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quarta-feira, 10 de agosto de 2022

As verdades inconvenientes de Jordan Peterson - Ana Paula Henkel

Revista Oeste

Jordan Peterson | Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock
Jordan Peterson | Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock

Na edição da semana passada, escrevi aqui em Oeste sobre a mais recente tentativa de cancelamento de uma figura pública, o ator Juliano Cazarré, por defender a família, as tradições, o Cristianismo e o exemplo de figuras paternas como São José. Cazarré não se abateu diante de xingamentos e ofensas que recebeu durante uma live em seu Instagram, e o ocorrido serviu para mostrar — mais uma vez — quanto as pessoas estão exaustas de tantas guilhotinas covardes e do cerceamento de opiniões livres. 

Durante seu desabafo, o ator mencionou outra figura pública constantemente atacada pela atual turba de jacobinos, um dos maiores pensadores contemporâneos, Jordan Peterson. O psicólogo canadense tem alertado já há alguns anos sobre o perigo da demonização da masculinidade e o enfraquecimento proposital das qualidades de homens de bem.

Para Peterson, um dos prováveis campeões de cancelamentos de toda a internet, a receita é a mesma: assassinato de reputação e destruição de seus livros. Foi assim com 12 Regras para a Vida: um Antídoto para o Caos e, recentemente, com Além da Ordem: Mais 12 Regras para a Vida, sequência de seu best-seller anterior. Entre tantas verdades inconvenientes que o professor canadense insiste em apontar, Peterson, que já foi acusado de “defender a supremacia branca”, “encampar discursos de ódio” e “transfobia”, afirma com todas as palavras que a masculinidade está sob ataque, e que isso é um perigo sem precedentes não apenas para nossa sociedade, mas para o Ocidente como um todo.

A vida cotidiana, regada a altas doses de dopamina, não nos possibilita o entendimento de que existe uma cadeia de ordem e aceitação do caos

Para aqueles que querem se aventurar em águas intensas com Jordan Peterson, sua primeira publicação é o espetacular Mapas do Significado: a Arquitetura da Crença, sua verdadeira obra-prima, escrita em 1999. O livro aborda de maneira profunda as crenças humanas e como elas influenciam nosso comportamento diário. Mergulhando na neurociência, na psicanálise e nas comparações das religiões, Peterson defende como uma estrutura biopsíquica nos impele ao conhecimento e à ordem, necessários para o autoconhecimento, o autocontrole e o crescimento, e nos protege do estado latente de caos. Articulando com habilidade a psicologia junguiana, a filosofia de Nietzsche e as criações literárias de George Orwell (mais atual do que nunca!) e Dostoiévski, Jordan Peterson demonstra a inevitabilidade do sentimento religioso e expõe as raízes obscuras da perversão totalitária. Suas descobertas e estudos, catalogados diante de centenas de pacientes ao longo de décadas, são chocantes e têm relevância tanto para a condução da vida cotidiana como para a análise das disputas político-ideológicas.

Mas você não precisa mergulhar nas quase 700 páginas de Mapas do Significado: a Arquitetura da Crença para entender a importância e a profundidade das lições da obra de Jordan Peterson. A simplicidade de seus argumentos em textos, artigos e centenas de vídeos espalhados pela internet bate espetacularmente forte em nossa atual vidinha protegida por plástico bolha que não quer enxergar o óbvio: “Arrume o seu quarto antes de querer consertar o mundo”. A vida cotidiana, regada a altas doses de dopamina, não nos possibilita o entendimento de que existe uma cadeia de ordem e aceitação do caos. Na era do prazer, Jordan Peterson mostra que, embora seja importante que não nos afundemos no caos, devemos aceitar que é impossível escapar dele. Precisamos, por isso, “manter um pé na ordem enquanto experimentamos esticar o outro para além dela”.

