Blog Prontidão Total NO TWITTER

Blog Prontidão Total NO  TWITTER
SIGA-NOS NO TWITTER
Mostrando postagens com marcador TOQUE DE RECOLHER. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador TOQUE DE RECOLHER. Mostrar todas as postagens

domingo, 14 de março de 2021

Política nos quartéis - Merval Pereira

O Globo

Bolsonaro e os militares

Caminhamos para uma disputa eleitoral em 2022 com as Forças Armadas sendo utilizadas pelo presidente Bolsonaro como instrumento político, o que não dá certo em lugar nenhum do mundo democrático. O presidente mistura a incitação de seus militantes contra governadores e o Supremo Tribunal Federal com uma suposta defesa dos militares.  “Vou ficar sozinho nessa briga? O meu exército, que tenho falado o tempo todo, é o povo. Sempre digo que devo lealdade absoluta ao povo brasileiro”, inclusive ao Exército, salientou. “Eu faço o que vocês quiserem. Essa é a minha missão de chefe de Estado”. 

[dizer que o Brasil é um  país 'sui generis' é pouco;  optamos por reforçar citando   Tom Jobim "O Brasil não é para principiantes";   outros já destacam que o "Brasil não é para amadores".
Alguns exemplos:
- nosso Brasil atravessa um pandemia,  e um dos principais entraves ao combate a peste é a não existência, ainda, de vacinas em número suficiente para atender todas as necessidades mundiais: o nosso Brasil é o único país do mundo em que atribuem responsabilidade pela falta de imunizantes ao presidente da República - esquecem que o Reino Unido,  - com população em torno de 1/3 da brasileira, iniciou a vacina em dezembro 2020, e ainda não vacinou nem 40% dos seus cidadãos;
- o Brasil conseguiu a proeza de apesar do Supremo Tribunal Federal ter decidido que na implantação/modificação de medidas de distanciamento, isolamento e outras do tipo  para o combate à covid-19, o ente federativo menor prevalece sobre o maior = municípios podem mudar decisões dos estados e da União e os Estados prevalecem sobre o Poder Executivo Federal.
Os estados e municípios meteram os pés pelas mãos, emitiram medidas contraditórias, se perderam e agora acusam - tentam =  é o tipo de acusação que não se sustenta - atribuir ao Poder Executivo Federal a responsabilidade pelo aumento de casos de covid-19; [oportuno lembrar que vários países implantaram lockdown severos e o êxito não tem correspondido.
- o presidente da República em uma tarde de feriado, circulando por  Brasilia, no Setor Militar Urbano - SMU -  proximidades do Quartel-general do Exército Brasileiro, Forte Apache, parou para cumprimentar apoiadores em uma manifestação com faixas com diversos dizeres (tal tipo de mídia costuma estar presente em manifestações populares) e logo acusam o Chefe da Nação de apoiar atos antidemocráticos; encerramos com mais uma, 
- o general Villas Bôas, então comandante do Exército Brasileiro, após conversar com os membros do Alto Comando do Exército Brasileiro, emite tuítes com sentido de 'alertas', sobre posição do Brasil e do seu Exército em julgamento a ser realizado no Supremo.
O ato  do então comandante do EB, é recebido no STF com silêncio. Apenas um ministro se manifesta, ao final de uma sessão, contra os tuítes. Agora, aquela manifestação passou a ser classificada como 'discurso histórico'. 
Em fevereiro passado, quase 30 meses após os tuítes, o ministro Edson Fachin - que naquela  ocasião já era ministro da Suprema Corte e se alinhou ao silêncio dos seus pares - decidiu criticar àquele 'alerta'. Razões para romper o silêncio? só ele, e DEUS sabem. Nós, ousamos apenas supor.] 

Numa irresponsável atitude política, ele tem lançado ao ar em suas lives ameaças e advertências: “Até quando nossa economia vai resistir? Que, se colapsar, vai ser uma desgraça. O que poderemos ter brevemente? Invasão aos supermercados, fogo em ônibus. Greve, piquetes, paralisações. Aonde vamos chegar?", perguntou recentemente. Qualquer outro poderia ser acusado de estar encorajando populares a atitudes radicais, especialmente um presidente da República, cuja missão é liderar a sociedade diante de uma catástrofe como a pandemia de COVID-19.

