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quarta-feira, 10 de agosto de 2022

As verdades inconvenientes de Jordan Peterson - Ana Paula Henkel

Revista Oeste

Jordan Peterson | Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock
Jordan Peterson | Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock

Na edição da semana passada, escrevi aqui em Oeste sobre a mais recente tentativa de cancelamento de uma figura pública, o ator Juliano Cazarré, por defender a família, as tradições, o Cristianismo e o exemplo de figuras paternas como São José. Cazarré não se abateu diante de xingamentos e ofensas que recebeu durante uma live em seu Instagram, e o ocorrido serviu para mostrar — mais uma vez — quanto as pessoas estão exaustas de tantas guilhotinas covardes e do cerceamento de opiniões livres. 

Durante seu desabafo, o ator mencionou outra figura pública constantemente atacada pela atual turba de jacobinos, um dos maiores pensadores contemporâneos, Jordan Peterson. O psicólogo canadense tem alertado já há alguns anos sobre o perigo da demonização da masculinidade e o enfraquecimento proposital das qualidades de homens de bem.

Para Peterson, um dos prováveis campeões de cancelamentos de toda a internet, a receita é a mesma: assassinato de reputação e destruição de seus livros. Foi assim com 12 Regras para a Vida: um Antídoto para o Caos e, recentemente, com Além da Ordem: Mais 12 Regras para a Vida, sequência de seu best-seller anterior. Entre tantas verdades inconvenientes que o professor canadense insiste em apontar, Peterson, que já foi acusado de “defender a supremacia branca”, “encampar discursos de ódio” e “transfobia”, afirma com todas as palavras que a masculinidade está sob ataque, e que isso é um perigo sem precedentes não apenas para nossa sociedade, mas para o Ocidente como um todo.

A vida cotidiana, regada a altas doses de dopamina, não nos possibilita o entendimento de que existe uma cadeia de ordem e aceitação do caos

Para aqueles que querem se aventurar em águas intensas com Jordan Peterson, sua primeira publicação é o espetacular Mapas do Significado: a Arquitetura da Crença, sua verdadeira obra-prima, escrita em 1999. O livro aborda de maneira profunda as crenças humanas e como elas influenciam nosso comportamento diário. Mergulhando na neurociência, na psicanálise e nas comparações das religiões, Peterson defende como uma estrutura biopsíquica nos impele ao conhecimento e à ordem, necessários para o autoconhecimento, o autocontrole e o crescimento, e nos protege do estado latente de caos. Articulando com habilidade a psicologia junguiana, a filosofia de Nietzsche e as criações literárias de George Orwell (mais atual do que nunca!) e Dostoiévski, Jordan Peterson demonstra a inevitabilidade do sentimento religioso e expõe as raízes obscuras da perversão totalitária. Suas descobertas e estudos, catalogados diante de centenas de pacientes ao longo de décadas, são chocantes e têm relevância tanto para a condução da vida cotidiana como para a análise das disputas político-ideológicas.

Mas você não precisa mergulhar nas quase 700 páginas de Mapas do Significado: a Arquitetura da Crença para entender a importância e a profundidade das lições da obra de Jordan Peterson. A simplicidade de seus argumentos em textos, artigos e centenas de vídeos espalhados pela internet bate espetacularmente forte em nossa atual vidinha protegida por plástico bolha que não quer enxergar o óbvio: “Arrume o seu quarto antes de querer consertar o mundo”. A vida cotidiana, regada a altas doses de dopamina, não nos possibilita o entendimento de que existe uma cadeia de ordem e aceitação do caos. Na era do prazer, Jordan Peterson mostra que, embora seja importante que não nos afundemos no caos, devemos aceitar que é impossível escapar dele. Precisamos, por isso, “manter um pé na ordem enquanto experimentamos esticar o outro para além dela”.

