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terça-feira, 22 de janeiro de 2019

Ação contra milícia prende suspeitos de ligação com o assassinato de Marielle Franco [estranho, não está próximo do dia 14]

Ação contra milícia prende suspeitos de ligação com o assassinato de Marielle Franco 

Operação mira suspeitos da execução de Marielle Franco e Anderson Gomes

Ação chamada de 'Os Intocáveis' visa cumprir 13 mandados de prisão preventiva contra a milícia de Rio das Pedras. Há indícios de que dois dos alvos presos comandem "Escritório do Crime", que teria participado da morte de vereadora e do seu motorista,

Uma operação, chamada de "Os Intocáveis", busca prender nesta terça-feira suspeitos das execuções da vereadora Marielle Franco e de seu motorista, Anderson Pedro Gomes. A ação do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) e da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), da Polícia Civil, conta com cerca de 140 agentes e visa cumprir 13 mandados de prisão preventiva contra a milícia mais antiga e perigosa do estado: a de Rio das Pedras.

Há indícios de que dois dos alvos de prisão comandem o "Escritório do Crime", braço armado da organização, especializado em assassinatos por encomenda. Os principais clientes do grupo de matadores profissionais são contraventores e políticos. Há uma suspeita de que o "Escritório" estejam envolvidos no assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes.

[já é recorrente que por volta do dia 14 de cada mês, desde março/2018, surgem notícias dando como certo o deslinde do caso da vereadora do Psol.

É testemunha-chave, é conversa entre milicianos, passam alguns dias e só resta esperar o próximo dia 14 - esse 'escritório do crime' já foi manchete em meados de 2018 e depois caiu no esquecimento - falta de provas.

Agora, apareceu fora da rotina. Será que tem alguma coisa consistente e que vai permitir desvendar o mistério? a opção injusta e imotivada de priorizar a investigação de dois assassinatos  em um país com mais de 60.000 por ano - a maior parte sem solução, muitos até sem inquérito.

Ou será Fake News?

ou devido o assunto Queiroz x Carlos Bolsonaro de tanto andar em círculos deixou todo mundo tonto e mudar de assunto se tornou necessário - Queiroz já não rende boas manchetes = é a matéria de ontem, requentada e apresentada  com nova manchete.

Saiba mais, clicando aqui]

Há indícios de que alvos comandem Escritório do Crime, braço armado da organização, especializado em assassinatos por encomenda 


Embora o objetivo da ação do MP-RJ seja atacar a milícia, alguns julgam que a disputa fundiária e política na Zona Oeste pode ter motivado o assassinato de Marielle Franco
[por enquanto é aguardar, a matéria tem muita especulação, o de sempre.] 

O Dia

quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Como nasceram as narcomilícias

Numa manhã de agosto de 2011, dois policiais militares checavam uma denúncia contra a milícia de Curicica, bairro da zona oeste do Rio de Janeiro. Sabiam que o suspeito chamava-se André, andava de Volkswagen Bora preto e parecia ser miliciano, pois o relatório dizia que ele mexia com caça-níqueis e segurança privada. No cruzamento de duas ruas movimentadas do bairro, cheia de lojas e bares, os dois avistaram um Bora preto, sem placas, estacionado na calçada de frente para a rua, igual fazem as viaturas da polícia. André Luiz Serralho se identificou como PM. Ao revistarem o carro dele, os policiais encontraram três armas "frias": uma pistola 9 milímetros, de uso restrito, outra calibre ponto 40 e um revólver 357 Magnum. Havia ainda cerca de 700 balas, 450 fichas de cobranças de cestas básicas com endereço de moradores e R$ 32 mil em dinheiro. Até aquele momento, tudo indicava coisa de miliciano mesmo.

Como muita gente já se aglomerava em volta, a equipe decidiu que o melhor seria ir à delegacia da Polícia Civil mais próxima. Lá revistaram o carro novamente. Acharam uma bolsa de viagem com 57 pacotinhos de plásticos cheios de cocaína, que pesaram 51 gramas. As embalagens continham a inscrição: "pó 20 C.V", a sigla do Comando Vermelho, maior facção do tráfico e até então considerada inimiga das milícias.  Serralho contou uma história estranha. Ele disse que recebera denúncia sobre movimentação do tráfico na favela do 15, localizada próxima. Resolveu ir ao local sozinho. Quando os traficantes o avistaram, correram deixando para trás as armas e a mochila com drogas. Serralho disse que pegou o material para levar à delegacia e só esperava um colega de farda chegar para ajudá-lo, quando então os policiais o prenderam. Podia ser um caso de "espólio de guerra", comum no Rio de Janeiro, em que policiais corruptos ficam com as drogas e armas de traficantes para revender. A diferença nesse caso é que havia grande suspeita de envolvimento de Serralho com milícias, cuja estratégia ao que se sabia era a de não tolerar a venda de drogas.


