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segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

‘Moraes não vai conseguir nos calar’ - Revista Oeste

Em entrevista à Revista Oeste, humoristas do Canal Hipócritas comentam as manifestações de rua em frente aos quartéis e o mandado de prisão contra um integrante da equipe

Bismark Fugazza e Paulo Souza | Foto: Montagem Revista Oeste/Redes sociais 

Bismark Fugazza e Paulo Souza  -  Foto: Montagem Revista Oeste/Redes sociais  
 
Em 22 de dezembro, os humoristas Paulo Victor Souza e Bismark Fugazza, do Canal Hipócritas, e o jornalista Oswaldo Eustáquio denunciaram o ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral e membro do Supremo Tribunal Federal (STF), à Corte Interamericana de Direitos Humanos.  
Eles acusaram o magistrado de violar “os direitos de liberdade de expressão” no Brasil, com “várias prisões temporárias decretadas ilegalmente”. Na ação, os três também destacaram a aplicação de multas desproporcionais” aos brasileiros, sem o devido processo legal.

Ainda naquela semana, o ministro mandaria prender Fugazza e Eustáquio. Eles, no entanto, já sabiam que estavam na mira de Moraes. Uma “fonte quente”, contou o humorista numa entrevista exclusiva a Oeste, avisou que seus nomes estariam numa lista de mandados de prisão do ministro do STF. Com a informação, Fugazza, Souza e Augusto Pacheco — também do Canal Hipócritas—, saíram do Brasil há sete dias.

Jornalista Oswaldo Eustáquio - Foto: Reprodução/YouTube

Desde a vitória nas urnas do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, o trio do Canal Hipócritas e o jornalista apoiam e incentivam as manifestações que acontecem em frente aos quartéis-generais por todo o país. Mesmo distantes, eles continuam engajados nos protestos. “Não tinha planos de sair do Brasil”, revelou Souza. “Meus sonhos estão lá, mas o Brasil é uma história de terror. Não tenho palavras para explicar o que vai acontecer daqui para a frente.”

Humoristas Paulo Victor Souza e Bismark Fugazza -  
Foto: Reprodução/Redes sociais

Confira os principais trechos da entrevista.

Como os senhores enxergam as manifestações em frente aos quartéis?
Paulo —
Elas são a expressão de um povo que está desesperado, depois de ter sido enganado, ignorado, roubado, ridicularizado e censurado. Todas as vias que a democracia apresentou para esse povo foram esgotadas. Nos falaram que deveríamos conquistar as coisas através do voto, mas aquilo que os nossos parlamentares decidem é ignorado no Parlamento.  
Como aconteceu com a questão do voto impresso auditável, que o STF passou por cima do Congresso para colocar a própria vontade acima da vontade do Parlamento. 
Tudo foi manipulado para chegar até onde estamos hoje. Primeiro, liberaram o ladrão Lula, ‘descondenaram’ e o tornaram elegível. Durante o pleito, surgiram fortes indícios de que aconteceu no Brasil uma eleição injusta, como a questão do radiolão, e, consequentemente, vieram à tona diversas suspeitas de fraudes nas urnas. 
Entre elas, as auditorias do cientista político Fernando Cerimedo, a das Forças Armadas e a do PL. Agora, falar sobre tudo isso pressupõe ser taxado de antidemocrático.

Qual é o papel dos senhores nas manifestações?
Bismark
— Não somos os líderes das manifestações, mas fazemos parte delas. Acreditamos nelas e lutaremos por elas. Desde 2017, com a criação do Hipócritas, falamos de política através do humor. Ao longo desses cinco anos de trabalho no YouTube, as pessoas nos procuram para dizer que somos as vozes delas. Por isso, não podemos agir diferente e estamos dando a nossa ‘cara a tapa’ apoiando e, antes de sermos obrigados a sair do país, frequentando as manifestações.
Por mais que tenhamos conseguido votações expressivas na Câmara e no Senado, não há nenhuma possibilidade de contornarmos essa situação autoritária que o Brasil vive atualmente

Como vocês ajudam as manifestações?

Paulo
Não oferecemos apoio financeiro. Nesse sentido, o que poderíamos oferecer seria pouco, se comparado com o que muitas pessoas fazem. Nós apenas usamos a influência que temos para, através das nossas redes sociais, propagarmos as vozes de quem está lá.

Nas últimas semanas, alguns portais de notícias veicularam que os senhores estariam escondidos no Palácio do Alvorada, temendo ser presos. Isso procede?

Paulo — Não estamos escondidos no Palácio do Alvorada. Em 12 de dezembro, dia da prisão do cacique José Acácio Tserere Xavante, estávamos todos em frente ao palácio, depois do arriamento da bandeira do Brasil. Naquele momento, ficamos sabendo da prisão do Tserere. Pelo fato de estarmos todos no mesmo barco e visto que o cacique foi preso apenas pelo que falou, ficamos apreensivos. Nesse momento de tensão, eles permitiram a nossa entrada no Alvorada, mas apenas para a nossa segurança. Na mesma noite, saímos do Palácio e dormimos num hotel.

Onde os senhores estão atualmente?
Paulo
— Há dez dias, recebemos uma informação de uma fonte muito quente de que nossos nomes Paulo, Bismark e Eustáquio — estariam na lista de mandados de prisão. Desse modo, tomamos a decisão de sair do Brasil. Estamos em outro país. Pouco depois, foi expedido um mandado de prisão por parte de Moraes contra o Bismark e o Eustáquio. Tudo isso comprova o que nossa fonte havia dito.

Bismark
Essa fonte citada pelo Paulo recebeu em mãos um dossiê meu, do Eustáquio, do Paulo e do Tacimar Hoendel um influenciador das redes sociais —, com fotos e vídeos.                                                  Segundo esses documentos, nós já teríamos ordem de prisão.                Agora, o Moraes está agindo de maneira diferente: ele dá o mandado na mão da polícia, e ela prende. 
Somente depois a polícia coloca no sistema que a pessoa foi presa. Por isso, não sabemos se realmente existe esse mandado de prisão. Queremos continuar ajudando, mesmo que seja daqui.
 
Vários influenciadores conservadores estão apoiando e incentivando as manifestações. No entanto, poucos estão sendo perseguidos no nível em que vocês estão. Por quê?