Para uma geração viciada no imediatismo, forjada em estruturas tênues de amizades, parceiros, namorados, empregos… envolta em um círculo de memórias efêmeras, Jordan Peterson provoca com um tapa de realidade: “Tenhamos alguma humildade. Arrumemos o quarto. Cuidemos da família. Sigamos a consciência. Endireitemos a vida. Encontremos uma coisa produtiva e interessante para fazer e comprometamo-nos com ela. Quando conseguirmos fazer isso tudo, então procuremos um problema maior para resolver, se nos atrevermos. Se também isso funcionar, avancemos para projetos ainda mais ambiciosos. Mas comece arrumando seu quarto primeiro”.

Seria impossível escrever apenas em um artigo sobre todas as portas que as lições incômodas de Jordan Peterson abrem. No entanto, seu mais recente vídeo colocou o dedo em mais feridas abertas que precisam de curativos. Uma delas foi a maldita sinalização de virtude que saiu dos perfis dos justiceiros sociais da internet e infestou igrejas cristãs, minando outro pilar importante de sustentação do Ocidente. Eu não faria justiça explicando apenas os pontos-chave de um vídeo espetacular de quase dez minutos e que desnuda — mais uma vez e de maneira brilhante e honesta — a hipocrisia do politicamente correto e da vil agenda de intimidações. Amigos queridos, com vocês, mais uma espetacular e necessária mensagem de um dos maiores filósofos de nosso tempo, Jordan Peterson:

“No Ocidente, devido ao peso da culpa histórica que está sobre nós, uma variante do sentido do pecado original, em um sentido muito verdadeiro e devido a uma tentativa muito real por parte daqueles em posse do que poderia ser descrito como ‘ideias inúteis’ para instrumentalizar essa culpa, nossos jovens enfrentam uma desmoralização que talvez não tenha paralelo.

Isso ocorre de maneira particular aos homens jovens, embora qualquer coisa que devastar os homens jovens acabará fazendo o mesmo às mulheres jovens. E, nessa era de antinatalismo e de niilismo igualmente repreensível, essa é precisamente a intenção. Quando crianças, os meninos são agredidos pelas suas preferências de brinquedos, que muitas vezes incluem armas de brinquedo, como armas de fogo. É seu estilo de brincar mais agitado, já que garotos demandam brincadeiras mais ativas, crespas e indelicadas, bem mais que as meninas — para as quais essa também é uma necessidade.

Quando na escola primária, os rapazes são admoestados, envergonhados e controlados de maneira muito semelhante por aqueles que acham que o lúdico é desnecessário, especialmente se for competitivo, e que valorizam uma obediência dócil e inofensiva acima de tudo. Some-se a isso — porque tudo isso ainda não é suficiente, mesmo quando praticado assiduamente, para uma desmoralização completa — a pregação de uma ideologia extremamente prejudicial, que consiste essencialmente em três acusações:

— Acusação número um: A cultura humana, particularmente no Ocidente, é melhor interpretada como um patriarcado opressivo, motivado pelo desejo, vontade e capacidade de usar o poder — “poder” definido como a compulsão dos outros contra suas vontades — para atingir fins puramente egoístas que servem para si. Isso seria tido como verdade em todos os níveis de análise. O casamento seria comparado à escravidão. A amizade à exploração. Discordância política à guerra. E acordos comerciais a enganos e roubo. E isso seria a verdade não apenas dos atuais arranjos sociais que caracterizam nossa cultura, especialmente no Ocidente, mas também a própria realidade fundamental da História em si.

Jordan Peterson | Foto: Gage Skidmore/Flickr

— Acusação número dois: A atividade humana, em particular a empreendida no Ocidente, é fundamentalmente caracterizada por iniciativas de espoliação do planeta. A raça humana seria uma ameaça à “utopia ecológica” que existia antes de nós, e que hipoteticamente poderia existir em nossa ausência. Podemos ser interpretados até mesmo como um câncer, que ameaça a própria viabilidade dos complexos sistemas que compõem o ecossistema da terra que nos abriga e sustenta. Estaríamos diante de uma catástrofe malthusiana de superpopulação e degradação da biosfera, e temos de impor limites extremos a nossos desejos, até mesmo às nossas necessidades, para que nossa própria sobrevivência, ainda que em escala muito reduzida, possa ser ‘garantida’.

