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domingo, 25 de outubro de 2020

Igreja queimada - Chile - O ódio antirreligioso mostra sua face

Thiago Rafael e Jean Marques

Crônicas de um estado laico

Igreja queimada em Santiago, no último dia 18, em atos de vandalismo Foto: Reprodução/Facebook

Diz a famosa frase atribuída a Confúcio: “palavras convencem, mas exemplos arrastam”. É um provérbio que constata uma realidade, e vale tanto para o bem quanto para o mal. Assistimos, chocados, à turba terrorista que destruiu dois templos da Igreja Católica no Chile no último domingo, dia 18. Ainda vimos o ataque à Igreja Batista Chadwell Heath, em Romford, no leste de Londres, onde um homem é filmado tentando arrancar a cruz que orna o templo. No mesmo dia em que este último ataque foi divulgado, três jovens escalam a cruz da Igreja Matriz Puríssimo Coração de Maria, em São Bento do Sul, norte catarinense, tiram fotos ali e postaram em redes sociais mensagens com palavrões.

Em torno do tema, as discussões vão se desdobrando em dois argumentos principais (além dos vários “especialistas de Facebook” que proferem suas pérolas). Entre os que parecem gostar do que viram, mas não podem dizê-lo porque seria feio, relativiza-se as ações dos terroristas e vândalos, querendo justificar o sentimento de frustração pela falta de igualdade, pela herança opressora que tais símbolos representam e que o ato político de derrubar uma igreja é um manifesto contra as superestruturas que tanto mal fizeram à humanidade em processo de libertação e iluminação em direção ao “novo mundo”. Já o segundo trata de quem busque suscitar o debate em torno de um eventual “direito de blasfêmia”, uma liberdade para que aqueles que não creem possam expressar seu desprezo pela religião e seus símbolos.

Para o dogma da religião marxista, a tríade do mal são justamente as forças que moldaram nossa civilização: 
a família nuclear formada pelo vínculo conjugal
a propriedade privada; 
e os valores oriundos do cristianismo. 
O primeiro “argumento” é parte do dogma da religião marxista, o de que o símbolo religioso está atrelado à opressão de estruturas que condicionam o ser humano a um comportamento conforme, alienando-o de sua consciência política, que poderia emancipá-lo e, suprimindo o ópio religioso, criar uma nova humanidade a cumprir um destino feliz, onde a igualdade se estabeleceria pela inexistência de classes opostas e em conflito permanente. 
Por isso mesmo, seja por quem o defende às claras, seja pela infinidade de correntes políticas que tangem assuntos paralelos, mas que conduzem a este rio caudaloso, a tríade do mal são justamente as forças que moldaram nossa civilização: a família nuclear formada pelo vínculo conjugal; a propriedade privada; e os valores oriundos do cristianismo. Não há como tapar o sol com a peneira. Ou seja, esta cosmovisão ataca tudo o que se chama de “mundo”, com o que sabemos, conhecemos, com os acertos a serem mantidos e desvios a serem corrigidos, dando como promessa uma utopia idílica. Se isso não for religião, é, no mínimo, plágio.

Já o segundo discurso é o de que a liberdade de expressão deve, por um lado, permitir a expressão da fé, e, ao revés, permitir o escárnio, a blasfêmia, inclusive ao ponto de relativizar eventuais arroubos de ataques a símbolos físicos. É a justificativa para todas as cenas horríveis que, volta e meia, vemos por aí de uso de símbolos religiosos das maneiras mais desrespeitosas. Sob este argumento alguns analisaram tanto o incêndio terrorista no Chile quanto a cena de depredação em Londres, passando pelo ocorrido em São Bento do Sul.

(.....)

Damos um exemplo de como as coisas podem ser enxergadas sob a ótica penal no caso catarinense. Dois maiores de idade e um adolescente foram identificados pela Polícia Civil como autores do fato. O adolescente, pela legislação, deverá ser enquadrado em ato infracional (segundo o ECA), enquanto os maiores serão responsabilizados criminalmente. Mas por qual tipo penal? Há duas possibilidades.

O primeiro é enquadrar como incursos nas sanções do artigo 208 do Código Penal, o chamado “crime contra o sentimento religioso”. O tipo ali descrito diz que o crime consiste em “escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença ou função religiosa; impedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto religioso; vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso”, e comina pena de um mês a um ano de detenção, ou multa. Ou seja, crime de menor potencial ofensivo, resolvido com uma transação, e basta. O problema neste caso é que o sujeito passivo é pessoa determinada para a ofensa (não houve), impedimento ou perturbação da cerimônia (também não) ou vilipendiar o ato ou objeto de culto (também não aconteceu diretamente com o símbolo em si, mas com a veiculação da foto ao conteúdo da postagem).