Bismark — Nenhum grande influenciador
‘deu a cara para bater’ como o Canal Hipócritas. Somente pequenos influenciadores fizeram isso, mas eles não possuem tanta voz como nós. Ao analisarmos os nossos seguidores, vemos que eles são de todo o Brasil. Os grandes influenciadores resolveram se calar, mesmo apoiando as manifestações. Não vou julgá-los, não cabe a mim.                              Como o nosso canal está muito presente nas manifestações, com certeza colocamos uma mira gigante nas nossas costas.                                        Nós sabíamos que isso poderia acontecer. No primeiro dia em que estivemos em Brasília, divulgamos a live do Cerimedo [com informações sobre o processo eleitoral brasileiro] e perdemos nosso perfil no Instagram e no Twitter. Na ordem do Tribunal Superior Eleitoral, eles informaram que, se nós continuássemos com as publicações, seríamos presos. Isso é o que o Moraes quer, colocar medo para nos calar.  
Se ele derrubar as nossas novas redes, não tem problema. Temos o plano B, C, D… Ele não vai conseguir nos calar.

Como o senhor enxerga a escalada autoritária do STF?
Bismark —
Eles foram testando o campo. Foram aos poucos e o brasileiro foi deixando. Isso começa com a ativista Sara Winter, o Eustáquio, o deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ), o deputado eleito Zé Trovão (PL-SC). Em 2015, o STF derrubou o voto impresso nas urnas eletrônicas. Ali foi o início de tudo. O Legislativo, que é a Casa do povo, votou em favor do voto impresso. 
Em seguida, a então presidente Dilma Rousseff vetou a decisão, mas o Legislativo derrubou o veto, e, em seguida, o STF vetou tudo o que os deputados decidiram. Vivemos em uma ditadura da toga.
 
Qual a expectativa dos senhores para a gestão Lula, tendo em vista a presença dos senadores e dos deputados de direita que foram eleitos?
Paulo —
Não vejo nenhuma expectativa boa a partir de 1° de janeiro. Estamos gastando todas as nossas fichas para que algo aconteça até 31 de dezembro, porque o que nos espera nesse governo Lula é um misto de terror e autoritarismo do qual o Brasil não vai conseguir sair. 
Por mais que tenhamos conseguido votações expressivas na Câmara e no Senado, não há nenhuma possibilidade de contornarmos essa situação autoritária que o Brasil vive atualmente. 
Hoje, mesmo com o presidente sendo Jair Bolsonaro, temos uma escalada autoritária absurda por parte do Judiciário. Agora, se o Lula estiver no poder, eles vão engolir o Legislativo de uma forma insolúvel.

Leia também “Vale a pena ser corrupto no Brasil”

Rute Moraes, jornalista - Revista Oeste


sábado, 10 de dezembro de 2022

Esquerda ‘muda’ bandeira do Brasil e usa até frase em linguagem neutra - Revista Oeste

Cristyan Costa

Símbolo foi apresentado em cerimônia na Alerj

A bandeira estilizada do Brasil, promovida por um grupo de esquerda na Alerj - 06/12/2022 | Foto: Reprodução 

A bandeira estilizada do Brasil, promovida por um grupo de esquerda na Alerj - 06/12/2022 - Foto: Reprodução 

Durante uma cerimônia na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), um grupo de esquerda levou uma bandeira estilizada do Brasil. Em imagens que circulam na internet, é possível ver que os militantes trocaram o lema “Ordem e Progresso” por “indígenes, negres, pobres e putas”, em linguagem neutra. Além disso, o grupo mudou o azul da esfera da bandeira para vermelho. [o Brasil pode até ter um presidente ladrão, mas NOSSA BANDEIRA NUNCA SERÁ VERMELHA.]

Realizado na terça-feira 6, o evento premiou as seguintes instituições: Redes da Maré, Instituto Promundo, Ong Criola, Instituto Candaces, Casa Preta da Maré, Núcleo Piratininga de Comunicação, Fundação Rosa Luxemburgo, Coletivo Papo Reto, Mídia Ninja, Rede Nami, Mapa das Mina, Fogo Cruzado, Observatório de Favelas, Justiça Global, e a Coalizão Negra por direitos.

Primeiro querem proibir o uso da nossa bandeira, agora pintam de vermelho, a esquerda é nefasta.
Ela NUNCA será vermelha, nunca. pic.twitter.com/WXy2kUMxX1

— Vanessa Navarro (@vanessnnavarro) December 6, 2022

O deputado estadual Filippe Poubel, que repercutiu o caso, criticou a exibição da bandeira estilizada do Brasil nas dependências da Alerj. “É o cúmulo do desrespeito com o nosso pavilhão”, disse. “Contravenção penal, quebra de decoro, um verdadeiro absurdo o que aconteceu dentro da nossa casa de leis. Já estou tomando as medidas cabíveis para que essa excrescência não seja normalizada por estes que só querem causar balbúrdia.” [Deputado, em nossa opinião, se trata de crime de ação pública - mas já que o Ministério Público se omitiu, o Senhor PODE, e até DEVE, mover o processo contra a direção da Alerj e contra os signatários da ofensa. A Alerj é território brasileiro e não tem imunidade para cometer crime e apoiar  bandidos.]

Leia também: “Vai ter bandeira, sim!”, artigo de Ana Paula Henkel publicado na Edição 122 da Revista Oeste

 

sexta-feira, 28 de outubro de 2022

Justiça manda retirar outdoors pró-Bolsonaro disfarçados de torcida da Copa

O anúncio continha a bandeira do Brasil e os dizeres Uberlândia torcendo para o Brasil na Copa do Mundo 2022', destacando o número de Jair Bolsonaro'[a Justiça Eleitoral só não retira Bolsonaro da campanha por além de ser impossível - mesmo para a KGB/Stasi dos inimigos do Brasil - a própria notícia da arbitrariedade seria notícia favorável ao candidato BOLSONARO 22; ]

(crédito: Vinícius Lemos)

 (crédito: Vinícius Lemos)
 
A Justiça Eleitoral determinou a retirada de outdoors pró-Bolsonaro disfarçados de propaganda da Copa do Mundo em Uberlândia. As placas não têm identificação de autores e a empresa que as instalou terá que fornecer informações sobre os contratantes. A ação que levou à decisão é do Partidos dos Trabalhadores (PT).[o problema insolúvel para a turma do perda total e cúmplices é que nem uma decisão, ou decisões,  da juíza ou do supremo ministro Moraes,  podem impedir que mais de 95.000.000 de brasileiros depositem seu voto para BOLSONARO, número 22.]