Para uma geração viciada no imediatismo, forjada em estruturas tênues de amizades, parceiros, namorados, empregos… envolta em um círculo de memórias efêmeras, Jordan Peterson provoca com um tapa de realidade: “Tenhamos alguma humildade. Arrumemos o quarto. Cuidemos da família. Sigamos a consciência. Endireitemos a vida. Encontremos uma coisa produtiva e interessante para fazer e comprometamo-nos com ela. Quando conseguirmos fazer isso tudo, então procuremos um problema maior para resolver, se nos atrevermos. Se também isso funcionar, avancemos para projetos ainda mais ambiciosos. Mas comece arrumando seu quarto primeiro”.

Seria impossível escrever apenas em um artigo sobre todas as portas que as lições incômodas de Jordan Peterson abrem. No entanto, seu mais recente vídeo colocou o dedo em mais feridas abertas que precisam de curativos. Uma delas foi a maldita sinalização de virtude que saiu dos perfis dos justiceiros sociais da internet e infestou igrejas cristãs, minando outro pilar importante de sustentação do Ocidente. Eu não faria justiça explicando apenas os pontos-chave de um vídeo espetacular de quase dez minutos e que desnuda — mais uma vez e de maneira brilhante e honesta — a hipocrisia do politicamente correto e da vil agenda de intimidações. Amigos queridos, com vocês, mais uma espetacular e necessária mensagem de um dos maiores filósofos de nosso tempo, Jordan Peterson:

“No Ocidente, devido ao peso da culpa histórica que está sobre nós, uma variante do sentido do pecado original, em um sentido muito verdadeiro e devido a uma tentativa muito real por parte daqueles em posse do que poderia ser descrito como ‘ideias inúteis’ para instrumentalizar essa culpa, nossos jovens enfrentam uma desmoralização que talvez não tenha paralelo.

Isso ocorre de maneira particular aos homens jovens, embora qualquer coisa que devastar os homens jovens acabará fazendo o mesmo às mulheres jovens. E, nessa era de antinatalismo e de niilismo igualmente repreensível, essa é precisamente a intenção. Quando crianças, os meninos são agredidos pelas suas preferências de brinquedos, que muitas vezes incluem armas de brinquedo, como armas de fogo. É seu estilo de brincar mais agitado, já que garotos demandam brincadeiras mais ativas, crespas e indelicadas, bem mais que as meninas — para as quais essa também é uma necessidade.

Quando na escola primária, os rapazes são admoestados, envergonhados e controlados de maneira muito semelhante por aqueles que acham que o lúdico é desnecessário, especialmente se for competitivo, e que valorizam uma obediência dócil e inofensiva acima de tudo. Some-se a isso — porque tudo isso ainda não é suficiente, mesmo quando praticado assiduamente, para uma desmoralização completa — a pregação de uma ideologia extremamente prejudicial, que consiste essencialmente em três acusações:

— Acusação número um: A cultura humana, particularmente no Ocidente, é melhor interpretada como um patriarcado opressivo, motivado pelo desejo, vontade e capacidade de usar o poder — “poder” definido como a compulsão dos outros contra suas vontades — para atingir fins puramente egoístas que servem para si. Isso seria tido como verdade em todos os níveis de análise. O casamento seria comparado à escravidão. A amizade à exploração. Discordância política à guerra. E acordos comerciais a enganos e roubo. E isso seria a verdade não apenas dos atuais arranjos sociais que caracterizam nossa cultura, especialmente no Ocidente, mas também a própria realidade fundamental da História em si.

Jordan Peterson | Foto: Gage Skidmore/Flickr

— Acusação número dois: A atividade humana, em particular a empreendida no Ocidente, é fundamentalmente caracterizada por iniciativas de espoliação do planeta. A raça humana seria uma ameaça à “utopia ecológica” que existia antes de nós, e que hipoteticamente poderia existir em nossa ausência. Podemos ser interpretados até mesmo como um câncer, que ameaça a própria viabilidade dos complexos sistemas que compõem o ecossistema da terra que nos abriga e sustenta. Estaríamos diante de uma catástrofe malthusiana de superpopulação e degradação da biosfera, e temos de impor limites extremos a nossos desejos, até mesmo às nossas necessidades, para que nossa própria sobrevivência, ainda que em escala muito reduzida, possa ser ‘garantida’.