Agora, vejamos o artigo 20 da Lei 7.716/89 (lei do racismo): “Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional”. Aí o crime sobe para um a três anos de reclusão e multa. E o §2.º aumenta mais a pena, considerando que o crime seja cometido “por intermédio dos meios de comunicação social”, que é exatamente o que aconteceu. Resumo da ópera: a religião é assunto sério, constitutivo do ser humano, e atos de preconceito e discriminação não dependem de uma vítima identificável. Pelo menos 130 milhões de católicos brasileiros foram vitimados.

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Thiago Rafael e Jean Marques - Vozes - Crônicas de um Estado laico - Gazeta do Povo - MATÉRIA COMPLETA


domingo, 22 de dezembro de 2019

Os fiscais da corrupção enxugam gelo - Elio Gaspari

A história do chamamento de preços do Ministério da Justiça que foi prorrogado

Imagine-se o juiz Sergio Moro no gabinete de Curitiba recebendo a informação de que o governo petista fez um chamamento de preços para aluguel de um imóvel de 4.490 m² em Brasília listando entre os requisitos “desejáveis” do prédio dois auditórios com no mínimo cem lugares, sistema de reuso de água, elevadores com sistemas de antecipação de chamadas e selos de eficiência energética.

O juiz desconfiaria. Esse chamamento de preços partiu em outubro passado do Departamento Penitenciário Nacional, subordinado ao ministro Sergio Moro. A ONG Contas Abertas sentiu cheiro de queimado e mostrou ao Tribunal de Contas que em Brasília existe só um imóvel capaz de obter a pontuação máxima no julgamento de futuras propostas, o Centro Corporativo Portinari. Dado o alarme, o Ministério da Justiça prorrogou o prazo de recebimento das propostas. Lá, informam que o adiamento nada teve a ver com a entrada do TCU no caso. Fica combinado assim.

Pouco custava dizer que a postergação tinha a ver com as críticas. Os prédios onde trabalham a rainha Elizabeth, Jair Bolsonaro e Sergio Moro não atendem aos desejos listados pelo Depen. (Logo ele, que cuida de penitenciárias.) Em março passado o TCU pediu à Agência Nacional de Transportes Aquaviários que renegociasse o valor do aluguel que pretendia pagar no mesmo Centro Portinari. Graças ao TCU, o chamamento de preços do Ministério da Justiça foi prorrogado. Graças à Controladoria-Geral da União, desde dezembro do ano passado, 22 licitações foram suspensas. Entre elas, a do megajabuti do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, que pretendia torrar R$ 3 bilhões comprando 1,3 milhão de computadores, laptops e notebooks para escolas da rede pública. Os auditores descobriram que 355 colégios receberiam mais de um equipamento para cada aluno, sendo que numa escola mineira, cada estudante ganharia 118 laptops.

Os órgãos de controle não estão aí para enxugar gelo. No caso do aluguel para o Fundo Penitenciário, pode ter havido exageros, ou mesmo um direcionamento. No do FNDE havia coisa muito mais grossa. Não basta suspender os chamamentos de preços e as licitações, falta examinar os jabutis. Em 2003, quando nomeou três parentes para seu gabinete, o vice-presidente José Alencar disse que dava “a mão a palmatória”, demitiu-os e ensinou: “Há topadas que ajudam a caminhar”. Na mesma época, a prefeitura de Ribeirão Preto (SP) concluiu pela lisura de uma licitação escalafobética de “molho de tomate refogado e peneirado, com ervilhas,” em 40.500 cestas básicas, feita ao tempo em que o comissário Antonio Palocci governava a cidade. Deu no que deu e continua dando.