A situação inédita levou a Promotoria de Justiça, numa atitude rara, a denunciar Serralho e depois pedir absolvição dele por falta de provas. O juiz à frente do processo não aceitou o argumento. Condenou o policial a seis anos e três meses de prisão. Mais tarde, o Tribunal de Justiça abaixou a pena para cinco anos e seis meses.  As milícias apareceram como remédio contra o tráfico de drogas, que aliciava crianças e adolescentes para desespero dos pais. Também vendiam proteção ao bairro ou favela contra assaltantes, estupradores e outros tipos de criminosos. Com o tempo, apareceram as garras da extorsão dos milicianos, que tomavam conta do transporte público de vans e mototáxis, controlaram a venda do gás, o sinal da internet e a TV a cabo. Dominavam ainda até o comércio de cestas básica. Exigiam taxa de segurança contra seus próprios atos violentos. Pouca gente na polícia e no Ministério Público sabia, mas naquele ano de 2011 – quando houve a prisão de Serralho – os milicianos rompiam a última barreira. Eles fechavam acordo com os traficantes de drogas, até então os arqui-inimigos, principalmente os membros do Comando Vermelho.

ÉPOCA teve acesso ao documento do Ministério Público do Rio, de dezembro de 2011, que identificou o surgimento da nova organização criminosa. "Conforme dados de inteligência, milicianos estariam vendendo informações a Luiz Fernando da Costa em troca de assistência jurídica", diz o relatório. Primeiro preso federal do Brasil, Fernandinho Beira-Mar chefia o Comando Vermelho de dentro das penitenciárias de segurança máxima por onde passa. "Além de milicianos e advogados, um grupo de policiais corruptos e ex-policiais auxiliaria a rede mantida por Luiz Fernando, especialmente na facilitação da chegada de entorpecente ao Rio".

O documento mostra que não há separação ideológica entre as facções de milicianos e traficantes. "Apesar de pertencer ao colegiado de lideranças do CV, chefiando grupos de traficantes estabelecidos nas fronteiras do país, e aparentar não se relacionar com policiais (filosofia da facção), esta coordenadoria de Inteligência não descarta a hipótese de Fernandinho se aliar ou contratar milicianos para o cometimento de ações criminosas".
Serralho foi assassinado a tiros em frente à casa dele em Curicica, em agosto de 2016. Em outro caso importante, a polícia voltou a se deparar com milícia do bairro em outubro de 2017, quando houve a prisão do ex-policial acusado de chefiar o grupo. Orlando Oliveira de Araújo, mais conhecido por Orlando Curicica, é suspeito de envolvimento na execução da vereador Marielle Franco, morta com quatro tiros na cabeça em março passado. Atrás de alguma pista, os investigadores rastreiam as ligações e contatos do telefone celular de Orlando, apreendido no momento de sua prisão.

A suspeita de participação de milícias na morte de Marielle só indica que o grupo criminoso está cada vez mais forte e, pior, agora associado ao tráfico. É o que o livro Rio sem Lei, lançado em junho, chama de surgimento das "narcomilícias". A ousadia desse bando não tem limites. O delegado da Polícia Civil Alexandre Capote, personagem do livro, que combateu os milicianos, está com a cabeça a prêmio. Mesmo fora de atividade policial, trabalhando no Tribunal de Justiça, Capote precisa de escolta armada para sobreviver. Ele se tornou a única testemunha viva contra milicianos presos na Operação Capa Preta, que vem desde 2010. Juíza que atuou na investigação, Daniela Barbosa Assunção confirma no livro o florescimento dos narcomilicianos.