— Acusação numero três: O principal colaborador, tanto da tirania que engendra o patriarcado opressivo e estrutura todas as nossas interações sociais, passadas e atuais, quanto da imperdoável espoliação de nossa amada “Mae Terra”, seria a maldita “ambição masculina” — competitiva e dominante, fanática por poder, egoísta, abusadora, estupradora e usurpadora.

Você pode pensar que eu esteja exagerando. Pense de novo, florzinha.

Nós, do Ocidente, estamos enfrentando um ataque desenfreado nos níveis mais profundos daquilo que o velho brincalhão Jacques Derrida considerava a ‘estrutura conceitual falogocêntrica’ da própria civilização. Vamos esmiuçar isso: essa seria uma sociedade centrada no espírito encorajador, aventureiro e masculino. E que dá ‘privilégio’ — essa palavra odienta —, acima de tudo, ao logos divino. E o que exatamente nós deveríamos adorar e venerar ao em vez disso, desconstrucionistas? As palavras daquele genocida, Karl Marx?

E são precisamente esses jovens homens, dotados de consciência profunda, capazes de culpa e arrependimento, que passaram a acreditar, doloridos, que cada impulso profundo que nos move mundo afora para a aventura de suas vidas, mesmo aquele impulso que os atraía para as mulheres, nada mais é do que a manifestação de um espírito que seria essencialmente satânico por natureza. Isso não está somente errado em campo teológico, moral, psicológico, empírico e científico, como também é literalmente uma antiverdade.

Não é mero equívoco acerca da natureza da realidade, um leve deslize conceitual, mas algo que literalmente não poderia estar mais longe da verdade. E algo tão distante assim da verdade vem de um lugar indistinguível do inferno. A igreja cristã existe para lembrar as pessoas, inclusive os jovens homens — e talvez até mesmo primeira e principalmente eles —, que eles têm uma mulher a buscar, um jardim a entrar, uma família a ser sustentada, uma arte a ser praticada, uma terra a conquistar, uma escada para os Céus a ser erguida… e a absolutamente terrível catástrofe da vida a ser enfrentada, impassivelmente, em verdade, devotados ao amor e sem temor.

Convidem os homens jovens de volta. Digam, literalmente, a esses homens jovens: ‘Vocês são bem-vindos aqui. Se ninguém mais deseja o que vocês têm a ofertar, nós queremos. Queremos chamá-los para o mais alto propósito de suas vidas. Queremos seu tempo, energia e esforço, sua vontade — e sua boa vontade. Queremos trabalhar com vocês para tornar as coisas melhores; para produzir vida mais abundante para você, para sua esposa e filhos, para sua comunidade, e para seu país e o mundo. E nós temos nossos problemas na nossa igreja cristã. Somos moribundos e às vezes — às vezes demais — corruptos, por vezes até mesmo profundamente. Estamos atrasados, tal qual todas as instituições que têm suas raízes nos que estão mortos — mas, de qualquer forma, ficamos para trás em muitos casos. Portanto, junte-se a nós. Nós te ajudaremos a se levantar, e você pode ajudar a nos levantar. E, juntos, levantaremos nosso olhar para o alto.’

E aqui vai uma mensagem a esses jovens homens, céticos quanto a tais coisas. O que mais você tem? Você pode abandonar as igrejas em seu cinismo, sua descrença. Você pode dizer para si mesmo, de modo narcisista e solipsista: ‘A igreja não representa o que eu acredito de maneira apropriada’. Quem se importa com o que você acredita? Por que tudo precisa tratar de você? Você realmente quer que tudo trate a respeito de você? Mas e se for a respeito dos outros? E se fosse a respeito do seu dever para com o passado e para com a comunidade mais ampla que o cerca no presente? E se fosse incumbência sua, vital para a sua saúde e para sua vontade até mesmo de viver, resgatar o seu pai morto da barriga do monstro na qual ele se encontra desde sempre, e restaurar-lhe a vida?