A sentença foi da juíza da 279ª Zona Eleitoral de Uberlândia, Claudiana Silva de Freitas, em decisão publicada nesta quinta-feira (27/10). Com isso, pelo menos seis outdoors instalados em pontos da cidade do Triângulo Mineiro terão de ser removidos por caracterização de propaganda irregular em favor do candidato da presidência Jair Bolsonaro (PL).
Correio Braziliense - MATÉRIA COMPLETA
 
 
 

terça-feira, 23 de agosto de 2022

O custo da ineficiência - Revista Oeste

Cristyan Costa

O Brasil tem 91 tribunais, que consomem mais de R$ 100 bilhões por ano. Em troca, a população recebe um dos piores  Judiciários do mundo

Foto: Shutterstock
Foto: Shutterstock

A lista inclui nomeações para o Superior Tribunal de Justiça (STJ) e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), entre outras brasileirices. 
 No total, o país tem 91 tribunais diferentes, espalhados por todos os 26 Estados, além do Distrito Federal. O recém-inaugurado Tribunal Regional Federal da 6ª Região (TRF6), por exemplo, foi inventado em 2021, sob o argumento de “desafogar” o Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1).
 
Só para o TRF6, exclusivo de Minas Gerais, o presidente Jair Bolsonaro indicou 18 desembargadores
Ainda não se sabe quanto exatamente esse aleijão custará aos pagadores de impostos quando estiver pronto, em dezembro deste ano. Mas sabe-se que o valor será alto. Só o TRF1, por exemplo, gasta cerca de R$ 3,5 bilhões por ano.

São previstos para o TRF6 44 cargos de “analista judiciário”, 74 cargos comissionados e outros 11 chamados de “funções comissionadas”. A Corte já abriu um processo seletivo para a contratação de profissionais, a maioria na área de tecnologia da informação. Conforme o edital preliminar, o salário inicial de um técnico que atuará no tribunal será de R$ 7,5 mil, enquanto um analista ganhará R$ 12,4 mil. Ao fim da carreira, as remunerações desses cargos podem chegar a R$ 11 mil e R$ 18 mil, respectivamente. Isso sem contar os benefícios.

Rodrigo Freire, professor de Direito Processual Civil da Universidade Presbiteriana Mackenzie, afirma que os recursos voltados à criação do TRF6 seriam melhor aplicados no fortalecimento da primeira instância da Justiça Federal. “As despesas, ainda que justificadas, são elevadas, quando comparadas a outras necessidades do país”, constatou Freire, ao defender a digitalização da Justiça, mais barata, se comparada a estruturas físicas. “O uso cada vez mais frequente da inteligência artificial pode contribuir para o fortalecimento da gestão do Judiciário.”

próximo presidente do brasil

As despesas do novo tribunal se somarão aos R$ 12 bilhões que a Justiça Federal consome anualmente para manter uma estrutura obesa, lenta, abarrotada de funcionários públicos e que, na maioria das vezes, faz tudo, menos justiça. No mês passado, por exemplo, a juíza Ana Lúcia Todeschini Martinez, titular do cartório eleitoral de Santo Antônio das Missões e Garruchos (RS), defendeu a proibição da bandeira do Brasil durante a propaganda eleitoral. Na visão da magistrada, o símbolo nacional tornou-se marca de “um lado da política” no país.

Nesta semana, o desembargador Elton Leme, presidente do Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE-RJ), ameaçou prender eleitores que reclamarem que seu voto não foi registrado corretamente na urna eletrônica. “Se causar tumulto por alegar que digitou um número na urna, mas apareceu outro, a ordem é prender em flagrante”, advertiu.

Os tribunais regionais
Os TRFs nasceram com a Constituição de 1988, fragmentando o antigo Tribunal Federal de Recursos em cinco sedes: Brasília (TRF1), Rio de Janeiro (TRF2), São Paulo (TRF3), Porto Alegre (TRF4) e Recife (TRF5). Cada Corte é responsável por analisar processos de um conjunto de Estados. É nesses tribunais que as requisições de boa parte dos pagamentos ocorrem, como os famosos precatórios. São os juízes dos TRFs que trabalham com a análise e o julgamento de ações trabalhistas envolvendo a União, suas autarquias, institutos e empresas estatais federais.

Embora haja cinco TRFs, os processos levam tempo para ser julgados. No TRF4, estima-se que uma sentença demore um ano para ser proferida (em alguns casos, o tempo sobe para cinco anos), conforme o mais recente Anuário da Justiça Federal. Com a pandemia de coronavírus, o tempo de espera pode ter aumentado ainda mais.

A indicação dos magistrados que vão ocupar os TRFs cabe ao presidente da República, explicou Vera Chemim, advogada constitucionalista e mestre em Direito Público Administrativo pela FGV. “É o que estabelece o inciso XVI do artigo 84 da nossa Carta Magna”, disse a especialista, ao mencionar que há um componente de subjetividade no momento de escolha do magistrado que, em algumas vezes, se sobrepõe ao mérito do juiz. “Se Bolsonaro ganhar, por exemplo, continuará a adotar o mesmo perfil de juízes: conservadores, para manter o apoio do grupo que o apoia. O mesmo acontecerá se outro candidato vencer a eleição.”

O Judiciário brasileiro em números
Conforme o mais recente relatório do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), publicado em 2021, a força de trabalho do Judiciário é composta de cerca de 440 mil funcionários. São aproximadamente 20 mil magistrados (4%) e quase 270 mil servidores (62%).

Em números absolutos, R$ 100 bilhões por ano são destinados ao Poder Judiciário brasileiro. A quantia equivale a 1,3% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional, ou seja, mais de 1% da soma de todos os bens e os serviços produzidos no país. De acordo com o CNJ, as despesas totais com o Judiciário representam 11% de todos os gastos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios. 
Só neste ano, a Justiça Eleitoral pode gastar cerca de R$ 10 bilhões. 
Já o STF tem à disposição aproximadamente R$ 770 milhões, como prevê o Orçamento da União.

Considerada a mais urgente para destravar a economia, a reforma administrativa tem forte rejeição da classe política e do Judiciário

Para completar, nesta semana, o STF aumentou o próprio salário em quase 20%. A partir de agora, o ordenado de um ministro da Casa vai de R$ 39 mil para R$ 46 mil. 
 Como os salários dos juízes de todo o país estão vinculados aos rendimentos dos ministros do STF, acontecerá o chamado “efeito cascata” — um aumento em cadeia para toda a categoria, muitas vezes seguido de todo o funcionalismo público. A outra vez em que a Corte obteve aumento salarial foi em 2018. Os ministros conseguiram reajuste de 17%. Em troca, os brasileiros recebem o 30º Judiciário mais lento do mundo, dentre 133 países, segundo o Banco Mundial.

Em relação a outros países, o peso do Judiciário brasileiro sobre o PIB é significativamente maior. Na América do Sul, a Venezuela gasta 0,34% do PIB com a Justiça do país, índice levemente superior ao da Argentina (0,32%). Chile e Colômbia desembolsam cerca de 0,2% do PIB com o Judiciário. Na Europa, os gastos da Alemanha correspondem a 0,4% — um porcentual mais de três vezes menor que o do Brasil. Em Portugal, o índice é de 0,3% do PIB. Na Itália, de apenas 0,19%. Inglaterra e Espanha ficam na casa de 0,1% do PIB. As despesas dos Estados Unidos com a Justiça ficam em 0,14% do PIB. [aqui cabe lembrar que os países citados, exceto os da América do Sul, possuem PIB maior, o que reduz os valores em percentuais.]

