capital paulista. Ele foi preso em casa, na região dos Jardins, zona oeste da capital. Buscas também foram cumpridas em seu escritório. Ex-assessores de Palocci foram presos temporariamente na operação. Branislav Kontic foi levado para a superintendência na capital e Juscelino Dourado, preso em Campinas, está a caminho de São Paulo.  Os três seguem, ao meio-dia, em comboio para o aeroporto de Congonhas, de onde partem para Curitiba. 

Além das prisões, a polícia cumpre mandados de condução coercitiva para cinco pessoas, cujos nomes não foram divulgados. Duas delas já estão na superintendência e duas não terão a condução cumprida, uma por motivo de viagem e outra por doença.
O advogado de Palocci, José Roberto Batochio, criticou a prisão de seu cliente, dizendo que tudo ocorreu de maneira secreta, ao estilo ditadura militar. “Estamos voltando aos tempos do autoritarismo, da arbitrariedade. Não há necessidade de prender uma pessoa que tem domicílio certo, que foi duas vezes ministro, que pode dar todas as informações quando for intimado. É por causa do espetáculo?”, disse.

Batochio disse ainda que causou indignação o nome dado à operação, Omertà, que significa lei do silêncio no código de honra usado pela máfia italiana. “Só porque ele tem um nome descendente de italiano, como eu tenho também, além de ser absolutamente preconceituoso com os descendentes de italianos. Essa designação é perigosa”, disse.  

 A suspeita da operação é de que Palocci teria ligação com o comando da empreiteira Odebrecht, uma das principais do país. A operação investiga se o ex-ministro e outros envolvidos receberam dinheiro para beneficiar a empreiteira em contratos com o governo.
Segundo a PF, as negociações envolviam a Medida Provisória 460, de 2009, que tratava de crédito-prêmio do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), além do aumento da linha de crédito da Odebrecht no Banco de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para um país africano, e a interferência em licitação da Petrobras para a aquisição de 21 navios-sonda destinados à exploração da camada pré-sal.   

O advogado negou as acusações. “Isso é uma coisa absolutamente vaga, vazia. Para quem quer pretexto, isso é pretexto, mas o fato é que o ministro da Fazenda tem que ter uma interlocução com o setor empresarial, com a cadeia produtiva do Brasil, para que se estabeleçam as políticas públicas. Se um ministro conversa com alguém da iniciativa privada, já é suspeito de praticar crime?”, perguntou Batochio.

Fonte: Estadão - Conteúdo