Para complicar, Bolsonaro colocou em pauta o Estado de Sítio, medida drástica diante de um perigo iminente de declaração de guerra ou convulsão social. Justamente o que pode acontecer se o presidente da República continuar a incitar a população a não respeitar os atos dos governadores. Toque de recolher, que alguns Estados como São Paulo estão adotando, e também o Distrito Federal, nada tem a ver com Estado de Sítio, e ele sabe disso, está apenas  criando um clima de instabilidade no país, com objetivos evidentes.


A anulação da condenação do ex-presidente Lula por decisão monocrática do ministro Edson Fachin, tornando-o novamente elegível e, em consequência, forte candidato à sucessão presidencial, trouxe de volta os ataques ao Supremo Tribunal Federal nas redes sociais, e a inquietação nos meios militares com a possibilidade de sua eleição.
Nas Forças Armadas e no Exército em particular -, há muita rejeição a Lula e ao PT, e agora que os processos do ex-presidente voltaram atrás, vai ficar difícil se essa rejeição passar a ser uma arma da retórica de Bolsonaro sobre o Exército.

O presidente já esboçou uma “defesa” do General Villas Boas, muito criticado por ter admitido que o tuíte que soltou na véspera da sessão do Supremo que analisaria um habeas corpus a favor de Lula foi um aviso [alerta] dos militares, cujos comandantes teriam sido consultados, para que não soltassem Lula.  

Não creio que a maioria que votou a favor da manutenção da prisão do ex-presidente o tenha feito com receio de uma reação dos militares, cuja intervenção na decisão da Corte foi rejeitada, naquela ocasião, pelo decano do Supremo, ministro Celso de Melo, num discurso histórico. Agora, com a decisão de enviar todos os processos de Lula para a Justiça do Distrito Federal, anulando as condenações sem anular as investigações e as provas, voltou o fantasma de Lula a atormentar os militares.

Bolsonaro aproveitou-se disso para sair em defesa do General Villas Boas, como se as críticas fossem uma ofensa pessoal, e não a manifestação democrática de repúdio a uma intervenção indevida. Além das mentiras, o mais grave das declarações de Bolsonaro é ele se referir ao “meu Exército”, um hábito que não é coibido. [qualquer brasileiro, patriota, pode se referir ao Brasil = MEU BRASIL; o Exército Brasileiro é o EXÉRCITO DO BRASIL - vale o mesmo entendimento para a MARINHA DO BRASIL e a FAB - FORÇA AÉREA BRASILEIRA - que pertencem  ao Brasil e se o Brasil é MEU, é NOSSO, não pode ser do Presidente da República???]

Volta e meia Bolsonaro relembra ser o comandante em chefe das Forças Armadas – e realmente é -, como se o status concedido pela Constituição ao presidente da República lhe permitisse usá-las como instrumento político. Infelizmente, os militares não reagem a esse abuso, nem mesmo quando fez comícios em frente ao quartel general do Exército em Brasília, ou quando incentiva ataques ao Congresso e ao STF.  Por reação, imagino que militares de alta patente pudessem sair do ministério, para deixar claro que este não é um governo dos militares.

Essa utilização política das Forças Armadas nada tem a ver com a democracia. Os militares não podem se transformar em uma espada de Dâmocles sobre a política brasileira, escolhendo quem pode ou não pode concorrer à presidência da República. O comandante do Exército, General Pujol, tem razão quando diz que a política não deve entrar nos quartéis. Bolsonaro faz ouvidos moucos. [o presidente da República tem o direito de expressar sua opinião, mesmo sabendo que na interpretação do que diz, haverá sempre a rejeição dos insatisfeitos de sempre = arautos do pessimismo, inimigos do Brasil, inimigos do presidente Bolsonaro, adeptos do 'quanto pior, melhor' = à vontade dos quase 60.000.000 de brasileiros que elegeram o deputado JAIR MESSIAS BOLSONARO, presidente da República Federativa do Brasil, e que com as bênçãos de DEUS repetirão o feito.]