Antonio Carlos Freitas Júnior, especialista em Direito e Processo Constitucional pelo Instituto de Direito Público, critica o tamanho do Judiciário brasileiro. Ele afirma que os tribunais têm de se digitalizar cada vez mais, seja para aumentar a eficiência das Cortes, seja para reduzir custos. “Com isso, dispensa-se a criação de novos tribunais”, constatou. “Sem uma estrutura de tecnologia da informação, que hoje faz parte da nossa vida, uma nova Corte pode repetir o mesmo comportamento das que temos hoje.”

Reforma administrativa
Considerada a mais urgente para destravar a economia brasileira, a reforma administrativa tem forte rejeição da classe política e do Judiciário. Parado no Congresso Nacional antes mesmo do ano eleitoral, o texto tem como um de seus pontos mais sensíveis a inclusão de juízes, desembargadores e demais membros nas mudanças para futuros servidores públicos. Inicialmente, o governo não incluiu integrantes do Judiciário e do Legislativo na reforma, mas a equipe econômica já deu sinal verde à proposta.

Se isso se confirmar, os servidores do Judiciário poderão perder o direito a férias de mais de 60 dias e a aplicação de aposentadoria compulsória como punição. [oportuno lembrar que férias de 60 dias só para os membros do Poder Judiciáriop e do MP - os servidores gozqam férias de 30 dias.], No Congresso, há pelo menos três iniciativas de emendas sobre a redefinição das carreiras do funcionalismo. A reforma administrativa já teve parecer favorável por sua admissibilidade na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) da Câmara.

Manoel Galdino, diretor da organização não governamental Transparência Brasil, defende uma reforma administrativa que alcance o Judiciário. “Temos de cortar gastos”, disse. Ele, contudo, é cético quanto à aprovação de um texto que vá resolver todos os problemas. “Podemos começar por ajustes pontuais. O Judiciário tem de saber que ele precisa contribuir com a sociedade, reduzindo despesas. Tem de ser algo mais republicano.”

A Justiça brasileira hoje é um monstro criado pela Constituição de 1988, que beneficia muito mais a si própria do que a população. Enquanto nada muda, o país — e o povo — permanece à mercê de um Judiciário lento e ineficaz, aparelhado pelo presidente da vez.

Leia também “A urna canonizada”  

Cristyan Costa, colunista - Revista Oeste


terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

MEC recua e retira slogan de Bolsonaro de carta às escolas

[De recuo, em recuo ...]

Pasta mantém pedido para que colégios enviem vídeos dos alunos enfileirados cantando o Hino Nacional

O Ministério da Educação (MEC) recuou e apresentou uma nova versão da carta que o ministro Ricardo Vélez Rodríguez quer que seja lida em todas as escolas da país. Agora, o texto suprimiu o slogan usado pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL) durante a campanha eleitoral: “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”. Segundo a pasta, o ministro considerou a inclusão da frase um “equívoco”.

A pasta mantém, entretanto, o pedido de gravação da leitura da mensagem e da execução do Hino Nacional com os alunos e funcionários perfilados diante da bandeira do Brasil. Só que agora o MEC diz que a filmagem tem de ser previamente autorizada pelos pais — antes, esta permissão estava condicionada apenas à divulgação das imagens.

No comunicado, o MEC destacou o caráter voluntário da iniciativa. O ministério afirma que a iniciativa faz parte “da política de incentivo à valorização dos símbolos nacionais” e disponibiliza dois endereços de e-mail para o envio das imagens. “Após o recebimento das gravações, será feita uma seleção das imagens com trechos da leitura da carta por um representante da escola para eventual uso institucional”, diz o MEC.

Antes da divulgação da nova versão, a repercussão da carta foi negativa entre entidades ligadas à educação. O Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Educação (Consed) disse, em nota, que a ação fere não apenas a autonomia dos gestores, mas dos entes da Federação. “O ambiente escolar deve estar imune a qualquer tipo de ingerência político-partidária”, disse o Consed. Para o órgão, o Brasil precisa, “ao contrário de estimular pequenas disputas ideológicas na Educação”, priorizar a aprendizagem.

O Movimento Escola sem Partido também criticou a medida, em publicação nas redes sociais, e disse não ver problema no Hino ou na filmagem das crianças, mas na carta do MEC. “É o fim da picada”. A entidade defende combater uma suposta doutrinação por parte de professores em sala de aula — uma das bandeiras de Jair Bolsonaro. [o Blog Prontidão Total, em respeito aos seus dois leitores, informa que mantém sua posição de apoio ao que chama de ações de incentivo ao patriotismo e que além de estimular as crianças a desenvolvimento do amor a Pátria e de valores nobres, evita que maus professores aproveitem o espaço das aulas para defenderem o maldito 'politicamente correto', apologia a traidores, ideologia de gênero e outros lixos.

Pena que o entendimento de muitos professores, felizmente não são maioria, torne mais importante que sejam divulgadas imagens de violência nas escolas, seja entre alunos, alunos e professores  e contra alunos.
Mantemos na íntegra o entendimento do post: MEC manda email para escolas pedindo que cantem o Hino Nacional e filmem as crianças perfiladas durante o hasteamento da Bandeira Nacional.

Para evitar a política do recuo, do de recuo em recuo, doravante determinadas decisões de alguns ministros do governo Bolsonaro só serão publicas, após a devida confirmação.]


Segundo o diretor de Políticas Educacionais do Todos pela Educação, Olavo Nogueira Filho, mesmo que o pedido tenha caráter voluntário, é uma ação “sem precedentes no passado recente brasileiro”. O que essa ação reforça, para ele, é que o MEC caminha no sentido contrário do que precisa ser foco. “É desvio do que é essencial. O MEC tem se silenciado até aqui a respeito de temas urgentes.”

Para ele, a pasta deveria aproveitar o início do governo para propor políticas capazes de melhorar a aprendizagem, como tornar a carreira docente mais atrativa, discutir fundos para a área e implementar a Base Nacional Comum Curricular, que define o que deve ser aprendido em cada etapa escolar.

Confira na íntegra a nota do MEC:
O Ministério da Educação (MEC) enviará, ainda nesta terça-feira, 26, a escolas do país uma carta atualizada do ministro, professor Ricardo Vélez Rodríguez, com um pedido de cumprimento voluntário para que seja lida no primeiro dia letivo deste ano.
A carta a ser lida foi devidamente revisada a pedido do ministro, após reconhecer o equívoco, tendo sido retirado o trecho também utilizado durante o período eleitoral.

