Nossos
bioprogressistas, enterrados até ao pescoço em suas próprias agendas políticas,
acusam a todos de falta de objetividade científica do alto de suas perspectivas
intensamente subjetivas e desprovidas do mínimo de empatia necessário para mover
um debate de qualidade.
Na edição
de maio de 2016 do American Journal of Bioethics, foi publicado um
artigo para somar-se
à hoste dos artigos abortistas à cata de justificativas para matar o próximo
indefeso.[1]
Segundo o
editorial, escrito a convite, o Brasil
sofre forte tendência para o recrudescimento da legislação contra a legalização
do aborto, justamente neste momento no qual o vírus Zika tem causado graves
problemas em neonatos. O artigo também recorda aos leitores que o Brasil possui
poucos recursos para auxiliar as famílias atingidas pelas mais graves
complicações do vírus, que têm que cuidar de bebês com microcefalia. Por fim, avisam que leis contra o aborto podem reduzir a
disponibilidade de tecido fetal para realizar pesquisas científicas em
busca de novos tratamentos.
Páginas
de notícia no Brasil informam que o número de casos de microcefalia confirmados
ultrapassa mil e seiscentos numa avaliação feita em julho de 2016.[2] Os comentários numa página informativa são reveladores do nível moral de alguns
leitores pró-aborto:
“Deveriam
ter sido abortados. É um crime trazer para o mundo um ser que ficara preso a um
corpo mal formado. Insensatos, insensíveis, irresponsáveis e hipócritas.”
“Se os
pais assim o quiserem, deveria ser permitido.”
“Qual a
expectativa de vida de um bebê desses?”
“Nenhuma
cara, o jeito é esperar ele morrer mesmo infelizmente, microcefalia não há
solução.”
“Corrigindo
o bebe pode viver sim, mas vai ter uma vida totalmente dependente de outra
pessoa.”
“Espero
do fundo do meu coração que esse número venha triplicar e os brasileiros parem
de fazer filhos kk.”
Há todo um questionamento em relação à mentalidade utilitarista e hedonista que motiva a indisposição de cuidar de crianças imperfeitas ou, como diriam os nazistas, de “comedores inúteis”. Essa mentalidade que destina parcelas inadequadas da população ao extermínio por sucção e desmembramento ou, em outras épocas, por câmaras de gás, fornos crematórios e fuzilamento, sempre esteve presente em nossa história, representando a antítese de nossos valores fundacionais ligados à religião cristã e à percepção da Dignidade Humana. Remeto o leitor à obra de Benjamin Wiker para mais informações sobre esse duelo de cosmovisões que já dura mais de dois mil anos.[3]
Há todo um questionamento em relação à mentalidade utilitarista e hedonista que motiva a indisposição de cuidar de crianças imperfeitas ou, como diriam os nazistas, de “comedores inúteis”. Essa mentalidade que destina parcelas inadequadas da população ao extermínio por sucção e desmembramento ou, em outras épocas, por câmaras de gás, fornos crematórios e fuzilamento, sempre esteve presente em nossa história, representando a antítese de nossos valores fundacionais ligados à religião cristã e à percepção da Dignidade Humana. Remeto o leitor à obra de Benjamin Wiker para mais informações sobre esse duelo de cosmovisões que já dura mais de dois mil anos.[3]
Contudo, gostaria de chamar atenção sobre outros
aspectos.
Primeiro: seria terrivelmente
impreciso afirmar que há um recrudescimento das leis anti-abortistas no Brasil.
Nosso país sempre foi maciçamente
contrário à legalização do aborto voluntário e, recentemente,
seguindo a agenda internacional de controle de natalidade e morticínio de fetos,
criou dispositivos facilitadores para o abortamento indiscriminado, como aquele chamado de “Atenção
Humanizada ao Aborto”.[4] O que há, realmente, é a maior
consciência das constantes e insistentes tentativas de engenharia social da
agenda cultural de esquerda no país e
uma resposta de segmentos religiosos e de grupos que apoiam a vida do bebê e os
valores mais prezados pela população comum.
