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segunda-feira, 7 de maio de 2018

Câmeras do Cristo Redentor não identificam responsáveis por colocação de bandeira



Suspeita é de que a invasão tenha ocorrido por região de mata do Parque da Tijuca, que não possui monitoramento

[Lula, o PT, as esquerdas e o maldito comunismo devem ser repudiados por todos os meios, em todos os lugares e de todas as formas.

São responsáveis por tudo que tem acontecido de ruim em nossa Pátria desde o inicio do século passado.] 


                       No Cristo Redentor, bandeira contra o comunismo cita FHC, Lula e Dilma 
                                            - Marcos Ramos / Agência O Globo



As imagens das câmeras de segurança do Santuário Cristo Redentor, onde fica situado o monumento turístico de mesmo nome, não identificaram os responsáveis pelo hasteamento de uma bandeira contra o comunismo, fixada em uma das laterais do Morro do Corcovado. A suspeita é de que o ato de vandalismo tenha sido realizado entre a noite da última sexta-feira e a manhã de sábado. Segundo a administração do espaço, não foi registrada a presença de nenhum suspeito ao longo de todo o período em questão, indicando que os invasores adentraram o Parque Nacional da Tijuca por uma região de mata.

O Parque da Tijuca, por sua vez, informa que o Morro do Corcovado, localizado na unidade de conservação, não conta com guardas municipais no período da madrugada, e nem possui câmeras de segurança, impossibilitando a identificação dos autores. A administração da unidade optou por não realizar registro de ocorrência na delegacia. [afinal não houve crimes; ocorreu apenas o uso de da liberdade de expressão.] De acordo com o professor e ambientalista Rogério Rocco, apesar de não ser considerado um crime ambiental, uma vez que não houve dano ao meio ambiente, o ato de fixar a bandeira no local é passível de sanção administrativa federal, a ser emitida pelo órgão ambiental responsável, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). — Tal ato seria passível de sanção penal apenas caso a administração identificasse danos ao patrimônio. Entretanto, essa é uma conduta que viola o plano de manejo da unidade, pois, trata-se de uma utilização indevida do espaço, realizada, intencionalmente, fora do horário de funcionamento do parque, justamente para que os responsáveis não fossem flagrados — explica o especialista.
— Por ser uma área de acesso extremamente difícil, é muito provável que os responsáveis sejam alpinistas profissionais, contratados por quem teve a intenção de propagar essa mensagem. Se identificados, todos estão sujeitos à multa — finaliza.

Neste sábado (5), dia em que foi comemorado o bicentenário do filósofo alemão Karl Marx, considerado o “pai” do comunismo, uma das laterais do Morro do Corcovado amanheceu com uma bandeira anticomunismo hasteada. Ilustrada com uma foice e um martelo cortados por uma faixa preta, estavam os dizeres “O Brasil jamais será vermelho” e “Fora comunismo” em uma grande bandeira vermelha, junto aos nomes dos ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.

O Grupamento de Socorro Florestal e Meio Ambiente do Alto da Boa Vista foi acionado, e, por volta de 18h40 deste sábado, os bombeiros conseguiram concluir a retirada do objeto. Tanto o Parque quanto o Santuário acreditam na hipótese dos invasores terem cometido o ato durante a madrugada de sexta para sábado.  Por nota, o Parque Nacional da Tijuca repudiou o ato. “O uso noturno não está permitido nas trilhas do Parque, o que coloca em risco os visitantes, a floresta e os animais”, diz a nota.

O Globo
 


 

Voando com dinheiro público

O mês de maio é considerado uma das melhores épocas do ano para viajar a Roma

O clima é ameno, e a temperatura varia entre 10 e 27 graus. Católicos que estiveram por lá nesse período no ano passado puderam assistir a um show dos padres Marcelo Rossi e Fábio de Melo no Circo Massimo, a fantástica ruína romana onde eram realizadas no passado corridas de bigas. Mas ninguém na plateia foi mais afortunado que o deputado Fernando Coutinho (PROS-PE). Ele viu o show de graça. Suas despesas foram pagas pela Câmara dos Deputados, portanto, dinheiro público. 

