"Pobre do País que precisa de herói para condenar corruptos
e peculatários".
Não há como discordar desta frase do advogado Antônio
Ribas Paiva, na atual conjuntura e estrutura capimunista brasileira. Até o juiz
Sérgio Moro, heroicamente exaltado nas ruas e nas redes sociais, não concorda
que seja tratado como herói por apenas cumprir seu dever de ofício como
servidor público de um judiciário - que deixa demais a desejar no Brasil da
injustiça e da impunidade. O triste é que, na falta de outros que ajam da mesma
forma, os usurpadores da coisa pública continuam fazendo a festa, se locupletando
com o poder, sem qualquer previsão concreta de sofrer alguma punição.
Tão escandalosa quanto a descoberta de um grampo (interceptação
telefônica e de informática ilegal) contra a Força Tarefa da Operação Lava Jato
(demonstrando um lamentável racha na Polícia Federal) é mais uma notícia
lamentável sobre os rumos das investigações na Operação Porto Seguro,
deflagrada no distante ano de 2012. A Justiça Federal insiste em manter o
estranho sigilo nos processos que correm contra a ex-chefe do escritório da
Presidência da República em São Paulo Rosemary Noronha, amiga do ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva. O Ministério Público Federal denunciou Rose por
improbidade administrativa. Ela já é alvo de uma ação criminal por corrupção
passiva, tráfico de influência e falsidade ideológica. Nunca se cogitou,
sequer, a prisão da poderosa figura.
Agora, mais um fato que beneficia Rosemary. O juiz José
Henrique Prescendo, da 22ª Vara Cível Federal, declinou da competência para
conduzir a ação e determinou a remessa do processo para Brasília porque outras
ações civis relacionadas à Operação Porto Seguro já correm na capital federal. O
Ministério Público Federal recorre para que o processo seja mantido em São
Paulo. O juiz também determinou o segredo judicial sobre o processo por causa
da existência de documentos decorrentes da quebra de sigilo telefônico, fiscal
e bancário dos réus. Rosemary deve ter comemorado a decisão. Certamente, o
amigo Lula, também. A estratégia é investir na embromação do caso, para que os
crimes prescrevam no final das contas...
O MPF listou os favores recebidos pela ex-chefe do
escritório da Presidência para fazer indicações de nomeações e marcar reuniões
para o ex-diretor da Agência Nacional de Águas Paulo Vieira. Rose também é
acusada de indicar o irmão de Paulo, Rubens Vieira, para a diretoria da Agência
Nacional de Aviação Civil (Anac). Os irmãos Viera comandariam uma quadrilha de
venda de pareces em órgãos federais. Eles também foram denunciados por
improbidade administrativa na nova ação proposta pelo MPF. O caso envolve o
suposto favorecimento da empresa Tecondi, que explora terminais no Porto de
Santos (SP), em processos no Tribunal de Contas da União (TCU) e na Agência
Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) e ingerência da ex-chefe do
escritório da Presidência da República no Ministério da Educação.
O escândalo é mais um dos tantos que conseguem ficar sob estranho sigilo, enquanto se arma a impunidade final. Reportagem de O Globo refresca a memória do caso: "A Operação Porto Seguro da Polícia Federal revelou que Rose obteve para o seu ex-marido José Cláudio Noronha um diploma universitário falso para que ele pudesse ser nomeado para o conselho de administração da BrasilPrev, seguradora do Banco do Brasil. José Cláudio também foi denunciado por improbidade administrativa, assim como João Batista de Oliveira Vasconcelos, outro ex-marido de Rose. A empresa de Vasconcelos conseguiu um contrato com a Cobra, braço tecnológico do Banco do Brasil. A PF também descobriu que Rose e Paulo Vieira planejavam abrir uma escola de inglês. A unidade, da rede Red Ballon, registrada em nome de Meline e Mirelle, as duas filhas de Rose, e de seu ex-marido Noronha, começou a funcionar no início do ano passado, em São José dos Campos (SP)".
Rose permanece blindadíssima. O amado amigo Luiz Inácio Lula da Silva, também. A Operação Lava Jato começa a sofrer sabotagens. Imagina as pressões que correm nos bastidores - que não chegam aos ouvidos e olhares profanos. As gravíssimas provas obtidas nos acordos de "colaboração premiada" demoram a atingir os poderosos do andar de cima. Por enquanto, são punidos apenas os empreiteiros e os que não tem foro privilegiado de julgamento. Até a otimista Velhinha de Taubaté duvida que o caso pegue pesado contra os políticos poderosos, quando chegar a ser analisado pelo Supremo Tribunal Federal. Provavelmente, até isto acontecer, passarão vários anos. Muitos das penas prescreverão. A lenda do Mensalão tende a se repetir, como farsa.
O povão está perdendo a paciência. A revolução dos
smartphones, que democratiza a circulação de informações e opiniões antes
censuradas pela mídia tradicional, ajuda a intensificar a insatisfação social
com tanta coisa errada, sem previsão de se tornar correta algum dia. O barril
de pólvora nunca pareceu tão próximo de ser aceso. Alguns ditos poderosos ainda
fingem que nada é com eles. Mas, no íntimo da consciência, sentem a pressão das
ruas subindo.
Fonte: Blog Alerta Total - Jorge Serrão
Nenhum comentário:
Postar um comentário