Chicago, quem diria, quer uma CPMF.net
Ganha um fim de semana em Santiago quem souber de onde o ministro Paulo Guedes tirou a ideia da criação de sua “CPMF digital”, como disse Merval Pereira.
Ele sabe que o governo não tem um projeto de reforma tributária. Sabe também que Bolsonaro não quer a volta da CPMF. Se isso fosse pouco, Rodrigo Maia já avisou que esse ectoplasma não passa no Congresso.
Ainda assim, Guedes disse uma frase que deve levar os sacerdotes do papelório a pensar onde se meteram. Disse o doutor:
“Tem transações digitais. Você precisa de algum imposto, tem que ter um imposto que tribute essa transação digital.”
A ideia segundo a qual existindo uma atividade, “tem que ter um imposto”, é paleolítica. Se o sujeito transfere uma quantia pelo seu celular, “você precisa de algum imposto”. E se ele faz o depósito indo ao banco de ônibus, não precisa? Nessa maravilhosa construção tributária, a tunga viria do uso de um novo meio, o digital.
Isso nem jabuticaba é. Trata-se de um fruto que só existe no pomar do doutor Guedes, um ex-aluno de Chicago, universidade onde pontificou o economista Milton Friedman (1912-2006).
Pois Friedman tinha horror à intervenção do Estado e viveu o suficiente para perceber a importância da internet. Ele previu:
“Eu acho que a internet será um dos grandes fatores para a redução do papel dos governos.”

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Toffoli
Terminadas as férias do Supremo Tribunal Federal, o ministro Dias Toffoli terá o mais longo fim de mandato da História da Corte. Em setembro será substituído por Luiz Fux.

Gol fácil
O Congresso botou a bola na marca de pênalti para que Bolsonaro marque um gol.
Ele diz que procurará uma brecha para vetar a despesa de R$ 2 bilhões para o Fundo Especial de Financiamento de Campanha. (Os parlamentares fingiram que queriam R$ 3,8 bilhões.)
Se o capitão passar a faca, o Congresso poderá derrubar o veto. Só neste mês já derrubou sete vetos de Bolsonaro. Desse jeito, mantém-se a despesa e o presidente leva o crédito de ter feito tudo que estava ao seu alcance para impedi-la.



MATÉRIA COMPLETA em  Folha de S. Paulo - O Globo - Elio Gaspari, jornalista

segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Estratégia do Planalto é deixar 'Lula falando sozinho' - O Estado de S. Paulo


Tânia Monteiro

Núcleo político do governo avalia que petista, que deixou a prisão, não terá superexposição nas redes sociais

Depois de passar por um momento de susto e tensão com a saída do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva da cadeia, o núcleo político do governo de Jair Bolsonaro avalia que o petista não terá mais superexposição nas redes sociais e no noticiário. “É para deixar o Lula falando sozinho daqui em diante. Temos de focar nas pautas positivas”, disse o presidente Bolsonaro à sua equipe, numa conversa recente no Palácio do Planalto.

Organizador da estratégia, o próprio Bolsonaro, no entanto, terá de segurar seu temperamento explosivo para a aposta dar resultado. Na ofensiva para conter o primeiro adversário de peso do governo, a equipe do Planalto considera fundamental que o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), o filho "02" do presidente, continue afastado das redes sociais, sem criar novos embaraços.
Logo após os primeiros discursos de Lula, com ataques ao governo, Bolsonaro chegou a escrever no Twitter que não responderia a “criminosos, que por ora estão soltos”. No entendimento do presidente, se não for para o ringue, ele reduzirá a inserção de Lula no jogo político, relataram integrantes do núcleo do governo ao Estado.

Apreensão
No fim de semana após a soltura de Lula, a apreensão tomou conta não apenas do Planalto, como de representantes influentes do Judiciário e até de parlamentares moderados. No sábado e domingo passados, muitas reuniões e conversas pessoais e ao telefone foram realizadas entre integrantes dos três Poderes. Havia temor de que os discursos de Lula fora da cela da Polícia Federal, onde ficou preso por um ano e sete meses, levassem militantes petistas a promover manifestações.[ pt = perda total = está quebrado e o condenado petista sem os dentes, sem garras, apenas um idoso de setenta e poucos anos.
Vejamos:
- sem dinheiro para bancar a atuação da militância - não pode mais assaltar os cofres públicos a organização criminosa sequer consegue recursos para bancar o sanduíche com mortadela e "refri" para os militontos = agora tem que ser na base do pão com margarina e suco de envelope;
- não banca mais fretar ônibus para levar os militontos até o local do comício e devolvê-los em casa = no máximo consegue pagar uma passagem de coletivo;
- outro detalhe é que o Supremo liberou o condenado mas não revogou o CPP, de modo que qualquer perturbação da ORDEM PÚBLICA que o presidiário - temporariamente, ex-presidiário - provocar, perde o direito a aguardar em liberdade o julgamento dos recursos e será preso - não tem maneira do STF impedir o cumprimento dessa determinação do CPP.
- sendo preso em flagrante,o condenado corre risco de ser recolhido ao presídio da cidade onde estiver.]
 