 É FESTA Deputados estiveram no excêntrico cassino português (Crédito: Divulgação)

A viagem de Coutinho aconteceu no momento em que a Câmara já patinava na discussão da Reforma da Previdência. É um exemplo contundente da existência na Câmara de uma turma de congressistas que, preocupados com o próprio umbigo, se lixam para a situação do País.
 
Com uma enxurrada de projetos à espera de aprovação em comissões e no plenário, os deputados preferem dar suas escapulidas. Sob o caráter de “missões oficiais”, eles gastaram em 2017 nada menos que R$ 1,6 milhão somente em diárias para viagens ao exterior, para destinos como o Caribe, Inglaterra, Portugal, Itália, Espanha e Estados Unidos. Não raras vezes para assistir a shows ou discutir a conservação do Atum Atlântico na cidade de Marrakesh, no Marrocos. De acordo com dados confirmados por ISTOÉ junto ao portal de Transparência da Câmara, os parlamentares fizeram, em 2017, 286 viagens ao exterior. Foram pagas 1.312 diárias a um total de 184 deputados. O destino mais visitado foi Nova York, com 100 viagens. Para Lisboa, foram 23. Para Jerusalém, 17. Roma e Cidade do Panamá, 16.

Visitar cassinos no exterior foi um dos focos de alguns parlamentares. Entre os dias 5 e 20 de janeiro, em pleno recesso parlamentar, oito deputados foram ao exterior para tratar do funcionamento de cassinos e jogos de azar, que são proibidos no Brasil. Na China, entre idas a Xangai, Macau e Hong Kong, consumiram 40 diárias, totalizando R$ 63 mil. Foram ter uma aula sobre exploração de jogos de fortuna e azar naquele país. Para lá rumaram Herculano Passos (MDB-SP), Damião Feliciano (PDT-PB), Weliton Prado (PROS-MG), Hildo Rocha (MDB-MA), Lelo Coimbra (MDB-ES), Evandro Roman (PSB-PR), Jaime Martins (PROS-MG) e José Rocha (PR-BA).

Em novembro, a discussão sobre a legalização dos jogos fez com que os deputados Paulo Azi (DEM-BA), Efraim Filho (DEM-PB) e José Carlos Aleluia (DEM-BA) viajassem a Londres e Lisboa. Na Inglaterra, participaram da World Trade Market (WTM), a mais importante feira do setor do turismo no mundo. Já em Lisboa, estiveram reunidos com representantes do Grupo Estoril Sol e emprestaram a expertise deles sobre regulamentação de jogos, visitando cassinos na capital de Portugal.

Em 2017, 184 deputados visitaram 80 cidades pelo mundo afora. Os gastos consumiram R$ 1,585 milhão dos cofres públicos

O próprio presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), organizou sua excursão. Em novembro, ele e nove deputados usaram o avião da FAB para viajar a Israel, Palestina, Itália e Portugal. No périplo, visitaram o Museu do Holocausto, em Israel e a Basílica da Natividade, em Belém. Custo total: R$ 88 mil. Com o plenário não raro às moscas, 184 deputados exibem suas prioridades: preferem voar pelo mundo às custas do dinheiro do povo.

Ary Filgueiras - IstoÉ


 

Candidato do agronegócio

Agronegócio precisa de nova agenda e não de defensores do atraso. Políticos desfilaram pela Agrishow em Ribeirão Preto na esperança de serem vistos como candidatos do agronegócio. Nenhum alcançou o posto pelo que se pôde ver das reações comedidas dos organizadores do evento. O ideal seria que o setor se fixasse não em pessoas, mas em propostas, e que os projetos fossem voltados para o futuro e não para a defesa do atraso.

O agronegócio brasileiro vive um meio do caminho que o faz ser de ponta em alguns momentos e lugares, e atrasado na pauta que os seus representantes defendem. Quem vê a lista dos projetos da bancada ruralista no Congresso não vê o coração das mudanças que ocorrem dentro do setor. As empresas deveriam mirar o futuro do campo, que terá que ser com mais tecnologia, mais rastreabilidade, mais pacificação com o meio ambiente. Quem se dispõe a ser o defensor do agronegócio, pode achar que o bom é propor limitações ao processo de licenciamentos ambientais, restrições à divulgação da lista suja do trabalho escravo, anistia a quem ocupou terra pública e, agora, a ideia de armar os produtores rurais.

