A
denúncia de Cerveró contra o governo FH foi encontrada em documentos no
escritório do senador Delcidio Amaral e é uma "proposta de delação
premiada" dele e pegava o Delcídio, que tinha sido diretor da Petrobras no período. É
preciso saber porque ele não repetiu essa denúncia na delação premiada. Ou
se repetiu, porque não foi divulgado. E ele confirma
outras delações que já haviam surgido sobre o governo Lula, como o pagamento
a chantagens a respeito do assassinato do prefeito Celso Daniel. A
delação do Cerveró tem teor explosivo.
Guinada,
mas para onde?
O
estupor com que as declarações de ontem da presidente Dilma foram recebidas
pelos movimentos de esquerda e pelos blogueiros chapa-branca não tem preço. A presidente que chegou para o
café da manhã com jornalistas parecia outra pessoa: defendeu
o equilíbrio fiscal, a inflação dentro da meta, reforma da Previdência, uma
série de pontos que são opostos ao que PT e o ex-presidente Lula pretendem. E
negou que tenha em algum momento tratado de uma “guinada à esquerda” na
economia.
Está
ficando cada vez mais clara essa distância entre os dois. O que é surpreendente é que a
presidente Dilma esteja defendendo pontos de vista corretos, mas fica a
pergunta: Por que nunca fez isso? Por que passou todo o primeiro mandato
fazendo o contrário? Por que colocou o país nessa situação, a troco de quê, se
está convencida de que o equilíbrio fiscal é fundamental?
Pelo
jeito fez uma experiência, que deu errado, e agora tenta consertar retomando o rumo de uma
política econômica que seus parceiros classificam de “neoliberal”, a mesma que ela tanto criticou durante a campanha eleitoral.
Antes tarde do que nunca, mas o problema vai ser ter apoio no Congresso.
O
PT e as centrais sindicais vão recusar apoio à reforma da Previdência nos termos anunciados por Dilma, a fixação de uma idade mínima para a aposentadoria. Ontem mesmo João Pedro Stedile, do MST, já se
levantou contra Dilma, prometendo manifestações pelo país se os direitos
dos trabalhadores do campo forem afetados. Também Boulos, do movimento dos
Sem Teto, ameaçou um levante popular contra o governo. E a CUT já havia anunciado que não aceitará mudanças na
aposentadoria dos trabalhadores.
A
presidente vai ter que buscar apoio no PMDB e na oposição, e não creio que tenha condições
para refazer sua base partidária assim de repente. No limite, ela teria que fazer um movimento brusco seguindo o conselho de Cid Gomes: sair do PT. Não
creio que possa fazer isso. Mas quando Dilma fala que o governo não responde a
um partido apenas, mas à sociedade, esta dizendo que o que o PT exige não se
coaduna com o que a sociedade pretende.
Um recado
claro da presidente, que enfatizou que nunca discutiu com o PT uma “guinada
à esquerda”. Essas declarações foram feitas no dia seguinte a uma reunião
com o ex-presidente Lula, que defendeu mais crédito, menos juros, para
retomada rápida do crescimento econômico. A presidente repetiu seu ministro
Jaques Wagner, dizendo que não há coelho na cartola, que não se resolve com
mágica a situação econômica, e o ex-presidente Lula
deve ter entendido que já não tem condições de ditar as regras como antigamente.
Os tempos mudaram, e nada mais exemplar dessa mudança do que as cinco horas
em que Lula passou depondo na quarta-feira na Polícia Federal sobre a
Operação Zelotes.
A
presidente Dilma não parece preocupada com os arroubos de sua base social, mas
em tentar fazer a coisa certa, finalmente. Mas vai
ser muito difícil essa mudança de rumo, e
não se vislumbra o que a fez ser tão assertiva quando era óbvio que as reações
viriam de todos os lados que ainda a apóiam.
O
dilema da presidente é que esse apoio, inclusive o de Lula, exige dela uma
subserviência que ela parece não estar disposta a dar. E, diante do quadro de
instabilidade política que a cerca, com o impeachment
que, bem lembrou Lula, “ainda não está enterrado”, é
difícil entender a guinada de Dilma, um salto sem rede de proteção. [simples de entender: a Dilma não sabe o que fala;
para Merval Pereira, acadêmico, organizar as palavras em frases é algo simples.
Mas, para alguém cuja principal característica é a solidão no interior do
seu cérebro, elaborar uma frase com dez palavras, sem se contradizer, é uma
proeza quase sempre impossível.]
Ela
acabará dando motivos ao PT para se afastar de seu governo, romper
politicamente a pretexto de defender os “interesses do povo”. Ir para o PDT, voltando às suas
raízes brizolistas, conforme diversos sinais que surgiram nos últimos dias, não
seria uma saída política brilhante, pois o brizolismo não é exatamente uma
força política que possa sustentar um governo tão fragilizado quanto o de
Dilma.
E a
fixação de uma idade mínima é importante, sem dúvida, para a saúde financeira da própria
Previdência e, por conseguinte, para o país, mas não é nem de longe um
tema popular que dê respaldo político a um governante.
Fonte: Merval Pereira – O Globo
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