O que há no Brasil é o aumento da crítica feita às violentas iniciativas abortistas, que sempre se
caracterizaram por muita maquiagem politicamente correta e por termos
eufemísticos como “pró-escolha”, “direito de decidir” e “direitos
reprodutivos”, criados há décadas por abortistas que lucravam pesado com a
morte alheia. Não sou eu que afirmo isto, é
o próprio rei do aborto, Bernard Nathanson, criador de muitos desses termos
especialmente desenvolvidos para comover e confundir a população desprevenida
contra manipulação psicológica e auxiliar na aprovação de leis abortistas. Nathanson, posteriormente, se arrependeu de
seus crimes e passou a defender a vida dos fetos e bebês. [5]
Segundo: há muitos recursos no
Brasil! Somos um dos países mais ricos do mundo -
e com maior carga tributária. O problema é a altíssima carga parasitária
de nossa elite política corrompida até à medula. O dinheiro público simplesmente “desaparece” nos bolsos de nossa elite de
esquerda aliada aos megaempresários
que topam entrar na dança da malandragem institucionalizada. Porém, considerando o mercado milionário do aborto
e o rótulo progressista que o acompanha, os olhos da
(des)”Intelligentsia”[6] tupiniquim brilham.
E terceiro: praticar um ato moralmente
errado, ou até mesmo questionável, justificado por um bem potencial,
como os possíveis avanços em tratamentos com o uso de pedaços de bebês
abortados para pesquisa, não é
eticamente aceitável fora de um parâmetro maquiavélico e diabólico no qual
o mais forte decide usar o mais frágil por meio do extermínio.
Muitos apelam aos possíveis tratamentos; contudo, não lembram de que há
outras possíveis ferramentas para o desenvolvimento de novos tratamentos, como
a pesquisa de células-tronco de adultos. Poucos lembram também de que ainda há
muita expectativa e poucos resultados concretos, ou sequer cogitam as
complicações do uso de células-tronco fetais, como o desenvolvimento de câncer
no receptor. E isso sem falar no assustador mercado clandestino de pedaços de
bebês e fetos, praticado pela megaempresa abortista Planned Parenthood.[7]
O artigo
publicado no famoso periódico de bioética afirma que até o Papa concordou em
fazer anticoncepção em situações como a do vírus Zika se espalhando. Dizem que evitar gravidez não é mal absoluto. Isto não passa de um truque de palavras.
É uma mutatio controversiae, uma mudança de assunto.[8] O artigo defende o aborto, não a
anticoncepção. E a permissão de uma coisa (contracepção) é bem diferente da outra (aborto).
E, por
fim, o artigo conclui fazendo um apelo para que homens e mulheres busquem
respostas na opinião de pesquisadores biomédicos sem a interferência de uma “agenda política”. Advogam
a disponibilização do abortamento. Negar o direito à matança de uma prole
deficiente seria, conforme os autores, ação moralmente inaceitável. Nisto, repetem o discurso orwelliano da
Organização das Nações Unidas, no qual matar fetos e bebês tornou-se um “direito humano”.[9]
Dentro da perspectiva hedonista e naturalista, considerar inaceitável que pais
cuidem de crianças deficientes é uma atitude compreensível, assim como é
completamente compreensível, na perspectiva caridosa e transcendental – que, aliás, fundou nossa civilização -, que pais cuidem de suas crianças em qualquer situação
considerando-as dádivas de Deus (ou
do destino, para quem não acredita em Deus), mesmo quando imperfeitas em
diferentes graus do nosso padrão, visto que todos nós temos imperfeições. É
claro que ambas são compreensíveis, mas a primeira opção é moralmente muito
inferior e relaciona-se aos hedonistas mais medíocres e menos caridosos.
Quanto ao manjado e boboca discurso da agenda
política que move um discurso, não é nenhuma novidade. Esse artigo do American
Journal of Bioethics repete um padrão já cansativo: pessoas com agendas
progressistas escandalosamente politizadas projetam naqueles que discordam de
suas “iluminadas” opiniões os desejos
políticos inconfessáveis de uma imaginada agenda obscurantista. Assim também
foi feito por Alta Charo em um artigo publicado no famoso periódico New
England Journal of Medicine, que cada vez mais parece um panfleto político,
embora publique conteúdo científico de valor quando não se pronuncia sobre
questões humanísticas.[10]
Nossos bioprogressistas,
enterrados até ao pescoço em suas próprias agendas políticas, acusam a todos de
falta de objetividade científica do alto de suas perspectivas intensamente
subjetivas e desprovidas do mínimo de empatia necessário para mover um debate
de qualidade. Convido o leitor a visitar a página da National Advocates for
Pregnant Women, organização política proponente do aborto na qual milita
Mary Faith Marshall, uma das autoras do artigo que critico.[11] Lá qualquer um
poderá conferir o grau de imparcialidade da autora que acusa outros de moverem
“agendas”.