A carta com a versão adequada tem a seguinte redação:
“Brasileiros! Vamos saudar o Brasil e celebrar a educação responsável e de qualidade a ser desenvolvida na nossa escola pelos professores, em benefício de vocês, alunos, que constituem a nova geração.”
No e-mail em que a carta revisada será enviada, pede-se, ainda, que, após a sua leitura, professores, alunos e demais funcionários da escola fiquem perfilados diante da bandeira do Brasil, se houver na unidade de ensino, e que seja executado o Hino Nacional.

Para os diretores que desejarem atender voluntariamente o pedido do ministro, a mensagem também solicita que um representante da escola filme (com aparelho celular) trechos curtos da leitura da carta e da execução do Hino. A gravação deve ser precedida de autorização legal da pessoa filmada ou de seu responsável.
Em seguida, pede-se que os vídeos sejam encaminhados por e-mail ao MEC (imprensa@mec.gov.br) e à Secretaria Especial de Comunicação Social (Secom) da Presidência da República (secom.gabinete@presidencia.gov.br). Os vídeos devem ter até 25 MB e a mensagem de envio deve conter nome da escola, número de alunos, de professores e de funcionários.

Após o recebimento das gravações, será feita uma seleção das imagens com trechos da leitura da carta e da execução do Hino Nacional para eventual uso institucional.
A atividade faz parte da política de incentivo à valorização dos símbolos nacionais.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

Problema vai ser quando o monstro sair do armário

[Fato: Bolsonaro é o presidente do Brasil - apesar do fato de uma minoria não gostar;

vão ter que aceitar, vão ter que engolir.] 

Por enquanto tudo é divino maravilhoso. Mas, como Gil e Caetano cantaram no endurecimento do regime militar, lá no final dos anos 60, é preciso ter olhos firmes para este sol, para esta escuridão. Atenção! Tudo é perigoso! É preciso estar atento e forte!

(Nota do autor:

Mauricio Rudner Huertas


Só nesse primeiro parágrafo, 55% dos leitores e eleitores já estão me tachando de comunista; não sou, mas se fosse está aí Jair Bolsonaro para varrer do mapa os comunistas, graças a Deus! E é verdade esse bilhete!)

Enquanto vivermos a exaltação ao presidente empossado, depois do “xô PT” que marcou as eleições de 2018 e do “ch*** Lula” (censurado) que estava entalado na garganta do brasileiro, parece que não há com o que se preocupar. Começamos o ano com cenas explícitas de patriotismo. O verde e amarelo voltou a reinar no Brasil. Viva!!!

Passagens em câmera lenta, sorrisos em close, o sentimento de orgulho e a satisfação estampada na cara de cada brasileiro usado na edição dos melhores momentos da posse para encerrar o Jornal Nacional festivo de 1º de janeiro dão o tom oficial do que vem por aí. Tudo é mesmo divino maravilhoso. Arre!!!  Tem o charme da primeira-dama, que “quebrou o protocolo” e foi a 1ª primeira-dama (a repetição é proposital, não reparem) a discursar antes do presidente, e ainda por cima em libras. Um encanto! Tem o tradutor negro encenando o hino nacional, substituindo na posse o deputado negro que fica sempre postado como peça do cenário nos discursos do presidente. Viva a inclusão e a diversidade!

Tem entrevista da primeira-dama (de novo!), eleita pela mídia chapa-branca para dourar a pílula truculenta do bolsonarismo, garantindo que o marido não é machista coisa nenhuma. Tá ok? Tem cobertura especial no canal do Silvio Santos, aquele que não gosta de se envolver em nada de política a não ser que seja para afagar o poderoso de plantão e garantir seus interesses. Tá certinho

[Brasil, ame-o ou deixe-o!]

Tem urros do Major Olímpio, senador por São Paulo (Senhor!). Tem selfie com o presidente e arminha com a mão. Tem Frota, tem Joice, tem Bia Kicis, tem uma penca de filhos e novos deputados dessa nova ordem. Tem falas contra os comunistas (sempre eles, esses canalhas!), contra os direitos humanos, [nada contra os direitos humanos para os HUMANOS DIREITOS; tudo contra direitos humanos para os MANOS.]

Tem bandeira do Brasil que jamais será vermelha, a não ser pelo sangue que, se preciso, será derramado em defesa da Nação, como alerta Bolsonaro para deleite da claque e do fã-clube. Bravo!!! Tudo por amor à Pátria, enfim resgatada das mãos do inimigo. Mito!!!! 

Daqui Pra frente, nada de ideologia, essa invenção de esquerdista para destruir a família brasileira e desviar os nossos filhos do caminho de Deus! De agora em diante acaba toda essa baboseira. Escola é sem partido! Gênero é como nos tempos de Adão e Eva. Homem é homem. Mulher é mulher. O resto a gente cura, na bala ou no tapa! Novos tempos!

Acabou esse papinho de sustentabilidade, aquecimento global, direito social, direito trabalhista. Chega de nhenhenhém! Vamos trabalhar, p***! (censurado)
Tem ambientalista predador do meio ambiente?
Tem Funai que vai desmarcar terra indígena? [convenhamos que reserva indígena com 50.000 hectares, para 12 índios,   é o absurdo dos absurdos.]
Tem ministra que vai dar bolsa-auxílio para quem não abortar?
Tem xenófobo nas relações exteriores?
Tem militar a dar com pau (ops!) para garantir a democracia?
Tem tudo isso, mas é a vontade do povo brasileiro! Urra!!!

Enfim, tudo é divino maravilhoso. Problema vai ser quando o monstro sair do armário. É como o Palmeiras de Bolsonaro, decacampeão brasileiro. Era penta em 2016, virou deca em 2018. Estamos mais ou menos nessa mesma situação. Entramos em 2019, mas podemos parar em 1964. Assim, num vôo direto no túnel do tempo, sem escalas. Liberdade? Democracia? Futuro? Foi bom enquanto durou. E leia esse texto antes que acabe. ObrigXXX. [Parabéns!!! só o comentário sobre o absurdo  'salto' do Palmeiras, valeu transcrever o comentário.]

