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domingo, 19 de setembro de 2021

O “CULPADO” DE TUDO - Percival Puggina

Com o título “Tempestade perfeita”, a Folha de São Paulo, em seu labor cotidiano, trouxe uma charge que atribui a Bolsonaro culpa ou inação perante a pandemia, o desemprego, a inflação e a crise de energia. A intenção do chargista era fazê-lo rir e consolidar, com isso, o volumoso conjunto de mistificações analíticas com as quais a Folha e outros grandes grupos de comunicação invadem nossos lares em três turnos de oito horas, sete dias por semana. 

O presidente é responsável pela pandemia? Somos o único país onde o vírus é inocente e, o presidente, responsabilizado por todos os óbitos...  
Nos países produtores de imunizantes, a vacinação contra a covid-19 iniciou em meados de dezembro de 2020 e no Brasil, em virtude da necessidade de contornar exigências legais e atender requisitos da ANVISA, um mês depois (17/01). 
Os “sábios” dos grandes veículos previram que a “imunidade de rebanho” só seria alcançada em 2025. 
No entanto, chegamos a este mês de setembro com situação sanitária superior à dos EUA. 
Nos primeiros meses, os países produtores de vacinas consumiam internamente 2/3 da produção mundial. 
Desde agosto, porém, somos o quarto país que maior número de vacinas aplicou em sua população. 
Entre os seis mais populosos do mundo, o Brasil só perde para a China e para os EUA, no número de vacinas aplicadas por 100 habitantes. 
 
O presidente é responsável pelo desemprego?  O presidente não decretou lockdowns, nem desejou parar atividades econômicas. 
No entanto, o STF (15/04/2020) estabeleceu que normas federais sobre as atividades durante a pandemia não poderiam ser menos restritivas do que as estaduais e municipais.  
As medidas desde então adotadas prejudicaram terrivelmente a economia brasileira ao longo de quase um ano e meio! 
Esquecemos a perniciosa pressão de poderosos veículos como a própria Folha, pelo “Fique em casa!”, pelo fechamento das atividades? Dependesse do presidente, as medidas teriam sido outras, muito menos danosas à economia e à sociedade. Não veríamos tantas portas com placas de aluga-se e vende-se, tanto posto de trabalho extinto, malgrado o imenso empenho fiscal para manter renda mínima e financiar empresas em dificuldade.
O presidente é responsável pela inflação? Foi o presidente o gerador de despesas extraordinárias impostas pelas contingências econômicas e sociais
Foi o presidente que ampliou a níveis abusivos os gastos com os partidos e com as eleições? E mais: não foi o Congresso que reduziu o impacto fiscal positivo de todas as medidas que ele propôs?
 
O presidente é responsável pela crise de energia? Ele cumpriu apenas dois anos e meio de mandato e qualquer investimento em energia leva uma década ou mais para produzir resultados na ponta do consumo!  
Não foi ele que gerou a pressão da esquerda nacional e internacional, bem como de nossos rivais na economia mundial, contra a usina de Belo Monte. 
Como resultado desse desatino, está lá, com apenas uma das 18 turbinas funcionando, o fabuloso investimento (R$ 40 bilhões) de todos nós, brasileiros, numa hidrelétrica que poderia ampliar em 14% a produção nacional de energia! 
Por quê? Por “nobres” razões ditas socioambientais. Você sabe que tipo de ideologia responde por essas pressões, não é mesmo?

A quem faz da mistificação instrumento de trabalho, dê toda a desatenção merecida.

Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.


quarta-feira, 4 de maio de 2016

A última semana de Dilma na Presidência: agenda cheia e clima de derrota

A sete dias da votação que deve confirmar seu afastamento do Planalto, presidente turbina participação em eventos. Mas só para 'deixar nome na placa'

"Vamos dar um jeito de inaugurar logo aquele prédio e colocar o nome na placa. Não vamos deixar nada para o Temer"

A uma semana da votação em plenário no Senado que deve confirmar seu afastamento da Presidência da República, Dilma Rousseff turbinou a agenda de compromissos oficiais - mas o clima de derrota é indisfarçável nos corredores do Planalto. 

 Aliados da petista já admitem "resignação" diante de outro iminente fracasso no Congresso. Oficialmente, contudo, o discurso segue firme na já combalida versão de 'golpe' contra o governo Dilma. Interlocutores da presidente também reconhecem, nos bastidores, que a proposta de antecipar as eleições presidenciais por meio de uma Proposta de Emenda Constitucional - uma afronta à Constituição - serve apenas como "recurso retórico" para tentar desgastar a imagem do vice-presidente Michel Temer (PMDB).