Merval Pereira, jornalista - O Globo


quinta-feira, 9 de abril de 2020

Uma homenagem póstuma - Nas entrelinhas


Bolsonaro enquadrou Mandetta e responsabiliza governadores e prefeitos pelo desemprego, embora tenham a dura tarefa de conter a epidemia na ponta”


Escrevo antes do pronunciamento de Bolsonaro de ontem à noite, em cadeia de tevê. Pela live que compartilhou no Twitter, a conversa que teve com Luiz Henrique Mandetta obrigou o ministro da Saúde a flexibilizar geograficamente a política de distanciamento social, levando em conta a progressão da doença nos estados. É um perigo, mas Mandetta hasteou a bandeira branca e bateu continência para o presidente da República. [qualquer cidadão quanto aceita um convite para se tornar ministro, tem ciência de que enquanto ministro é subordinado diretamente do Presidente da República e que permanece com total liberdade para deixar o cargo.]   Na entrevista coletiva que deu à tarde, deixou isso claro: “Quem comanda este time aqui é o presidente Jair Messias Bolsonaro”, disse. “Tivemos nossas dificuldades internas, isso é público, mas estamos prontos, cada um ciente de seu papel nesta história.”

Não sei qual o acordo que fizeram, mas essa é a ordem natural das coisas num sistema de poder no qual o vértice é o presidente da República. A propósito, Norberto Bobbio, após o assassinato do primeiro-ministro Aldo Moro pelas Brigadas Vermelhas, escreveu uma série de artigos sobre a crise italiana, reunidos numa coletânea publicada no Brasil, intitulada As ideologias e o poder em crise, em tradução de Marco Aurélio Nogueira. 
Destaco dois deles: 
a política não pode absolver o crime, no capítulo sobre Os fins e os meios, e;
 Quem governa?, em O mau governo.

A referência a Bobbio veio ao caso devido a uma passagem da entrevista do ministro Mandetta. Em certo momento, no chamamento que fez à união de todos contra a epidemia, disse que as autoridades médicas precisam da ajuda de todos, inclusive das milícias e dos traficantes. O ministro não é nenhum ingênuo, deve ter algum motivo para ter falado isso, mesmo sabendo que seria duramente criticado por essa referência ao crime organizado. A grande dúvida é se fez um apelo dramático por puro desespero, pois estamos num momento crucial do crescimento exponencial da epidemia, ou se realmente houve um pacto do governo Bolsonaro com as milícias e os traficantes.

Não seria a primeira que vez que isso aconteceria, com consequências desastrosas, porque favorece a expansão do crime organizado na sociedade e sua infiltração na política. Por outro lado, é muito fácil fazê-lo, pela via das relações perigosas nos sistemas de segurança pública e penitenciário. Ministro-chefe da Casa Civil, o general Braga Netto, ex-interventor no Rio de Janeiro, conhece bem essas conexões. 
Qual é a lógica perversa por trás desse raciocínio? 

Todos sabemos que a epidemia ainda não chegou ao povão, está na classe média alta, e só agora registra os primeiros casos de mortes nas favelas e periferias das grandes cidades e regiões metropolitanas conurbadas, principalmente em São Paulo, Rio de Janeiro, Fortaleza e Manaus. Na prática, isso significa toque de recolher e dura punição nas favelas e nas periferias, numa hora em que o presidente da República pressiona pela flexibilização da política de isolamento social.

Quem governa?
Governos monolíticos nas democracias não existem, ainda mais num sistema federativo e de equilíbrio entre os poderes. Bolsonaro enquadrou Mandetta e responsabiliza governadores e prefeitos pelo distanciamento social e o desemprego. Mas sabe também que os governadores e prefeitos, que têm a dura tarefa de conter a epidemia na ponta, contam com o apoio do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF) para agir com autonomia, na esfera de suas competências. Por mais que queira, não existe correlação de forças para Bolsonaro intervir nos estados. É assim que funciona na democracia.


O Estado brasileiro é ampliado, cada ministério é um subgoverno que se relaciona com os demais poderes e esferas de poder com relativa autonomia, além de terem imbricações com agências privadas e grandes setores empresariais. Mas é daí que veio a reação para garantir o funcionamento do sistema de saúde, com produção de suprimentos de proteção individual, equipamentos e aparelhos de saúde para ampliar a capacidade de absorção de pacientes pelos hospitais. Existe um grande business na área da saúde, cujas políticas públicas foram capturadas por grande fornecedores, muitos dos quais importadores, e também algumas máfias, que desviaram recursos ao longo dos anos. Agora, chegou a hora de verdade: os profissionais de saúde estão no comando, o governo está sendo obrigado a inventar um novo orçamento da Saúde e a recriar a indústria do setor.

Nesse aspecto, foi patética a constatação de que os hospitais federais do Rio de Janeiro não têm profissionais para atuar contra a epidemia, assim como os hospitais universitários. O governo federal é responsável por 5% da capacidade hospitalar do país, porém, deveria entrar com mais força, principalmente na montagem de hospitais de campanha e na contratação de profissionais para atuar junto às comunidades de periferia e regiões remotas da Amazônia e nos sertões do Nordeste, resgatando o Programa Mais Médicos.