Mauricio Huertas, jornalista



quinta-feira, 17 de agosto de 2017

Um em cada três PMs mortos no país é do Estado do Rio

Estado do Rio registra quase 40% de todas as mortes de PMs no Brasil

Com 97 óbitos este ano,  índice é quatro vezes maior que o de São Paulo e supera todos os estados do Nordeste somados

Enterro do PM Fabiano de Brito e Silva, no cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap. Agente foi um dos 97 policiais mortos no Rio em 2017 - Fernando Lemos / Agência O Globo
 
Passavam poucas horas do réveillon quando o corpo do policial militar André William Barbosa de Oliveira, de 32 anos, foi encontrado no porta-malas de seu carro, em Guadalupe. Um dia depois, três colegas de farda de André foram assassinados, e mais três seriam mortos antes do fim da primeira semana de 2017. Era o prenúncio de um ano que deixaria a corporação perplexa. Com 92 baixas de janeiro a julho, a Polícia Militar do Rio registrava mais de um terço dos policiais mortos em todo o Brasil. Mais precisamente, segundo um levantamento do GLOBO junto às secretarias estaduais de Segurança, eram 38,8% dos 240 PMs assassinados no país nesse período. Histórias de vida interrompidas que puseram o estado no topo de um ranking sombrio, cujo segundo colocado, São Paulo, teve quatro vezes menos perdas, com 22 mortes. Enquanto a lista fluminense não para de contabilizar nomes, com mais cinco vítimas só nesta primeira metade de agosto, totalizando 97 casos, sendo 21 deles em serviço.


Comandante defende mudança nas leis 
A crescente violência contra os agentes de segurança este ano produziu um cortejo de policiais em cemitérios, onde amigos e familiares de PMs choraram inconformados as sucessivas despedidas. Numa comparação com o restante país, outros números comprovam a gravidade da situação. Em São Paulo, a quantidade de mortes foi bem menor apesar de o efetivo paulista ser quase o dobro do fluminense: 85.247 PMs na ativa, na reserva ou reformados, contra os 45.463 do Rio. Ou mais. Aqui, foram mais policiais mortos do que em todos os 13 estados do Nordeste e Centro-Oeste juntos, que totalizaram 83 baixas.

Isso num universo no qual, dos 10 estados em que mais se matam agentes de segurança pública, cinco ficam no Nordeste: Ceará (16 mortes, em terceiro lugar), Bahia (15, em quarto), Rio Grande do Norte (14, em sexto), Pernambuco (10, em sétimo) e Piauí (seis, em décimo). Em relação à Região Sul, Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina tiveram o mesmo número de mortos de janeiro a julho (11) que o Rio registrou apenas nos 15 primeiros dias de 2017.

Estados com altas taxas de homicídios entre a população em geral, como o Sergipe, tiveram um único caso de PM assassinado em sete meses. E tanto o Amapá quanto o Acre, na Região Norte, responderam não ter ocorrência alguma esta ano. Apenas o Amazonas, também no Norte, não informou os dados sobre os assassinatos em sua tropa.
O Rio, há muito tempo, se esconde atrás de um discurso de que a violência é um problema do Brasil. Não é. É do estado, e o governo precisa enfrentar suas questões, em vez de reduzi-las e dizer que ele estão num contexto maior. As pessoas não estão ouvindo tiros todos os dias em São Paulo, em Belo Horizonte ou em Brasília — afirma a professora de segurança pública na Universidade Católica de Brasília (UCB), Marcelle Gomes Figueira. Não é de hoje que essa realidade assombra o Rio. No ano passado, o índice de letalidade também foi alto: 146 PMs mortos, uma média de 12 vítimas por mês. De acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, realizado pelo Fórum Brasileiro de Segurança, a PM fluminense já era a corporação que tinha, em números absolutos, mais mortes nos anos de 2013, 2014 e 2015. Mas a proporção em relação ao restante do país, agora em 2017, supera a dos anos anteriores. Dois anos atrás, por exemplo, houve 87 PMs mortos no Rio — 29,39% dos 296 de todo o país.
Na onda de violência atual, o caso mais recente aconteceu na madrugada de sábado, dia 12: a policial Elisângela Bessa Cordeiro, de 42 anos, foi assassinada com um tiro na cabeça durante um assalto, em Coelho Neto. O marido, que estava ao lado dela no carro, testemunhou o crime. Os dois voltavam de Nilópolis, onde trabalhavam em uma barraquinha de batatas fritas com a família, quando foram abordados por ladrões, na Avenida Pastor Martin Luther King. Os criminosos atiraram ao descobrirem que a vítima era uma policial.
Poucas horas antes, outro colega de profissão de Elisângela havia sido executado. O soldado Samir da Silva Oliveira, de 37, foi morto em serviço. Ele suspeitou de um veículo e fez a abordagem, na Avenida Vinte e Quatro de Maio, no Méier. Dentro do carro, havia quatro bandidos armados, um deles com fuzil. Ao ser parado, o grupo abriu fogo contra o militar, que chegou a ser levado para o hospital, mas não resistiu. Samir deixou a mulher e uma filha de sete anos. Os ladrões foram presos.
Diferente de Samir, no entanto, a maioria dos policiais mortos no Rio não estava em serviço. Dos 97 até agora, 56 estavam de folga e 20 eram reformados. Para a especialista da UCB, esse fato pode ser atribuído à precariedade dos trabalhos realizados fora da corporação, os "bicos":
Estatísticas de policiais militares mortos em 2017
Número do Rio equivale a quase 40% do total do país até julho
92
148
Policiais mortos no Rio de Janeiro. Este número representa...
Policiais mortos nos demais estados brasileiros. As mortes no RJ correspondem a...
total
240
38,3%
62,2%
do total no país
do total de mortes de policiais em todos os demais estados somadas
Todos os estados com mais de 10 milhões de habitantes somam 53 mortes de PMs em 2017. O Rio, sozinho, tem um índice de letalidade 73,6% maior
RR
AP
AM
PA
MA
SP+MG+BA+RS+PR
RJ
CE
RN
PI
PB
AC
PE
RO
TO
AL
MT
SE
BA
DF
GO
MG
MS
53
ES
SP
RJ
PR
O número do RJ é 95% da soma dos dez estados mais populosos do país
SC
RS
92
São Paulo, o estado mais populoso do país, teve 24% do total de PMs mortos do Rio
PMs mortos
PMs mortos
22
92
SP
RJ
44,8 milhões
de habitantes
16,9 milhões
de habitantes
— É mais uma das consequências da ausência de política pública no estado, onde a saúde ocupacional do PM não é objeto de atenção e de interesse. Esse policial trabalha sob forte estresse e dentro de uma lógica de confronto. E, muitas vezes, para complementar o baixo salário, fazem bicos. São serviços que não contam com a estrutura de proteção que ele tem na corporação, onde está sendo monitorado por uma central, pode solicitar reforço e age junto com um companheiro.
Professor do departamento de Segurança Pública da UFF, o antropólogo Lenin Pires faz coro à opinião de Marcelle, e acrescenta outras duas possíveis causas de as mortes ocorrerem, majoritariamente, em dias de folga:
— Há ameaça quando eles estão se deslocando para o chamado segundo emprego e são identificados como policiais por bandidos. Existe essa retórica de guerra, uma lógica de extermínio entre os agentes e os 'fora da lei' — opina Pires, que cita uma segunda hipótese. — O regulamento da corporação diz que o policial, mesmo não estando em serviço, tem a obrigação de agir diante de uma ocorrência, sob pena de sofrer sanção. E se ele tem que tomar uma atitude, consequentemente, do outro lado haverá uma contra-resposta. E como o agente está em desvantagem, sozinho e sem equipamentos adequados, isso acaba aumentando o seu risco.
Segundo Pires, nos Estados Unidos e na Inglaterra, por exemplo, os agentes podem optar por não agir, caso julguem a intervenção arriscada. Quando isso ocorre, ele precisa, apenas, justificar sua atitude na corporação, sem sofrer nenhuma pena por isso. Na Argentina, onde o sociólogo realiza trabalhos de campo, o policial de folga, assim como no Brasil, tem que dar uma resposta imediata. No entanto, existe "um apelo pelo bom senso". A polícia do país vizinho, afirma ele, anda de transporte público, como ônibus e trens, sem ser ameaçada.
Para o sociólogo, o alto índice de letalidade no Rio não é um problema recente:
— Isso é um processo que vem se desenvolvendo há algumas décadas, principalmente nas últimas três. Nos anos 80, essa não era a realidade. Esse crescimento tem a ver com os discursos de ódio e de intolerância, que diz que bandido bom é bandido morto e que a polícia tem que matar.
A estatística de PMs feridos segue a mesma curva ascendente. De acordo com o sociólogo Ignacio Cano, coordenador do Laboratório de Análises de Violência (LAV), da UERJ, nos primeiros cinco meses deste ano, a quantidade de policiais feridos em serviço cresceu 38%, em comparação com o mesmo período do ano passado, segundo um artigo do especialista publicado no GLOBO. A corporação informou que, até ontem, esse número era de 305, sendo 213 em serviço, 86 de folga e seis reformados.
A frota do Rio representa hoje uma taxa de 275 policiais militares para cada 100 mil habitantes — isso significa um policial para cuidar de 363 pessoas. Em 2014, de acordo com último levantamento da Diretoria de Análise de Políticas Públicas, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), essa taxa era de 280 PMs. Na época, o estado ocupava o sexto lugar da lista de regiões com a maior proporção de agentes por habitantes. Distrito Federal encabeçava o ranking, com 957 policiais para cada 100 mil moradores.