Um aliado de Dilma com trânsito no Congresso disse a proposta não tem cabimento jurídico: "É uma maluquice". A tese sequer une os parlamentares do PT e encontra resistência em movimentos sociais de apoio ao governo. Dilma parece tê-la abandonado de vez: ela rejeitou nesta terça-feira renunciar e disse que a "vítima não desaparecerá". 

 Enquanto em alguns gabinetes funcionários comissionados já começaram a preparar as caixas, conforme relata reportagem de VEJA desta semana, os ministros de Dilma preparam discursos no estilo fim de mandato e tentam entregar tudo o que for possível enquanto permanecem no cargo. O ministro do Desenvolvimento Agrário, Patrus Ananias (PT), serve como exemplo: anunciou numa só cerimônia uma série de ações ligadas ao Plano Safra da Agricultura Familiar e falou por quase 50 minutos nesta terça, inclusive sobre políticas implantadas desde o primeiro governo do ex-presidente Lula.

Também é sintomático o breve diálogo testemunhado pelo site de VEJA entre o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), e a ex-ministra Eleonora Menicucci, rebaixada para a Secretaria Especial da Políticas para Mulheres com a última reforma ministerial. Eles se cumprimentaram e ela logo sugeriu agendarem uma data para inaugurar um edifício ligado à pasta no Estado - estava em construção em São Luís (MA) uma Casa da Mulher Brasileira. "Vamos dar um jeito de inaugurar logo aquele prédio e colocar o nome na placa. Não vamos deixar nada para o Temer".

O ministro da Justiça, Eugênio Aragão, disse que os senadores desconsideram a argumentação jurídica de mérito e as ponderações da defesa. E capricha no discurso de vitimização. "Para quem está de fora, parece um jogo de cartas marcadas. O resultado para eles está na mesa, o vice-presidente está montando um gabinete definitivo, falando de políticas e de rever medidas provisórias", disse. "Tanto faz passar o rolo compressor do voto vil e ilegítimo no Congresso, quanto passar o coturno em cima do governo. É violência do mesmo jeito. O coturno é tão violento quanto a Constituição rasgada pelas instituições". O argumento ignora que o impeachment é um instrumento previsto na Carta Magna do país.

Para Aragão, Temer lida com "avidez excessiva" com a chegada do momento de assumir o governo interinamente e deveria ter mais "humildade". "Ele não está ungido pelo voto popular e quem está não foi ainda destituído. Ele deveria pelo menos manter os eixos do governo. Ele está lá de visitante, esquentando uma cadeira, não mais do que isso", disse, em referência ao julgamento da presidente, previsto para setembro. Ao contrário da votação da próxima quarta-feira, ainda não há votos suficientes para o impedimento da presidente no Senado.

Dilma participou de três cerimônias públicas nesta terça-feira e terminou o dia cansada e visivelmente abatida. Duas delas eram relacionadas aos Jogos Olímpicos Rio-2016, e Dilma abordou de maneira superficial temas políticos no discurso, sempre com semblante sisudo. Ela voltou a dizer que se sente "injustiçada" e uma "vítima".

No meio do dia, porém, o salão principal do Palácio do Planalto foi tomado por dezenas de aliados da presidente, servidores e trabalhadores. Houve gritos de apoio e a repetição do mantra "contra o golpe" - mas eles foram menos contundentes do que nas semanas antes da aprovação do impeachment na Câmara, quando Dilma fez da Presidência um bunker para comícios políticos.

Até a próxima semana, Dilma ainda estuda fazer algumas viagens pelo país. Na quinta-feira, a pauta é a Usina de Belo Monte, no Pará. Ela pode ir ao Nordeste na sexta, para uma agenda relacionada à transposição do Rio São Francisco, e a Goiânia, na próxima segunda-feira, para inaugurar obras no aeroporto local.

Fonte: VEJA

 

sexta-feira, 17 de julho de 2015

Collor volta ao cenário político para ver destruição do PT

Collor e os veículos da destruição

A busca policial em quatro endereços do senador Fernando Collor, com a apreensão de três carros de luxo (incluindo um Porsche, uma Ferrari e um Lamborghini Aventador que pode valer mais de dois milhões) na famigerada “casa da Dinda” é cheia de simbolismo. 