— Acusação numero três: O principal colaborador, tanto da tirania que engendra o patriarcado opressivo e estrutura todas as nossas interações sociais, passadas e atuais, quanto da imperdoável espoliação de nossa amada “Mae Terra”, seria a maldita “ambição masculina” — competitiva e dominante, fanática por poder, egoísta, abusadora, estupradora e usurpadora.

Você pode pensar que eu esteja exagerando. Pense de novo, florzinha.

Nós, do Ocidente, estamos enfrentando um ataque desenfreado nos níveis mais profundos daquilo que o velho brincalhão Jacques Derrida considerava a ‘estrutura conceitual falogocêntrica’ da própria civilização. Vamos esmiuçar isso: essa seria uma sociedade centrada no espírito encorajador, aventureiro e masculino. E que dá ‘privilégio’ — essa palavra odienta —, acima de tudo, ao logos divino. E o que exatamente nós deveríamos adorar e venerar ao em vez disso, desconstrucionistas? As palavras daquele genocida, Karl Marx?

E são precisamente esses jovens homens, dotados de consciência profunda, capazes de culpa e arrependimento, que passaram a acreditar, doloridos, que cada impulso profundo que nos move mundo afora para a aventura de suas vidas, mesmo aquele impulso que os atraía para as mulheres, nada mais é do que a manifestação de um espírito que seria essencialmente satânico por natureza. Isso não está somente errado em campo teológico, moral, psicológico, empírico e científico, como também é literalmente uma antiverdade.

Não é mero equívoco acerca da natureza da realidade, um leve deslize conceitual, mas algo que literalmente não poderia estar mais longe da verdade. E algo tão distante assim da verdade vem de um lugar indistinguível do inferno. A igreja cristã existe para lembrar as pessoas, inclusive os jovens homens — e talvez até mesmo primeira e principalmente eles —, que eles têm uma mulher a buscar, um jardim a entrar, uma família a ser sustentada, uma arte a ser praticada, uma terra a conquistar, uma escada para os Céus a ser erguida… e a absolutamente terrível catástrofe da vida a ser enfrentada, impassivelmente, em verdade, devotados ao amor e sem temor.

Convidem os homens jovens de volta. Digam, literalmente, a esses homens jovens: ‘Vocês são bem-vindos aqui. Se ninguém mais deseja o que vocês têm a ofertar, nós queremos. Queremos chamá-los para o mais alto propósito de suas vidas. Queremos seu tempo, energia e esforço, sua vontade — e sua boa vontade. Queremos trabalhar com vocês para tornar as coisas melhores; para produzir vida mais abundante para você, para sua esposa e filhos, para sua comunidade, e para seu país e o mundo. E nós temos nossos problemas na nossa igreja cristã. Somos moribundos e às vezes — às vezes demais — corruptos, por vezes até mesmo profundamente. Estamos atrasados, tal qual todas as instituições que têm suas raízes nos que estão mortos — mas, de qualquer forma, ficamos para trás em muitos casos. Portanto, junte-se a nós. Nós te ajudaremos a se levantar, e você pode ajudar a nos levantar. E, juntos, levantaremos nosso olhar para o alto.’

E aqui vai uma mensagem a esses jovens homens, céticos quanto a tais coisas. O que mais você tem? Você pode abandonar as igrejas em seu cinismo, sua descrença. Você pode dizer para si mesmo, de modo narcisista e solipsista: ‘A igreja não representa o que eu acredito de maneira apropriada’. Quem se importa com o que você acredita? Por que tudo precisa tratar de você? Você realmente quer que tudo trate a respeito de você? Mas e se for a respeito dos outros? E se fosse a respeito do seu dever para com o passado e para com a comunidade mais ampla que o cerca no presente? E se fosse incumbência sua, vital para a sua saúde e para sua vontade até mesmo de viver, resgatar o seu pai morto da barriga do monstro na qual ele se encontra desde sempre, e restaurar-lhe a vida?