A farda da dor eterna

O fim. Fotos da PM Elisângela Bessa fardada ainda estão no quarto que ocupava na casa da mãe - Domingos Peixoto / Agência O Globo
Reinaldo Bessa, taxista de 52 anos, gira as oito imagens de um porta-retratos em forma de cubo até achar uma delas, que mostra oito pessoas sorrindo. Explica que é a última foto com a família inteira: a mãe, o pai, os quatro irmãos e duas irmãs. “Dois oito, sobraram quatro”, suspira, para cair no choro em seguida. Não estão mais vivos o pai e a mãe, o irmão mais velho, que há dez anos não resistiu a um acidente de moto em Acari, e a irmã Elisângela, que na na foto é uma jovem magrela de cabelos cheios. As lágrimas que escorrem pelo seu rosto são por ela.
— A gente vai morrendo aos poucos — lamenta Reinaldo.
Ele viu Nana (apelido da cabo da Polícia Militar Elisângela Bessa, de 41 anos) pela última vez no dia 11. Passou à tarde pela barraquinha de batatas fritas que a irmã mantinha há alguns meses com o marido, em Nilópolis. Horas depois, Elisângela e o marido Rodrigo encerraram as vendas e foram para casa onde moram, em Colégio. No caminho, foram abordados por criminosos. Elisângela passou os últimos segundos da sua vida tentando segurar a arma de seu assassino. Não conseguiu e foi atingida na cabeça.
Reinaldo, que tem a foto do suspeito de ter baleado sua irmã na memória do celular, a todo momento repete inconformado, olhando para a imagem, “quem mata policial tem que ficar mais tempo na prisão”.
Luto e sonho de formar sobrinha
Elisângela não tinha medo de nada, só de viver sem a mãe. A dor da morte dela, em novembro de 2016, ainda era enorme. Elisângela revezava suas fotos do perfil do Facebook com as da mãe. Irritado, Reinaldo pediu a irmã recentemente que deixasse a mãe “descansar em paz” e parasse de postar as imagens. Ele nem podia imaginar que o mesmo aconteceria com a própria Elisângela, homenageada da mesma forma por amigos e colegas de farda.
Ele e Nana são filhos do potiguar José e da carioca Deise. José passou 35 dias a caminho do Rio em busca de oportunidades. Em solo carioca, trabalhou no que podia, de engraxate a motorista de lotação. Foi nessa função que conheceu Deise e se casou.
José insistia com a mulher que queria ter uma filha. Depois de quatro meninos, veio Nana. O pai exibiu a garotinha para o restante da prole, curiosa, da janela de uma maternidade em Caxias. Daí em diante, Deise criou a menina cheia de cuidados, mas, depois dos 30 anos, Elisângela deixou de lado o trabalho como esteticista para ser policial. Fez o concurso depois de ver que duas cunhadas já tinham passado na prova.
Nos últimos meses, encarava uma segunda jornada na barraca de batatas fritas, o que lhe ajudava também a esquecer a perda da mãe. O sonho da policial, que não tinha filhos, era viajar para Natal, onde o pai nasceu, para formar a sobrinha e afilhada Rayane, de 22 anos, que estuda medicina. O padrinho com quem Elisângela batizou Rayane, policial como ela, também foi assassinado há cerca de seis anos.
Reinaldo, que já foi assaltado 14 vezes, diz que a irmã em pensava em deixar a polícia. Aluna empolgada da academia, guardava o manual dos calouros no quarto que fora dela na casa da mãe, repleto de suas fotos com farda. A bagunça estava à espera de Nana.
— Esperava que ela própria viesse arrumar tudo — diz Reinaldo.

Comandante defende mudança nas leis

O comandante-geral da PM, coronel Wolney Dias, pede maior rigor no Código Penal Brasileiro - Márcio Alves / Agência O Globo


O comandante -geral da Polícia Militar, coronel Wolney Dias, afirmou que desde 1995 a corporação convive com números elevados de policiais mortos. A diferença, segundo ele, é que mais armamento pesado vêm circulando pelo Rio. Só de janeiro a julho deste ano, foram 246 fuzis e 225 granadas apreendidas pela PM. - Trata-se de um número (de mortos) inaceitável para qualquer sociedade que vive num regime democrático de direito.  