Empossado presidente em 1990, Collor era um machão e um playboy. Notabilizou-se por frases como a de que tinha nascido com o saco roxo, e a de que os carros brasileiros eram carroças.  O impeachment de Collor, após três anos de governo e um ano e meio de progressivas denúncias de corrupção, marcou o início de um ciclo virtuoso para o Brasil. Seu vice Itamar, que assumiu; Fernando Henrique Cardoso (que foi ministro de Itamar) e Lula foram presidentes que construíram uma história de avanços sociais, éticos e econômicos, na qual a vitória do candidato do PT nas eleições de 2002 foi um ápice, pelo seu significado psicossocial.

Evidentemente esse processo se deu com contradições e contrapassos, mas o país que parecia ter emergido do processo era mais justo e estável. Foi então que duas escolhas de Lula e do PT começaram a cobrar seu preço. A primeira foi a definição do PMDB, e dos pequenos partidos “de aluguel”, como aliados preferenciais para sua base, desde 2002. Esse modo de governar consolidou o início da fase de rivalidade acirrada com o PSDB (que havia se aproximado da direita do DEM para eleger Fernando Henrique em 1994) e está na origem do mensalão: o fluxo de dinheiro necessário para “comprar” essa base fisiológica.

A outra escolha de Lula foi “inventar” Dilma, egressa do PDT de Brizola e sem uma história consistente de ativismo, a não ser sua controversa passagem pela guerrilha. A escolha de Dilma em detrimento de outros sucessores possíveis, como Marina Silva, hoje sabemos, tem a ver com o dinheiro da corrupção. O principal embate que tirou Marina do ministério de Lula foi em torno da construção da usina de Belo Monte (defendida por Dilma e atacada por Marina), fonte de uma propina de 100 milhões, divididos entre PT e PMDB.

Quanto a Collor, depois de cumprir seus 8 anos de cassação de direitos políticos, retornou à política e, surpreendentemente (mas não) foi parar exatamente na base de apoio do PT. Eleito senador por Alagoas em 2007, virou lulista de infância. Pago com o dinheiro desviado da Petrobrás. Como bom playboy, a vida de Collor tem muito a ver com carros. 

Desde a humilde Fiat Elba comprada com dinheiro de seu tesoureiro e testa-de-ferro P.C. Farias, que foi uma das peças-chave de seu processo de impeachment (numa queima de arquivo, P.C. foi assassinado em Alagoas, em 1996). Passando pela Ferrari, a Maserati, a BMW e o Citroën da sua declaração de bens de 2010. E chegando ao Lamborghini dos sonhos apreendido (por suspeita de ter sido comprado com dinheiro de propina).

Para Collor, é um ciclo irônico que se fecha. Mas a ironia também espirra em Lula e no PT, que tiveram o mais aguerrido debate eleitoral com Collor em 1989 (quando o candidato, entre outros golpes baixos, arrastou uma ex-namorada de Lula e sua filha Lurian às “acusações”), e que foram essenciais à queda de Collor em 1992. É triste que, depois de quase ter sido varrido da política nacional, Collor tenha voltado para fazer parte da história da decadência, corrupção e destruição do PT.

Fonte: Blog do Alex Antunes

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sábado, 11 de julho de 2015

O governo e o xadrez

A comparação da política a um jogo de xadrez é antiga e recorrente, demonstrando que se trata mais de um jogo de raciocínios que de emoções. Tancredo Neves, a propósito, recomendava: “Não se faz política com o fígado”.

Getúlio Vargas, ao ser deposto, em 1945, disse a um sobrinho que o acompanhava a bordo do avião que o levava de volta a São Borja: “Sou uma pedra que foi movida da posição que ocupava. E eles pensam que vou permanecer aonde me colocaram. É o grande erro deles. Não sabem que vamos começar um novo jogo – e com todas as pedras de volta ao tabuleiro.”

O comentário encerra o segundo volume da magnífica trilogia biográfica de Getúlio, escrita por Lira Neto. Cinco anos depois, Vargas havia movido com maestria as peças do novo jogo – que seus adversários supunham ser ainda o antigo - e voltava ao poder nos braços do povo.