Diante do exemplo de tantas famílias brasileiras
que, movidas
pelo mais sincero sentimento de amor ao próximo, recusam-se a matar sua prole e cuidam de seus bebês por dias, semanas
ou até mesmo anos, haja o que houver, mesmo na
pobreza e na ausência de auxílio adequado do governo – sempre disposto a ajudar
criminosos e sempre ignorando inocentes -, só podemos nos sentir
humildes e admirados, e oferecer nossa compreensão e incondicional ajuda para
que vivam e cumpram suas melhores virtudes.
E, no
fim, devemos responder qual tipo de
civilização desejamos legar aos nossos filhos e netos. Será uma civilização que eliminará seus fracos e exaltará
seus fortes? Ou será uma
civilização que exaltará suas virtudes e sua fortaleza ao cuidar dos mais
fracos?
Notas:
[1] HARRIS, Lisa H; SILVERMAN, Neil S; MARSHALL, Mary
Faith. ‘The Paradigm of the Paradox: Women, Pregnant Women, and the Unequal
Burdens of the Zika Virus Pandemic’. In: American Journal of Bioethics,
Vol 16(5), 2016, p.1-4.
[2] GLOBO.COM Bem Estar. Brasil
tem 1.687 casos confirmados de microcefalia, diz ministério. 13 de julho de
2016. Internet, http://g1.globo.com/bemestar/noticia/2016/07/brasil-tem-1687-casos-confirmados-de-microcefalia-diz-ministerio.html
[3] WIKER, Benjamin. Hedonismo
Moral: Como nos tornamos hedonistas. São Paulo: Paulus, 2011.
[4] MINISTÉRIO DA SAÚDE. Norma
Técnica: Atenção Humanizada ao Abortamento. Série Direitos Sexuais e
Direitos Reprodutivos vol 4. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2005. Internet,
[5] NATHANSON, Bernard N. The
Hand of God: A Journey from Death to Life by the Abortion Doctor Who
Changed His Mind. Washington, DC: Regnery Publishing, Inc., 1996; NATHANSON,
Bernard N. Aborting America: A Doctor’s Personal Report on the
Agonizing Issue of Abortion. Fort Collins, CO: Life Cycle Books, 1979.
[6] Do russo интеллигенция,
refere-se a um grupo remunerado de pessoas envolvidas em trabalho intelectual
complexo e criativo direcionado ao desenvolvimento e à disseminação de uma
cultura específica, isto é, à engenharia social por meio da cultura.
[7] The Center for Medical Progress.
PLANNED PARENTHOOD STILL #GUILTY OF SELLING BABY PARTS FOR PROFIT ONE YEAR
AFTER VIDEOS #PPSELLSBABYPARTS. Internet, http://www.centerformedicalprogress.org/2016/07/planned-parenthood-still-guilty-of-selling-baby-parts-for-profit-one-year-after-videos-ppsellsbabyparts/
[8] SCHOPENHAUER, Arthur. Como
Vencer um Debate Sem Precisar Ter Razão. Rio de Janeiro: Topbooks, 2003.
[9] LA GACETA. La ONU califica el
aborto de derecho humano. Internet, http://gaceta.es/noticias/onu-reconoce-aborto-derecho-humano-12022016-1436
[10] CHARO, Alta. Fetal Tissue
Fallout. New England Journal of Medicine, 373(10), September 3, 2015, p.
890-891. Remeto o leitor à crítica feita por mim no texto: Espantalhos,
Nazistas e Coerência Ética. Internet, http://medicinaefilosofia.blogspot.com.br/2015/09/espantalhos-nazistas-e-coerenciaetica.html
Prof. Dr. Hélio
Angotti Neto, autor do livro A Morte da Medicina, é coordenador do Curso de
Medicina do UNESC, diretor da Mirabilia Medicinæ (Revista internacional em
Humanidades Médicas), membro da Comissão de Ensino Médico do CRM-ES, visiting
scholar da Global Bioethics Education Initiative do Center for Bioethics and
Human Dignity em 2016, membro do Comitê de Ética em Pesquisa do UNESC e criador
do Seminário de Filosofia Aplicada à Medicina, SEFAM -
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