Análise Política
O balanço das eleições deste ano reforça uma característica já vista em
outras ocasiões: todas as forças políticas relevantes saem das urnas com
poder e expectativa de poder. Para começar, o PT tem o governo federal,
seus governadores mostraram força, reelegeram-se ou elegeram o
sucessor, e o candidato a governador em São Paulo conseguiu um
desempenho eleitoral inédito, no aspecto positivo.
Mas a direita também fez boa colheita, em suas versões mais na ponta ou
menos, ao varrer o Sul, o Sudeste (exceção foi o Espírito Santo) e o
Centro-Oeste e dividir o Norte. Manteve-se ou implantou-se em posições
de força e, a exemplo da esquerda, plantou nomes em condições de
adquirir projeção nacional. Mesmo o dito centro, enfraquecido nas
eleições parlamentares, acabou saindo da safra de 2022 com boas posições
nos Executivos.
Mas esses núcleos, se têm força para provocar alarido e sobressaltos,
não encontram no momento espaço para interferir decisivamente no
andamento da política, que tateia atrás de alguma normalização. Do que
depende a consolidação disso? De Luiz Inácio Lula da Silva e seu governo
conseguirem combinar alguma fidelidade à narrativa de campanha, para
evitar a acusação de estelionato, e ao mesmo tempo liderarem a
acomodação. [a combinação apontada pelo articulista implica em VERDADE e essa é incompatível com qualquer governo de esquerda, especialmente com o do eleito, cujo Norte e Credo é a MENTIRA.]
O governo eleito dá seus primeiros passos cercado pela tradicional
leniência. Os arrufos e espasmos do bolsonarismo, nos palácios e nas
ruas, oferecem aos vencedores de outubro o sempre útil fantasma, que, se
agitado com competência, traz com ele a imposição de apoiar o
oficialismo para evitar retrocessos. Em resumo: o potencial de
acomodação mais a tensão pós-eleitoral provocada pelos removidos do
poder oferece ao PT um ecossistema quase ideal.
Que pode ser notado no debate em torno das providências para autorizar o
governo vindouro a estourar o teto de gastos para cumprir as promessas
eleitorais. A compreensão vem até dos setores e personalidades que
tradicionalmente carregam o estandarte da responsabilidade fiscal como
Constantinos modernos brandindo o in hoc signo vinces (“sob este signo vencerás”). Lula terá de ser muito incompetente (o que nunca foi) para não surfar bem na onda.
E depois, quando precisar mandar apertar os cintos? Bem, cada dia com sua agonia. O depois vem depois.
Alon Feuerwerker, jornalista e analista político