A encruzilhada em que o campo brasileiro está tem muitos dilemas. O que parece ser o interesse do agronegócio, o prenderá no passado. O Brasil sempre será um grande produtor de alimentos, tem um forte mercado interno, é e continuará sendo um importante fornecedor de carnes e grãos para o mundo. O campo brasileiro tem que olhar as tendências dos tempos de hoje, ser mais rigoroso com a qualidade, prestar contas de como cada item é produzido e sobre o que acontece na cadeia produtiva. A atitude do consumidor interno e externo hoje é a de ser mais exigente com a qualidade e o processo de produção. A tecnologia põe cada vez mais ferramentas nas mãos de quem quer o consumo consciente. Não adianta reclamar de protecionismo, é preciso agir para cumprir as exigências do consumidor.

A entrevista de Pedro de Camargo Neto no “Valor” de sexta-feira tocou num ponto essencial. O governo brasileiro quer discutir na OMC a imposição de barreiras sanitárias às exportações de frango. Isso será um desastre, diz o expresidente da Sociedade Rural Brasileira. O empresário criticou a operação da Polícia Federal na época, mas hoje, apesar de manter a ideia de que houve exageros, admite os erros do setor. “Existia um jeitinho brasileiro de operar o sistema de inspeção sanitária e a Carne Fraca acabou com ele”. O que precisa se combater é o mau comportamento de grandes frigoríficos que aceitaram esse sistema flagrado na operação. Fiscais que recebiam favores de fiscalizados, Ministério da Agricultura que não via o que estava acontecendo, grandes empresas exportadoras achando que era normal pagar a fiscalização, ou mascarar problemas na qualidade do produto.  Em vez de brigar com a União Europeia, dar ao consumidor da carne brasileira a garantia de que o sistema de fiscalização está sendo aperfeiçoado, corrigir os defeitos encontrados, aumentar a qualidade da certificação. Enfrentar o problema e não brigar com os seus efeitos.

Há pressões protecionistas contra o Brasil e sempre vai haver, mas o que o país não pode é dar motivo. Se a pauta da agricultura brasileira no terceiro milênio for a redução do combate ao trabalho escravo, a flexibilidade na fiscalização ambiental e o agravamento do conflito armado no campo, esquece. Estaremos fora da competição internacional.  De 1975 a 2017, a área plantada brasileira aumentou 82%, e a produção subiu 512%. O crescimento da produtividade fala por si. O Brasil é bom porque é competitivo, porque usou novas tecnologias de uso de solo e de produção, porque tem as condições naturais e somou-as às condições adquiridas pela busca da agropecuária de precisão. É esta facção que é a vencedora. Não é a que grila, mata, desmata e corrompe.

Que futuro quer o campo brasileiro? Esta é a pergunta que deve ser feita. Talvez nenhum dos candidatos preencha as expectativas, por isso o mais importante é o compromisso com uma agenda modernizadora. Coloque-se uma arma de fogo na mão de cada capataz, em cada fazenda, e vamos direto para o passado do campo bandoleiro. Invista-se em novas tecnologias de produção e teremos espaço garantido no futuro. Esta é a encruzilhada.

Miriam Leitão - O Globo

Temer e família diante da República



Em cenas republicanas fortes, enquanto o ex-presidente Lula está preso em Curitiba, a filha de Temer, o atual, depõe sobre suspeita de lavagem de dinheiro de propina

O presidente Michel Temer tem demonstrado especial irritação com a evolução das investigações que tratam de rastros visíveis de obtenção de propinas supostamente decorrentes da edição de um decreto que teria facilitado a vida de empresas que atuam no Porto de Santos.  A inclusão de sua filha Maristela na lista de depoentes à Polícia Federal crispou de vez a face de Temer, sendo que ele mesmo já respondeu a questionário da PF.  Mas, como professor de Direito constitucional, deveria entender que é assim que o Estado age nas Repúblicas. [só que nas Repúblicas o Estado age de forma isenta, imparcial; já na República da Banânia se percebe que a ação do Estado não é imparcial, se percebe até um certo prazer, certa alegria e satisfação por parte dos agentes do Estado.
No caso específico de Temer o próprio procurador-geral da República, na época, deixando de lado a neutralidade que o cargo exige, chegou ao ponto de coordenar ações visando possibilitar que um delator - que se autodesmoralizou após tomar algumas doses de bebida alcoólica - umas - gravasse de forma indevida o presidente.]


