Sem força na economia, na política e, agora, nas ruas, Dilma Rousseff vive seu pior momento na presidência - e parece apoplética, sem saber como sair dele
O governo acredita que os protestos recentes não são isolados, mas o início de um movimento
Dilma despreza tanto os nordestinos (que, devido as bolsas, são os principais eleitores dela) que declarou, em reunião ministerial, que o bairro de Aldeota - bairro nobre de Fortaleza, Ceará - fica no Recife, Pernambuco.
Ronald Reagan - presidente dos Estados Unidos e grande estadista - tinha desapreço semelhante pelo Brasil, tanto que falando sobre Brasília, em Buenos Aires, disse ser Brasília capital da Bolívia. Mas, Ronald Reagan fazer tal confusão foi algo normal, até mesmo por não ser brasileiro, já Dilma, que se diz brasileira e está presidente do Brasil, mostra o quanto ela está desorientada.
A presidente Dilma Rousseff
não estava muito confortável naquele momento da conversa com líderes de
partidos aliados, ao final da tarde da última segunda-feira. Sentada à
frente de uma mesa grande, no Palácio do Planalto, Dilma dizia que os
protestos ocorridos durante seu pronunciamento de 15 minutos em cadeia
de rádio e TV, na noite anterior, haviam sido “uma coisa concentrada em
alguns bairros” de São Paulo, referindo-se a locais de classe média
alta. Acrescentou que, em Brasília, os protestos ocorreram “no Sudoeste e
em Águas Claras”, também bairros de classe média. “Em Recife foi só na
Aldeota (outro bairro nobre)”, disse. “Aldeota é em Fortaleza,
presidenta”, corrigiu o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira. Dilma
foi então interrompida por um novato nesses encontros, o senador Omar
Aziz, do PSD, ex-governador do Amazonas. “Presidenta, no domingo não vai
ser assim...”, disse Aziz. Um novato permitia-se contradizer a
presidente da República. Aziz prosseguiu: “Eu queria prestar minha
solidariedade à senhora porque envolveram a senhora neste roubo na
Petrobras, que é o maior roubo da história do Brasil. É uma vergonha
fazerem isso com a senhora”. Constrangida e sem paciência, Dilma
admoestou Aziz: “Governador (na verdade, Aziz agora é senador), o senhor
está equivocado”.
Omar Aziz é um político engraçado, um piadista que usa palavrões para descontrair a conversa e não se prende às mesuras do mundo político. Faria sucesso em reuniões com Lula. Entretanto, o fato de ele e outros terem tido abertura para dizer tanto a Dilma é sinal de que o governo enfrenta tempos difíceis. Sempre avessa a políticos, para seus padrões Dilma já fazia uma grande concessão ao recebê-los; sujeitar-se a ouvir conselhos beirava o inaceitável. Na semana passada, ouviu muitos. “A senhora tem de dialogar com o Congresso, o diálogo está obliterado”, disse o senador Fernando Collor, do PTB, um dos participantes. Collor, quanta ironia, serve às analogias políticas mais simplistas com Dilma: ignorava o diálogo com o Congresso e foi alvo de maciços protestos populares em 1992 – até sofrer o impeachment. “A senhora tem de ter humildade de pedir desculpas pelos seus erros”, disse. Que cena.
Dilma só se sujeitou às perorações dos políticos porque precisa deles para atravessar seu momento mais difícil na Presidência da República. A semana passada foi, provavelmente, a mais tormentosa de seu governo, ameaçado por uma crise econômica grave e uma inoperância política de grandes proporções. Dilma foi acuada por vaias ao visitar uma feira de construção em São Paulo – que nem estava aberta ao público. Contrariada e com semblante tenso, discursou para uma plateia semivazia. Comparecer ao evento era parte de uma estratégia traçada há um mês, para tentar recuperar a popularidade de Dilma, em queda livre desde a reeleição. Mas o cenário mudou rapidamente. No final da semana, Dilma cancelou a visita que faria a um evento em Belo Horizonte. O governo afirma que mudou os planos não por medo de vaias, mas porque a mãe da presidente, Dilma Jane, de 90 anos, não passava bem.
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