Não foi possível, porém, manter o raciocínio acima do fígado e Getúlio acabaria se suicidando quatro anos depois, num gesto que alguns dizem ter sido raciocínio puro e outros o contrário. Digamos que foi uma conjugação de ambos: Getúlio colocou a emoção a serviço do raciocínio (ou vice-versa) e, com o suicídio, adiou por dez anos o triunfo de seus adversários, que se daria em 1964. O que isso tem a ver com a crise atual? O contexto é bem outro, mas a ele comparece novamente o duelo entre emoção e razão. A entrevista da presidente Dilma à Folha de S. Paulo foi uma ação do fígado – e uma descompostura à razão.

Descontrolou-se em diversos momentos e deixou escapar, para quem sabe ler nas entrelinhas, que de fato está magoada com Lula, de quem tem recebido críticas públicas. Não só: chamou para a briga quem já está brigando com ela há muito tempo, a começar pelo próprio PT, sem falar no PMDB que já providenciou o divórcio.

Quis mostrar uma disposição que não tem e uma capacidade há muito perdida. Não se vence um impeachment no grito, mas com sofisticada e paciente articulação política.  Com os quadros de que dispõe na Câmara – onde tem como líderes figuras da estatura de Sibá Machado e Josué Guimarães -, não há, articulação, paciência, nem muito menos sofisticação. [Dilma não tem líderes na Câmara nem no Senado. Sibá Macho e o Zé Guimarães - o 'capitão cueca' - são dois fantoches; e o Delcídio é tão lider que em uma votação com 62 senadores presente, alguns do PT, a Dilma perdeu por 62 a 0 e não foi registrada nenhuma abstenção.

Como se percebe até ele votou e já que Dilma não teve nem um voto...]

Uma bomba políticae é disso que se trata quando se enfrentam processos simultâneos no TCU e no TSE, tem-se apenas 9% de apoio na sociedade e uma crise econômica em pleno galope - tem que ser desmontada por especialistas e não desativada a chutes e bravatas, o que a levará a explodir antes da hora.

E não é só de impeachment que se trata.


A presidente corre risco concreto de cassação, caso se comprovem – e para muitos já estão comprovadas – as denúncias de Ricardo Pessoa e outros réus da Lava-Jato. E a Petrobras não esgota o veio de denúncias. Vem aí a CPI da Eletrobrás e já se avolumam denúncias em torno da usina de Belo Monte.  São os mesmos métodos e os mesmos personagens, com evidências de desvio de dinheiro para a campanha do PT em 2014.

Mais que nunca, a imagem da caixa de lenços de papel, em quer se puxa um e vem outro, é precisa. E é isso que torna imprevisível o desfecho da crise. Os que temem que cresça a ponto de se tornar inadministrável recorrem a raciocínios de enxadristas.  Uns, como Eduardo Cunha, pensam no parlamentarismo, que dispensaria até o impeachment, já que colocaria fora do tabuleiro a figura da rainha, isto é, da presidente.


Outros veem o impeachment como inevitável e querem que Michel Temer assuma, organize uma transição e prepare o país para as eleições de 2018. Como Temer já se comprometeu de, nessa hipótese, não postular a reeleição, poderia presidir o ajuste econômico, sem preocupações com o fator popularidade.  Mas nem tudo está sob controle. O TSE, que julgará as verbas de campanha de Dilma e Temer em 2014 e já dispondo de denúncias que ainda não se esgotaram -, pode determinar a hipótese mais radical: a cassação da chapa PT-PMDB.

A jurisprudência daquela corte, aplicada quando, por idêntica razão, foi cassado o mandato do então governador do Maranhão, Jackson Lago, é a de dar posse ao segundo colocado. Roseana Sarney foi beneficiária desse critério e governou sem qualquer constrangimento, como se eleita houvesse sido. Aécio Neves já avisou que não aceitará esse privilégio. Convocará eleições. Sabe que, se aceitasse, teria menos governabilidade que a própria Dilma.[e o TSE ainda teve a coragem de autorizar Roseana Sarney a concorrer as eleições para governadora sem se desincompatibilizar - foi considerada que tinha sido eleita, quando não foi já que foi a segunda colocada. O eleito foi o Jackson Lago.]

Ninguém sabe que hipótese prevalecerá – e isso mantém o quadro político sob tensão. Há ainda muita água a correr debaixo da ponte, é o que se sabe. Falta raciocínio e sobra fígado.
O general do MST, João Pedro Stédile, já avisou que porá seu exército na rua se Dilma for deposta. E a presidente tenta costurar soluções improváveis, reunindo-se secretamente com o presidente do STF, Ricardo Lewandowski, em Portugal. 

Fonte: Ruy Fabiano, jornalista