O mais poderoso governante do planeta, o americano Donald Trump, por exemplo, está às voltas com um promotor especial que vasculha os subterrâneos da campanha que o elegeu, em que houve interferência de hackers do Kremlin, e até investiga uma história sórdida de chantagem e de compra de silêncio protagonizada por Trump e uma estrela do cinema pornô. É assim que organismos de Estado devem funcionar, independente de governos. 


Na verdade, esta trajetória acidentada no terreno da ética que o presidente percorre era previsível, devido à sua origem: o PMDB, hoje MDB, conhecido conglomerado de caciques regionais e com sortido arsenal de ferramentas para garimpar dinheiro público. Da Câmara dos Deputados, presidida duas vezes por Temer, saiu, por exemplo, Eduardo Cunha (RJ), também presidente da Casa, para as cadeias da Lava-Jato em Curitiba. Vice-presidente de Dilma, governante do ciclo lulopetista de corrupção, Temer dificilmente escaparia incólume. É o que se vê. Este inquérito do decreto dos portos — que ontem a procuradora-geral Raquel Dodge permitiu prorrogar por mais 60 dias, se assim quiser o ministro do STF Luís Roberto Barroso — tem origem em delações premiadas feitas por Joesley Batista e Ricardo Saud, da J&F, controladora dos frigoríficos JBS.



Veio daí, também, a gravação, feita por Joesley, da comprometedora conversa que manteve com Temer nos porões do Palácio do Jaburu. E a história do decreto também envolve o ex-deputado Rocha Loures, o da corrida apressada por São Paulo puxando a tal mala com R$ 500 mil. [até o presente momento não foi provado que Temer era o destinatário da tal mala.] 

Há pelo menos um grampo legal em que Loures telefona para Temer a fim de saber do tal decreto, que interessava à Rodrimar e a outras empresas. Num dos mais recentes lances do inquérito, Maristela Temer depôs para tentar explicar o pagamento de reforma de sua casa em São Paulo, feito em dinheiro vivo, e ao menos parte pela arquiteta Maria Rita Fratezi, mulher do coronel da reserva da PM João Baptista de Lima Filho, o “coronel Lima”, homem de extrema confiança de Temer.A suspeita é que na reforma do imóvel tenha sido lavado dinheiro de propina paga em troca do decreto dos portos. O caso é grave e talvez sustente uma terceira denúncia da Procuradoria-Geral da República contra o presidente. As duas anteriores foram barradas na Câmara, mas deverão ser reativadas quando Temer deixar o cargo. Nada deve surpreender. Afinal, no momento, outro dos presos em Curitiba é o ex-presidente Lula. [comparar o presidente Temer com o condenado Lula é realmente aviltar, pisotear a honra e a dignidade que ainda não conseguiram retirar do atual presidente.]

Editorial - O Globo

domingo, 6 de maio de 2018

Revirando o lixo da História

A condição humana é dada não pela atividade laboral, um meio de sobrevivência, mas pelo agir e pensar politicamente, em regime de plena liberdade


Exumei das redes sociais um velho texto (lá se vão três anos) publicado nessas “Entrelinhas” para analisar o colapso do governo Dilma. O título da coluna era “A lata do lixo da História”, o nome de uma peça dos anos 1970 do sociólogo Roberto Schwarz, então professor de teoria literária da Universidade de São Paulo (USP), na qual fazia uma sátira ao regime militar. A expressão “vai para a lata do lixo da História” era muito usada por setores de esquerda na época, servia para menosprezar o papel dos liberais na luta pela democracia; hoje, serve aos liberais que consideram toda a esquerda ultrapassada e não apenas os setores ligados ao PT. É um erro. O Brasil precisa de uma esquerda moderna que dialogue com os liberais para reconstruir o centro democrático.