Uma vez mais, uma mensagem às igrejas — protestantes (vocês são os piores no momento), católica, ortodoxa: convidem os homens jovens. Afixem cartazes em quadros de avisos. Digam: ‘JOVENS HOMENS SÃO BEM-VINDOS AQUI!’. Imprimam panfletos e coloquem-nos numa caixa ao lado do quadro de avisos. Sinalizem a existência de tais panfletos com uma seta contendo os dizeres: ‘Saiba mais sobre como participar aqui’. Diga àqueles que nunca estiveram em uma igreja como proceder, exatamente. Os trajes a se vestir, quando devem comparecer, quem devem contatar. E, mais importante, o que eles podem fazer. Exijam MAIS, não menos, daqueles que vocês convidam. Exijam mais do que qualquer um que já exigiu deles. Lembrem-nos de quem eles são, no sentido mais profundo, e os ajudem a se tornarem quem podem ser.

Vocês são igrejas, pelo amor de Deus. Parem de militar por ‘justiça social’. Parem de tentar salvar o maldito planeta. Auxiliem as almas. É para isso que vocês servem. É só seu dever sagrado. Façam-no. Agora. Antes que seja tarde demais, pois a hora está próxima.”

Salve, Jordan Peterson!

Você pode encontrar esse vídeo sob o título Mensagem às Igrejas Cristãs (Message to the Christian Churches) em qualquer ferramenta de busca. Se você puder, mostre-o para um padre, um pastor, para um amigo pai de meninos e até mesmo para um jovem que parece se encontrar em um transe causado pelo bombardeio imediatista da felicidade instantânea — seja ela provida pela falsa aceitação das redes sociais ou pela moda dos antidepressivos. Para todos nós, Peterson deixa a vital mensagem aos pais:

“É na responsabilidade que a maioria das pessoas encontra o sentido que as sustenta ao longo da vida. Não é na felicidade. Não é um prazer impulsivo. Adotar a responsabilidade por seu próprio bem-estar, tentar reunir sua família e tentar servir sua comunidade e buscar as verdades eternas para vivê-las. Esse é o tipo de coisa que pode ancorar você em sua vida o suficiente para que você possa suportar as dificuldades da vida. Vocês querem fazer com que seus filhos estejam seguros ou que sejam fortes?”

Em um mundo alterado por egos inflados, amizades por interesse e até conflitos supérfluos que estão desmantelando famílias inteiras, há um fio da obra de Peterson que nos convida a uma reflexão honesta em explorar e absorver o que é significativo, não o que é conveniente.

Leia também “Vai ter bandeira, sim!”

Ana Paula Henkel, colunista - Revista Oeste

 

domingo, 14 de fevereiro de 2021

Fogo na camisa amarela - Nas entrelinhas

Como brincar carnaval diante de um cenário tão macabro?  Ir às ruas para uma festa cujo clima depende de aglomeração seria uma espécie de suicídio coletivo

[Felizmente,  um ano sem carnaval; que falta faz? NENHUMA. O número de mortes será menor, o consumo de drogas cairá ainda que pouco, a imoralidade, a corrupção moral (não toleramos a corrupção pública = a que envolve dinheiro - mas aceitamos a corrupção moral que é a mãe de todas as corrupções);  cenas ofensivas à moral e aos bons costumes a depravação, os atos obscenos, as crianças presenciando imoralidades, o exibicionismo repugnante (lembram do golden shower?)o desrespeito aos valores religiosos,o vilipêndio dos símbolos cristãos. 
Vejam a imagem abaixo. Pensem. O recado é claro]
 

 

[ A mudança que ilustra esse recado não foi realizada pelos que se julgam Supremos e pretendem autorizar até quem deve ter o direito de nascer.