Finalmente, uma homenagem póstuma ao sanitarista Sérgio Arouca, grande idealizador do SUS, que liderou milhares de profissionais de saúde que hoje estão na linha de frente do combate à epidemia. Lembro-me de duas conversas com ele: na primeira, me disse que a emergência era o ponto mais fraco do sistema, subestimada pela cultura dos sanitaristas; na segunda, lamentou não ter conseguido levar adiante seu programa de agentes comunitários de saúde no Rio de Janeiro, sem os quais seria impossível erradicar a dengue e conter epidemias mais graves nas comunidades pobres.

Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo, jornalista - Correio Braziliense


sábado, 30 de setembro de 2017

A calamidade na cidade maravilhosa


O Rio transbordou. A baderna criminosa tomou conta. Some a inclemente falência do Estado, a omissão inacreditável das autoridades e os desvios compulsivos de recursos para o bolso de mandatários inescrupulosos como Sergio Cabral e tem-se aí a fórmula inevitável do colapso. A Cidade Maravilhosa, seu entorno, a região fluminense como um todo desmoronam diante dos olhos perplexos de brasileiros que enxergavam ali seu paraíso. Falta dinheiro, antes de tudo. Falta muito dinheiro! Decorrência direta da roubalheira incessante que dizimou os cofres públicos. Virou um salve-se quem puder. 

 Gabriel Paiva / Agência O Globo

A violência, o crime organizado, os desserviços na área de saúde, transporte e educação não são exclusividades locais. Mas ali as chagas dessas pragas assumiram contornos de pandemia. É dramático o quadro na principal vitrine do País. Duas semanas consecutivas de tiroteios, disputa de facções pelas ruas, balas perdidas e vítimas aos montes transformaram o Rio em uma praça de guerra semelhante às existentes em regiões conflagradas. Casas e carros estão crivados de munição de alto calibre. As ruas viraram terra de ninguém aonde quem vai não sabe se volta. Uma rotina belicosa que colocou de joelhos a população. No plano da segurança a situação há muito tempo fugiu do controle e a relativa tranquilidade em certos pontos da capital só foi conquistada à base de tanques e esquadrões federais que ocuparam de maneira temporária o morro. A rotina mudou para o carioca. Aplicativos de celular mostram agora onde estão ocorrendo os tiroteios. Escolas criaram esconderijos para proteger os alunos em caso de ataque. 

Toque de recolher, pontos turísticos fechados, taxas de circulação para carros que vão a determinadas localidades entraram na ordem do dia. A escalada do terror pode ser contabilizada em números. A PM apreendeu quase cinco mil armas de fogo, entre pistolas, fuzis, metralhadoras, escopetas e garruchas, além de 260 granadas e 203 explosivos artesanais com poder de destruição para botar abaixo bairros inteiros. 

Traficantes mais bem equipados que policiais, gangues estabelecendo horário de funcionamento do comércio, chefes de droga encarcerados que transmitem ordens diretamente dos presídios mostram que o poder de Estado mudou definitivamente de mãos nas paragens fluminenses. A anarquia reina. E não é para menos. O governante da vez, Luiz Pezão, hospeda-se para tratamento em spa de luxo enquanto servidores ficam à míngua, não recebendo salários. O alcaide carioca, Marcelo Crivella, faz de conta que o problema não é com ele, some por quase uma semana e, ao retornar, passa a prometer quimeras como “um banho de loja” na Rocinha, instalação de cinemas, central telefônica e melhorias cosméticas longe da realidade imediata de uma população que roga, em primeiro lugar, por paz e assistência. 

O programa de pacificação das favelas implementado sob a orientação do ex-secretário de segurança, José Mariano Beltrame, teve um início fulgurante. Ele concebeu o enfrentamento do crime, banindo a tutela miliciana de marginais, dentro de um plano mais amplo que previa, na etapa seguinte, um trabalho estrutural do Estado no campo dos serviços básicos – saúde, educação e transporte. Nunca aconteceu. A corrupção não deixou ir adiante o projeto. As chamadas Unidades de Polícia Pacificadoras (UPPs) ficaram abandonadas, sem recursos ou aparato suficientes. [se transformaram em Unidades de Perigo ao Policial, especialmente devido o fato que além do perigo representado pelos traficanters, quando ocorria tiroteios sempre os policiais das UPPs já entravam no inquérito como culpados.] As autoridades, até pela incapacidade de prover o básico, passaram a tolerar o avanço do poder paralelo do tráfico. O que ocorre na Rocinha por esses dias é apenas uma amostra do desafio gigante que se apresenta pela frente. A continuar nessa toada, o atestado de óbito da segurança na outrora Cidade Maravilhosa sairá logo. Triste fim.