ÉPOCA publica abaixo trechos de Rio sem Lei que falam do surgimento da facção. Na obra, alguns nomes foram omitidos ou trocados por segurança dos autores, e também das testemunhas.
* * *
"Capítulo 15O surgimento das narcomilícias com a união de milicianos e traficantes"
No final de 2011, um relatório reservado do Ministério Público anunciava o impensável: o casamento entre duas facções outrora inimigas de sangue. A milícia e o tráfico fecharam um acordo com as bênçãos de seus respectivos chefes, os irmãos Minho e Lino e Fernandinho Beira-Mar. Pela parceria que estabeleceram, o Comando Vermelho pagaria advogados para os presos da Liga da Justiça. Em troca da ajuda, os traficantes receberiam a cooperação dos milicianos no esquema de venda de drogas em bairros e favelas cariocas.
Os chefes da milícia queriam assistência jurídica para deixar as penitenciárias federais o quanto antes. Eles desejavam cumprir o resto da pena em alguma cadeia do Rio de Janeiro. Nelas, estariam próximos não só da família, mas do território onde ainda causavam terror. Recluso em Campo Grande (MS), o genro de Minho sonhava com a transferência mais do que todos, segundo dizia o relatório do Ministério Público. Ele entrou em contato com advogados de Beira-Mar para executar o plano. Em 2008, o miliciano escapara facilmente de um cárcere fluminense, certamente a boa lembrança da fuga o animava a voltar. ..."


Rio sem Lei
Autores: Hudson Corrêa e Diana Brito
Geração Editorial
2018



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quarta-feira, 23 de maio de 2018

Simulacro de democracia

Não há a menor perspectiva de um desfecho para o drama venezuelano, seja pelas urnas, seja por um golpe de Estado perpetrado pelos militares

Nicolás Maduro foi reeleito presidente da Venezuela, no domingo, com 5,8 milhões de votos, mais do que o triplo de seu principal adversário, Henri Falcón, que obteve 1,8 milhão de votos. A eleição só atraiu 46% do eleitorado.  “Nunca antes um candidato havia ganho com 68% dos votos. Nocaute”, disse Nicolás Maduro pouco depois de sua vitória ter sido declarada pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE).

O Brasil e mais 13 países que integram o chamado Grupo de Lima divulgaram declaração conjunta em que afirmam não reconhecer o resultado da eleição na Venezuela “por não estar em conformidade com os padrões internacionais de um processo democrático, livre, justo e transparente”. O grupo estuda a adoção de sanções diplomáticas e econômicas que podem isolar ainda mais o regime chavista.  A posição do Brasil no caso é um avanço digno de nota. Não é difícil imaginar o apoio que Nicolás Maduro e o regime chavista teriam caso o País ainda estivesse entregue à inépcia de Dilma Rousseff.  Fosse em um país genuinamente livre, onde valem preceitos caros à democracia, como eleições limpas e oposição independente, os venezuelanos dificilmente renovariam o mandato de um dos responsáveis pela maior tragédia política, econômica e humanitária da América Latina em muitas décadas.

Mas fraudar uma eleição já é parte essencial do chavismo. O chamamento do povo às urnas é somente uma demão de verniz de democracia na crosta de uma das mais cruéis ditaduras de um continente que sabe muito bem reconhecer quando está diante de uma delas. Mas até este simulacro de democracia pode estar em risco com a reeleição de Nicolás Maduro, cujo novo mandato vai até 2025. A espiral do arbítrio já não ilude ninguém.
Henri Falcón denunciou mais de 900 irregularidades no pleito. As mais graves delas foram as ameaças de milicianos ligados ao governo e a instalação dos “postos de informação e controle” do regime chavista a cerca de 200 metros dos locais de votação.

Sem armas à vista, mas paramentados com o tradicional uniforme preto, milicianos chavistas bateram de porta em porta nas favelas de Caracas para “recomendar” o voto em Nicolás Maduro. A reportagem do Estado apurou que os milicianos ameaçavam retaliar à bala os que fossem contra a manutenção do que chamam de “revolução”, caso o presidente não fosse reeleito. De acordo com o candidato derrotado, quem registrava o seu voto nos chamados “postos vermelhos” recebia 10 milhões de bolívares, cerca de 12 dólares, ou quatro vezes o salário mínimo. “Não houve eleições e é necessária uma nova votação. Prometeram 10 milhões de bolívares a quem registrar seus votos nos ‘postos vermelhos’. Não podemos vender nossa dignidade”, afirmou Henri Falcón.