Um alerta: desnecessário, mas para perfeito entendimento dos que quando desenhamos não conseguem compreender, que o 'coisa ruim', o de vermelho, está muito triste pela não realização do carnaval 2021.

A mudança mostrada foi realizada por DEUS, o SER SUPREMO, que realmente pode tudo.]

O carnaval sempre foi um momento de inversão de papéis, de questionamento das normas, de fuga do padrão da vida cotidiana e da libertação da repressão. Neste ano, não. Ainda vamos levar algum tempo para ter a verdadeira dimensão do que está ocorrendo, mas, talvez, o carnaval deste ano seja um momento de choque da dura realidade, que é a crise sanitária pela qual o mundo está passando, agravada pela incompetência e pelo negacionismo do governo. Oxalá, no próximo carnaval, a maioria da população esteja imunizada contra a covid-19.

No começo da pandemia, imaginava-se que o carnaval de 2021 seria um dos maiores de todos os tempos, com a população indo às ruas se divertir, superada a peste. Estaríamos vivendo momentos felizes, de muita contestação aos tabus da nudez e da sensualidade, de ironias e críticas escrachadas aos governantes e, como não poderia deixar de ser, ao presidente Jair Bolsonaro. Feminismo, racismo, diversidade, exclusão, ["Quanto maior a ênfase, por exemplo, nas teorias de gênero, maior a homofobia; quanto mais igualdade de gêneros, mais cresce o feminicídio; quanto mais se combate a discriminação racial, mais ela se intensifica; quanto maior o ambientalismo, mais se agride o meio ambiente; e quanto mais forte o indigenismo, pior se tornam as condições de vidas de nossos índios", relatou na entrevista.] os temas característicos do debate contemporâneo, numa sociedade pluralista e democrática, estariam sendo tratados com bom humor e muita sagacidade pelo povo nas ruas, cantando marchinhas e sambas.

Por incrível que possa parecer, o carnaval — essa festa tão desvairada — também é um momento de conscientização da população. É quase impossível na vida de um brasileiro não ter visto um desfile de escola de samba, não ter saído num bloco ou participado de um baile de carnaval no qual não houvesse ruptura ou transformação de costumes. É uma festa muito ambígua, na qual a fuga da realidade funciona como um espelho da sociedade, quando a velha senhora que passa roupa para fora se veste de luxuosa baiana, a madame vira figurante numa ala de escola de samba, o jovem desempregado brilha na bateria, a socialite leva uma bronca do bombeiro hidráulico por atrasar o desfile e o galã da novela arrisca um desengonçado samba no pé, sendo ele mesmo, e não o seu personagem.

O carnaval substituiu o entrudo, que era uma festa embrutecida, na qual o povo tomava as ruas para jogar farinha, baldes d’água, limões de cheiro e até lama e areia uns nos outros. Ou seja, um avanço civilizatório. Roberto DaMatta, o antropólogo estudioso dos foliões e dos malandros, sempre destacou que o carnaval não é apenas um momento de alienação da realidade, é um espaço de transformação dos padrões da sociedade. O Rio de Janeiro, quanta ironia, teve um prefeito que não gosta de carnaval e não conseguiu se reeleger. Temos um presidente da República que também não gosta e que, talvez, se regozije pelo fato de o povo não ter tomado as ruas para fazer troça das autoridades e de si próprio.