 Fonte:  Carlos José Marques, diretor editorial da Editora Três

sábado, 9 de janeiro de 2016

O fracasso das UPPs - tráfico expulsa UPPs de dois morros no Rio

Tráfico expulsa UPP de dois morros na Zona Norte do Rio

Há pelo menos três meses policiais não patrulham mais as áreas da Cachoeira Grande e do Gambá, onde contêiner foi incendiado ano passado. 

Bandidos ameaçam soldados de cabine blindada, que são obrigados a se trancar o dia inteiro, e vídeo mostra traficantes armados com fuzis à luz do dia

Quando blindados da Marinha e homens do Bope ocuparam 18 favelas do Complexo do Lins, na Zona Norte do Rio de Janeiro, na manhã de 6 de outubro de 2013, o secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, festejou o sucesso da empreitada: "Não tivemos um tiro de arma de fogo". Menos de dois meses depois, as Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) fincaram suas sedes na região, onde vivem cerca de 25 000 pessoas. De lá pra cá, o cenário se transformou. A esperança inicial deu lugar à desconfiança e ao medo. Mas, nos últimos meses, a situação ficou caótica. Pela primeira vez desde o início do projeto das UPPs, ainda em 2008, policiais foram literalmente expulsos do território que o governo classificou como pacificado. Há pelo menos três meses, os morros da Cachoeira Grande e do Gambá não contam mais com bases avançadas e qualquer ação de patrulhamento nesse território só acontece com autorização expressa. Elas são raríssimas e, nas últimas vezes que aconteceram, no final do ano passado, ocasionaram intensos tiroteios.
 [sempre alertamos que além do tática  estúpida da polícia invadir favelas com dia e hora marcados, as UPPs não poderiam funcionar se a filosofia do secretário de Segurança Beltrame e do governador era a de sempre dar razão aos bandidos, aos moradores das favelas e culpar os policiais.
A regra era houve conflito com bandidos e um morador da favela reclamou da polícia, esquece os bandidos e prende os policiais, assim a polícia fica desmoralizada.
As UPPs poderiam funcionar se antes da ocupação fosse realizada uma varredura com abate dos bandidos e remoção de demais obstáculos e só então se efetivava a ocupação, mantendo por pelo menos seis meses a favela sob 'toque de recolher'.
Só após com os bandidos mortos ou presos e os moradores 'enquadrados' poderíamos considerar a favela 'quase' pacificada..
O método usado é fracasso na certa - como os fatos ora postados estão mostrando.]
Com o fim do incômodo diário, criminosos desfilam armados com fuzis e pistolas a qualquer hora do dia pelo meio da rua, sem camisa e sem preocupação, como mostra uma filmagem gravada pelo setor de inteligência da UPP e obtida pelo site de VEJA. "Eles (oficiais) não vão admitir isso publicamente, mas nós estamos fora. Essas duas favelas estão abandonadas. Perdemos ali. Só quem entra é o COE (Comando de Operações Especiais) e, mesmo assim, tem que ir de blindado", afirma um policial que está lotado na UPP Camarista Méier desde o início e conhece a área como poucos. Procurada pelo site de VEJA, a Coordenadoria de Polícia Pacificadora (CPP) confirmou que as ações realizadas ali têm sido feitas pelo COE e informou que a "UPP Camarista Méier está planejando uma operação em toda a área nos próximos dias".

A nota fala também sobre uma cabine blindada na Auto-Estrada Jacarepaguá, "que permite acesso visual às duas localidades". O local fica num dos acessos à Cachoeira Grande e virou uma espécie de abrigo dos policiais que dão plantão ali. "Ficamos praticamente o dia inteiro aqui dentro, porque os bandidos ficam vigiando todos os nossos passos. Até quando vamos ao banheiro eles sabem", desabafou um soldado. VEJA comprovou o discurso do policial. Da porta da cabine é possível avistar criminosos armados que passam o tempo todo zombando e ameaçando, ora no rádio, ora balançando a pistola ou apontando como se fossem atirar. "Às vezes atiram", conta outro, mostrando o telhado do lado de fora todo furado.
 