Essa lembrança veio a propósito do discurso do presidente da China, Xi Jinping, ao comemorar o bicentenário do nascimento de Karl Marx, no Grande Palácio do Povo: “O marxismo, como um amanhecer espetacular, ilumina o caminho da humanidade na sua exploração das leis históricas e na busca da sua própria libertação”. Em resumo, disse que os comunistas chineses precisam voltar às origens. Entretanto, Karl Marx é um dos sujeitos mais mal interpretados de todos os tempos, por esta razão: seus escritos partem do princípio de que a ação política não pode estar descolada do pensamento intelectual.

Após sua morte, em 14 de março de 1883, a teoria de Marx foi simplificada e instrumentalizada para a luta política, inclusive por seu amigo Frederico Engels e seu genro, Paul Lafargue. Social-democratas, socialistas e comunistas usaram sua crítica como estratégia política, mas Marx nunca teve uma fórmula para construir um mundo diferente do capitalismo. Mesmo assim, os conceitos de “valor” e “fetichismo”, suas grandes contribuições à compreensão do capitalismo, perderam espaço e influência para o conceito de “luta de classes”.

Grande exemplo é um livro de Josef Stalin intitulado Problemas econômicos do socialismo na URSS, de 1953, com o qual o líder comunista puxou as orelhas dos economistas da Academia de Ciências: “Por isso, estão absolutamente errados os camaradas que declaram que, uma vez que a sociedade socialista não liquida as formas mercantis de produção, então todas as categorias econômicas próprias do capitalismo deveriam alegadamente ser restabelecidas no nosso país: a força de trabalho como mercadoria, a mais-valia, o capital, o lucro do capital, a taxa média de lucro etc.”

Stálin varreu para debaixo do tapete problemas que mais tarde levaram ao colapso a antiga União Soviética: “Além disso, penso que precisamos igualmente abandonar alguns outros conceitos, retirados de O Capital, no qual Marx procedeu à análise do capitalismo, e que são artificialmente apensos às nossas relações socialistas. Refiro-me, entre outros, a conceitos como trabalho necessário e sobretrabalho, produto necessário e sobreproduto, tempo necessário e suplementar. A conta chegou para Gorbatchov na década de 1990: quando o líder comunista quis retomar a discussão, na Perestroika, o socialismo real já era. Talvez Xi Jinping esteja diante do mesmo debate no seu país, onde os operários são superexplorados e florescem uma nova burguesia e uma robusta classe média.

Parêntesis: na teoria de Marx, valor é aquilo que permite comparar duas mercadorias. A quantidade de trabalho que foi incorporada à mercadoria é que determina o seu valor. Já o fetiche é uma consequência disso: uma cortina que nos impede de ver a mercadoria em si. No caso de um celular, por exemplo, não conseguimos perceber todo o processo produtivo que está por trás da sua fabricação — na China, por exemplo —, mas somente o produto final, como se o aparelho, em si, tivesse vida própria na loja.

Grande jogo
A gênese dos partidos operários é velha tese marxista da centralidade do trabalho na luta política, que parte da ideia de que a contradição entre o trabalho e o capital é o motor da história e o eixo de atuação política do partido, ou seja, a luta de classes. Vem daí o glamour perdido do PT e o fascínio de intelectuais e artistas pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A filósofa alemã Hanna Arendt, uma democrata radical, via nessa concepção que absolutiza o trabalho uma das raízes do totalitarismo. Para ela, a condição humana é dada não pela atividade laboral, um meio de sobrevivência, mas pelo “agir e pensar politicamente”, em regime de plena liberdade, o que tanto o fascismo como o stalinismo não permitiram. Essa crítica “racionalista” hoje faz ainda mais sentido, porque o trabalho humano está sendo substituído pelo “não trabalho” dos robôs e sistemas de inteligência artificial.