Folião de raça
Um dos maiores carnavais de todos os tempos, segundo os historiadores, foi o de 1919, no Rio de Janeiro, ano de estreia do Cordão do Bola Preta, que havia sido fundado em dezembro do ano anterior e, hoje, é o maior bloco do país, arrastando milhões pelo centro do Rio de Janeiro no sábado de carnaval, o que deveria ter acontecido ontem. Aquele foi um carnaval no qual a população comemorou o fim da gripe espanhola, a epidemia que matou 15 mil pessoas somente no Rio de Janeiro. Neste carnaval, a média de óbitos na cidade está em 158 mortes por dia, sendo 234 óbitos e 5,5 mil casos de contaminação nas últimas 24 horas. Já são 551 mil casos no estado. [naquela época se levava semanas para ir do Rio ao Recife; meses para  realizar o percurso Europa x Brasil; imagine se uma pandemia daquele porte, com seu elevado índice de letalidade e contágio, ocorresse nos dias de hoje = em que o contaminado  hoje pela manhã,  pode estar amanhã no outro lado do mundo contaminando.]

Não é privilégio de cariocas e fluminenses. No Distrito Federal, a covid-19 matou 4.198 pessoas, de um total de 247 mil infectados; oito vezes mais do que acidentes e homicídios. Em Belo Horizonte, foram 16,5 mil mortes, de um total de 798 mil infectados. Em São Paulo, 55 mil mortes, com 1,9 milhão de infectados. Na Bahia, 10,6 mil mortos para 623 mil infectados. Em Pernambuco, 10,6 mil mortos para 277 mil infectados; no Amazonas, são 9,7 mil mortos para 292 mil infectados. Estamos vivendo a rebordosa das campanhas eleitorais e das festas de fim de ano. [por conveniência muitos atribuem o acréscimo de agora a uma segunda onda = bem mais conveniente que atribuir às eleições de novembro .p., e os festejos de fim de ano.]

Como brincar carnaval diante de um cenário tão macabro? Agora, com a segunda onda da pandemia, ir às ruas para uma festa cujo clima depende de aglomeração e contato físico seria uma espécie de suicídio coletivo. Por isso, mesmo que a festa seja em casa e nas redes sociais, neste ano, o carnaval não valeu. Melhor ficar em casa, cantar A Jardineira e pôr fogo na camisa amarela, como aquele folião de raça de Ary e Elizeth, na quarta-feira de cinzas.

PS: até quinta-feira! Luiz Carlos Azedo - Nas Entrelinhas - Correio Braziliense

 

quinta-feira, 7 de março de 2019

Carnaval de Itamar e Bolsonaro

(“Tô no meio da rua, tô louca. Tô no meio da rua sem roupa. Tô no meio da rua com água na boca, vestida de rebeldia, provocando a fantasia”) Caetano Veloso
A história é quase inacreditável. Experimente contar seus detalhes para um jovem na casa dos 20, 25 anos. Ele vai dizer que é carnaval, e você bebeu demais. Um presidente da República dançando num camarote da Sapucaí com uma modelo sem calcinha? Conta outra. E pior, fotografado de um ângulo em que toda a intimidade da moça ficou exposta ao lado de um presidente em êxtase. Mentira? Claro que não. Você sabe que não. Era assim o carnaval do Sambódromo dos anos 80, 90 e início dos 2000. Uma alegria devassa insuperável.
No dia seguinte, os jornais estamparam a foto do presidente Itamar Franco com a modelo Lilian Ramos, alguns nas suas primeiras páginas. O que fez o presidente? Nada. Não acusou a moça, não ficou irado, não veio a público atacar a permissividade do carnaval. Ao contrário, à noite ligou para Lilian e tentou iniciar um romance com a moça. Não colou. A modelo queria apenas a publicidade da companhia presidencial num desfile da Sapucaí.
Outra história inacreditável vimos na noite de terça-feira, no Twitter do presidente Bolsonaro. A cena escatológica distribuída por ele entre seus 3,6 milhões de seguidores mostra como Bolsonaro pensa, ou como pensa pequeno. Imaginar que aquelas imagens representam os blocos do carnaval é não enxergar um palmo à frente de seu nariz. Não precisava ir às ruas para entender como funcionam os blocos, bastava ficar meia hora assistindo à GloboNews.