Uma vez mais, uma mensagem às igrejas — protestantes (vocês são os piores no momento), católica, ortodoxa: convidem os homens jovens. Afixem cartazes em quadros de avisos. Digam: ‘JOVENS HOMENS SÃO BEM-VINDOS AQUI!’. Imprimam panfletos e coloquem-nos numa caixa ao lado do quadro de avisos. Sinalizem a existência de tais panfletos com uma seta contendo os dizeres: ‘Saiba mais sobre como participar aqui’. Diga àqueles que nunca estiveram em uma igreja como proceder, exatamente. Os trajes a se vestir, quando devem comparecer, quem devem contatar. E, mais importante, o que eles podem fazer. Exijam MAIS, não menos, daqueles que vocês convidam. Exijam mais do que qualquer um que já exigiu deles. Lembrem-nos de quem eles são, no sentido mais profundo, e os ajudem a se tornarem quem podem ser.

Vocês são igrejas, pelo amor de Deus. Parem de militar por ‘justiça social’. Parem de tentar salvar o maldito planeta. Auxiliem as almas. É para isso que vocês servem. É só seu dever sagrado. Façam-no. Agora. Antes que seja tarde demais, pois a hora está próxima.”

Salve, Jordan Peterson!

Você pode encontrar esse vídeo sob o título Mensagem às Igrejas Cristãs (Message to the Christian Churches) em qualquer ferramenta de busca. Se você puder, mostre-o para um padre, um pastor, para um amigo pai de meninos e até mesmo para um jovem que parece se encontrar em um transe causado pelo bombardeio imediatista da felicidade instantânea — seja ela provida pela falsa aceitação das redes sociais ou pela moda dos antidepressivos. Para todos nós, Peterson deixa a vital mensagem aos pais:

“É na responsabilidade que a maioria das pessoas encontra o sentido que as sustenta ao longo da vida. Não é na felicidade. Não é um prazer impulsivo. Adotar a responsabilidade por seu próprio bem-estar, tentar reunir sua família e tentar servir sua comunidade e buscar as verdades eternas para vivê-las. Esse é o tipo de coisa que pode ancorar você em sua vida o suficiente para que você possa suportar as dificuldades da vida. Vocês querem fazer com que seus filhos estejam seguros ou que sejam fortes?”

Em um mundo alterado por egos inflados, amizades por interesse e até conflitos supérfluos que estão desmantelando famílias inteiras, há um fio da obra de Peterson que nos convida a uma reflexão honesta em explorar e absorver o que é significativo, não o que é conveniente.

Leia também “Vai ter bandeira, sim!”

Ana Paula Henkel, colunista - Revista Oeste

 

segunda-feira, 25 de maio de 2020

Vídeo, mentiras e palavrões: uma ideia de como estamos sendo governados - Fernando Gabeira

O Globo

É raro ver um filme, depois de ler seu argumento e roteiro. Você sabe o que vai acontecer. No entanto, desconhece como os atores vão representar o texto, como reagirão às falas, como se movimentam no espaço cênico. O famoso vídeo da reunião do Conselho de Ministros já foi vazado a ponto de termos uma ideia de como transcorreu. Sim, havia dúvidas sobre os palavrões. Como foram ditos, com que expressão facial, em que contexto, que tipo de olhar suscitaram.

