Exportadores brasileiros decidiram processar alguns dos maiores bancos globais, pela manipulação do câmbio do real em relação ao dólar durante seis anos
Grandes
empresas industriais e exportadoras brasileiras decidiram ir à Justiça
contra alguns dos maiores bancos globais. Durante seis anos, essas
instituições financeiras manipularam um dos principais indicadores
econômicos do Brasil — a taxa de câmbio, preço-chave para contratos de
comércio e investimentos. — Empresas e governo pagaram uma conta
pesada demais, e estamos falando de centenas de bilhões — diz o
empresário Roberto Giannetti da Fonseca, presidente do Conselho
Empresarial de América Latina. — Aqui, em 2011, os negócios com
derivativos cambiais chegaram a 24 bilhões de dólares por dia.
Entre 2007 e 2013, 30 operadores de bancos estrangeiros conspiraram para influenciar o câmbio do real em relação ao dólar. Combinaram cotações falsas, compartilharam lucros de 30% e dados sigilosos de clientes. Dividiam-se em dois grupos de chat: um autodenominava-se “A Máfia”, outro identificava-se como “O Cartel”. Representavam Citigroup, Bank of America, Barclays, Deutsche, HSBC, Merril Lynch, Morgan Stanley, JP Morgan Chase, Royal Bank of Canada, Nomura, Tokyo-Mitsubishi, Royal Bank of Scotland, Standard, Credit Suisse e UBS.
Estão sob investigação no Brasil, nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha. Cinco (JP Morgan, Citigroup, Barclays, RBS e UBS) já admitiram culpa em processos nos EUA. As primeiras multas americanas somam US$ 6,4 bilhões. A investigação brasileira é comandada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica. O Cade aceitou acordo proposto pelo suíço UBS que, em julho, confessou, entregou provas contra outros bancos e delatou 30 pessoas físicas envolvidas na fraude do câmbio do real.
A Associação Brasileira de Comércio Exterior decidiu participar da ação conduzida pelo Cade: — Estamos levantando subsídios para um processo —, conta José Augusto de Castro, presidente. — Essa manipulação ajudou a destruir a nossa estrutura. Somente em vendas de produtos manufaturados perdemos US$ 50 bilhões e a chance de criar dois milhões de empregos. A trama para supervalorizar a moeda brasileira incentivou importações. Até 2005 o país tinha 17 mil empresas de exportação e 22 mil de importação. Ano passado contavam-se 19 mil exportadoras contra 44,3 mil importadoras.
A especulação, favorecida pela taxa recorde de juros, deixou o país no lado oposto das nações industrializadas: no Brasil, o volume de negócios diários no mercado futuro de câmbio passou a ser cinco vezes maior do que no mercado de cambio à vista. Segundo o banco dos bancos centrais (BIS), o real se tornou a segunda moeda mais negociada no mercado futuro internacional. Só perde para o dólar.
Em recente audiência no Senado, um diretor do Banco Central, Aldo Mendes, minimizou os efeitos da conspiração sobre o real, apesar da confissão de participantes como o UBS. Mendes não admitiu falhas na vigilância e considerou impossível a manipulação da taxa de câmbio (Ptax) no Brasil:
— Nosso modelo é o melhor que existe.
— Ele mentiu ao Senado — diz Giannetti da Fonseca. — As provas estão no Cade, entregues, em confissão, por um dos participantes.
Castro complementa: — Fiscalizar seria a obrigação do BC, que nada fez. Para os empresários, durante seis longos anos o “cartel" e a “máfia" ajudaram a desindustrializar o Brasil. Só o Banco Central não viu.
Fonte: José Casado - O Globo
Entre 2007 e 2013, 30 operadores de bancos estrangeiros conspiraram para influenciar o câmbio do real em relação ao dólar. Combinaram cotações falsas, compartilharam lucros de 30% e dados sigilosos de clientes. Dividiam-se em dois grupos de chat: um autodenominava-se “A Máfia”, outro identificava-se como “O Cartel”. Representavam Citigroup, Bank of America, Barclays, Deutsche, HSBC, Merril Lynch, Morgan Stanley, JP Morgan Chase, Royal Bank of Canada, Nomura, Tokyo-Mitsubishi, Royal Bank of Scotland, Standard, Credit Suisse e UBS.
Estão sob investigação no Brasil, nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha. Cinco (JP Morgan, Citigroup, Barclays, RBS e UBS) já admitiram culpa em processos nos EUA. As primeiras multas americanas somam US$ 6,4 bilhões. A investigação brasileira é comandada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica. O Cade aceitou acordo proposto pelo suíço UBS que, em julho, confessou, entregou provas contra outros bancos e delatou 30 pessoas físicas envolvidas na fraude do câmbio do real.
A Associação Brasileira de Comércio Exterior decidiu participar da ação conduzida pelo Cade: — Estamos levantando subsídios para um processo —, conta José Augusto de Castro, presidente. — Essa manipulação ajudou a destruir a nossa estrutura. Somente em vendas de produtos manufaturados perdemos US$ 50 bilhões e a chance de criar dois milhões de empregos. A trama para supervalorizar a moeda brasileira incentivou importações. Até 2005 o país tinha 17 mil empresas de exportação e 22 mil de importação. Ano passado contavam-se 19 mil exportadoras contra 44,3 mil importadoras.
A especulação, favorecida pela taxa recorde de juros, deixou o país no lado oposto das nações industrializadas: no Brasil, o volume de negócios diários no mercado futuro de câmbio passou a ser cinco vezes maior do que no mercado de cambio à vista. Segundo o banco dos bancos centrais (BIS), o real se tornou a segunda moeda mais negociada no mercado futuro internacional. Só perde para o dólar.
Em recente audiência no Senado, um diretor do Banco Central, Aldo Mendes, minimizou os efeitos da conspiração sobre o real, apesar da confissão de participantes como o UBS. Mendes não admitiu falhas na vigilância e considerou impossível a manipulação da taxa de câmbio (Ptax) no Brasil:
— Nosso modelo é o melhor que existe.
— Ele mentiu ao Senado — diz Giannetti da Fonseca. — As provas estão no Cade, entregues, em confissão, por um dos participantes.
Castro complementa: — Fiscalizar seria a obrigação do BC, que nada fez. Para os empresários, durante seis longos anos o “cartel" e a “máfia" ajudaram a desindustrializar o Brasil. Só o Banco Central não viu.
Fonte: José Casado - O Globo
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