São números compatíveis a países que vivem em guerra. E este é o cenário vivido no Rio de Janeiro, especialmente na Região Metropolitana. Mas isso não é de hoje. A linha histórica revela que essa tragédia persiste há mais de duas décadas. No ano passado, por exemplo, perdemos 141 companheiros. Em 1995 foram 189 policiais militares mortos. Também é inadmissível a quantidade de armas circulando nas mãos de criminosos. Neste ano, mais de 300 fuzis foram apreendidos no estado. Somente a Polícia Militar apreendeu 246 dessas armas de guerra.

Segundo Wolney, a sociedade precisa fazer uma "ampla reflexão" e se mobilizar por mudanças para reverter o quadro atual. Como o secretário de Segurança, Roberto Sá, o militar também defende mudanças nas leis: — O nosso código de processo penal está anacrônico. Há uma sensação muito grande de impunidade por parte dos criminosos. Além disso, precisamos combater com inteligência e ações articuladas o tráfico de armas. 

Praticamente todos esses fuzis apreendidos foram fabricados no exterior.
Perguntado sobre as medidas que a corporação está tomando para evitar que mais policiais morram, numa estatística que chega a quase 100 casos (97), Wolney Dias respondeu que o amparo às famílias das vítimas é fundamental. Segundo ele, o policial tem feito cursos de reciclagem e aperfeiçoamento profissional. Parentes de vítimas chegaram a se queixar que os militares de Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) não estavam preparados para os confrontos em favelas. — A Polícia Militar tem uma preocupação muito grande em dar todo o apoio às famílias dos companheiros mortos, tanto na assistência psicológicas como no suporte financeiro com pagamento de indenizações. A corporação também colocou em prática o Programa de Qualificação e Aperfeiçoamento Profissional (QAP), desenvolvido pela Coordenadoria de Assuntos Estratégicos (CAEs). O policial passa por um processo de reciclagem profissional, melhorando sua capacidade operacional e reavaliando suas condições físicas e psicológicas.

Mas, além dessa reciclagem técnica e psicológicas, só iremos reverter esse quadro, com a revisão do código penal, uma repressão efetiva ao tráfico de armas e, sobretudo, mais investimento em segurança pública e em políticas sociais. A maior parte dos policiais morre em dias de folga, muitos deles prestando serviço à segurança privada para reforçar seu orçamento. Esse trabalho extra pode ser oferecido oficialmente, como já foi feito recentemente com o RAS (Regime Adicional de Serviço) e outros programas semelhantes, que permitem que o policial trabalhe fardado com a proteção do estado — afirmou o comandante.


O desabafo de uma mãe

Foi em patrulhamentos noturnos de rotina, em favelas com Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), que o sargento Hudson Silva de Araújo, de 46 anos, e o soldado Michel de Lima Galvão, de 32, caíram em emboscadas do tráfico. O primeiro foi morto no dia 23 de julho, no Vidigal, onde, até então, não havia notícias de ataques contra PMs. Já Galvão foi atingido em 21 de fevereiro no Jacarezinho, um território sempre muito hostil para os policiais. O soldado já havia denunciado a falta de equipamentos de proteção adequados e a desvantagem numérica em relação aos “inimigos”. Os dois fazem parte do grupo de 21 policiais militares mortos em serviço este ano.

Cada família dessas vítimas recebeu das mãos de um representante da Polícia Militar uma Bandeira do Brasil, usada para cobrir o caixão. Maria da Glória Silva de Araújo, de 74 anos, mãe do sargento Hudson, sofre tanto que sequer consegue ouvir o nome do filho sem cair em prantos:  — Não tem um dia que eu não chore. Não durmo mais direito. Estou cheia de dores. Dor na alma. No último domingo, Dia dos Pais, fui visitar o túmulo dele. Chegando lá, havia outro policial sendo enterrado. Quantos ainda vão morrer? — questionou Maria da Glória.

Já a dor da cabeleireira Jéssica Pacheco, de 24 anos, mulher do soldado Galvão, é de quem dividia sonhos com o companheiro. O casal pensava em ter um filho e já tinha comprado um terreno para construir uma casa.  — A gente fazia tudo junto. Só nos desgrudávamos quando cada um estava no trabalho. Quando me entregaram a Bandeira do Brasil, que cobriu o caixão, eu a guardei no armário junto com a farda. Não quero olhar para aquilo lá. Só traz a lembrança de como ele lutou para mudar a polícia que está aí hoje, mas acabou morrendo por ela — disse Jéssica. 

Fonte: O Globo
 

quinta-feira, 12 de maio de 2016

‘Governo Federal: Ordem e Progresso’ será o slogan de Temer



Definido na véspera de o vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB), assumir nesta quinta-feira, 12 a presidência, o slogan do novo governo será “Governo Federal: Ordem e Progresso”.



Segundo o marqueteiro Elsinho Mouco, um dos responsáveis pela criação do novo conceito, a ideia é ter uma mensagem “forte, concisa e atual”. Ele passou parte do dia desta quarta-feira, 11, reunido com a equipe de Temer para fechar os últimos acertos sobre o planejamento da imagem do novo governo. “Recuperar o País da desorganização política, econômica e social e retomar o crescimento econômico, é a tradução do conceito de Ordem e Progresso. A ideia era criar algo forte, conciso e atual. Acho que conseguimos”, afirmou Mouco ao jornal O Estado de S. Paulo. 

O novo lema vai substituir o “O Brasil: Pátria Educadora”  criado pelo governo Dilma Rousseff (PT) no início do segundo mandato da petista. A imagem criada para o novo slogan coloca em destaque a esfera celeste da bandeira do Brasil com a frase “Ordem e Progresso” e, ao fundo, em branco a palavraBrasil” e a expressão “governo federal”.
 
Pronunciamento
Após ser notificado sobre a decisão de afastamento da presidente Dilma, o vice-presidente realizará um pronunciamento na tarde desta quinta-feira no Palácio do Planalto.  Em meio à correria dos preparativos para assumir o comando do País e das negociações com integrantes da futura base aliada, Temer falou ao jornal O Estado de S. Paulo sobre o seu primeiro discurso como presidente. “Vai ser a pacificação e unidade do País, além do crescimento da economia. Vamos tomar medidas para isso”, disse. 

Questionado se também anunciará nesta quinta-feira as propostas que o novo governo pretende tomar na área econômica, Temer respondeu: “Vamos usar essa frase genérica, as medidas virão depois”. Segundo ele, por outro lado, a nova equipe ministerial deverá ser apresentada durante o pronunciamento. “O ministério anuncio amanhã (quinta-feira)”, afirmou Temer.

Fonte: Isto É