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segunda-feira, 7 de maio de 2018

Candidato do agronegócio

Agronegócio precisa de nova agenda e não de defensores do atraso. Políticos desfilaram pela Agrishow em Ribeirão Preto na esperança de serem vistos como candidatos do agronegócio. Nenhum alcançou o posto pelo que se pôde ver das reações comedidas dos organizadores do evento. O ideal seria que o setor se fixasse não em pessoas, mas em propostas, e que os projetos fossem voltados para o futuro e não para a defesa do atraso.

O agronegócio brasileiro vive um meio do caminho que o faz ser de ponta em alguns momentos e lugares, e atrasado na pauta que os seus representantes defendem. Quem vê a lista dos projetos da bancada ruralista no Congresso não vê o coração das mudanças que ocorrem dentro do setor. As empresas deveriam mirar o futuro do campo, que terá que ser com mais tecnologia, mais rastreabilidade, mais pacificação com o meio ambiente. Quem se dispõe a ser o defensor do agronegócio, pode achar que o bom é propor limitações ao processo de licenciamentos ambientais, restrições à divulgação da lista suja do trabalho escravo, anistia a quem ocupou terra pública e, agora, a ideia de armar os produtores rurais.

A encruzilhada em que o campo brasileiro está tem muitos dilemas. O que parece ser o interesse do agronegócio, o prenderá no passado. O Brasil sempre será um grande produtor de alimentos, tem um forte mercado interno, é e continuará sendo um importante fornecedor de carnes e grãos para o mundo. O campo brasileiro tem que olhar as tendências dos tempos de hoje, ser mais rigoroso com a qualidade, prestar contas de como cada item é produzido e sobre o que acontece na cadeia produtiva. A atitude do consumidor interno e externo hoje é a de ser mais exigente com a qualidade e o processo de produção. A tecnologia põe cada vez mais ferramentas nas mãos de quem quer o consumo consciente. Não adianta reclamar de protecionismo, é preciso agir para cumprir as exigências do consumidor.

A entrevista de Pedro de Camargo Neto no “Valor” de sexta-feira tocou num ponto essencial. O governo brasileiro quer discutir na OMC a imposição de barreiras sanitárias às exportações de frango. Isso será um desastre, diz o expresidente da Sociedade Rural Brasileira. O empresário criticou a operação da Polícia Federal na época, mas hoje, apesar de manter a ideia de que houve exageros, admite os erros do setor. “Existia um jeitinho brasileiro de operar o sistema de inspeção sanitária e a Carne Fraca acabou com ele”. O que precisa se combater é o mau comportamento de grandes frigoríficos que aceitaram esse sistema flagrado na operação. Fiscais que recebiam favores de fiscalizados, Ministério da Agricultura que não via o que estava acontecendo, grandes empresas exportadoras achando que era normal pagar a fiscalização, ou mascarar problemas na qualidade do produto.  Em vez de brigar com a União Europeia, dar ao consumidor da carne brasileira a garantia de que o sistema de fiscalização está sendo aperfeiçoado, corrigir os defeitos encontrados, aumentar a qualidade da certificação. Enfrentar o problema e não brigar com os seus efeitos.

Há pressões protecionistas contra o Brasil e sempre vai haver, mas o que o país não pode é dar motivo. Se a pauta da agricultura brasileira no terceiro milênio for a redução do combate ao trabalho escravo, a flexibilidade na fiscalização ambiental e o agravamento do conflito armado no campo, esquece. Estaremos fora da competição internacional.  De 1975 a 2017, a área plantada brasileira aumentou 82%, e a produção subiu 512%. O crescimento da produtividade fala por si. O Brasil é bom porque é competitivo, porque usou novas tecnologias de uso de solo e de produção, porque tem as condições naturais e somou-as às condições adquiridas pela busca da agropecuária de precisão. É esta facção que é a vencedora. Não é a que grila, mata, desmata e corrompe.

Que futuro quer o campo brasileiro? Esta é a pergunta que deve ser feita. Talvez nenhum dos candidatos preencha as expectativas, por isso o mais importante é o compromisso com uma agenda modernizadora. Coloque-se uma arma de fogo na mão de cada capataz, em cada fazenda, e vamos direto para o passado do campo bandoleiro. Invista-se em novas tecnologias de produção e teremos espaço garantido no futuro. Esta é a encruzilhada.

Miriam Leitão - O Globo

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