Bolsonaro e os mais exaltados integrantes do núcleo de governo chegaram a pensar na aplicação da Lei de Segurança Nacional (LSN), uma das normas de repressão da ditadura que não foram varridas no período democrático. Informações dos serviços de inteligência, porém, indicavam que não haveria manifestos virulentos como os que ocorrem em Santiago ou La Paz.

Somava-se ao temor a realização do encontro dos Brics, ao longo da semana passada, em Brasília, com a presença de presidentes de Rússia, China e África do Sul, além do primeiro-ministro da Índia. Para evitar atos violentos, um forte esquema de segurança foi montado. O decreto de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) para esses dias deu o comando das ações de segurança às Forças Armadas, para facilitar a mobilização policial na Esplanada dos Ministérios.

Ainda havia preocupação sobre como a cúpula militar reagiria a possíveis protestos com atos agressivos. Diante da Batalha de Itararé que não houve, os integrantes do Alto Comando se acalmaram. Os militares, então, recorreram ao bordão de que não há “outro caminho” fora o respeito à Constituição e à democracia.
Soou como música um recado endereçado a Lula e à esquerda, enviado pelo ministro Dias Toffoli, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF). Em entrevista ao Estado na noite de domingo, 10,  o autor do voto de minerva que permitiu a Lula deixar a prisão criticou o radicalismo e avisou que o Judiciário “saberá” agir pela “pacificação social”. “Se alguém quer se valer da Justiça para uma luta social, não vai conseguir. A Justiça não tolerará uma crise institucional”, afirmou Toffoli.

No Planalto, interlocutores de Bolsonaro dizem que o Brasil de hoje é muito diferente daquele de abril de 2018, quando Lula foi preso. Ali, todos acreditam que o petista voltou à cena com um tom muitos graus acima do que se esperava e isso acabou servindo para ajudar a unir, novamente, os eleitores contrários ao PT.
Por isso, Bolsonaro avisou aos ministros que não quer que ninguém perca tempo” respondendo a Lula nem promovendo bate boca nas mídias sociais. A estratégia do silêncio deverá ser mantida pelo governo até uma avaliação sobre o giro de Lula pelo Nordeste, hoje seu principal reduto eleitoral.

Bastidores - Tânia Monteiro - O Estado de S. Paulo
 


sábado, 26 de outubro de 2019

Chile é o teste para a região - Folha de S. Paulo

Roberto Simon

Democracia chilena oferecerá respostas à desilusão da massa?
 
Apesar da Cordilheira dos Andes e dos níveis de renda mais elevados, o Chile não está isolado e os eventos dos últimos dias —da explosão das manifestações ao pacote de medidas proposto por Sebastián Piñera— tocam em vários desafios comuns a outros países da América Latina. Um ponto, porém, merece atenção especial: se nem a mais avançada democracia latino-americana conseguir dar conta das demandas criadas por uma nova classe média, cada vez mais desiludida, é difícil imaginar quem, na região, consiga.
 
[em certas situações a 'democracia' precisa ser deixada de lado e substituída por autoridade;
 
O caso do Chile é exemplar, a desordem começou protestando contra aumento das tarifas do metrô, agora os desordeiros  já ultrapassam um milhão de pessoas e querem reformas imediatas na aposentadoria, educação e saúde - pretende conseguir, na marra, consertar em dias o que vem errado desde que os governos de esquerda (entre as quais a Bachelet, presidente do Chile por sua vez e agora alta comissária da ONU dos direitos humanos -por óbvio, vai ajudar  a consecução do desmonte,por ela iniciado, do Chile.
 
Ou o Piñera age com energia ou logo o Chile precisará de outro Pinochet - e eventual sucesso das desordens naquela País (sucesso de ações de guerrilha urbana, sempre significa o sucesso da esquerda, o fim das liberdades e a destruição de todos os valores da nação vítima.
 
Sem esquecer que a praga da revolta pode se estender a outros países da América Latina, incluindo o Brasil.]