Desde a inauguração das UPPs, 18 policiais já foram baleados na região. Mas foi no ano passado que os bandidos começaram a dar uma demonstração maior de que pretendiam expulsar os policiais e retomar parte do território perdido. O primeiro ataque emblemático aconteceu na noite de 24 de fevereiro, quando um coquetel molotov incendiou o contêiner da entrada do Morro do Gambá. Duas semanas mais tarde, em retaliação a uma ação do Bope que deixou três suspeitos mortos, os criminosos voltaram a emboscar os policiais da UPP praticamente no mesmo ponto. Na esquina das ruas César Zama e Vilela Tavares, os soldados Elson Bras dos Santos, Thiago Sousa e Silva Cortes, Felipe Cézar da Silva Mariano, Bruno Martins Barbosa e Wellington de Souza Luiz foram baleados de uma só vez.

O ano de 2015 fechou com 11 feridos ali. E bandidos voltaram a incendiar outras bases e até carros particulares dos policiais, como num episódio ocorrido em agosto, próximo à sede principal da UPP Camarista Méier. "Ainda mantínhamos policiais baseados em alguns pontos estratégicos nas duas favelas, mas depois não teve como manter. Eles eram atacados o tempo todo. Seria um risco", admite um oficial do CPP. As raras autorizações concedidas para entrar nas duas favelas tiveram como objetivo recuperar cargas roubadas. Numa delas, em 19 de dezembro, um caminhão de cigarros até foi recuperado logo na entrada, mas não o material. E um policial descreveu no registro que "nesta comunidade encontra-se inviável adentrar pelo baixo efetivo". Hoje, a UPP conta com 230 agentes.

Os morros do Gambá e da Cachoeira Grande ficam exatamente atrás do Hospital Marcílio Dias, da Marinha. Na tarde de sexta-feira, a reportagem do site de VEJA tentou chegar à região. A um grupo de policiais que se preparava para rodar pela Camarista Méier, pediu: "Quero ir lá no Gambá". Um soldado brincou: "Toma aqui. Vai na frente...", disse, oferecendo a pistola. Voltando a falar sério, outro policial resumiu a situação: "Não tem como ir lá. Primeiro porque não temos autorização superior. Segundo, porque não temos munição suficiente para sustentar o tiroteio que vai acontecer se conseguirmos entrar lá. Tudo isso sem receber, né?!", desabafou o soldado, referindo-se às gratificações e ao pagamento de horas extras que o governo do Rio de Janeiro não paga desde outubro.

Em dezembro passado, policiais da Delegacia de Combate às Drogas (Dcod) conseguiram capturar o traficante que chefiava o tráfico na região. Paulo Cézar Souza dos Santos, o Paulinho Muleta ou PL, estava passando férias num luxuoso apartamento em Balneário Camboriú, em Santa Catarina. Mas nem sua prisão diminui o ímpeto de sua quadrilha. Eles estão tão à vontade que, também no fim do ano, bandidos subiram o morro e acabaram com uma tradicional pelada de fim de ano que acontecia num campo de futebol de grama sintética na Grajaú-Jacarepaguá, a poucos metros da cabine blindada. Durante duas horas, os criminosos mantiveram rendidos, roubaram e ameaçaram cerca de 40 peladeiros. Computadores, relógios, jóias e smartphones foram roubados. Mas, até hoje, só dois irmãos fizeram registro de ocorrência. Os criminosos, claro, não foram identificados.

A deterioração do projeto das UPPs não é novidade, mas o cenário vem piorando ano a ano. Desde 2013 o número de ataques vem crescendo gradativamente e, hoje, em quase todas as 38 regiões que contam com UPP, existem as chamadas 'regiões perdidas', como por exemplo o Terreirão, na Rocinha; o Caratê, na Cidade de Deus; o Abóbora, no Jacarezinho, e o Areal, no Complexo do Alemão. Recém-empossado, o novo comandante-geral da PM, coronel Edison Duarte, pediu que o CPP fizesse um relatório avaliando as dificuldades e apontasse as vulnerabilidades de cada uma. Há muito o que escrever. Na primeira semana de 2016, as UPPs já registraram cinco policiais baleados.

Leia também: O Rio dos paradoxos

Fonte: VEJA On Line