Em um país de miseráveis, onde crianças, adultos e idosos disputam comida com animais nas ruas e um prosaico pote de sorvete chega a custar o equivalente a 1.200 tanques de combustível, o sigilo do voto não toca a consciência cívica dos que têm o estômago roncando.  Traço distintivo da atual feição do chavismo é a cooptação dos militares em níveis ainda mais profundos do que aqueles vistos ao tempo do coronel Hugo Chávez. No passado, as Forças Armadas venezuelanas atuavam como uma espécie de poder moderador durante as crises, mas hoje estão de tal forma ligadas ao regime, ocupando altos cargos políticos e administrativos em empresas estatais, que seus destinos estão umbilicalmente ligados à sorte do atual governo.

Não há, portanto, a menor perspectiva de um desfecho para o drama venezuelano, seja pelas urnas, seja por um golpe de Estado perpetrado pelos militares. E cada triunfo do caudilho em sua escalada de arbítrios é uma fragorosa derrota para todos aqueles que sonham com o fim da crise que destrói a Venezuela sob o jugo chavista.

Editorial - O Estado de S. Paulo - Coluna Augusto Nunes - VEJA

 

domingo, 6 de maio de 2018

Miséria explorada



O desabamento do edifício em São Paulo ocupado por uma dissidência do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) explicitou o descaso das autoridades públicas que, além de não terem programas habitacionais para combater a tragédia da falta de moradia, não fiscalizam os pardieiros invadidos por uma centena de movimentos ditos sociais, mas que, em sua maioria, se transformaram em milícias urbanas, arrancando dinheiro de quem não tem nem para viver.

Por outro lado, o principal movimento, o MTST, que ganhou notoriedade pelo protagonismo de Guilherme Boulos no cenário político nacional, não atua para coibir essas verdadeiras quadrilhas que se aproveitam dos que o candidato à presidência do PSOL alega representar e proteger. [o que interessa ao Boulos é sua carreira política,  que ele acredita vai deslanchar, ainda que sob o patrocínio do PSOL  e pós desmonte da farsa Lula e inicio da revelação de que os tais movimentos sociais são verdadeiras quadrilhas - aliás o exército do general da banda Stédile não faz nada de efetivo para defender Lula e o exército do coronel Boulos, também ficará omisso? - que extorquem os que nada possuem -  apesar de entre os realmente necessitados de moradias, existe dezenas de invasores profissionais.] 
 
O máximo que Boulos conseguiu fazer foi uma declaração de solidariedade, e garantir, estranhamente, que nunca havia ouvido falar nesse movimento que extorquia dinheiro dos sem teto que ele pretende liderar. E ainda deu-se ao luxo de criticar “os que querem se aproveitar de uma tragédia para fazer política”.  Se não sabe da existência desse e de outros movimentos semelhantes, no mínimo é um relapso, pois deveria ter informações sobre os que atuam no seu terreno, desmoralizando uma campanha que se anuncia como séria e defensora dos direitos humanos dos que não tem casa para morar.

Boulos e seus assessores tinham, na verdade, obrigação de denunciar esse tipo de gente que se aproveita da miséria alheia. Poderiam aproveitar o acesso que têm às autoridades para propor uma campanha conjunta de moralização desses cortiços, ocupados muitas vezes por quadrilhas de bandidos que encontraram neles um novo filão para ganhar dinheiro ilegalmente, da mesma maneira que vendem drogas dentro das ocupações e facilitam instalações clandestinas, os chamados gatos, que acabam provocando tragédias como a do edifício Wilton Paes de Almeida.  Esses grupos, que no limite são ligados a facções criminosas, assemelham-se às milícias que atuam nas comunidades pobres e favelas do Rio, e precisam ser combatidos. A união de milicianos com traficantes, que a polícia paulista está investigando e a intervenção no Rio está combatendo arduamente, é uma ameaça a toda a sociedade. 
 
Guilherme Boulos teria credibilidade para cobrar da prefeitura atitudes mais eficazes para transformar esses prédios invadidos em moradia barata, com direito à fiscalização dos poderes públicos. A prefeitura de São Paulo, em versões recentes ou mais remotas, desde 1997, quando ocorreu a primeira invasão do MTST em um prédio público de São Paulo, têm responsabilidade maior ainda, pois não podem governar apenas para uma parte da população, esquecendo os que são explorados e permanecem vivendo como animais.