Tenho impressão de que o vídeo veio na íntegra. O corte da fala de Weintraub é tão óbvio que todo mundo percebe o que disse: não queria ser escravo do PC chinês. Talvez seja uma das frases mais inocentes de todo o texto. Não foi uma reunião de Conselho de Ministros tal como a supomos. Foi mais parecido com uma pajelança, uma tentativa de Bolsonaro de animar seu Ministério. O debate mesmo era sobre o plano Pró-Brasil. O trecho básico, que interessa ao processo nascido com a queda de Moro, é o que afirma que não vai deixar sua família se foder, nem seus amigos. Por isso, mudaria até o ministro se necessário. Mudou o superintendente da Polícia Federal, e Moro caiu em seguida.

O nível das intervenções de Bolsonaro é bastante singular se cotejado com os documentos de reuniões presidenciais. Um dos momentos mais dramáticos foi afirmar que, se a esquerda vencesse, todos estariam cortando cana e ganhando 20 dólares por mês. Como escritor, o que mais me impressionou foi a maneira como figurou a perda da liberdade: “Eles querem nossa hemorroida”, disse. Da primeira vez, hesitei. Seria isso mesmo? De onde tirou a hemorroida para expressar a perda da liberdade, não tenho a mínima ideia. Os analistas talvez nos ajudem. A divulgação na íntegra, exceto referência aos chineses, deu uma boa ideia de como estamos sendo governados. Não apenas pelas palavras escolhidas, mas pela falta de conexão, de uma liderança que tivesse a agenda na cabeça e tentasse trabalhar o Ministério no conjunto como o maestro que rege uma orquestra afinada. 

(.....)
O general Heleno escreveu uma nota ameaçadora antes da divulgação do vídeo. Não entendeu que o ministro Celso de Mello apenas submeteu ao procurador-geral a hipótese de periciar o telefone de Bolsonaro e seu filho Carlos. A  ameaça é clara: intervenção militar. Heleno é um militar com experiência internacional. Creio que ele e as Forças Armadas sabem que existe uma pandemia e que ela é um tema decisivo para a Humanidade.

Creio também, caso leiam os jornais, que sabem o papel de Bolsonaro no imaginário internacional: o de um negacionista, cada vez mais perigoso na medida em que o Brasil torna-se o epicentro da pandemia mundial. Um golpe militar no Brasil vai colocar o país em choque com o mundo. Dois temas vão se entrelaçar: a pandemia e a destruição da Amazônia. [Recomendamos sobre destruição da Amazônia: ‘Hoje, o maior latifundiário do País é o índio’, diz Nabhan 
Sabem que as terras indígenas ocupam 12,5%=1.069.424,34 Km² = tamanho de quatro  estados?  Está no G 1.] 
Não creio que depois de tanta reflexão histórica, estudos, seminários, palestras, cursos no exterior, as Forças Armadas queiram participar dessa aventura. Já associaram sua imagem à cloroquina. Será que ouviriam o general Heleno e os defensores de uma intervenção militar?
Desta vez, não cairemos no erro de resistir com armas. Será uma luta longa e pacífica, alavancada pelo próprio mundo. Da primeira vez foi uma tragédia; agora, será uma farsa com consequências profundas. Se é possível dar um conselho, ai está: por favor, não tentem.

Blog do Gabeira - Fernando Gabeira, jornalista

Artigo publicado no jornal O Globo em 25/05/2020





sexta-feira, 22 de maio de 2020

Bolsonaro diz a Celso de Mello o que fazer com vídeo-bomba - VEJA - Blog do Noblat

Ministro ataca autores de ameaças a juízes

O presidente Jair Bolsonaro aproveitou sua live semanal no Facebook para orientar o ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal, sobre o que fazer com o vídeo da reunião ministerial de 22 de abril último onde ele, segundo o ex-ministro da Justiça Sérgio Moro, ameaçou intervir politicamente na Polícia Federal.