Nos primeiros dias da crise, parecia que a corte de Maria Antonieta havia se instalado em Santiago. Na quinta-feira (17), o presidente Piñera apareceu no Financial Times dizendo que o Chile era um “oásis” numa América Latina em convulsão. 24 horas depois, em meio a confrontos no centro de Santiago, seu gabinete, no Palácio la Moneda, cheirava a gás lacrimogêneo e o sistema de transportes da capital havia sido paralisado.

Jornalistas estranharam a ausência de Piñera em uma entrevista coletiva sobre os distúrbios. Uma foto nas redes sociais revelou seu paradeiro: uma pizzaria gourmet, celebrando o aniversário da neta. Quando ficou claro que a suspensão da alta no preço do metrô seria insuficiente para desarmar os protestos, Piñera declarou que o Chile estava “em guerra”. O general a cargo do estado de emergência discordou: “sou um homem feliz, não estou em guerra contra ninguém”.

O entourage de Piñera também errava pelos jardins de Versalhes. Um de seus ministros sugeriu que, para evitar os preços mais altos do metrô na hora do rush, trabalhadores deveriam acordar mais cedo. Os manifestantes eram “uns alienígenas”, desabafou a primeira-dama em um áudio de WhatsApp, vazado à imprensa.

Na visão dos milhares nas ruas, Piñera —um dos homens mais ricos do país— e seu gabinete de gente bem vestida são a imagem perfeita de uma elite chilena que foi, de longe, a maior beneficiária do progresso das últimas décadas. Aos estudantes endividados, às famílias com renda estagnada ou aos aposentados desamparados, o Chile do 1% mais rico só existe no Instagram, junto com a crescente percepção de que eles nunca chegarão naquele país. Na terça-feira, com a contagem de mortos em dois dígitos, Piñera iniciou uma guinada política. O presidente convidou todos os partidos ao La Moneda para discutir uma solução de consenso. No Twitter, disse que “acolhia com humildade” as demandas nas ruas, pediu desculpas e lançou uma “Nova Agenda Social”.

O pacote de medidas sociais custará cerca de R$ 5 bilhões, parcialmente financiados com um aumento de cinco pontos no imposto de renda dos mais ricos. O dinheiro subsidiará aposentadorias, gastos de saúde e contas de luz. Discretamente, o governo também sinaliza que suas propostas no Congresso —incluindo uma lei tributária generosa com acionistas e a reversão de parte dos direitos trabalhistas ampliados na era Michelle— são coisas do passado.

A incapacidade inicial do governo agravou a crise, ao custo de vidas. E a “agenda social” de Piñera oferece muito menos do que pede a oposição moderada (considerando que a centro-esquerda chilena, traduzida à realidade brasileira, seria considerada centro-direita). Mas a democracia chilena parece, finalmente, estar oferecendo respostas concretas às demandas da classe média insatisfeita. É difícil imaginar uma reação política similar em outros cantos da região, incluindo no Brasil de hoje.

Roberto Simon, é diretor sênior de política do Council of the Americas - Folha de S. Paulo.

terça-feira, 3 de abril de 2018

Inaceitável um pacto de anistia - MST prepara mobilização e vai levar cacete



A sociedade se mexe



A proposta que está sendo esboçada de um pacto político para garantir a realização de eleições em clima de tranquilidade esbarra no cumprimento da lei. Não é aceitável um pacto que pressuponha a anistia a políticos, de que partido forem, que estejam condenados ou sendo investigados por crimes que não são de opinião, mas crimes comuns de corrupção.  Um pacto político desse nível não seria nada além do que aquele grande acordão proposto nas negociações espúrias grampeadas, onde o senador Romero Jucá mostrava-se ansioso por “estancar essa sangria”, referindo-se à Operação Lava Jato.

A tentativa de bloquear as investigações através da mudança da legislação em vigor é o que está mobilizando mais uma vez a sociedade civil, organizada ou não, nos protestos marcados para hoje em mais de 100 cidades brasileiras. A ideia é "iluminar as trevas sobre o Supremo Tribunal Federal ” com lanternas dos celulares e fazer uma invocação ao STF.

A tentativa é fazer um show democrático, como já visto em manifestações populares como espetáculos de Rock ou jogos de futebol, mas nunca em mobilizações de rua. Estão programadas manifestações em pelo menos quatro outros países: nos EUA, na praça da Universidade Harvard; no Chile, diante da embaixada brasileira em Santiago; no Reino Unido e na Itália, na entrada dos consulados do Brasil nas capitais.