Se Guilherme Boulos não se dedicasse tanto à política partidária, e tivesse uma visão mais ampla do que seja uma verdadeira ação política, não permaneceria em Curitiba prestando homenagem a Lula, esperando receber migalhas do espólio do lulismo. E usando os miseráveis que o seguem com fins partidários, colocando-os à disposição da luta política do ex-presidente.  O presidente Michel Temer, já escrevi aqui, não deveria ter ido aos escombros, por ser uma clara ação política indevida, num ambiente hostil. Mas Boulos tinha obrigação de lá estar presente, e de denunciar a extorsão que estava em curso, distorcendo o sentido da ação social que ele alegadamente lidera.

Dizer que nunca ouviu falar desse movimento, e de diversos outros espalhados pelo país, não é suficiente para expiar sua irresponsabilidade. Afinal, um verdadeiro líder tem obrigação de denunciar os que se aproveitam de situações miseráveis para explorar o próximo. Ou basta denunciar as autoridades burguesas e os capitalistas desalmados para justificar sua atuação política? 


Merval Pereira - O Globo
 

terça-feira, 1 de maio de 2018

“Armaram para o tráfico voltar”

O fracasso da 1ª intervenção em favela 

Na noite de 11 de outubro de 1993, o coronel Carlos Frederico Cinelli, atual porta-voz do Comando Militar do Leste, era o oficial de dia no 24º Batalhão de Infantaria Blindado (BIB) quando mais de 50 traficantes começaram a trocar tiros perto do campo de futebol da favela Roquete Pinto, na Zona Norte do Rio de Janeiro. “Era antes do piscinão de Ramos, onde tinha uma rua que fazia a divisão entre os territórios de cada facção”, disse o cabo Joel Carlos Santana, que integrava a segunda companhia na “guarda leste” no momento do tiroteio. Aos 45 anos, atualmente trabalha como eletricista. Uma bala acabou acertando a perna do soldado André Barbosa Pegado, que aguardava sentado a sua vez de assumir o posto de sentinela no 24º BIB. Esse fato mudou o destino da favela Roquete Pinto.

O comandante militar do Leste à época, general Rubens Bayma Denys, mandou abrir um Inquérito Policial Militar para investigar a ocorrência. O documento serviu de álibi para o coronel Marco Antonio Auvray Guedes, aos 47 anos, iniciar e manter por 11 meses — a primeira incursão do Exército contra o tráfico de drogas numa favela do Rio de Janeiro: a chamada Operação Fênix.  Em vez de usar armas, infiltrou três espiões na favela: um se passava por vendedor de bonecos de pelúcia com câmeras no lugar dos olhos, o segundo ajudava a descarregar botijões de gás de um caminhão; o terceiro consertava as tubulações de esgoto, disfarçado com o uniforme da prefeitura. “Em três dias eu tinha 47 nomes na minha mão”, afirmou o coronel.

“Juntei cinco homens da Polícia Civil, cinco da PM, cinco da PF, cinco do Batalhão de Forças Especiais do Exército e cinco meus”, contou. “Dei o nome de Centro de Operações Táticas, o COT.” Além disso, cerca de 40 homens da PM e dos Bombeiros, além de médicos, agentes da Defesa Civil e veterinários, foram cedidos pelo governador Leonel Brizola e pelo prefeito Cesar Maia, a pedido do coronel.  A operação foi marcada para 1h45 da madrugada. Houve quem achasse melhor por volta das 6 horas, mas o coronel tinha justificativa: o horário que escolheu era o “pico do movimento da droga”, disse. “Era quando o cara estava começando a receber o dinheiro, a fazer a contabilidade e a vender para os clientes remanescentes de um tráfico que havia começado às sete horas da noite.”

No horário combinado, as equipes foram divididas para capturar os alvos espalhados pela favela. “Só coloquei uma imposição”, lembrou Guedes. “Não quero nenhum morto.” Caso houvesse a necessidade de usar as armas, a ordem do coronel era sucinta: “Joelho e perna”, dizia aos soldados. “Se quiser dar continuidade a um trabalho desse, você não consegue começar em cima de um banho de sangue”, disse. No fim, não houve mortos, mas 17 feridos foram levados para o Hospital Getulio Vargas, na Penha. Segundo o militar, todos eram ligados ao tráfico.   Guedes acompanhou o tratamento de cada um. Na visão do coronel, os traficantes eram também “filhos, amigos, irmãos, cônjuges ou empregadores da comunidade” — a desgraça deles significaria comprar briga com a população da Roquete Pinto, o que Guedes queria evitar. “Você nunca vai dominar uma comunidade sem o apoio total da população.” O método do coronel incluía convencer os delegados a indiciar os presos por formação de quadrilha, tráfico e associação para o tráfico. “Para não serem soltos logo em seguida.”