Celso tem três opções: autorizar a divulgação do vídeo na íntegra; ou apenas os trechos que têm a ver com a denúncia feita por Moro quando pediu demissão; ou manter o vídeo em segredo. A maiorias dos seus colegas aposta que ele autorizará a divulgação na íntegra. A decisão deverá ser anunciada hoje até o fim da tarde. [o Brasil conta que o ministro Celso de Mello não se deixe contaminar pelas vivandeiras de plantão e não autorize a divulgação do vídeo na íntegra.
Dois motivos, salvo improvável melhor juízo, recomendam a não divulgação da íntegra do vídeo:
- houve evidentes exageros verbais na reunião e que não se referem às  acusações, até agora sem provas - do ex-ministro e cuja divulgação não interessa ao processo e menos ainda aos interesses comerciais do Brasil;
- comentários feitos em ambiente e situação que oferece um certo grau de sigilo,quando vazam são mais prejudiciais do que os feitos em uma entrevista coletiva.]
Bolsonaro fez um apelo público ao ministro para que vete a divulgação na íntegra. E garantiu, referindo-se à imprensa: “Vocês vão perder, eu estou adiantando a decisão do ministro Celso de Mello. Não tem nada, não tem nenhum indício de que eu interferi em processo da Polícia Federal naquelas duas horas de fita”.

Em seguida, como se se dirigisse ao ministro, orientou: “Tem questões reservadas [no vídeo], tem particularidades de interesse nacional. Tem dois pedacinhos de 15 segundos que são questões de política externa e que não pode divulgar.” Quando ao resto: “Divulga! E tem muito palavrão. Se divulgarem, tirem as crianças da sala”.

Ficou claro o receio de Bolsonaro com a quantidade de palavrões que ele disse e que poderão chocar, prejudicando ainda mais a sua imagem. Então ele recomendou: “Às vezes sai um palavrão, sem ofender ninguém. Não é o caso de tornar isso público, senão vão falar: vê se esse homem está à altura do cargo que representa”.

Celso guarda silêncio sobre o caso desde que foi sorteado para presidir o inquérito aberto a pedido da Procuradoria-Geral da República. Mas ao saber que as caixas de mensagens de tribunais de Brasília estão abarrotadas com ameaças anônimas de morte a juízes, não resistiu e ditou ontem à tarde para publicação: 
[Seus autores] são bolsonaristas fascistóides, além de covardes e ignorantes. Revelam, com tais ameaças, a sua face criminosa, própria de quem abomina a liberdade e ultraja os signos da democracia. [o ódio que o decano do Supremo nutre pelo presidente Bolsonaro e por extensão aos que exercitando o livre direito de escolha apoiam o presidente,é tão intenso que ele esquece a imparcialidade, a isenção, o comedimento que se espera de um magistrado, desprezando até a liturgia do honroso cargo que ocupa.]

Vem aí mais um vídeo campeão de audiência.

Blog do Noblat - Ricardo Noblat - Revista VEJA


domingo, 15 de março de 2015

Dilma, uma presidente acuada

Sem força na economia, na política e, agora, nas ruas, Dilma Rousseff vive seu pior momento na presidência - e parece apoplética, sem saber como sair dele

O governo acredita que os protestos recentes não são isolados, mas o início de um movimento 

Dilma despreza tanto os nordestinos (que, devido as bolsas, são os principais eleitores dela) que declarou, em reunião ministerial, que o bairro de Aldeota - bairro nobre de Fortaleza, Ceará - fica no Recife, Pernambuco.

Ronald Reagan - presidente dos Estados Unidos e grande estadista - tinha desapreço semelhante  pelo Brasil, tanto que falando sobre Brasília, em Buenos Aires, disse ser Brasília capital da Bolívia.  Mas, Ronald Reagan fazer tal confusão foi algo normal, até mesmo por não ser brasileiro, Dilma, que se diz brasileira e está presidente do Brasil, mostra o quanto ela está desorientada.