A China hoje é o nosso principal parceiro comercial, seguida dos Estados Unidos. Ambos disputam o controle do comércio mundial, cujo eixo se deslocou do Atlântico para o Pacífico. O “grande jogo” da política mundial e a globalização, porém, para muitos setores da esquerda, continuaram sendo vistos na óptica dos velhos paradigmas, ou seja, o inimigo principal é o imperialismo norte-americano; o capitalismo de Estado, após a tomada do poder, é a antessala do socialismo. Não importa que os Estados Unidos sejam uma democracia e a China, uma ditadura. Nunca é demais lembrar que o colapso do governo Dilma se deveu às ideias políticas e econômicas fora de lugar, que apostavam numa aliança com a China, a Rússia, a África do Sul e a Índia como aliados principais, contra os Estados Unidos e a Comunidade Europeia, seguidas por práticas patrimonialistas estimuladas por Lula, que enlamearam toda a esquerda e jogaram as lideranças do PT na cadeia. Todas essas ideias velhas não morreram, estão vivíssimas nestas eleições de 2018. E não na lata do lixo da história.

Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo - CB
 

Novo estelionato em construção

Dizer que aumento do gasto público é autofinanciável é populismo explícito

O professor do Instituto de Economia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas, “meca” do pensamento heterodoxo brasileiro) Marcio Pochmann, responsável pelo programa do candidato do PT, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo no domingo passado (29), afirmou: “O fundamental no início do governo é um programa de emergência, que permita ao país sair da crise e voltar a crescer. Nós entendemos que a questão fiscal se resolve com volta do crescimento”.

É tanta bobagem que tenho dificuldade de acreditar que Pochmann de fato acredita no que falou. O crescimento já voltou —no ano passado, crescemos 1%, e, neste ano, a expansão será próxima de 2,6%—, além de sabermos que a economia não atende as condições do moto-perpétuo. Isto é, impulso fiscal não gera crescimento suficientemente forte para reduzir a dívida como proporção da renda nacional.  A política do pé na máquina foi empregada inúmeras vezes no Brasil. Antonio Delfim Netto no fim dos anos 1970, Dilson Funaro em 1985 e, mais recentemente, Dilma Rousseff em seu primeiro mandato. Sempre com resultados desastrosos.  Donald Trump aparentemente concordaria com cada palavra de Pochmann. Também o governo de Cristina Kirchner aplicou a ideia do moto-perpétuo. Mauricio Macri luta até hoje, sem grande sucesso, para reduzir inflação que insiste em rodar a 25% ao ano. Sem falar do caso da Venezuela.
Por outro lado, Pochmann foi contra o ajuste fiscal promovido pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva em 2003, que está na raiz do bom desempenho dos oito anos daquela administração.

Ou seja, Pochmann está simplesmente errado. A estultice contida na fala dele não está associada a proposições que tipicamente polarizam esquerda e direita. Pode-se defender maior progressividade dos impostos para combater a desigualdade. Seria uma proposição de esquerda, segundo Norberto Bobbio. Pode-se argumentar que a maior progressividade teria efeitos perversos sobre a eficiência e, consequentemente, o crescimento. Seria proposição de direita, segundo Norberto Bobbio. Ambas as proposições são defensáveis, e um economista, além de medir os custos e os benefícios de cada uma delas, nada teria mais a dizer sobre elas. São temas eminentemente políticos. É necessário um juízo de valor subjetivo para decidir. Somente a política tem essa delegação.

Já a proposição de que o aumento do gasto público é automaticamente autofinanciável é simplesmente errada.  Não estamos no terreno do debate de ideias esquerda versus direita. Trata-se de populismo explícito. Há profissionais de economia que se prestam a esse serviço. Tanto na esquerda quanto na direita. Assim, minha interpretação é que o grupo político ao qual Pochmann está associado tem a avaliação de que é de seu interesse embarcar em uma campanha eleitoral escondendo da população, como fizera em 2014, os reais desafios do país. Um novo estelionato eleitoral encontra-se em gestação.

Tudo o que um político deseja é um profissional de economia, com alguma credencial acadêmica, que diga que os problemas se resolvem estimulando o crescimento. Nos meus 55 anos de vida, já vi esse discurso, pela direita e pela esquerda, inúmeras vezes. Nunca terminou bem.  Vale lembrar que Pochmann foi também contrário à focalização do gasto social nas famílias de menor renda, embrião do programa Bolsa Família. Era política pública dos neoliberais do Banco Mundial.

Samuel Pessôa, pesquisador do Ibre-FGV