A disputa já começou ontem, com a entrega de manifestos contra e a favor da prisão em segunda instância, que é o que está em jogo na sessão de amanhã do plenário do Supremo. O esquema de segurança separará os manifestantes na Esplanada dos ministérios, como já aconteceu em outras ocasiões, já que o ambiente político acirrado não permite a convivência dos contrários.

A presidente do Supremo, ministra Cármen Lúcia, decidiu enviar uma mensagem aos cidadãos através da TV Justiça em que defende a democracia brasileira dos ataques que vem sofrendo: “Gerações de brasileiros ajudaram a construir uma sociedade que se pretende livre, justa e solidária. Nela não podem persistir agravos e insultos contra pessoas e instituições só pela circunstância de se terem ideias e práticas próprias”.

“Diferenças ideológicas não podem ser inimizades sociais. A liberdade democrática há de ser exercida sempre com respeito ao outro. A efetividade dos direitos conquistados pelos cidadãos brasileiros exige garantia de liberdade para exposição de ideias e posições plurais, algumas mesmo contrárias”. ."

“Repito: há que se respeitar opiniões diferentes. O sentimento de brasilidade deve sobrepor-se a ressentimentos ou interesses que não sejam aqueles do bem comum a todos os brasileiros. A República brasileira é construção dos seus cidadãos. A pátria merece respeito. O Brasil é cada cidadão a ser honrado em seus direitos, garantindo-se a integridade das instituições, responsáveis por assegurá-los.”

O tom do pronunciamento de Cármem Lúcia dá bem a gravidade do momento, mas parece inócuo diante do que se arma no Tribunal que preside, para transformar o julgamento do habeas corpus a favor de Lula em uma ação subjetiva e não objetiva, isto é, tentar fazer com que uma mudança de jurisprudência com efeito vinculante altere o entendimento do Supremo sobre a prisão em segunda instância, em vez de ser apenas uma decisão sobre o caso individual do ex-presidente Lula. No entendimento do ministro Gilmar Mendes, o STF durante o julgamento pode ir além dele e mudar o entendimento geral sobre o cumprimento da pena. “No plenário, o tribunal pode fixar nova orientação em qualquer processo”.

O que o ministro Gilmar Mendes explicitou em uma declaração a Miriam Leitão ontem já estava sendo tramado há dias, pois os ministros que querem mudar o entendimento da Corte temem serem vistos como protetores do ex-presidente, pretextando estarem defendendo uma tese em abstrato.  Os protestos que vêm acontecendo desde aquela sessão do Supremo na qual os ministros concederam a Lula um salvo conduto para não ser preso após a decisão do TRF-4, e as manifestações marcadas para hoje demonstram claramente que a sociedade não está disposta a acatar silenciosamente essa manobra jurídica.


MST prepara mobilização contra prisão de Lula após julgamento

Dirigente do movimento esteve com o ex-presidente nesta terça-feira

O Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) prepara mobilizações para o caso de o Supremo Tribunal Federal (STF) negar nesta quarta-feira o habeas corpus preventivo ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Se a decisão indicar o risco de o líder petista ser preso nos próximos dias, a ideia é realizar vigílias e protestos. João Paulo Rodrigues, da coordenação do MST, esteve com o ex-presidente na sede do Instituto Lula, em São Paulo, no começo da noite desta terça-feira.
O MST pode se juntar à vigília que o PT de São Bernardo iniciou, na tarde desta terça, na frente do prédio onde Lula mora. — Não vamos dar paz para o Judiciário se mantiverem o erro da condenação — afirmou Rodrigues.

O dirigente dos sem terra negou ter discutido o plano de mobilização com o próprio Lula. A conversa sobre o tema, segundo ele, teria se dado apenas com dirigentes petistas que também estavam no Instituto Lula.  — Temos que estar preparados. Vai ser duro qualquer que seja o resultado. Se ganharmos, a direita vai ficar com muita raiva. Temos que ficar calmos, sem comemorar. Se perder, é muita guerra e muita luta — completou Rodrigues.

Os sem-terra também planejam levar 35 ônibus para Brasília, onde serão realizadas manifestações a favor de Lula próximo ao STF, na hora do julgamento do habeas corpus. O movimento pretende ainda mobilizar militantes para irem à sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo, onde o ex-presidente acompanhará a decisão sobre o seu habeas corpus, ao lado de lideranças petistas. No fim da tarde, quando é previsto o fim do julgamento do Supremo, os militantes petistas prometem também cercar a área externa do prédio do Sindicato.


O Globo