A presidente Dilma Rousseff não estava muito confortável naquele momento da conversa com líderes de partidos aliados, ao final da tarde da última segunda-feira. Sentada à frente de uma mesa grande, no Palácio do Planalto, Dilma dizia que os protestos ocorridos durante seu pronunciamento de 15 minutos em cadeia de rádio e TV, na noite anterior, haviam sido “uma coisa concentrada em alguns bairros” de São Paulo, referindo-se a  locais de classe média alta. Acrescentou que, em Brasília, os protestos ocorreram “no Sudoeste e em Águas Claras”, também bairros de classe média. “Em Recife foi só na Aldeota (outro bairro nobre)”, disse. “Aldeota é em Fortaleza, presidenta”, corrigiu o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira. Dilma foi então interrompida por um novato nesses encontros, o senador Omar Aziz, do PSD, ex-governador do Amazonas. “Presidenta, no domingo não vai ser assim...”, disse Aziz. Um novato permitia-se contradizer a presidente da República. Aziz prosseguiu: “Eu queria prestar minha solidariedade à senhora porque envolveram a senhora neste roubo na Petrobras, que é o maior roubo da história do Brasil. É uma vergonha fazerem isso com a senhora”. Constrangida e sem paciência, Dilma admoestou Aziz: “Governador (na verdade, Aziz agora é senador), o senhor está equivocado”.


 
 
 
 
 
 
A conversa estava tensa. Em outro momento, Dilma alertou os líderes: “Nós temos de ter cuidado porque a política está muito criminalizada”. Parecia o ex-presidente Lula falando. Ele usa esse argumento sempre que um companheiro é acusado de corrupção. Em tempos de petrolão, é quase todo dia. Dilma, então, narrou os dissabores de quem vive sob a ameaça das vaias dos contribuintes que povoam as ruas do Brasil e enxergam a criminalização na política. Contou aos parlamentares o caso da ex-presidente da Petrobras Maria das Graças Foster, sua amiga, que deixou o cargo em fevereiro após uma temporada exposta pelas investigações do petrolão. “Ela não pode sair de casa nem para ir à padaria”, disse Dilma. Graça vive hoje uma vida de aposentada no Rio de Janeiro, mas não tem sossego.

Omar Aziz é um político engraçado, um piadista que usa palavrões para descontrair a conversa e não se prende às mesuras do mundo político. Faria sucesso em reuniões com Lula. Entretanto, o fato de ele e outros terem tido abertura para dizer tanto a Dilma é sinal de que o governo enfrenta tempos difíceis. Sempre avessa a políticos, para seus padrões Dilma já fazia uma grande concessão ao recebê-los; sujeitar-se a ouvir conselhos beirava o inaceitável. Na semana passada, ouviu muitos. “A senhora tem de dialogar com o Congresso, o diálogo está obliterado”, disse o senador Fernando Collor, do PTB, um dos participantes. Collor, quanta ironia, serve às analogias políticas mais simplistas com Dilma: ignorava o diálogo com o Congresso e foi alvo de maciços protestos populares em 1992 – até sofrer o impeachment. “A senhora tem de ter humildade de pedir desculpas pelos seus erros”, disse. Que cena.

Dilma só se sujeitou às perorações dos políticos porque precisa deles para atravessar seu momento mais difícil na Presidência da República. A semana passada foi, provavelmente, a mais tormentosa de seu governo, ameaçado por uma crise econômica grave e uma inoperância política de grandes proporções. Dilma foi acuada por vaias ao visitar uma feira de construção em São Paulo que nem estava aberta ao público. Contrariada e com semblante tenso, discursou para uma plateia semivazia. Comparecer ao evento era parte de uma estratégia traçada há um mês, para tentar recuperar a popularidade de Dilma, em queda livre desde a reeleição. Mas o cenário mudou rapidamente. No final da semana, Dilma cancelou a visita que faria a um evento em Belo Horizonte. O governo afirma que mudou os planos não por medo de vaias, mas porque a mãe da presidente, Dilma Jane, de 90 anos, não passava bem.


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