Pablo Ortellado
Foi questionável o fechamento de contas nas mídias sociais de diversos bolsonaristas
Duas diferentes pesquisas mostraram o tamanho do estrago. O Datafolha de sábado passado mostrou
que 38% dos brasileiros consideram a atuação da Corte ruim ou péssima.
Um ano atrás, em dezembro de 2022, a desaprovação era de 31%. Aumento de
sete pontos.
Quando se separa o índice de aprovação pela preferência
política, a explicação fica evidente.
Enquanto a desaprovação é de
apenas 15% entre petistas, sobe a 65% entre os bolsonaristas (dois de
cada três acham a atuação do STF ruim ou péssima).
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Esses dados são confirmados por outra pesquisa. No mês passado, a Quaest também mediu
a aprovação da Corte entre os brasileiros.
Aqueles que têm imagem
negativa do STF passaram de 29% em fevereiro para 36% em outubro.
E, de
novo, quando separamos as respostas pela preferência política, o abismo
se revela. Entre os que votaram em Lula no segundo turno, apenas 14% têm imagem negativa da Corte. Entre quem votou em Bolsonaro, são 62%.
Na metade do eleitorado que votou em Bolsonaro, a avaliação e a imagem
do Supremo são muito ruins.
Isso não faz bem para a democracia
brasileira.
É uma crise de legitimidade que cobrará um preço no futuro.
A
chegada de um ministro que, como Lula fez questão de ressaltar, “pela
primeira vez na História deste país” é “comunista” não ajuda nada. Só
aprofunda o problema.
Os motivos por que os bolsonaristas não veem o Supremo com bons olhos
não são difíceis de descobrir. Acreditam que o STF é parcial e os
persegue politicamente. Na administração Bolsonaro, acreditavam que a
Corte bloqueava muitas ações de um governo eleito democraticamente,
limitando o escopo da soberania popular.
Depois, nos desdobramentos do 8
de Janeiro, passaram a acreditar que a Corte manteve preso um número
exagerado de pessoas sem provas suficientes e que o TSE implantou um
regime de censura nas mídias sociais.
Por fim, acreditam que o próprio
presidente do STF se entregou ao dizer, em evento da UNE, que tinham derrotado o bolsonarismo.
O Supremo teve papel muito importante para conter os excessos do
bolsonarismo, especialmente nos momentos críticos entre novembro de 2022
e janeiro de 2023, quando alguns bolsonaristas arquitetaram [???] um golpe de
Estado. Estou convencido de que, sem a ação do Supremo, não teríamos
chegado até aqui. Porém me parece igualmente claro que o STF e a
instituição irmã TSE se excederam na resposta. Embora o 8 de Janeiro
justificasse uma resposta dura, duríssima, houve prisões para as quais
as provas eram frágeis.
Ainda mais questionável foi o fechamento de
contas nas mídias sociais de diversos bolsonaristas.
Era possível
responder duramente com uma observância mais estrita da lei. O que se
espera do STF é encontrar o equilíbrio entre defender a democracia com
vigor, mas sem excesso e sem viés.
O Supremo pode se iludir com a ideia de que seus excessos são apenas
“democracia militante” e que não fará mal à Corte receber mais um
ministro com uma imagem politicamente carregada.
Mas que trabalho de
preservação da democracia é esse em que a legitimidade de um dos Poderes
da República vai derretendo perante uma parcela tão expressiva da
cidadania?
Pablo Ortellado, colunista - O Globo