A nudez dos tempos de Itamar era dona absoluta do espetáculo das escolas de samba. [Nudez apesar das restrições cabíveis é bem mais aceitável do que uma cena de baixaria quanto a denunciada pelo nosso presidente - que se repete, com outras piores, no carnaval de rua de diversas cidades brasileiras.]Havia até um adereço chamado tapa-sexo, que era uma peça minúscula que se encaixava não sei bem onde e que deixava protegida de olhos alheios apenas a genitália da mulher que o portava. Além das bundas totalmente desnudas, os seios também eram livres para se manifestar como bem entendessem. O Brasil inteiro assistia àquela desabusada nudez desfilando nas telas da TV.
Hoje, não. Dois ou três pares de seios nus foram tudo o que se viu nos dois dias de desfile da Sapucaí. A nudez na Avenida era absolutamente aceitável, como hoje é aceitável a seminudez da garotada nos blocos. O discurso é o da liberdade, do meu corpo, minhas regras, do não é não. E, portanto, tudo é saudavelmente possível. Cada um sai como quer e, com algumas raras exceções, todos e todas são respeitados por todos. A nudez nas escolas aos poucos desapareceu devido a críticas de que as mulheres eram exploradas. As mesmas vozes que no passado criticavam a nudez das passistas e rainhas das baterias hoje apoiam a liberdade individual de cada mulher se vestir ou se despir como bem entender nos blocos ou fora deles. Nada contra, pelo contrário. Impossível discordar ou não apoiar incondicionalmente todas as campanhas de afirmação e valorização da mulher.
Ontem, as meninas das escolas de samba estavam sendo usadas pela indústria do carnaval, e sua nudez era gratuita e permissiva. Hoje, com um importante gap geracional, a nudez das meninas dos blocos ou do uso do corpo feminino pela mulher de acordo com as suas regras é uma questão de afirmação de gênero. [as regras delas tirarem a roupa são aceitáveis,  desde que respeitando o direito dos outros - especialmente evitando o mau exemplo que passam para crianças.]  As duas lógicas devem ser entendidas como expressão de sua época. Se no passado a nudez podia ser chamada de vulgar e machista, hoje pode ser considerada rebelde, libertadora e feminista. Com objetivo igual, os dois movimentos percorreram ou percorrem caminhos inteiramente distintos para alcançá-lo. Portanto, é justo afirmar que o vista-se de 20 anos atrás tem o mesmo significado do dispa-se de hoje em dia.
Da mesma maneira, a homossexualidade se expressa e se reafirma nos blocos. Normal e saudável. Uma festa como o carnaval serve para todo tipo de exaltação. Tente se lembrar de um só carnaval em que você não viu manifestações de afeto gay despudoradamente livres. Foi sempre assim. E continuará sendo assim, quer o presidente do Brasil queira ou não. Hoje, aliás, o amor LGBTQIA+ não precisa do carnaval para se mostrar. [os portadores do homossexualismo ou de qualquer outra coisa mostrada no emaranhado de letras acima destacado -  que a cada dia ganha mais uma categoria e uma letra -   podem praticar suas aberrações desde que entre quatro paredes, respeitando o DIREITO dos que não apreciam tais práticas.]

O que Bolsonaro fez foi explorar um detalhe tão pornográfico quanto mínimo [?] e insignificante [?] da festa, escancarando mais uma vez suas limitações sociais e cognitivas.  
 
[Bolsonaro não errou ao publicar o vídeo e sim na forma como fez.
Aquele vídeo mostra apenas uma fração do que de ruim acontece no carnaval de rua.

Além do que acontece a impunidade corre solta - o mostrado no vídeo é crime, previsto na Legislação Penal e era DEVER de qualquer policial prender em flagrante os indivíduos.  

Só que a própria polícia se sente desestimulada a cumprir seu DEVER - apesar de dever não ser algo para só ser cumprido se quiser.
Mas, prender aqueles 'ratos', ainda que em flagrante, resultaria em nada: seriam conduzidos a uma Delegacia, autuados em flagrante, levados a uma 'audiência de custódia' (isso se o delegado não entendesse que lavrar um termo circunstanciado seria suficiente) liberado, ficando livre para ingerir mais cerveja e fazer novo show.