O problema é que a quadrilha era também composta por 62 crianças, que atuavam como vapores, aviões e soldados. Com exceção de Pedrinho — que tinha quatro assassinatos no currículo e foi mandado para uma casa de correção — todas as outras foram obrigadas pelo coronel a participar de um grupo escoteiro.  Como as famílias das crianças viviam com a renda do narcotráfico, Guedes decidiu negociar, com uma vereadora, vagas em cursos profissionalizantes, além de mapear oportunidades no comércio local. “Não abria uma vaga profissionalizante se não tivesse o emprego garantido”, contou. Conseguia atender uma média de 30 adolescentes por curso. Com a favela livre dos principais gerentes e chefes do crime — quem não foi preso fugiu para a favela da Varginha, ali perto —, Guedes teve passe livre para entrar na comunidade. Descobriu que a cocaína era distribuída em quentinhas, todas as sexta-feiras. Encontrou lixo espalhado pelos becos e organizou grupos de limpeza. O esgoto corria a céu aberto. Doenças de pele, viroses e tuberculose eram comuns. Buscou mutirões e atendimento médico comunitário.

Até agosto de 1994, os militares passaram a entrar todos os dias na comunidade, dia e noite, de surpresa, incluindo os feriados. Quando notavam uma multidão reunida em bares ou praças, convidavam os moradores a posar para uma “fotografia para a posteridade”, nas palavras do coronel Guedes — tática para mais tarde localizar criminosos remanescentes.
O lixão do batalhão se transformou em horta comunitária. O lixo da comunidade foi resolvido com dois latões por beco, recolhidos pela Comlurb, a pedido de Guedes, todas as manhãs. Quarenta toneladas deixaram a favela no primeiro dia. Guedes mandou analisar o lixo para descobrir mais sobre o estilo de vida dos moradores da comunidade.

Em 11 meses, a vida na favela mudou. Os jornais anunciavam o sucesso da empreitada de um homem solitário. “O coronel Guedes mudou o batalhão”, lembrou o cabo Joel. “E mudou a cara da Roquete Pinto da água para o vinho sem disparar um tiro.”  Numa tarde de julho de 1994, por volta das 15 horas, o coronel Guedes recebeu um telefonema em seu gabinete. Do outro lado da linha, uma voz masculina se apresentou como advogado do chefe do tráfico na região, alguém a quem chamou de John Wayne, e que estaria preso no presídio Ary Franco, em Água Santa. “Ele estava se referindo ao capo daquelas favelas”, disse Guedes. Segundo conta, eram 19 as bocas de fumo na Roquete Pinto e em Ramos naquela época. “Ele disse: ‘Coronel, meu cliente disse para oferecer ao senhor uma quantidade de dinheiro para o senhor dar um mole para o tráfico voltar. Estamos com prejuízo de milhões de reais com a venda de droga nessa área aí’”, contou Guedes, acrescentando: “Foi muito dinheiro, mais de um milhão”. Mas o coronel recusou. Na sequência, ouviu: “Até agosto, o senhor está fora do comando”.

Com as mãos sobre o tampo de vidro, o coronel Guedes fez uma pausa, respirou e admitiu: “O que ele disse aconteceu. Em agosto, saí do comando”.  A remoção do coronel do comando do 24º BIB veio por ordem do ministro do Exército, o general Zenildo de Lucena. Não houve despedida nem passagem de comando. “Fiquei surpreso. Foi de repente.” A justificativa veio por meio do comandante da 5ª Brigada de Cavalaria Blindada, general José Gualter Pinto, desafeto de Guedes: “A desculpa que me deram foi a seguinte: ‘Você está sendo exonerado para te preservar’”, disse o coronel. “Naquele primeiro momento, achei que era porque queriam me matar. Mas me lembrei do telefonema na mesma hora”, continuou. “Sei que armaram. Sei que foi feita uma grande armação para o tráfico voltar.”