ERRO DE BOLSONARO:
 mais uma vez o nosso presidente demonstrou que ainda não se acostumou com, ou mesmo não entendeu, a liturgia do cargo que ocupa pela vontade soberana de quase 58.000.000 de eleitores brasileiros.
Mas é questão de tempo se acostumar - um egresso da Aman é inteligente mais do que o suficiente para se adaptar.

O que Bolsonaro deveria ter feito - afinal seu desejo de contato mais direito com o povo, nunca foi escondido, e,  apesar das críticas, pode ser exercido desde que moderadamente - seria identificar vários vídeos com cenas iguais ou pior do que aquela, fazer a apresentação da forma que fez e indicar os links, colocando antes mesmo da entrada uma recomendação no sentido de 'ser material sensível'.

Mas, a denúncia foi conveniente e apenas mostrou que o carnaval de rua não é tão inocente para merecer verbas públicas;
aqui em Brasília, em vários locais e ocasiões foliões, ou bagunceiros, promoveram desordens, a polícia em alguns casos agiu com energia - tem momentos que um cassetete é excelente para repor as coisas nos lugares corretos - e agora estão preocupados em encontrar meios para punir os policiais.

A propósito, gosto de Carnaval e sou MANGUEIRA - mas, não estou obrigado a me submeter ou meus familiares a cenas deprimentes como aquela.

O carnaval de rua precisa ser moralizado e a legislação penal se tornar mais severa - o que Moro está tentando fazer.]

Ascânio Seleme - O Globo

 

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

O imoral auxílio moradia


Brasil, um país onde não apenas o Rei Está nu. Todos os Poderes e Instituições estão nus, e o pior é que todos perderam a vergonha de andarem nus. E nós, o Procuradores da República, e eles, os Magistrados, teremos o vergonhoso privilégio de recebermos R$ 4.300,00 reais de “auxílio moradia”, num país onde a Constituição Federal determina que o salário mínimo deva ser suficiente para uma vida digna, incluindo alimentação, transporte, MORADIA, e até LAZER.

A partir de agora, no serviço público, nós, Procuradores da República dos Procuradores, e eles, os Magistrados, teremos a exclusividade de poder conjugar nas primeiras pessoas o verbo MORAR. Fica combinado que, doravante, o resto da choldra do funcionalismo não vai mais “morar”. Eles irão apenas se “esconder” em algum buraco, pois morar passou a ser privilégio de uma casta superior. Tomara que Deus não exista…

Penso como seria complicado, depois de minha morte (e mesmo eu sendo um ser superior, um Procurador da República, estou certo que a morte virá para todos), ter que explicar a Deus que esse vergonhoso auxílio-moradia era justo e moral. Como seria difícil tentar convencê-Lo (a Ele, Deus) que eu, DEFENSOR da Constituição e das Leis, guardião do princípio da igualdade e baluarte da moralidade, como é que eu, vestal do templo da Justiça, cheguei a tal ponto, a esse ponto de me deliciar nesse deslavado jabá chamado auxílio-moradia.

Tomara, mas tomara mesmo que Deus não exista, porque Ele sabe que eu tenho casa própria, como de resto têm quase todos os Procuradores e Magistrados e que, no fundo de nossas consciências, todos nós sabemos, e muito bem, o que estamos prestes a fazer. Mas, pensando bem, o Inferno não haverá de ser assim tão desagradável com dizem, pois lá, estarei na agradável companhia de meus amigos Procuradores, Promotores e Magistrados.

Poderemos passar a eternidade debatendo intrincadas teses jurídicas sobre igualdade, fraternidade, justiça, moralidade e quejandos.  Como dizia Nelson Rodrigues, toda nudez será castigada!

Por: Davy Lincoln Rocha é Procurador da República em Joinville (SC)