Os trabalhos na comunidade foram imediatamente interrompidos. O Exército proibiu operações dentro das vielas. “Começaram a desmontar lá dentro tudo o que eu tinha feito”, declarou Guedes. “Soube pelos jornais que tudo foi destruído.” Depois que foi removido do posto, seis moradores que eram próximos ao coronel foram assassinados.  Guedes foi transferido para o comando da 2ª Brigada de Infantaria Motorizada, em Niterói. Seis meses depois, recebeu a visita do ministro Lucena. “Ele pediu desculpas”, declarou. “Disse que cometeu um grande erro e que foi enganado, mas não disse quem o enganou.” O coronel foi então levado ao 24º BIB, uma despedida oficial foi organizada em sua homenagem, e ele recebeu a Medalha do Mérito Militar, a mais alta do Exército. Lucena morreu em março de 2017. Atualmente, a favela Roquete Pinto é dominada por milicianos.

Revista Época 

 

domingo, 1 de abril de 2018

Dez anos após CPI, milicianos reocupam e aterrorizam o Rio de Janeiro



Passados dez anos da CPI das Milícias da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro --que indiciou mais de 200 pessoas--, esses grupos paramilitares ampliaram seu protagonismo no Estado. A investigação parlamentar apontou envolvimento de policiais, agentes penitenciários e bombeiros, além de políticos que os protegiam, e resultou na prisão de alguns dos seus principais chefes. A atividade criminosa, porém, continuou. 

Símbolo do Batman demarca território da milícia na zona oeste do Rio de Janeiro... - Veja mais em https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia-estado/2018/04/01/apos-cpi-milicianos-reocupam-o-rio.htm?cmpid=copiaecola


Símbolo do Batman demarca território da milícia na zona oeste do Rio de Janeiro


Agora, esses grupos exibem publicamente a sua força, apesar de o tráfico de drogas dominar as atenções em razão dos constantes tiroteios.  Segundo o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL), que presidiu a CPI e até hoje circula com seguranças armados por causa das frequentes ameaças, as milícias já dominam território maior que o de traficantes. Dez anos depois da comissão, afirma ele, o desafio é monitorar os milicianos que foram presos e estão saindo. 

“A CPI citou mais de mil nomes, e todo o primeiro e o segundo escalões das milícias foi preso. Agora as pessoas estão saindo - e têm de sair mesmo, ninguém está propondo pena perpétua. Mas evidentemente elas precisam ser monitoradas. ”

Há uma semana, milicianos mataram cinco jovens de 16 a 19 anos, com tiros na cabeça, em Maricá, na região metropolitana. Os assassinos gritaram "aqui é milícia, vamos voltar" e fugiram.



Homens fortemente armados foram flagrados pela TV na comunidade Bateau Mouche após tiroteio
Homens fortemente armados foram flagrados pela TV na comunidade Bateau Mouche após tiroteio... - Veja mais em https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia-estado/2018/04/01/apos-cpi-milicianos-reocupam-o-rio.htm?cmpid=copiaecola


Trata-se de uma prática comum entre milicianos: aterrorizar a população e, na sequência, cobrar por serviços, como a venda de gás de cozinha em botijões a preços extorsivos, comércio ilegal de sinal de internet e TV a cabo e exploração de agiotagem. Filmada de um helicóptero de TV na manhã seguinte à chacina, a ação de milicianos em Bateau Mouche e Chacrinha foi outra prova da ousadia. Armados com fuzis e pistolas, eles trocaram tiros com traficantes. Nas imagens, há homens com uniformes iguais ao da PM. A corporação investiga se eram policiais ou criminosos comuns com fardas. A execução da vereadora Marielle Franco (PSOL), no dia 14, na região central do Rio, também pode ter sido ação de milicianos, no estilo das máfias. O fato de ela e o motorista terem sido atingidos, apesar dos vidros escurecidos, denunciou a perícia do atirador, provavelmente profissional. Antes de ser vereadora, Marielle atuou como assessora parlamentar na CPI.

(...)

Inicialmente, as milícias eram vistas como grupos que "limpariam" as comunidades dos traficantes e de criminosos sem precisar se preocupar com o respeito às leis. Quando dominaram as localidades, porém, a conversa mudou.

"Viraram um bando criminoso comum, fazem atrocidades como o tráfico faz, extorquindo como a máfia dos anos 1950 nos Estados Unidos. Agem à luz do dia, uniformizados. Quem não aceita é punido: eles põem fogo no estabelecimento, destroem cargas, matam."

Jorge Luís Furquim, promotor que investiga milícias há 15 anos.

(...)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo